sexta-feira, 1 de julho de 2011

Novo Método de Identificar Autismo tem 94% de Precisão

     
     Ainda que descrito pela medicina há mais de meio século, o autismo continua um grande enigma para a ciência. O diagnóstico, baseado nas observações médicas e no relato de cuidadores, pode levar meses para ser confirmado. Invariavelmente, ele assusta. “A maioria esmagadora dos pais leva tempo para aceitar”, afirma a professora Adriana Alves. Ela conta que, depois de um ano peregrinando de consultório em consultório com o filho, a primeira sensação foi de desespero quando soube que o menino era autista. Até os 2 anos, o garoto era absolutamente indistinguível de outras crianças da mesma idade. Falava, brincava e se movimentava muito bem.

     “De um dia para o outro, notamos os movimentos repetitivos. Fernandinho parou de falar, não se envolvia mais em brincadeiras e parecia não ouvir e entender ninguém. O diagnóstico foi feito quando ele já tinha 3 aninhos”, relata a mãe. De lá para cá, Adriana e o marido passaram a esmiuçar o assunto. Nem todas as respostas foram encontradas. “Imaginamos que a culpa era nossa, perguntávamos onde havíamos errado. Foi e continua sendo um enorme desafio”, diz o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Fernando Cotta.

     O autismo não é uma disfunção única, mas um espectro de problemas que variam em intensidade e tipos. O único consenso até o momento é que, quanto antes o diagnóstico for feito, melhor. Não existem ainda exames específicos que detectem o distúrbio. Pesquisadores da Universidade de Harvard, porém, deram um passo importante nesse sentido. Com colegas da Universidade de Utah, também nos Estados Unidos, estão desenvolvendo um teste de base biológica que lança mão da ressonância magnética para detectar o autismo de alta funcionalidade. Batizado de DTI6, o exame monitora o fluxo de água ao longo das fibras nervosas do cérebro para produzir um mapa detalhado dos circuitos cerebrais.

     O professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina de Harvard, Nicholas Lange, explica que a fiação do    cérebro dos autistas é menos organizada nas áreas relacionadas a alguns aspectos do transtorno, incluindo déficit de linguagem, comportamento social e emoções. “Há também uma inversão da organização hemisférica. Estamos aprimorando o teste, mas ele poderá fornecer aspectos biológicos do cérebro que a ciência ainda não conseguiu detectar e que seriam importantíssimos para fechar o diagnóstico com objetividade e certeza”, avalia Lange, o principal pesquisador envolvido no estudo.
    
    Por enquanto, 30 pacientes autistas e 30 voluntários com desenvolvimento normal foram estudados. Todos do sexo masculino. “O teste identificou corretamente os autistas com precisão de 94%. Acredito que levaremos três anos para aprimorá-lo. Nossa intenção é combinar o DTI6 com as informações genéticas do paciente. Acredito que esse seja o caminho para fazê-lo promissor”, conclui.

Genoma

     Um artigo publicado recentemente na revista científica Neuron também traz novidades. Pesquisadores do Cold Spring Harbor Laboratory, em Nova York, constataram que centenas de pequenas variações genéticas raras e espontâneas desempenham papel importante nos casos de autismo. A pesquisa confirma a hipótese de que muitas mutações não seriam hereditárias, mas se manifestariam apenas nos indivíduos afetados.

     “Estudamos mais de mil famílias nas quais uma criança tem autismo e outra não. Conseguimos mostrar que os autistas nascem com uma predisposição quatro vezes maior de sofrer tais mutações em relação ao irmão que não desenvolveu o transtorno”, detalha o cientista Michael Ronemus, um dos autores do estudo.  De acordo com ele, o trabalho mostra pela primeira vez que existem de 250 a 300 regiões do genoma humano nas quais variantes podem provocar uma das formas de autismo. “A identificação exata desses genes ajudará a direcionar melhor o tratamento”, avalia.



Fonte: Correio Braziliense
Foto: Sintonia Fina








Senado aprova lei para incluir autista em cotas



     Senado Federal aprovou no dia 15 de junho o projeto de lei 168/11 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa Autista. De acordo com a nova lei, os autistas têm os mesmos direitos atribuídos às pessoas com deficiência como, por exemplo, cota de vagas de emprego em empresas com mais de cem funcionários. O texto segue para a Câmara dos Deputados.

     A projeto de lei aprovado também prevê o incentivo à formação e capacitação de pessoas com autismo, bem como de seus pais e familiares. Segundo o texto, as pessoas autistas devem ser incluídas no ensino regular, em classes comuns, mas também está previsto no texto a garantia de atendimento educacional especializado quando não for necessário cuidados específicos.

     O texto aprovado pelos senadores indica também a criação de um cadastro único de autistas, com o objetivo de criar estatísticas nacionais sobre esse tipo de distúrbio.

     O projeto prevê ainda direitos dos autistas, como proteção contra exploração e acesso a serviços de saúde, à moradia e à assistência social. Também estende o direito a jornada especial a servidor público que tenha sob seus cuidados cônjuge, filho ou dependente autista.

       O projeto é de autoria da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, mas o texto tem como base sugestão da Associação em Defesa do Autista (Adefa). O relator do projeto na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) foi Paulo Paim (PT-RS), também presidente da CDH.

Jornal do Brasil
Marina Pita