quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Como devo lidar com um filho autista?


Comece por você, se reeduque, pois daqui prá frente seu mundo será totalmente diferente de tudo o que conheceu até agora. Se reeducar quer dizer: fale pouco, frases curtas e claras; aprenda a gostar de musicas que antes não ouviria; aprenda a ceder, sem se entregar; esqueça os preconceitos, seus ou dos outros, transcenda a coisas tão pequenas.
Aprenda a ouvir sem que seja necessário palavras; aprenda a dar carinho sem esperar reciprocidade; aprenda a enxergar beleza onde ninguém vê coisa alguma; aprenda a valorizar os mínimos gestos.

Aprenda a ser tradutora desse mundo tão caótico para ele, e você também terá de aprender a traduzir sentimentos, um exemplo disso: "nossa, meu filho tá tão agressivo", tradução: ele se sente frustrado e não sabe lidar com isso, ou está triste, ou apenas não sabe te dizer que ele não quer mais te ver chorando por ele.

Você irá educar bem seu filho se aprender a conhecer o autismo "dele", pois cada um tem o seu próprio, mesmo que inserido em uma síndrome comum.

Deverá aprender a respeitar o seu tempo, o seu espaço, e reconhecer mesmo com dificuldades que ele tem habilidades, e verá que no fundo elas são tão espetaculares!

Você irá aprender a se derreter por um sorriso, a pular com uma palavra dita, e a desafiar um mundo inteiro quando este lhe diz algum não.

Você começará a ver que com o tempo está adquirindo super-poderes, e que a Mulher-Maravilha ou o Super-Homem, não dariam conta de 10% do que você faz.

Você tem o super poder de estar em vários lugares ao mesmo tempo, afinal escola, contraturno, natação, Son-Rise, integração sensorial, consultas, Fono, musicoterapia, equoterapia, pedagoga, ufa... Dar conta de tudo isso só se multiplicando e ainda se teletransportando!

Você é a primeira que acorda e última que vai dormir isso é, quando ele te deixa dormir, e no outro dia tá sempre com um sorriso no rosto ao despertar do teu galã.

Você faz malabarismos e consegue encaixar o salário da família, em tantas contas e coisas que precisa fazer, que só mesmo com super-poderes.

Você nota que seu cérebro é privilegiado, embora você nunca tivesse imaginado que dentro de você haveria um pequeno Einstein, pois desde o diagnóstico de seu filho, você já estudou: neurologia, psiquiatria, pediatria, fonoaudiologia, pedagogia, nutrição, farmácia, homeopatia, terapias alternativas, e tantas outras matérias.

Você dá aula de autismo, ouve muitas bobagens em consultórios de bacanas, e ainda ensina muitos deles o que devem fazer ou qual melhor caminho a seguir para que seu filho possa se dar bem. Ah... E a informática que anteriormente poderia lhe parecer um bicho-de-sete-cabeças...à partir deste filho, você encarou, e domina o ciberespaço como ninguém!

São tantas listas de autismos, blogs, facebook, Orkut, twitter...ih...pesquisa no Google então, já virou craque, ninguém encontra nada mais rápido que você!

Uma hora você verá o que essa "reeducação" proporcionou a você, pois hoje você é uma pessoa totalmente diferente do que era antes de ser mãe de um autista. Nossa como você mudou, hein? E topará com a pergunta que não quer calar: "como devo educar meu filho autista?"

Olhará ao redor, olhará para seu filho e perceberá que ele também está diferente, que ele cresceu, que já não é tão arredio, que as birras já não se repetem tanto, que ele até já te joga beijos! Que aquela criança que chegou solitária na escola, hoje já busca interagir, e já até fez algum amiguinho. Que ele já está aprendendo "jeitinhos" de se virar, e nem te requisita tanto mais.

Então, chegará a conclusão que mesmo sem saber responder a tal pergunta, você tá fazendo um bom trabalho, e que ninguém no mundo poderia ser melhor mãe/pai que você para esse filho!


Claudia Moraes

"Meu filho me ama?"

Não importa se você meu filho não entende que eu te amo.Nem que você não sabe como dizer que me ama.

Será que sabes o significado da palavra? O que amar representa.

Quantos falam de amor, prometem amor, e nunca nem chegaram perto dele.

Há um amor escondido nesse seu olhar.

Um amor perdido nesse labirinto que é o teu autismo.

Há um amor pleno de sonho, dentro desse seu coração.

Meu filho eu te amo, por você e por todos.

E quando você habitou meu mundo,

Nos nove meses, que coabitamos.

Eu pude sentir seu coração, eu pude imaginar teu rosto, teu sorriso.

E o amor que se calça de um punhado de desejos, que muitas vezes não são os nossos.

Quando eu te descobri fora de mim, tão fora de mim. Habitando um mundo inabitável. Entranhas de uma armadilha que caímos, cruel destino que nos aferroa, sem ao menos preparar-nos.

Jardim de rosas sem pétalas, somente espinhos, e eu me machuquei demais por querer-te meu. Você nem chegou e logo partiu, deixou somente um corpo, para eu amar.

Você se refugiou numa concha, e eu ali como um sol esperando você se abrir para mim.

Se eu soubesse que seria assim, não teria deixado cortar o cordão umbilical, te prenderia em mim para sempre.

Quanto amor desperdiçado, quanta dor cavada em noites intermináveis.

Mas como toda dor um dia se ameniza dentro de nós, eu fui buscando essa luz, que eu sabia existir por detrás dessa distancia criada por esse estranho autismo. E eu o encarei, eu me armei de um amor profundo e solitário, e de repente eu percebi seu mundo se aninhando de manso e desconfiado de mim. E eu quase te perdi, entendi que teria que amar-te assim, perto numa distancia segura de mim, e como amor não se ensina, somente deixei que o meu amor, refletisse em você, simples, sem palavras, um toque aceito, um sorriso trocado, e no final já estávamos tão perto, o suficiente para você não fugir, o suficiente para você me beijar sem eu pedir, para eu acreditar quem sabe ser feliz!


Liê Ribeiro
Mãe de um rapaz autista.