quarta-feira, 20 de abril de 2011

Feliz Páscoa

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - III - Eros Daniel

Quando leio essa variação de temas escritos pelo Nilton, sempre comento que ele quer mesmo é ver a choradeira das mães de autistas quando elas contam suas histórias.
Dramáticas e espetaculares, como ele diz.

     Uma das nossas amadas mães e amiga sugeriu que eu também participasse dessa série dedicada ao Dia das Mães (de autistas), que vi como uma boa idéia, afinal a gente se envolve tanto com os nossos filhos, que às vezes esquecemos o papel participativo que temos nas lides autísticas.
Pai de um jeito, mãe de quase todos os outros jeitos, né mesmo?

     Nós, quando começamos a “nossa história” há trinta e poucos anos atrás, tivemos que nos tornar terapeutas do nosso próprio filho autista aprendendo com suas manifestações comportamentais, na difícil e complexa convivência diária, grandes lições de amor, renúncia e sacrifício, espontaneamente aceitos com lucidez e abnegação, até porque a síndrome ainda era e continua quase como uma ilustre desconhecida.

     Buscamos todos os recursos possíveis e disponíveis, oferecidos pela medicina oficial, neurologia, psiquiatria, psicologia e terapêuticas altamente especializadas existentes na época, o que nos levou, isentos de vaidades, ficarmos especialistas na síndrome, tal a profundidade que nos envolvemos nos estudos dos tratados médicos, psicopedagógicos e educação especial dos chamados “excepcionais”.

     Com profundo sentimento de Fé, Amor e Abnegação, aceitamos o desafio que a vida nos concedeu, pelo nosso filho diagnosticado autista, outra raridade tal eram as dificuldades de informação, compreendendo que ele é um Espírito ou uma Consciência em processo de evolução como todo ser humano, “co-criador” do seu próprio destino e que nós, pais, assumimos o compromisso perante as Leis Divinas e da própria Consciência de amá-lo incondicionalmente, colaborando na sua própria autoredenção, o que nos possibilitou compreender sua condição de autista encapsulado, como então lhe caracterizava a psiquiatria vigente.

     Compreendemos também que o núcleo familiar constitui, em última análise, um verdadeiro laboratório consciencial, no qual mentes e corações se encontram e reencontram no vai-e-vem das vidas sucessivas, obedecendo a um planejamento maior, em harmonia com o Plano Divino alicerçado nas Leis do Amor, do progresso evolutivo e do aperfeiçoamento individual e coletivo, que nos proporcionou uma cosmovisão da vida e da natureza realista e otimista, de bom ânimo, perseverança, paciência e de esperança, fortalecendo-nos no testemunho diário, para compreender e aceitar as razões profundas de uma prova existencial tão complexa, difícil e desafiadora como é o autismo.

     Sempre esperamos que alguém respondesse aos nossos chamados. Sentíamos então que tudo o que pensávamos era real. Às vezes isso até não era um absurdo. Tentávamos nos enganar. Dizer para nós mesmos que éramos bobos. Nosso filho sabia que ainda estávamos enfraquecidos; às vezes até dava uma choradinha; quando não fazia alguma coisa, ficava quieto demais. Estava dormindo, mas nós sabíamos que se acendesse a luz, lá estaria ele, olhando-nos.

     Suspirávamos.
    
     Hoje, aqui em casa, pelo som macio da sua voz, ele continua aprendendo o que se quer dele e do seu corpo. Ele é grande fisicamente, mas continua na sua velocidade autística, a crescer mentalmente, tentando a cada gesto transformar-se numa presença.


     Enquanto isso, nós sabemos que ele deve antes satisfazer os desígnios divinos.

Roseli Antonia
Mãe do Eros Daniel - Autista