sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Pitoco disfarçando o peso

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ensinando a criança a ler

     Esta pode ser uma das perguntas mais assustadoras para pais de crianças com autismo tentar responder.   
     Como sabemos, cada criança autista apresenta-se com sua mistura particular de habilidades e desafios.   Portanto, não há uma única solução para todos quando se trata de ajudar as crianças afetadas pelo autismo na aprendizagem de línguas. É por isso que na tentativa de responder a esta pergunta, eu não estou confiando unicamente na minha fala e formação linguística, mas também em outras abordagens que acredito serem benéficas e adequadas para uso com indivíduos autistas. Todas elas foram pessoalmente empregadas durante os últimos 12 anos na minha viagem de descoberta e investigação neste campo para o desenvolvimento do meu próprio filho autista.
     Eu comecei esta viagem como mãe de uma criança autista não-verbal, que conhece o “sumiço de amigos” após o diagnóstico. Tendo o meu próprio trabalho e sendo uma profissional reconhecidamente bem sucedida da área, eu já implementava a intervenção dietética durante vários anos e também a Análise do     Comportamento Aplicada (ABA) antes de iniciar a Fonoaudiologia. Trabalhar com profissionais que utilizam novas abordagens comportamentais e neurológicas ajudou a desenvolver o meu entendimento de como um indivíduo autista pode aprender e progredir.

     Considerações para a Criança Não-Verbal

     Quando se perguntar:
"Como posso ajudar a minha criança autista aprender a falar?"
     Considere as coisas do ponto de vista da criança:
"Por que eu iria querer aprender a falar?"
    
     Se você der um passo para trás e observar o seu filho de forma imparcial, você verá uma pessoa ativa empregando uma variedade de estratégias para evitar a interação com os outros, enquanto, ao mesmo tempo controlar o ambiente para satisfazer suas necessidades. Isto acontece muitas vezes através do uso de métodos simples, mas eficazes, tais como atirar-se ao chão e gritar em voz alta até que o item desejado apareça.

     Alguns diriam que esse comportamento ocorre porque:

- O indivíduo tem autismo
- O indivíduo não pode falar
- O indivíduo sente dores
- Os sentidos sensoriais do indivíduo estão sobrecarregados
- O indivíduo não gosta de mudanças
- O desenvolvimento neurológico não é avançado o suficiente para o indivíduo agir de outra maneira
- Este é um comportamento aprendido e empregado para obter o resultado desejado

     A verdade é que não sabemos. Poderia ser todos, alguns ou nenhum dos ítens acima, mas é importante considerar todos os ítens acima, enquanto tenha em mente que mudar ainda é possível.
     Inicialmente, eu recomendo que os pais considerem uma abordagem comportamental para desenvolver a interação com os seus filhos para ajudar na tomada de sentido do mundo ao seu redor. Como as pessoas com autismo muitas vezes tem interesses limitados, o enfoque deve ser baseado nas necessidades e desejos do indivíduo.
     Sabemos que interagir com os outros pode ser um enorme problema para o indivíduo autista, e, portanto, deve haver um envolvimento gratificante para haver um retorno. Além disso, sabemos que quanto mais repetirmos as tentativas, mais fácil o processo se torna. Assim, embora o início do processo possa ser um tremendo esforço, quanto mais freqüente a ação ocorre, mais prazeroso e menos penoso será.

     Por isso, considere o que realmente motiva o seu filho. Algumas possibilidades incluem:

- Um brinquedo específico que é particularmente desejado
- Bolhas de sabão
- Elogios / abraço forte
- Controle remoto de televisão
- Vídeo específico ou DVD
- Alimentos
- Bebidas
- Jogos musicais (por exemplo, "Serra, serra, serrador")

Precisamos assumir o controle de qualquer dispositivo motivador selecionado de modo que o indivíduo terá que interagir conosco para obtê-lo! Obviamente, esta será inicialmente uma situação bastante estressante para todos, pois estamos mudando as regras de como as coisas normalmente funcionam. A comunicação precisa ser muito específica sobre esse processo de modo que o indivíduo vai entender o mais rápido possível o que está sendo solicitado dele, e o que precisa ser feito para obter o item desejado ou ação.

     Sons atuais

     Se a criança é não-verbal, isto significa que nenhum som é produzido certo? Ou há vocalizações que poderiam ser tentativas de discurso? Tome nota de todos os sons produzidos. Existem sons emitidos? E em caso afirmativo, quais?
     Os sons são produzidos por articuladores diferentes e podem ser sonoros ou não. Durante sons sonoros, as cordas vocais vibram durante a emissão do som. Se um som dos pares listados abaixo pode ser produzido, é possível que o outro correspondente ao par possa vir a ser produzido também. É importante observar se existem pares de sons que seu filho não usa para poderem ser ensinados.

p b
t d
k g
f v
s z
sh zh
ch j

     Suporte Visual

     Muitas crianças com dificuldades de aprendizagem são aprendizes visuais e este é frequentemente o caso com crianças autistas. Dificuldades com o sistema de processamento auditivo pode fazer a atribuição de significado aos sons um negócio complicado. É por isso que uma aproximação visual para a aprendizagem pode ser muito eficaz para crianças com autismo.
     Pode ser muito benéfico usar mecanismos de suporte visual para o seu filho com qualquer novo processo.   Escrita e imagens são suportes úteis para qualquer criança aprendendo a falar e não deve ser visto como uma barreira para o desenvolvimento da fala.
     Você é quem melhor conhece seu filho e qual a abordagem que deseja adotar precisa ser baseada em preferências individuais, habilidades e capacidades motoras.
     Eu pessoalmente prefiro usar imagem personalizadas, pois estas permitem a precisão em assegurar que as imagens utilizadas correspondem as dos itens reais para os quais a criança está sendo solicitada. Não haverá motivação se uma imagem de um carro vermelho está a ser utilizado quando a criança realmente quer o seu velho conhecido carro amarelo.
     Estas imagens são fáceis de fazer usando uma câmera digital. Certifique-se de lembrar-se de encapar a sua imagem com contact transparente antes de usar, para estender sua vida útil. Você precisa ser muito específico em criar as imagens. Por exemplo, se o pedido verbal é para "crisps", sua imagem só precisa incluir esse item, já que itens adicionais poderiam confundir a mensagem. Sempre que possível, certifique-se que as imagens sejam feitas em ambientes naturais. Por exemplo, se o carro é normalmente no chão, a imagem deve ser do carro no chão para aumentar a clareza do pedido.

    A Abordagem Comportamental

    Se você identificou que um pacote de batatas fritas (item alimentação) será o melhor motivador para o seu filho, então você precisa montar o cenário esvaziando o armário de onde, normalmente, ele faria tudo sozinho. Um pacote vazio ou imagem deve ser colocado lá para que a criança traga até você para lhe mostrar o que ele quer. A única coisa que você deve dizer quando ele traz o pacote (foto) é sobre o nome do item. Neste caso, o processo seria:

- Você diz a palavra "crisps"
- Deixar uma pausa
- Repita a palavra "crisps"
- Deixar uma pausa
- Qualquer vocalização (exceto gritos) deve ser recompensada com o item desejado.

     Fonologicamente, "crisps" é uma palavra mais difícil, pois é composto por dois conjuntos de combinações de discurso: c / ri / sp / s ou c / ri / sps dependendo de como se escolhe para pronunciar a palavra. Eu estou usando isso como um exemplo, porque na minha experiência a maioria das famílias tendem a ter um armário como esse, com fácil acesso a itens como batatas fritas.
     Idealmente, seria melhor manter-se com esta abordagem até receber uma vocalização. No entanto, você pode decidir que vai fazer isso por um determinado período de tempo inicialmente e construir a quantidade de tempo que espera por uma resposta. Você provavelmente vai ser recompensado com um grito ou ataque inicial, isso é típico do processo. Precisamos trabalhar com isso e mostrar à criança que ao gritar, esperniar, atacar, ou até mesmo te ignorar, ela não será recompensada com o item desejado, enquanto que com uma vocalização sim. O elemento mais importante dessa abordagem é a consistência. A firmeza e concistência deve estar em tudo que você faz para que um padrão começe a emergir para guiar o seu filho e ajudá-lo a entender como obter o item desejado rapidamente com uma simples vocalização.

     Considerações neurológicas

Em crianças com autismo, a fiação, a ligação/comunicação do sistema neurológico tende a ser atípica, muitas vezes resultando em dificuldades para acessar ou desenvolver as habilidades de fala e linguagem.
     1, 2,3,4 As crianças podem apresentar respostas involuntárias e reflexos que normalmente teriam sido liquidados ou inibidos durante os três primeiros anos de vida durante o desenvolvimento de uma criança típica.
     5 Vocabulário e compreensão são habilidades de alto nível neurológico. A eficiência dessas habilidades depende da maturação bem sucedida dos centros cerebrais inferiores.
     6 Se o desenvolvimento foi comprometido nos níveis mais baixos, ele está bloqueando o acesso às ferramentas mais acima.   Desenvolvimento neurológico em crianças pequenas é dependente da integração de respostas reflexas involuntárias, chamado de reflexos primitivos e posturais. A Integração dessas respostas permite o acesso mais eficiente à fala e outras habilidades cognitivas que estão associadas com os centros de córtex cerebrais.
     7 Eu descobri que a intervenção de um Terapeuta Ocupacional Especialista usando uma abordagem cinestésica pode ser extremamente benéfica para crianças com autismo. Os programas que envolvem 15 minutos de exercícios cinestésicos personalizados em uma base diária produziram mudanças dramáticas, mesmo em crianças mais velhas. As áreas de progresso foram:

- Melhora das habilidades motoras
- A capacidade de recordar e relatar memórias de anos anteriores
- Aumento do nível de habilidades para resolver problemas
- Maior consciência dos outros e suas necessidades
- Aumento da capacidade de acesso a funções superiores da linguagem.

     Dirigindo ecolalia

     Ecolalia é a repetição de vocalizações feitas por outra pessoa. Quando uma criança repete o que foi dito em vez de oferecer uma resposta, a resposta apropriada pode ser solicitado para a criança como se segue:

- Você diz: "Você quer batatas fritas?"
- A criança repete: "Você quer batatas fritas?"
- Você modela: "Sim, eu quero batata frita"

     Se você puder mais uma vez apoiar esta ação com material visual, ela vai ajudar a criança autista a dar significado às palavras. Forneça uma escolha de itens utilizando apoio visual em que um pode ser selecionado, preferencialmente, em detrimento de outro. Isto irá ajudar a criança a aprender que "Você quer chips?" Realmente significa algo mais do que apenas um conjunto de sons agradáveis.
     Para ilustrar esta prática usando o exemplo de "Você quer batatas fritas?" Você pode mostrar uma imagem de fichas e, em seguida perguntar: "Você quer um sorvete?" Enquanto mostra uma imagem de sorvete. Em seguida, reduza o uso de palavras a somente chips e sorvete mostrando as imagens:

"Chips" / "sorvete"

     Você precisa estar ciente de que chips e sorvete são itens de alimentos e, portanto, isso torna a escolha um pouco mais difícil. Você pode reduzir o nível de dificuldade, oferecendo algo completamente diferente, tal como livro e batata frita desde que você use algo que não seja mais motivador do que o alvo!

     Expansão da linguagem

     A expansão da linguagem deve ser abordada com um esforço para incluir sistematicamente as coisas que você sabe que estão motivando para a criança. Se, por exemplo, ela é particularmente motivada pelo Thomas o trem, use-o. Você pode usá-lo para as preposições como em "Coloque o Thomas na cadeira", ou "Coloque o Thomas embaixo da cadeira." A dificuldade da tarefa é reduzida, pois a criança já sabe quem é Thomas. Você pode torná-la mais desafiadora, adicionando um outro trem, como em "Coloque o Thomas na cadeira e o Henry sob a cadeira." Você também pode incorporar o conceito de cores, referindo-se aos trens como o trem vermelho, azul ou verde.
     Use brinquedos favoritos para ilustrar os verbos da seguinte maneira: "Buzz está dormindo", ou "Buzz está comendo", etc
     Sempre usar o suporte visual, construções de linguagem reduzida e informações repetidas, lembrando-se de permitir que seu filho tenha o tempo necessário para o processamento do comando.

     Formatos de questões que podem ser útil neste processo são ilustrados abaixo:

1. Buzz foi ao parque.
2. Quem foi ao parque?
3. Buzz foi ao parque.

1. Hoje é segunda-feira.
2. Que dia é hoje?
3. É segunda-feira.

     Seguir estas dicas no desenvolvimento da fala pode render um progresso significativo para o seu filho.      Lembre-se: seguir essas estratégias simples irá manter as coisas se movendo na direção certa => Faça visualmente, mantenha simples e torne divertido!

Matéria postada pela Edna Coimbra
Vovó do Nathan Naum, nove anos, Autista, no blog:
aasf---autismo---ajuda-sem-fim

(Tradução de Claudia Marcelino de um artigo do site da Revista Autism File.)
Claudia Marcelino é autora do livro:

Clique na imagem para ver melhor.











domingo, 23 de outubro de 2011

Autismo e o Filme "Rain Man" em uma Visão Psicanalítica


 
 1. Introdução

     A ciência há longo dos anos, tem se voltado a desvendar os mistérios da humanidade. Desde os primórdios o homem aguçado por sua curiosidade, desenvolveu o habito de explorar os fenômenos a sua volta, sendo assim se levantou varias teorias tentando esclarecer as complexidades do homem e do mundo que o cerca, porém alguns fenômenos ainda se mostram bastantes misteriosos no meio social e diante do mundo cientifico.
     O autismo tem sido um desses fenômenos que se mostra cada vez mais enigmático para os pesquisadores, pois embora muitos estudos apontem para um transtorno genético, temos em vista que os fatores sociais e os efeitos comportamentais desse transtorno atingem patamares mais elevados no meio em que vivemos; o que acaba dificultando o entendimento sobre a síndrome e levando a um agravamento maior do quadro clinico de seu portador, assim como um respectivo desanimo e estresse de seus familiares.
     O filme “Rain Man” foi lançado em 1988 dirigido pelo diretor Barry Levison e no seu enredo mostra a história de dois irmãos: os personagens Charlie Babbitt interpretado pelo autor Tom Cruise e personagem Raymond Babbitt, portador da síndrome, que é interpretador pelo ator Dustin Hoffman. A história do drama começa quando Charlie Babbitt viaja para um hospital psiquiátrico à procura de saber quem herdou a maior parte da herança deixada por seu pai. Por meio dessa procura, Charlie conhece seu irmão Raymond, o autista, daí em diante a história passa um clima emocionante e dramático ao publico que assiste.
     De acordo com Santiago (2005), o autismo é mais conhecido como um problema que se manifesta por um alheamento da criança ou adulto acerca do seu mundo exterior encontrando-se centrado em si mesmo, ou seja, existem perturbações das relações afetivas com o meio, o que pode ocasionar um comportamento diferenciado de outras pessoas da sua idade.
     Para uma melhor análise da questão apontada nesse artigo, a leitura segue-se sobre uma visão psicanalítica do filme “Rain Man”, baseados nos autores como: Doria et al (2006) e Pinheiro (2008) que nos permitiram obter uma apreciação mais madura para, através deste, contribuir com a sociedade no esclarecimento mais eficaz sobre a síndrome do autismo.

2. Definições do Autismo

     A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para si mesmo”. A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler para se referir a um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de Esquizofrenia. A expressão referia-se a tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, tornando-se alheio ao mundo social – fechando-se em seu mundo, como até hoje se acredita sobre o comportamento autista. (NETO, 2010)
     Desde a década de 40 até aos anos 60, de modo geral, acreditava-se que um indivíduo autista tinha o desejo consciente de não participar em qualquer interação social (SOUSA, 2009/2010). Para Leo Kanner (1943), psicólogo norte americano, o autismo era causado por mais altamente intelectualizados, pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas relações humanas (apud CID, 1993). O autor sublinha - de acordo com o relato dos pais realizado no seu estudo de 11 casos com crianças autistas - a precocidade do aparecimento da síndrome, situando-a como “uma solidão autística extrema, que desdenha, ignora e exclui tudo o que vem do exterior até a criança” (PINHEIRO, 2008). Após essa definição, o autismo apresentou-se como um mundo distante, estranho e cheio de enigmas, que se refere ao próprio conceito de autismo e às causas, às explicações e às soluções para esse trágico desvio do desenvolvimento humano normal (COLL et al, 2004).
     O autismo é caracterizado entre sinais e sintomas como uma tríade: distúrbios na sociabilidade, distúrbios na comunicação e estereotipias motoras. Manuais de diagnósticos como o DSM – IV TR e o CID 10 consideram autista o individuo que possui um total de seis itens citados abaixo, com pelo menos quatro características dos mesmos, tais como: na marcante lesão na interação social, destacada diminuição no uso de comportamentos não verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social, dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento, falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse e ausência de reciprocidade social ou emocional.
     No distúrbio da comunicação, considera pelo menos um dos seguintes itens: atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas, diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas, em indivíduos com fala normal e ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriada para o nível de desenvolvimento.
Nos padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, considera-se a manifestação de pelo menos um dos seguintes itens: a obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco, fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específicos, hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos e obsessão por partes de objetos.
     Podemos ainda ressaltar aqui a estatística sobre a síndrome autista em relação a taxa de natalidade atualmente, que conforme Domingues (2003) a incidência dela encontra-se estimada em 01 portador para cada 1000 nascimentos, sendo 03 vezes mais frequentes no sexo masculino que no feminino. Sendo uma doença comprometedora do desenvolvimento infantil como um todo, que limita a vida da criança e de sua família. O que observamos no personagem Raymond Babbitt, a qual é do sexo masculino e envolve seu ciclo familiar por causa de suas limitações.

     3. Análise do Filme em uma Visão Psicanalítica
    
     As hipóteses de Kanner tiveram forte influência no referencial psicanalítico da síndrome que pressupunha uma causa emocional ou psicológica para o fenômeno, a qual teve como seus principais precursores os psicanalistas Bruno Bettelheim e Francis Tustin. (NETO, 2010). Bettelheim acreditava ser uma falha materna e Tustin explicava que o afeto materno funcionava como uma ponte entre a fase autista do desenvolvimento normal e a vida social, já que as crianças ainda não tinham aprendido os comportamentos sociais, e se esta ponte se rompesse poderia gerar um trauma psíquico.
    Na psicanálise, o autismo é visto como uma síndrome psíquica desenvolvida na infância. Assim como os desejos sexuais que Freud afirma iniciar na infância, o autismo também seria um processo da mesma, que provavelmente seria acometido por alguma falha. Doria et al (2006) fala que esta falha está nas funções maternas e paternas:
     “De acordo com a Psicanálise, o transtorno autista está relacionado com as falhas envolvendo as funções maternas e paternas. A falha decorrente no processo de desenvolvimento da função materna pode estar relacionada com o não cumprimento dela, ou seja, a mãe ou a pessoa que desempenha este papel não realiza adequadamente a sua função, deixando o bebê sem resposta quando o mesmo lhe pede um retorno.     
     Na função paterna, não há um investimento de um terceiro que venha contribuir para a constituição psíquica da infância” (DORIA et al, 2006, p.03)."

     Esta mesma autora ainda aperfeiçoa “essa falha pode ser causada, entre vários motivos, pela depressão que  interfere na capacidade materna em cuidar e envolver-se emocionalmente com o seu filho” (p.04) e a função paterna exacerbada ou renegada, pois “quando o filho exerce uma função renarcisante para o pai, o mesmo investe de modo mais significativo na criança, o que permite a triangulação na relação mãe-bebê.” (p.06).
     Na visão de Lacan considera que o autismo está localizado no campo das psicoses, como uma resposta possível de um ser falante frente a um Outro, não propriamente constituído como tal, mas como real. A princípio, Lacan declara que “os autistas escutam a si mesmos” (apud 1975, p.12). Isto o leva a acrescentar que os autistas ouvem muitas coisas, e que este fato pode desembocar em alucinações. Duas características que ainda são citadas na reflexão de Lacan sobre as crianças autistas: uma que aproxima a criança autista do esquizofrênico e outra que caracteriza os autistas como seres bastante verbosos, mesmo que não se entenda bem o que dizem.
     No caso do nosso personagem Raymond, que é um adulto de aproximadamente 50 anos, percebemos que esta explicação seria fundamental para uma hipótese diagnóstica, porque quando nascera seu pai lhe depositava uma grande expectativa por ser primogênito, o que era visto por ele como uma grande responsabilidade. Contudo, logo nasceu seu irmão Charlie, a qual se sentia na obrigação de cuida-lo até mesmo para agradar cada vez mais seu pai. Mas, por alguma eventualidade, Raymond deixou Charlie se machucar, a qual percebia que este tinha um grande apego por ele e isso lhe trouxe uma culpa eterna, onde não conseguia se perdoar, além de um sentimento de incapacidade e uma enorme angustia por não ter conseguido proteger seu irmão como deveria. Observamos, no discurso do mesmo, que isso lhe gerou um trauma, e o fazia sofrer todas as vezes que recordava.
     Observando os sinais e sintomas do autismo, percebemos que o personagem portador do autismo apresenta características tais como: diminuição no uso de comportamentos não verbais múltiplos como na expressão facial e na postura corporal para lidar com o meio social em relação aos outros indivíduos, pois fisicamente ele é encurvado e com a expressão de solidão. Também apresenta dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriado para o nível de comportamento, porque observamos que este não mostra interesse em se relacionar com outras pessoas; característica principal do autismo. Apresenta também ausência de reciprocidade social ou emocional, mostra-se frio em várias situações, demonstrando carência pelos seus desejos e sentimentos e habilitando as pessoas a serem compreensivas. Como cita o DSM IV, ele também destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas, porque vive em um mundo só seu, onde seus pensamentos mostram-se mais importantes. Lembrando que este é dotado de uma inteligência incrível e inexplicável que subestima a medicina e a sociedade.
     Em relação ao tratamento, o analista primeiramente realizará uma entrevista inicial com a criança autista e seus pais. Conforme Bogochvol (2009), o diagnóstico de autismo orientado pela psicanálise lacaniana é realizado sob transferência (como qualquer diagnóstico).
     No decorrer do tratamento, o analista deverá está orientado no sentido de, na experiência clínica, fazer emergir o lugar do sujeito, tratando de encontrar a via do Outro. Assim como cita Pinheiro (2008), esta é a aposta que se sustenta no que Lacan nos ensinou acerca do lugar do analista na clínica do autismo: “o fato de que eles não o escutam”. DORIA et al (2006) esclarece que para ocorrer este reconhecimento da criança como sujeito, o analista tentará trazê-la para a realidade, retirando-a do seu mundo particular, fazendo com que ela faça parte, interaja e reconheça os outros. O objetivo do analista é fazer com que esta criança possa vir a ser alguém, ser sujeito com individualidade, com subjetividade. Retirá-la, portanto, da posição em que era tomado, e sufocado, pelo desejo do outro e, com isso, possibilitar o surgimento de seus próprios desejos, suas próprias angústias para que possa vir a interagir com o mundo cheio de enigmas para serem descobertos.
     Dessa forma, Bastos (2003) chama nossa atenção para o fato de que admitir a presença do analista e responder a ela, não é estar aquém da alienação, isto já se remete ao campo do Outro. O que não quer dizer que haja, contudo um par significante diferenciado, mas sim uma tentativa de remediar a inexistência do par primordial.
     A partir do caso de Maria, por exemplo, que é uma criança autista de três anos de idade, Taffuri (2000), concluiu que desde o início do tratamento, “os grunhidos e os maneirismos” das crianças autistas podem ser compreendidos e usados pelo analista em sua natureza fenomenal, como sons, ritmos, movimentos e singularidades, e não como uma mensagem dirigida ao analista, a ser por ele interpretada ou traduzida, ou seja, devemos nos atentar a todos os movimentos e diferenciações linguísticas, da criança autista, apresentadas no momento do tratamento.
    Para que o analista consiga chegar ao seu objetivo, ele terá que trabalhar com o desenvolvimento das funções materna e paterna por parte dos cuidadores da criança para que possa ter resultados positivos na terapia com a criança autista. Em alguns momentos, o próprio analista poderá desempenhar estas funções, contribuindo com o individuo para que ele possa ter relações com outras pessoas e ter uma vida produtiva. (DORIA et al 2006)
     Na função materna Jerusalinsky (et al 1997) ressaltará que não é a ausência da mãe o que vai contribuir para a emergência do sintoma autista, mas “a radical ausência do desejo materno em relação ao filho autista.” Dirá ainda que “sempre encontramos perturbações intensas na ligação das mães com os filhos, concomitantes com os quadros de desconexão autística”, ressaltando, contudo, poder tratar-se de formações reativas às características do filho. Já na função paterna, Pinheiro (2008) deixa claro que podemos considerar a foraclusão do Nome-do-Pai, que conforme Lacan (1955-56) nos apresenta a partir do esquema R e I em “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”, inviabiliza a estruturação do campo da realidade, deixando o sujeito face à carência das amarras simbólicas, e consequentemente, exposto a uma hipertrofia do imaginário.
     Como podemos observar grande parte dos autores aqui citados se referem à criança autista como estando ‘imersa’ na linguagem, mas aquém da alienação. Entretanto, a clínica nos abre o caminho, ao nos apontar um horizonte em que a criança autista, ao dar tratamento ao Outro devastador que lhe acossa, introduz, mesmo não tendo uma inscrição do falo que organize o seu mundo, uma possibilidade de invenção.     
     Mesmo que o encadeamento significante não se estabeleça, pode emergir um lugar que não seja anônimo, a partir da aposta no desejo, que fará com que o sujeito se reconheça naquilo que lhe faz enigma. (PINHEIRO, 2008).
Escrito por:
 Eduardo Alexandre Teles,
Jakeline Martins,
Noel Francisco e
Tamires Alencar De Souza


Sobre o Trabalho:
Artigo apresentado na Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio como um dos requisitos para à elaboração da média semestral na disciplina de Psicopatologia em Psicanálise do Mrs. Raul Max Lucas da Costa.
Bibliografias:
ÁVILA, Lazslo A. Psicanálise, educação e autismo: encontro de três impossíveis. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 1, 11-20. Disponível em: http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/mar0/1.pdf Publicado em 1998. Acessado em 2011.

BASTOS, Angélica. Medicação e tratamento psicanalítico do autismo. Pulsional: revista de psicanálise, ano XVI, n. 173, setembro/2003. Disponível em: http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/173_03.pdf. Acessado em junho de 2011.
BOGOCHVOL, A. Comentários sobre o artigo “Autismo” e subjetividade materna. Disponível em: http://www.psicanaliselacaniana.com/mural/textos/documents/SobreoartigoAutismoesubjetividadematerna.pdf  São Paulo. Publicado em 03 de novembro de 2009.Acessado em 26 de maio de 2011.
COLL, C; MARCHESI, A; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas e especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004.
DOMINGUES, W.E. O autismo e sua relação com a psicanálise. Disponível em: http://www.celpcyro.org.br/v4/html/OAUTISMO.htm Publicado em 28 de setembro de 2003. Acessado em 26 de maio de 2011.
DORIA, N. G. D. M.; MARINHO, T. S.; FILHO, U. S. P. O autismo no enfoque psicanalítico. Disponível no site: www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0311.pdf Publicado em 10 de outubro de 2006. Acessado em 25 de maio de 2011.
DSM-IV-TR, Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Transtorno Autista. American Phychiatric Association. Porto Alegre: Artmed, 2002.
NETO. Autismo – um breve histórico. Disponível em:http://www.psicologiaeciencia.com.br/autismo-um-breve-historico Publicado em 05 de fevereiro de 2010. Acessado em 28 de maio de 2011.
PINHEIRO, M. F. G. Autismo e devastação. Disponível em:http://www.psicologia.ufrj.br/teoriapsicanalitica/pdfs/dissert_mariafatima.pdf Rio de Janeiro. Publicado em 2008. Acessado em 2011.
SANTIAGO, J.C. Autismo. Disponível em: http://www.jcsantiago.info/autismo.html . Publicado em julho de 2005. Acesso em maio de 2011.
SOUSA. M.E.M. A musicoterapia na socialização das crianças com perturbação do espectro do autismo. Artigo disponível em http://repositorio.esepf.pt/handle/10000/394. Porto Alegre: 2009/2010. Acessado em 2011.
TAFURI, Maria Izabel. O início do tratamento psicanalítico com crianças autistas: transformação da técnica psicanalítica? Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 4, 122-145. Disponível em: http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/dez0/7.pdf Publicado em: novembro de 2000. Acessado em maio de 2011.









sábado, 22 de outubro de 2011

Camundongo transgênico abre novos caminhos para compreensão do autismo

GENÉTICA

Mayana Zatz

Uma das maiores geneticistas do país responde dúvidas de leitores
      O autismo, atualmente referido como transtornos do espectro autista (TEA), que atinge um em cada 150 indivíduos, tem sido objeto de muitas pesquisas. Trata-se de uma doença complexa e heterogênea e a maioria dos casos parece obedecer a um mecanismo de herança multifatorial com interação entre os genes e o ambiente. Uma das causas genéticas recentemente identificadas, que entretanto acomete menos de 1% dos casos, são alterações do número de cópias (pode faltar = deleção; ou pode estar a mais = duplicação) de um pedaço no cromossomo 16.
     Pesquisar como alterações genéticas produzem as características do comportamento autístico tem sido de grande interesse. Um grupo de cientistas liderados pela Dra. Alea Mills acaba de gerar um modelo de camundongo com as mesmas mutações encontradas em seres humanos. A pesquisa publicada no   Proceedings of the National Academy of Sciences ( 3 de outubro) permitirá estudar nos camundongos vários parâmetros de grande relevância porque entender é o primeiro passo para gerar novos
 tratamentos.    
             Para falar mais sobre isso entrevistei a Dra. Maria Rita Passos-Bueno,uma das grandes autoridades no assunto, que coordena importantes pesquisas em autismo no Centro de Estudos do genoma Humano.
     A sua equipe vem testando essa mutação em pacientes com suspeita de autismo desde 2010. Quantos pacientes apresentaram essa alteração?

Dra. Maria Rita
Passos-Bueno

     Até o momento foram testados 350 pacientes com suspeita de autismo e em 3 casos detectamos esta alteração do cromossomo 16: 2 com duplicação e 1 com duplicação (0.8%).
     O que os pesquisadores observaram no modelo animal contendo essas alterações genéticas?
     Estes pesquisadores “construíram” alguns animais com deleção e outros com duplicação equivalente a região do cromossomo 16 que está alterada em pacientes com TEA. Eles verificaram alterações de comportamento, principalmente nos animais com deleção. Observaram ainda que algumas das estruturas cerebrais estudadas eram maiores nos animais com deleção do que naqueles com duplicação.
     Essas alterações são comparáveis ao que se observa em seres humanos?
     Estes resultados mostram que esta região cromossômica é tambem importante para o desenvolvimento do cérebro em outros animais que não o homem. As comparações entre camundongos e humanos devem ser feitas com muita cautela. Contudo, a correlação entre o tamanho do cérebro e a presença de deleção (maior) e duplicação (menor) observada nestes animais é um resultado bastante relevante e comparável a macrocefalia (cérebro de tamanho aumentado) e microcefalia (cérebro de tamanho diminuido) que são observadas nos pacientes com deleção e duplicação da regiao 16p11.2, respectivamente.
     Como esses achados poderão ajudar em futuros tratamentos?
     Esta região do cromossomo 16 que pode estar faltando (deleção) ou que pode estar a mais (duplicação) envolve mais de 25 genes. Sendo assim, uma questão muito importante é descobrir qual ou quais destes genes são de fato os causadores do autismo. A expectativa dos cientistas é que entendendo a causa do autismo seja possível identificar drogas que possam auxiliar no tratamento destes pacientes. Uma outra vantagem de se dispor de um modelo animal com alterações mensuráveis é a possibilidade de testar-se medicamentos experimentalmente antes usá-los em humanos.
     Qual é a importância de testar-se pacientes para essa ou outras mutações?
     Uma das grandes angústias dos pais de crianças portadoras de algum problema é saber o “por quê”. A identificação da alteração no cromossomo 16 pode ser uma resposta a esta questão. Além disso, ela possibilita estimar com precisão se há risco de repetição em novas gestações. Além da alteração do cromossomo 16, estamos conseguindo identificar a causa genética do autismo em alguns outros pacientes.         
     Apesar da proporção ser relativamente pequena, isso permite conhecer e entender melhor a variabilidade clínica e prognóstico destes casos, o que certamente irá contribuir para um diagnóstico clínico mais precoce e mais preciso em um futuro próximo.
Revista VEJA 21.10.2011
Fotos - Google

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bebês prematuros e de baixo peso têm maior risco de autismo

      Os bebês prematuros e de baixo peso são cinco vezes mais propensos a desenvolver autismo que os bebês nascidos no período correto e com peso normal, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira nos Estados Unidos após duas décadas de pesquisas.

     Há algum tempo se sabe que os bebês prematuros correm mais riscos de ter problemas de saúde e atraso cognitivo, mas o estudo publicado na revista "Pediatrics" é o primeiro a estabelecer uma relação entre o baixo peso ao nascer e o autismo.

     Os cientistas estudaram 862 crianças do nascimento até a idade adulta. Os participantes do estudo nasceram entre 1984 e 1987 em três condados de Nova Jersey com pesos entre 500 g e 2 kg.

     Com o tempo, 5% dos bebês com baixo peso no nascimento foram diagnosticados com autismo, contra 1% de prevalência entre a população geral.

     "A medida que a sobrevivência dos bebês menores e imaturos melhora, os que seguem adiante representam um desafio cada vez maior para a saúde pública", disse a principal autora do estudo, Jennifer Pinto Martin, diretora do Centro de Estudos do Autismo e Deficiências do Desenvolvimento da Faculdade de Enfermaria da Universidade da Pensilvânia.

     "Os problemas cognitivos nestas crianças podem esconder um autismo de fundo", completou, antes de pedir aos pais que levem os filhos para exames ante a suspeito de um transtorno de espectro autista.
"A intervenção rápida melhora os resultados em longo prazo e pode ajudar estas crianças tanto na escola como em casa", disse.

     Autismo é o termo que designa uma série de condições que vão desde uma escassa interação social a comportamentos repetitivos e silêncios arraigados. Este transtorno afeta principalmente os meninos e suas causas são objeto de intensos debates.

Da France Presse




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Caretas e emoções na tela

Pesquisadores de Portugal e Estados Unidos criam jogo virtual interativo para desenvolver, em crianças com autismo, a habilidade de comunicação e reconhecimento das emoções por meio de expressões faciais.
Na tela sensível ao toque, as crianças com autismo podem manipular
cada expressão facial do personagem para melhor entender as próprias emoções.
     Felicidade, tristeza, irritação, serenidade. Essas e outras emoções podem ser facilmente percebidas nas expressões faciais. No entanto, algo que parece natural para a maioria das pessoas, é um desafio para quem tem autismo. Pensando nisso, 30 pesquisadores das universidades do Porto, em Portugal, e de Austin, nos Estados Unidos, desenvolvem um jogo virtual interativo que pode ajudar crianças autistas a reconhecer e lidar com os sentimentos.

     Batizado de LIFEisGAME (Learning of facial emotions using serious games), o jogo apresenta à criança um personagem que pode ter cada detalhe de suas expressões faciais manipulado pelo mouse ou pela ponta dos dedos, em uma tela sensível ao toque, como a dos tablets e smartphones.

     A cada vez que a criança modela corretamente uma expressão pedida pelo jogo ou identifica um sentimento apresentado na tela, ganha pontosA cada vez que a criança modela corretamente uma expressão pedida pelo jogo ou identifica um sentimento apresentado na tela, ganha pontos. A ideia é que, desse modo, ela desenvolva a habilidade de reconhecer emoções em si mesma e nos outros.

     “Pretendemos que a criança identifique as emoções básicas e consiga atribuir significado em função do contexto, ou seja, desenvolva cognição social”, diz um dos psicólogos responsáveis pela parte terapêutica do projeto, António Marques, da Universidade do Porto.
Marques conta que as terapias tradicionais para autismo já trabalham com figuras e fotografias que representam as emoções, mas ressalta que o LIFEisGAME é mais dinâmico e permite mais usos.

     “Com essa nova ferramenta, podemos, por exemplo, adaptar o nível do jogo ao nível de desenvolvimento da criança, medir de uma forma fácil o tempo que ela demora a identificar a expressão de uma emoção e ir progredindo no contexto terapêutico aumentando os níveis de dificuldade do jogo”, lista o psicólogo.
Confira um protótipo do jogo em funcionamento

Múltiplas possibilidades
Em sua versão atual, o jogo apresenta ao usuário a opção de escolher entre personagens em estilo cartoon e personagens mais realistas. Segundo outra psicóloga do projeto, Cristina Queirós, essa variedade é proposital e busca adequar o jogo ao perfil do jogador.

     “Em alguns casos, os personagens mais lúdicos podem facilitar a adesão da criança ao tratamento, em outros, o uso de personagens realistas facilita a generalização e transferência da aprendizagem para o contexto real”, explica.

     Existe ainda a possibilidade de que o jogo seja modificado para funcionar como um espelho, que mostra ao jogador a sua própria face. A cientista da computação líder da parte tecnológica do projeto, Verónica Orvalho, da Universidade do Porto, afirma que estudos nesse sentido já estão sendo feitos.

     “Com uma webcam poderemos mapear o rosto do usuário e transformá-lo em personagem tridimensional”, diz. “Assim, a criança poderá aprender a controlar suas expressões de modo divertido e sem estresse.”

     “Os resultados que temos são ainda muito preliminares, mas esse primeiro protótipo foi muito bem acolhido pelas crianças e terapeutas”

     No momento, o jogo está sendo testado por crianças com autismo da Associação Criar, em Portugal, e por famílias em Austin, nos Estados Unidos. Depois de pronto, o LIFEisGAME deve ser distribuído gratuitamente para ser usado em casa pelas crianças e familiares e também em sessões de terapia sob a supervisão de psicólogos.

     “Os resultados que temos são ainda muito preliminares, mas esse primeiro protótipo foi muito bem acolhido pelas crianças e terapeutas”, antecipa o António Marques. “Não temos dúvidas de que será uma ferramenta muito importante na remediação desses déficits em crianças com autismo.”
                                                                                                                                                                                                                Foto:
Instituto de Telecomunicações da Universidade do Porto
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sinais que podem indicar um problema de desenvolvimento.

5 sinais para prestar atenção
Caso seu filho apresente um desses sintomas,
é hora de procurar um pediatra
 FALA
O atraso da linguagem deve ser observado pelos pais.
Se a criança não falar até os 16 meses, é preciso investigar
     "O diagnóstico precoce está na mão do pediatra. O problema é que passa incólume por eles", afirma Amira. Em geral, médicos que atendem o serviço público têm apenas 15 minutos por paciente — e muitas vezes o problema não é notado. Amira, que também é presidente da Sociedade de Pediatria do Pará, é responsável pela criação de um projeto de capacitação de médicos e enfermeiros de alguns estados do Brasil e de países da América Latina para perceber o atraso do desenvolvimento infantil. "Depois do treinamento, vimos que estávamos recebendo mais crianças e muito mais cedo", diz.
     Ricardo Halpern concorda que os esforços devem ser direcionados para o treinamento médico. "É preciso treinar os médicos para que eles percebam estes sinais", diz. A ideia, segundo Halpern, é que a partir do próximo ano sejam realizados cursos de capacitação profissional em cada região do país.
     Atenção aos pais — Halpern explica que vários fatores podem contribuir para problemas do desenvolvimento que, em geral, são uma combinação da genética com fatores ambientais. Doenças como autismo e esquizofrenia, por exemplo, são essencialmente genéticas. Outros elementos, porém, podem contribuir para comprometer o desenvolvimento infantil. Entre eles, estão crianças filhas de mães que tiveram depressão pós-parto ou que não tiveram uma orientação adequada para a amamentação, com histórico de alcoolismo na família, que vivem em um ambiente desfavorável, vítimas de maus tratos.
     Segundo o pediatra, é preciso voltar a atenção para o que os pais dizem durante a consulta. Ele diz que em cada dez diagnósticos, os pais acertam em oito. "Os pais têm uma percepção muito adequada quando seu filho não está bem. Ele pode não saber o que é, mas sabe que ele não está bem", diz.

OLHAR

Quando a criança evita o contato visual direto,
não desenvolve empatia e não compartilha interesses.
     AGRESSIVIDADE

Até certo ponto, a agressividade pode ser normal.
Mas é preciso observar se o comportamento agressivo é frequente e em que situações ele ocorre.



    APRENDIZADO



Quando a criança é hiperativa, tem dificuldade de parar quieta e de aprender.


  SOLIDÃO

Se o seu filho é solitário e não interage com outras crianças,
apresenta características melancólicas e atitudes anti-sociais,
pode haver um distúrbio oculto.















Médicos precisam de maior treinamento para reconhecer sinais que podem atrasar o desenvolvimento infantil

Congresso Brasileiro de Pediatria
Segundo pediatras, também é preciso prestar atenção
ao que os pais dizem
Durante a consulta, o especialista precisa olhar a criança como um todo
 - não apenas em busca de sintomas de possíveis doenças


     As primeiras visitas a um consultório pediátrico giram em torno de questões básicas: amamentação correta, ganho de peso do bebê no tempo certo ou a presença de alguma doença. Muitos pediatras, porém, deixam de prestar atenção a outros aspectos importantes no desenvolvimento infantil. Nesse período, sintomas menos óbvios podem esconder problemas que trazem reflexos para a vida adulta. Estima-se que 16% da população infantil têm algum problema de desenvolvimento ou de comportamento — desde dificuldades motoras e de linguagem a problemas como autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

     Questões sobre o desenvolvimento normal da criança, envolvendo os aspectos sociais, emocionais e básicos, como linguagem e motricidade fina, devem estar na agenda de todos os pediatras brasileiros. Quanto mais cedo o problema for identificado, melhor será a resposta da criança para o tratamento. Sabe-se que os estímulos que as crianças recebem entre o nascimento e os três anos de idade têm capacidade de alterar curso do desenvolvimento, com influências na parte física, cognitiva e também na psicossocial. Ou seja, crianças nessa idade apresentam taxas de sucesso muito maiores do que as que foram diagnosticadas mais tarde. "Isso não significa que a criança vai deixar de ser autista, por exemplo, mas ela vai conseguir ter uma convivência melhor, um aprendizado melhor", diz Amira Figueiras, da Universidade Federal do Pará.

      "Se a criança não fala até os 16 meses, por exemplo, é um sinal de alerta", diz Ricardo Halpern, presidente do departamento científico de desenvolvimento e comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo ele, se até completar o primeiro aniversário, a criança não emitir gestos ou não balbuciar nenhuma palavra, é preciso investigar. "Não existe mais aquele pensamento de que 'cada criança tem seu tempo'", diz. Confira outros sintomas na lista abaixo:
Foto - Think Stock)


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Na Etiópia, autistas sofrem por desconhecimento da condição e superstição

Crianças têm dificuldade de
serem aceitas nas escolas

Jojo, que é autista, tem o apoio da família; A mãe o descreve como
"um jovem bonito, com muitas vitórias"
     Em 1995, a etíope Zemi Yunus não sabia o que era autismo, mas tinha consciência de que seu filho Jojo, então com quatro anos, era "diferente das outras crianças da idade dele".
     Foi então que seu marido assistiu a um programa de televisão sobre o assunto. Na época, a família vivia nos Estados Unidos.
     De repente, o casal se deu conta de que era possível que Jojo fosse autista. Certamente, os sintomas descritos pareciam indicar isso.
Pouco tempo antes de retornar à Etiópia, Zemi começou a pesquisar o autismo com mais profundidade.
Zemi disse que, assim como muitos pais de crianças autistas, ela se preocupava com a demora do filho em começar a falar.

"Mimado"

     Vários médicos haviam dito a ela que não se preocupasse porque, frequentemente, meninos começam a falar um pouco mais tarde.
     No entanto, quanto mais pesquisava, mais Zemi reconhecia que o atraso na fala do filho, assim como suas ações repetitivas e dificuldades de comportamento eram claramente manifestações de autismo.
     Infelizmente, o diagnóstico da condição, particularmente em países em desenvolvimento, é raro.
     Ao retornar à capital da Etiópia, Addis Abeba, Zemi consultou psicólogos, médicos e outros profissionais durante vários anos. Nunca obteve uma confirmação de suas suspeitas.
Dona de seu próprio negócio, a mãe de Jojo teve dificuldade em encontrar uma escola para o filho. Muitos professores diziam que Jojo era "mimado". Ele foi expulso de cinco escolas consecutivamente.
Uma instituição pediu pagamento triplo para aceitar Jojo.

Problema comum

     A essa altura, Zemi já tinha pesquisado amplamente o tema e sabia que a ocorrência de autismo na região era bastante alta.
     Na Etiópia, ninguém falava publicamente sobre o assunto, mas ela insistiu. Começou a procurar por outros pais afetados pelo problema.
     Zemi ficou chocada com o que encontrou. Famílias com crianças autistas as mantinham em casa, com frequência em quartos escuros.
     Ela encontrou o caso de uma menina cujas mãos ficavam amarradas atrás das costas, provavelmente para impedir que ela agredisse a si própria. Esse não é um comportamento raro entre crianças autistas, especialmente quando estão estressadas.
     Suas experiências a levaram a querer falar publicamente sobre o autismo.
     Em 2002, usando seu bem-sucedido negócio para promover suas atividades beneficentes, Zemi inaugurou o Joy Centre for Children with Autism em Addis Abeba.
     A escola começou a funcionar com quatro alunos - entre eles, seu filho - e três funcionários. Hoje, 75 crianças estão matriculadas na escola e a equipe conta com mais de 30 funcionários.
     Como a escola não tem fins lucrativos, os pais pagam o que podem. A instituição recebe auxílio da ONU (Organização das Nações Unidas) e de outros doadores.
     A criação do centro levou o governo da Etiópia a iniciar um programa para crianças com necessidades especiais.

"Possuídos pelo demônio"

     Isso não quer dizer que os etíopes mudaram sua atitude em relação aos que sofrem de autismo.
     Muitas pessoas ainda pensam que as crianças afetadas pela condição são possuídas pelo demônio em virtude de pecados cometidos por seus pais. Isso explica por que, frequentemente, crianças autistas são escondidas pelas famílias.
     Também há muita ignorância sobre o assunto no setor médico.
     Elias Tegene, um psicólogo que se especializa em autismo, descreve a condição como um novo "tema" que só se tornou conhecido na última década.
     Apesar da falta de dados oficiais no país, ele acredita que a incidência da condição está crescendo rapidamente.
     O problema é acentuado pelo fato de que muitos médicos na Etiópia nunca ouviram falar da condição.
     Os que identificam o autismo tratam os pacientes como casos psiquiátricos - embora o problema seja, na verdade, neurológico - ou simplesmente dizem aos pais que precisam educar melhor seus filhos.
    Com base em suas observações, Tegene disse acreditar que o autismo é mais comum em crianças da chamada "geração boom", ou seja, etíopes que viajaram para o exterior para trabalhar e estudar.
     O menino de nove anos Addis é uma dessas crianças. Ele nasceu em Maryland, nos Estados Unidos, de pais etíopes. Seu diagnóstico foi feito quando ele tinha apenas dois anos.
     O diagnóstico rápido se deveu ao fato de que Addis nasceu prematuro, com 27 semanas, e já estava sendo monitorado por uma equipe médica.

Vida ativa

     O pai de Addis, Abiy, disse que demorou para que ele e a esposa aceitassem o diagnóstico inicial.
     - Todo mundo tinha uma teoria sobre por que isso tinha acontecido.
     Segundo ele, há uma percepção de que o autismo é mais comum entre comunidades de migrantes vindos do Chifre da África - na região nordeste do continente.
     - Alguém nos disse que as crianças que tinham sido diagnosticadas em casa [na Etiópia] eram aquelas que tinham nascido no exterior , nos Estados Unidos ou na Europa.
     Foi a esposa de Abiy, Azeb - uma professora primária hoje se especializando em crianças com necessidades especiais - quem primeiro sugeriu que talvez Addis fosse autista.O marido, no entanto, resistiu à ideia de procurar tratamento por não querer aceitar a realidade. O diagnóstico resultou em um período de muita reflexão para Abiy.Hoje, Addis vive uma vida ativa, cheia de atividades. Ele tem um senso de direção particularmente desenvolvido.
     - Meu filho é uma criança ótima. Se nasceu com autismo, que seja. Mas ele é o melhor filho [do mundo].     
     Ele se comporta bem e nunca nos atrapalhou de maneira alguma.
     Embora não haja pesquisas para confirmar a visão do psicólogo Elias, de que o autismo está aumentando entre os etíopes, e especialmente entre os que vivem no exterior, há evidências em relação a crianças da Somália vivendo no exterior.
     Em 2009, o jornal New York Times publicou uma reportagem dizendo que autoridades do Departamento de Saúde de Minnesota, nos Estados Unidos, tinham chegado a um acordo em relação a um fato impressionante: havia índices mais altos de autismo em crianças somalis vivendo no Estado.
     Embora enfatizando que a amostra era bastante pequena, as autoridades citadas no artigo disseram que as crianças somális tinham entre duas a sete vezes mais probabilidade de sofrer da condição do que pessoas de outras etnias.
     Dados da Suécia e de outros pontos dos Estados Unidos parecem reforçar essa teoria.

Pesquisas

     Abdirahman D. Mohammed - um médico somali que trabalha no Axis Medical Centre, em Minneapolis - trata um grande número de pacientes de várias origens e disse não ter dúvidas de que o autismo ocorre em índices anormalmente altos em crianças de origem somali.
     - Infelizmente, é um problema imenso para a nossa comunidade. Pode causar muita perturbação e ansiedade para as famílias.
     Além disso, algumas pessoas associam o autismo a programas de imunização infantil, embora esse vínculo nunca tenha sido provado.
     Como resultado, algumas crianças somalis nos Estados Unidos não estão sendo vacinadas contra doenças perigosas.
     E se de fato existe uma maior concentração de casos de autismo entre crianças da comunidade somali, qual seria a explicação para isso? Mohammed não sabe a resposta.
     - Será que isso é ambiental, genético, ambos? Não sabemos. É um grande mistério.
     Felizmente, o US Centre for Disease Control and Prevention acaba de aprovar financiamento para pesquisas sobre o assunto. Talvez sejam necessários mais estudos na Etiópia e entre comunidades de etíopes vivendo no exterior.
     E de volta a Addis Abeba, os anos se passaram e hoje o filho de Zemi, Jojo, é um jovem de 20 anos.
     A mãe o descreve como "um jovem bonito, com muitas vitórias". Recentemente, ele começou a dizer algumas palavras.
     - Ele está prestes a falar. Estou tão animada com isso! As coisas estão caminhando.
Histórias como as de Jojo e Addis enchem de esperança as famílias afetadas pelo autismo.

Fonte: BBC Brasil -
Foto: BBC Focus on Africa Magazine




domingo, 9 de outubro de 2011

Cientistas conseguem reproduzir imagens gravadas no cérebro

     Imagens mentais reproduzidas no computador ainda não são idênticas às originais


     Cientistas da Universidade da Califórnia desenvolveram um método que recria imagens de um filme vistas por pessoas a partir do que fica gravado no cérebro delas.

     Isto significa que as imagens mentais processadas a partir das experiencias visuais reais dos indivíduos foram capturadas e reconstruídas em formato de vídeos digitais.

     O experimento tem o objetivo de ajudar pessoas com dificuldades de comunicação, mas, no futuro, poderá reconstruir até nossos próprios sonhos em uma tela de computador.

      “Este é um avanço enorme rumo à reconstrução de imagens internas. Estamos abrindo uma janela para os filmes de nossas mentes”, disse o professor Jack Gallant, neurologista da universidade e um dos autores do estudo, publicado na revista americana "New Scientist”.

     Por enquanto, o processo só conseguiu recriar o que as pessoas já viram combinando imagens por ressonância magnética e padrões informáticos.

     Os pesquisadores monitoraram três pessoas que assistiram por horas a diversos trailers de filmes enquanto um aparelho de ressonância magnética gravava o fluxo de sangue que fluía através do córtex visual do cérebro delas.

     As leituras foram colocadas em um programa de computador, que se encarregou de dividi-las em pixels tridimensionais chamados voxels (pixels volumétricos), recriando as imagens do cérebro dos candidatos em um monitor de computador.

     O vídeo abaixo mostra o resultado do experimento, com a imagem real à esquerda, e o vídeo recriado com o uso da técnica à direita.

     Apesar de não serem idênticas às originais, as imagens recriadas mantêm uma semelhança assombrosa com as reais e abrem um novo horizonte para entendermos o funcionamento do cérebro humano.


Fonte: Tecnologia MSN


sábado, 8 de outubro de 2011

Cientistas procuram identificar base genética do autismo


Ratos mostram que o número de cópias de genes controla o comportamento
Os ratos com a exclusão dos genes agiram de modo diferente
Cientistas do Laboratório Cold Spring Harbor (CSHL), em Nova Iorque, descobriram que uma das alterações genéticas mais comuns no autismo, a exclusão de um grupo de 27 genes no cromossoma 16, causa características idênticas às da doença. Ao criarem modelos de autismo em ratos através de uma técnica chamada de engenharia dos cromossomas, Alea Mills e colegas do CSHL revelaram as primeiras evidências de que herdar menos cópias destes genes leva a características semelhantes às usadas para diagnosticar as crianças com autismo.
“Normalmente as crianças herdam uma cópia de um gene de cada pai. No estudo, quisemos averiguar se as alterações no número de cópias que se encontram nas crianças com autismo eram as causas da doença”, explica Alea Mills.
“A ideia de que essa exclusão pode causar autismo foi emocionante”, diz a professora. Por isso, em seguida, “questionámo-nos se retirar o mesmo conjunto de genes dos ratos teria qualquer efeito”.
Depois de manipularem o genoma dos ratos, os cientistas americanos analisaram esses modelos animais à procura de uma variedade de comportamentos, pois as características clínicas do autismo variam de paciente para paciente, mesmo dentro da mesma família.
“Os ratos com a exclusão agiram de modo completamente diferente de ratos normais”, explica Guy Horev. Estes ratos tinham uma série de comportamentos característicos do autismo: hiperactividade, dificuldade de adaptação a um ambiente novo, problemas em dormir e comportamentos restritos e repetitivos.
O grupo de investigação do Laboratório Cold Spring Harbor está agora a trabalhar para identificar qual gene ou grupo de genes entre os 27 que estão localizados dentro da região excluída é responsável por comportamentos e alterações de cérebro observadas.
Os ratos criados pelos cientistas são valiosos para identificar a base genética do autismo e para elucidar como essas alterações afectam o cérebro. Os modelos animais também podem vir a ser usados para inventar maneiras de diagnosticar as crianças com autismo antes que estas desenvolvam totalmente a síndrome, bem como para a concepção de intervenções clínicas.

Sábado, 08 de Outubro de 2011