sábado, 22 de dezembro de 2012

INDÚSTRIA DO DESAMOR

      O noticiário estafante e mórbido, sobre o brutal assassinato a tiros de vinte crianças e sete adultos numa escola elementar nos EUA, provocou uma avalanche de protestos, quando num processo sem precedentes, da imprensa norte-americana, jornalistas caracterizaram o "mass-murder", um jovem, que seria um Asperger, (Aspie), misturando conceitos de psicopatia com a Síndrome, que é uma variação do espectro autista definida em 1944, sem apurar detalhes. 


     "A psicopatia (oficialmente tratada como transtorno de personalidade antissocial) não tem nada a ver com o autismo. Enquanto o primeiro é um desvio de personalidade, o segundo é um transtorno do desenvolvimento. Um psicopata é capaz de entender com maestria a mente dos outros, a ponto de manipular, enganar e, então, roubar ou matar. Já autistas são desprovidos do que os especialistas chamam de Teoria da Mente: a capacidade de atribuir pensamentos, crenças e intenções aos outros. São ingênuos e incapazes de mentir." 

     Tristemente notável, é que nestas horas em que protestam pais de autistas no mundo inteiro contra a analogia utilizando a Síndrome de Asperger, equivocadamente apregoada para todos os quadrantes da Terra, poderia ser a senha para definitivamente estigmatizar os autistas por ações desqualificantes, sem que se percebesse que este tipo de violência já faz parte da cultura daquele país, tendo em vista o culto às armas, estimulado.

     Já são 60 ataques nas instituições de ensino daquele país, que distribuídos entre elas já ceifaram 93 vidas entre crianças, adolescentes e adultos, em três décadas. 

     Os efeitos colaterais destas tragédias, já foram sentidos por aqui, quando um fanático religioso tirou a vida de algumas crianças no Rio de Janeiro, havendo na época quem o caracterizasse de autista, por ser introspectivo e solitário, e agora ao se repetir a tragédia norte-americana, revivemos esse temor, face a face com o aumento da exposição e do consumo da violência na mídia.

     O debate sobre a violência na mídia já é considerado um fator para o aumento de "mass-murder" nos EUA, com destaque para o dramático episódio de Columbine onde entre alunos e professores, 15 pessoas foram mortas em 1999, mas no Brasil ele é descartado, pois os noticiários de televisões pagas ou livres reprisam a todo instante a mesma história ou transmite com sensacionalismo, ao vivo as novas tragédias.

     Considerando também dos assassinatos em massa na Noruega e na Alemanha - os "especialistas" trataram de construir, rapidamente, análises e perfis "pessoais", diagnosticando que, este tipo de perpetrador é autista - Asperger - daí justificando o mal que originou o ataque às crianças, a mesma analogia infeliz que fez uma psicóloga, misturando conceitos de psicopatia e da síndrome em programa de televisão com audiência nacional, ao vivo, gerando indignação aos pais de milhões de autistas no Brasil, que agora ao verem se intensificar o estigma da discriminação e do preconceito, poderão ver seus filhos serem chamados de assassinos, com base no que viram e ouviram naquela afirmação antiética e irresponsável.

     Sabemos que as escolas há muito demonstram necessidade de reforma, ou pelo menos de criação de opções. O xis da questão é começar a pensar que a socialização da escola é um fator negativo por estes estardalhaços importados,     que nada mais são do que geradores de irresponsabilidade e falta de compromisso com a vida, como uma doença que pode contagiar a sociedade.

     Consequentemente, adeus à educação inclusiva na sala de parto.

     Paradoxalmente os colegas de um aluno autista, solitário ou "excêntrico" diriam que ele neste caso, seria poupado de qualquer responsabilidade por alguma ação, sem aqui dimensioná-la, quando da irrupção de um surto psicótico, já que num movimento rápido seria ocultado à dimensão social do clima mental e emocional dele, e do que existe de coisas ruins atualmente nas escolas brasileiras, onde só se divulgam brigas de pátio e quando um professor e surrado pelo aluno, embora isso também choque, por enquanto. 

     Pais de autistas são transformadores de histórias e a cada um cabe uma parcela de conquista, pois a síndrome que acomete nossos filhos pode ser a missão para que aprendamos a nos relacionar com ele de maneira digna, amorosa, compassiva e fraterna, grandezas em rotinas comuns, mesmo não levando em conta que isso nada mais é que um fato natural, por isso se dá pouca importância.

     Não podemos esquecer que em torno de nós estão às indústrias do desamor que são fornecedoras de invencionices, como as notícias que se intrometem em nossa alma discriminando a síndrome, transformando-a no ruim e impossível de ser administrado,  quando então dá uma vontade danada de ser herói para destruir perversidades.