domingo, 6 de maio de 2012

Treinamento de neurônios: técnica permite tratar depressão, isquemia e autismo

A técnica ensina a desenvolver 
a concentração, 
a aprendizagem, 
memorização o equilíbrio emocional.
    Quem encontra Felippo Bello conversando ao lado da mãe, participando das atividades escolares ou interagindo com outras colegas pode imaginar estar diante de uma criança como outra qualquer.
Desde cedo, no entanto, a família luta para vencer o autismo, uma disfunção geral do desenvolvimento, que compromete a capacidade de comunicação, a socialização e o comportamento, ameaçando a convivência da criança com o mundo.
Adriana Nogueira transformou sua vida para ajudar ao filho, Felippo Bello
Além do amor abdicado de Adriana, Felippo contou com o auxílio do neurofeedback. A técnica – desenvolvida há 50 anos - consiste numa espécie de treinamento neurológico do cérebro, que ensina a desenvolver a concentração, a aprendizagem, a memorização e o equilíbrio emocional. O processo não utiliza medicamentos, apenas os estímulos.
Com apenas um ano e meio, em meio aos telefonemas diários, a avó de Felippo percebeu que algo havia de estranho com o pequeno. A experiência com a educação de crianças especiais ajudou a identificar o isolamento do mundo. Em seguida, a família percebeu a fala desconexa e  a dificuldade de construir frases.
Desde então, a mãe de Felippo, a empresária Adriana Nogueira, travou uma luta pessoal em busca de mecanismos e tratamentos que facilitassem e emprestassem mais qualidade à vida do filho.
Mesmo diante de diagnósticos confusos que, por vezes, apontavam para a Síndrome de Asperger (que consiste num espectro autista que se diferencia do autismo clássico por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo, os portadores são também conhecidos como autistas de alta performance), ela não perdeu a fé de encontrar uma forma de reconectar Felippo.
 “Sempre soube que não havia cura para o autismo, mas, através do neurofeedback, descobri que é possível que o portador se desenvolva por meio da interação social e cognitiva, regredindo total ou parcialmente alguns sintomas e comportamentos”, diz Adriana Nogueira.
Neurofeedback
O psicólogo especializado em neurofeedback nos Estados Unidos e Mestre em Neurociência pela Universidade de São Paulo(USP), Leonardo Mascaro explica que, na prática, o tratamento consiste, inicialmente, na realização de exames com o tomográfo, que descreve as bases neurológicas de cada paciente.
A partir da leitura eletroencefalográfica, são identificados as estruturas profundas do comprometimento que acomete o cérebro do paciente e, melhor ainda, viabilizam o treinamento destas estruturas cerebrais. “Com o resultado da leitura do mapa, condicionamos os neurônios através de estímulos diversos”, explica.
Leonardo esclarece que, embora clinicamente e do ponto de vista dos sintomas, muitas doenças de cunho neurológico -  como déficit de atenção e TOC, ou dislexia e quadros de anóxia – imitem umas as outras, o exame permite que haja uma diferenciação clara, evitando erros no diagnóstico e, conseqüentemente no tratamento, inclusive, o medicamentoso.
O resultado do tratamento por neurofeedback é demonstrado através de mapas obtidos no início e no final do tratamento de cada paciente, evidenciando cada condição de sua evolução.
O tratamento é válido não só para os casos de autismo, mas também no tratamento da dislexia, déficit de atenção, ansiedade, depressão e pânico, além de TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), estresse pós-traumático, fadiga crônica e fibromialgia, insônia, bem como quadros iniciais de Alzheimer, traumatismo crânio-encefálico e de isquemia ou derrame.
“Cada vez mais é possível desenvolver as potencialidades do cérebro. Na última década, a tecnologia permitiu o alcance de uma evolução sem precedentes, fazendo com que o tratamento não medicamentoso dessas diversas condições seja uma realidade”, esclarece Mascaro.
O especialista revela que o neurofeedback não possui contra indicações, nem mesmo para aqueles pacientes portadores de deficiência visual ou auditiva. “Conforme o trabalho acontece, novos mapeamentos são feitos e ajustes no tratamento são destacados”, diz .
Carmen Vasconcelos
carmen.vasconcelos@redebahia.com.br