domingo, 25 de agosto de 2013

Mães querem dar a filhos deficientes intelectuais chance de morarem sós

       
Nicolas tinha 14 anos quando decidiu ir sozinho à papelaria do bairro. A mãe, Flávia, permitiu, mas escondida atrás de árvores e postes, acompanhou a trajetória do filho até o local.
Sete anos se passaram e hoje, Nico, 21, que tem traços de autismo, trabalha em uma biblioteca em Brasília e pensa em morar sozinho.

ANÁLISE:
Viver sozinho implica preparo familiar e de toda a sociedade

Ana Maria Elias Braga
Especial para Folha 

A ideia de tornar o deficiente intelectual mais independente é bem vinda e se constitui em autêntico "sonho" da maioria das famílias que possuem um filho nessa condição. Porém, tomar uma atitude nesse sentido esbarra em desafios diversos.
Na condição de mãe de gêmeos autistas, considero que seja necessária profunda e detida análise sobre o tema.
A experiência na qual se baseiam as idealizadoras da campanha ocorreu na Inglaterra e é preciso saber como adaptá-la, na prática, à realidade de nosso país.
É preciso indagar que nível de deficientes podem ser considerados aptos a uma vida mais independente, com segurança, e quais são suas condições socioeconômicas.
Também é necessário considerar como se dará a alocação dessas pessoas -vai haver proximidade física com seu lar de origem? Morando sozinhos, qual a rotina para eles estabelecida e qual o seu acompanhamento?
Morar sozinho implica possuir várias atividades externas, especialmente as de trabalho. Para que isso aconteça, é fundamental que eles sejam muito bem preparados não apenas pela família como também por serviços de psicólogos, terapeutas, além de profissionais de educação e de profissionalização.
Fosse tudo isso uma realidade brasileira, a experiência poderia ser adotada de imediato, o que, infelizmente, não é o caso.
Em nossa realidade, o conceito de inclusão, em diversas esferas, ainda engatinha, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas.
As habilidades adquiridas por esse grupo de pessoas são, na maioria das vezes, transmitidas apenas dentro do núcleo familiar.
Assim, se o deficiente intelectual, desde a sua infância, não possuiu efetivo estímulo de inclusão, sem ter sido ao menos preparado para uma vida produtiva, será imenso o desafio. A experiência inglesa é interessante, mas representa o topo da escada. Por aqui, ainda estamos subimos o primeiro degrau.
Para muitas mães de jovens como Nicolas, é quase impossível pensar em vida independente para os filhos com deficiência intelectual.
Não é o que acontece com a economista Flávia Poppe, a biblioteconomista  Ana Maranhão e a administradora Monica Mota, que querem que os filhos tenham moradia própria e independente.
Inspiradas em experiências no Reino Unido, criaram o Instituto JNG (iniciais dos filhos João, Nicolas e Gabriella) com a meta de discutir e desenvolver um projeto piloto de moradia independente para jovens com deficiências intelectuais, como seus filhos.
"As famílias e a sociedade falam em inclusão na escola, no trabalho, mas se esquecem da moradia. Talvez por não acreditarem que seja possível. Mas é possível, basta acreditar e dar meios", afirma Ana Maranhão, mãe de João, 19.
Autista, João é filho único. "Como vai ser quando não estivermos mais aqui? Quem vai cuidar dele? É preciso construir alternativas saudáveis para que eles vivam bem após a morte de seus responsáveis."
Por falta de informações e de uma rede de acolhimento, os pais tendem a superproteger os filhos com deficiência intelectual, tratando-os como crianças mesmo já adultos.
"É erro. Confundem os limites entre proteger e impedir que seus filhos se desenvolvam", diz Flávia, que preside o Instituto JNG, que será inaugurado na terça-feira, no Rio.
Segundo a economista, é preciso criar um modelo de moradia e de assistência que se adapte à realidade do país.
No Brasil existem 2.611.536 pessoas com deficiência mental/intelectual, 1,5% da população, segundo o IBGE.
MORADIAS ASSISTIDAS
Flávia e as amigas fizeram uma série de visitas a moradias assistidas no Reino Unido. "Lá, o morador deficiente passa por avaliação em que as habilidades são valorizadas. E recebem suporte para lidar com as deficiências."
Por exemplo, há moradores com mais dificuldade para atividades como fazer compras. Outros não conseguem preparar um lanche sozinhos. Então, recebem ajuda pontual.
Na Inglaterra, a maioria das moradias assistidas é subsidiada pelo governo e funciona em edifícios de seis a oito apartamentos. Apenas um cuidador coletivo fica 24 horas no local e é responsável por todos.
Para Ana Maranhão, esse modelo dá autonomia. "Se você reúne numa mesma casa três ou quatro, com um cuidador, a tendência é haver um nivelamento para baixo e não um estímulo às habilidades de cada um."
Ela dá o exemplo de como o filho, que não faz a barba sozinho, tenta progredir.
"Ele já tentou, mas se machuca. Agora, tenta com o barbeador, mas os pelos são ralos. Se estivesse numa casa com mais três, é possível que o cuidador fizesse a barba de todos"
Fonte:
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Agenda visual ensina rotinas à criança autista

     
É muito comum que crianças com autismo queiram repetir – inclusive muitas e muitas vezes – uma atividade que lhes agrada. Quando isso não é possível ou não lhes é permitido, podem ficar ansiosos ou irritados. Esse comportamento pode trazer dificuldades na rotina de pais e professores, e uma dica para contorná-lo é criar uma agenda visual de atividades, com a sequência de tudo que será feito no decorrer do dia.
A agenda permite à criança ajustar-se ao que irá acontecer, evitando que ela se distraia com outras atividades que queira fazer a qualquer momento. Ainda que as atividades não variem no decorrer do dia, ou mesmo dos dias, ao visualizar cada ação a criança percebe melhor o que ainda precisa ser feito.
Seja por meio de fotografias, gravuras, desenhos ou mesmo objetos, o ideal é que a atividade seja apresentada e descrita à criança ao mesmo tempo em que ela consegue visualizar a imagem da ação. A cada nova atividade é mostrada uma imagem correspondente, e ao terminá-la, a mesma imagem pode ser virada ou colocada de lado, para ficar claro que ela foi encerrada, antes de mostrar a nova figura da próxima atividade.
No caso de crianças muito pequenas, utilizar objetos em vez de desenhos pode ser mais eficiente. À medida em que crescem, pode-se substituir os objetos por desenhos ou imagens que os representem, sempre da forma mais simples possível.

Fonte: Desafiando el autismo.