segunda-feira, 17 de junho de 2013

Atividades em grupo têm sido mais procuradas por pais de crianças com autismo

          Assim que a cortina desceu e o teatro lotado começou a aplaudir, Wilker Vilela, 12, ficou feliz com a sua estreia nos palcos. "Gostei, é muito bom o calor dos aplausos."
Wilker é um dos 21 jovens do projeto Aut, que busca, por meio do teatro, ajudar crianças com autismo a melhorar suas habilidades sociais e a superar dificuldades de comunicação.
Wilker Vilela, 12, encena peça musical
no teatro Dias Gomes, em SP
 "Para ser um ator é necessário se expor ao público, esperar a vez de entrar, interagir, passar um certo charme. Tudo o que uma criança com autismo não tem", diz a neuropsicóloga Tatiane Ribeiro, que montou o projeto com a ajuda da também especialista em neuropsicologia Liège Felício, da fonoaudióloga Lais Mazzega e do diretor Deto Montenegro.
Depois de um ano de ensaios semanais, a estreia do musical teatral aconteceu no mês passado, no teatro Dias Gomes, em São Paulo.
No início, conta Ribeiro, os jovens não olhavam uns para os outros, apenas para baixo. O som alto, o ambiente apertado da coxia e a expressão das emoções em cada fala foram dificuldades superadas pelos agora atores.
Apesar de o objetivo inicial não ter sido uma terapia formal, as aulas de teatro acabaram dando resultados. A melhora na empatia dos jovens será medida por testes.
Esse tipo de atividade em grupo tem sido cada vez mais procurada pelos pais das crianças com autismo, segundo a psicóloga Roberta Marcello, diretora do instituto Priorit, no Rio.
"O foco é estimular a troca social das crianças", diz ela. Entre as atividades oferecidas na Priorit, especializada no tratamento de crianças com autismo e deficit de atenção, estão a capoeira, o judô, o canto e o desenho, indicadas a partir dos quatro anos de idade e realizadas com terapeutas que as adaptam à realidade do transtorno.
Segundo a psicóloga, muitos pais buscavam essas atividades em escolas normais, mas as crianças não conseguiam se adequar.
"É importante não só contornar as dificuldades da criança mas estimular suas habilidades", diz Marcello.
Segundo a psicóloga Caia Pacífico, colaboradora no Ambulatório de Autismo do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP, essas atividades não podem ser consideradas terapias, pois carecem de evidências científicas, "mas podem ter caráter terapêutico, na medida em que favorecem uma interação com o outro".
TERAPIAS
Entre os tratamentos individuais do autismo, destacam-se as terapias comportamentais e a psicanálise, sendo que a última tem sido alvo de críticas pela alegada falta de estudos científicos que comprovem seus resultados.
O método ABA (análise aplicada do comportamento, em inglês), usado desde a década de 1960, baseia-se em programas estruturados sob a ideia de um comando, um comportamento resultante (reação ou falta de reação) e uma consequência, como a recompensa por um comportamento desejado, explica a psicóloga comportamental Cláudia Romano, diretora do grupo Gradual.
"Há programas para desenvolver a sociabilidade, treinar o uso do banheiro, para alfabetização, linguagem etc.", completa Pacífico.
Já o Teacch (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficits relacionados com a Comunicação), desenvolvido no início dos anos 1970, usa estímulos visuais, como figuras, e corporais, como gestos, para a comunicação.
A psicanálise, por outro lado, não se concentra nos sintomas. Segundo Vera Regina Fonseca, diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise, o método busca a superação das dificuldades de relacionamento da criança por meio de jogos e da participação ativa do analista, como objeto de desenvolvimento da criança.
O objetivo é que ela consiga compartilhar emoções e compreender o que outras pessoas estão sentindo.
"Buscamos identificar quem a criança é, e não como gostaríamos que ela fosse. As outras terapias têm uma ideia de como a criança deve ser."
O Centro de Educação Terapêutica Lugar de Vida, em São Paulo, usa uma abordagem que mescla a psicanálise com a educação e também as atividades em grupo.
"Partimos da ideia de que a educação constrói a subjetividade e molda um modo de ser e como a criança se relaciona com os outros", diz Maria Cristina Kupfer, uma das fundadoras da instituição.
Uma característica do local são os grupos de educação terapêutica. "Formamos minigrupos com crianças com diferentes dificuldades, formando uma pequena experiência do que seria uma socialização de fato", diz Cristina Keiko, do conselho administrativo da instituição. Entre as atividades propostas estão oficinas de música, de cozinha e de escrita.

Maria Eugênia Pesaro, também da Lugar de Vida, diz que há uma busca por dar voz à criança autista: "Isso não significa que ela tenha de falar, o objetivo é que o que quer que a criança produza, seja fala, seja outro meio de expressão, tenha a ver com querer estar com o outro."
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FONTE:
          FERNANDO TADEU MORAES

Dia Mundial do Orgulho Autista: Abraci lembra êxito do diagnóstico precoce

 Brasília - Para lembrar o Dia Mundial do Orgulho Autista, que será comemorado dia 18, a Associação Brasileira de Autismo, Comportamento e Intervenção do Distrito Federal (Abraci-DF) organizou hoje (16) em Brasília uma atividade para esclarecer o que é o transtorno e conscientizar as famílias da importância do diagnóstico precoce.
     O autismo é caracterizado pela dificuldade de socialização. Em geral, os primeiros sinais, como isolamento, dificuldade para falar e repetição de movimentos aparecem por volta dos 2 ou 3 anos de idade. De acordo com a presidenta da Abraci-DF, Lucinete Andrade, quanto mais cedo a doença for diagnosticada, maiores as possibilidades de estimulação.
     “Quando se fala de autismo, não se trata de uma só realidade. Por essa diversidade, o diagnóstico é problemático. Às vezes, o diagnóstico fica errado e isso compromete o desenvolvimento e a estimulação dessas crianças”, avaliou.
     O autismo não tem cura, mas o desenvolvimento dos pacientes pode ser estimulado, além do uso de medicação. Como o transtorno é pouco conhecido, segundo Lucinete, muitos autistas não recebem a estimulação e o tratamento adequados. “Nosso objetivo é chamar a sociedade para dizer que não apenas o diagnóstico é importante, a estimulação também, é ela que vai fazer a diferença entre o diagnóstico e o desenvolvimento desse indivíduo. Hoje, no Brasil, só os pais que podem pagar, com situação financeira melhor é que oferecem a estimulação adequada. E isso tem que ser independente da questão social da família”.
     Mãe de um menino de 2 anos e 10 meses diagnosticado com autismo, a dona de casa Luísa Silva diz que iniciativas como essa são importantes para desmistificar o autismo, ampliar o conhecimento sobre a doença e ajudar os pais a identificar os primeiros sintomas.
     “O primeiro sintoma do Davi foi um atraso na fala, ele falava algumas palavras e de repente parou. Eu percebi que não estava normal. Um amigo da família notou também e perguntou se a gente conhecia um pouco sobre autismo. Na primeira leitura que fiz, vi que muita coisa que eu já vinha observando no Davi estava acontecendo. No dia seguinte, fui ao pediatra. Ele fez testes com o Davi e me deu encaminhamento para o neurologista”, contou.
     Segundo Luísa, além do apoio aos pacientes autistas, as famílias também precisam ser acompanhadas para lidar com realidades tão particulares. “ É muito importante esse trabalho de dar apoio aos pais. Tenho certeza que há muitas crianças sem falar, tendo gestos mal interpretados como manha ou birra e não é. E isso é muito sofrimento tanto para os pais quanto para as crianças”.

     Não há estimativas oficiais sobre o número de autistas no Brasil, mas organizações não governamentais calculam que o total pode chegar a mais de 1 milhão de pessoas.