quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Caretas e emoções na tela

Pesquisadores de Portugal e Estados Unidos criam jogo virtual interativo para desenvolver, em crianças com autismo, a habilidade de comunicação e reconhecimento das emoções por meio de expressões faciais.
Na tela sensível ao toque, as crianças com autismo podem manipular
cada expressão facial do personagem para melhor entender as próprias emoções.
     Felicidade, tristeza, irritação, serenidade. Essas e outras emoções podem ser facilmente percebidas nas expressões faciais. No entanto, algo que parece natural para a maioria das pessoas, é um desafio para quem tem autismo. Pensando nisso, 30 pesquisadores das universidades do Porto, em Portugal, e de Austin, nos Estados Unidos, desenvolvem um jogo virtual interativo que pode ajudar crianças autistas a reconhecer e lidar com os sentimentos.

     Batizado de LIFEisGAME (Learning of facial emotions using serious games), o jogo apresenta à criança um personagem que pode ter cada detalhe de suas expressões faciais manipulado pelo mouse ou pela ponta dos dedos, em uma tela sensível ao toque, como a dos tablets e smartphones.

     A cada vez que a criança modela corretamente uma expressão pedida pelo jogo ou identifica um sentimento apresentado na tela, ganha pontosA cada vez que a criança modela corretamente uma expressão pedida pelo jogo ou identifica um sentimento apresentado na tela, ganha pontos. A ideia é que, desse modo, ela desenvolva a habilidade de reconhecer emoções em si mesma e nos outros.

     “Pretendemos que a criança identifique as emoções básicas e consiga atribuir significado em função do contexto, ou seja, desenvolva cognição social”, diz um dos psicólogos responsáveis pela parte terapêutica do projeto, António Marques, da Universidade do Porto.
Marques conta que as terapias tradicionais para autismo já trabalham com figuras e fotografias que representam as emoções, mas ressalta que o LIFEisGAME é mais dinâmico e permite mais usos.

     “Com essa nova ferramenta, podemos, por exemplo, adaptar o nível do jogo ao nível de desenvolvimento da criança, medir de uma forma fácil o tempo que ela demora a identificar a expressão de uma emoção e ir progredindo no contexto terapêutico aumentando os níveis de dificuldade do jogo”, lista o psicólogo.
Confira um protótipo do jogo em funcionamento

Múltiplas possibilidades
Em sua versão atual, o jogo apresenta ao usuário a opção de escolher entre personagens em estilo cartoon e personagens mais realistas. Segundo outra psicóloga do projeto, Cristina Queirós, essa variedade é proposital e busca adequar o jogo ao perfil do jogador.

     “Em alguns casos, os personagens mais lúdicos podem facilitar a adesão da criança ao tratamento, em outros, o uso de personagens realistas facilita a generalização e transferência da aprendizagem para o contexto real”, explica.

     Existe ainda a possibilidade de que o jogo seja modificado para funcionar como um espelho, que mostra ao jogador a sua própria face. A cientista da computação líder da parte tecnológica do projeto, Verónica Orvalho, da Universidade do Porto, afirma que estudos nesse sentido já estão sendo feitos.

     “Com uma webcam poderemos mapear o rosto do usuário e transformá-lo em personagem tridimensional”, diz. “Assim, a criança poderá aprender a controlar suas expressões de modo divertido e sem estresse.”

     “Os resultados que temos são ainda muito preliminares, mas esse primeiro protótipo foi muito bem acolhido pelas crianças e terapeutas”

     No momento, o jogo está sendo testado por crianças com autismo da Associação Criar, em Portugal, e por famílias em Austin, nos Estados Unidos. Depois de pronto, o LIFEisGAME deve ser distribuído gratuitamente para ser usado em casa pelas crianças e familiares e também em sessões de terapia sob a supervisão de psicólogos.

     “Os resultados que temos são ainda muito preliminares, mas esse primeiro protótipo foi muito bem acolhido pelas crianças e terapeutas”, antecipa o António Marques. “Não temos dúvidas de que será uma ferramenta muito importante na remediação desses déficits em crianças com autismo.”
                                                                                                                                                                                                                Foto:
Instituto de Telecomunicações da Universidade do Porto
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line