quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Irmãos de autistas têm mais chance de ser diagnosticados com o transtorno

    Pesquisa realizada na Dinamarca com mais de um milhão de crianças confirma tendência observada nos consultórios e em outros estudos. Pais devem ser orientados por especialistas antes de tomar a decisão de engravidar novamente
Uma pesquisa publicada este mês no jornal científico JAMA Pediatrics traz um dado relevante para a comunidade científica e para os pais de filhos autistas: irmãos mais novos de crianças já diagnosticadas com transtornos do espectro têm cerca de sete vezes mais risco de desenvolver autismo.
O estudo foi realizado com quase 1,5 milhão de crianças nascidas na Dinamarca de 1980 a 2004. Elas foram identificadas e acompanhadas até o final de 2010. Depois, os pesquisadores compararam as crianças que tinham um irmão mais velho diagnosticado com autismo e as crianças cujos irmãos não apresentavam o transtorno.
A pesquisa também levou em consideração os meio-irmãos e chegou ao seguinte resultado: os meio-irmãos por parte de mãe tiveram 2,4 vezes mais risco de também apresentarem autismo e os meio-irmãos por parte de pai tiveram 1,5 vezes mais chance. Na conclusão do estudo, os autores afirmaram que a diferença de risco entre irmãos e meio-irmãos confirma o papel da genética na ocorrência do autismo. Eles também apontam que a chance maior entre meio-irmãos por parte de mãe pode representar o papel dos fatores associados à gravidez e ao ambiente intra-uterino no desenvolvimento do problema.
Segundo o psiquiatra infantil Estevão Vadasz, coordenador do Projeto Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP), o estudo dinamarquês corrobora dados mundiais. “Vários países desenvolvidos já fizeram esse tipo de pesquisa. Estimamos que quem já tem um filho autista tem chance de 8% a 10% de ter outro filho autista”, afirma. A porcentagem é bem mais alta do que a estimativa para a população em geral: 1% de pessoas apresentará transtornos do espectro autista.
Mas, na prática, se você é mãe ou pai e já tem um filho diagnosticado, o que pode fazer? Segundo Estevão, os casais devem passar por uma orientação genética. O médico responsável deve apontar os riscos, mas a decisão final será do casal. O importante é que ela seja tomada com consciência.

Caso decida engravidar novamente, o casal deve submeter a criança a avaliação de psiquiatras desde os primeiros meses para acompanhar seu desenvolvimento. Isso porque, quanto mais cedo é feito o diagnóstico, mais cedo começam os tratamentos e melhor a perspectiva de melhora do paciente.

FONTE:
Por Marcela Bourroul

Autismo e a escolha da escola: regular ou especial? Debate continua

Muitas pessoas ainda têm dúvidas a respeito de qual escola seria a mais indicada para alguém com alguma deficiência, particularmente, para alguém diagnosticado com Transtorno de Espectro Autista, se a escola “especial” ou a dita regular.
Em dezembro de 2012 foi sancionada a lei nº 12.764, chamada de Berenice Piana, em alusão a Sra. Berenice, que lutou bastante para que os direitos da pessoa com autismo fossem reconhecidos. Essa lei garante que nenhuma escola regular pode se recusar a matricular um aluno com autismo. Mas será que as escolas no Brasil estão preparadas para receber e incluir alguém com autismo? Esse é um questionamento constante para os pais e profissionais que lidam com o autismo.
Essa discussão ficou mais intensa depois que a presidente Dilma vetou na lei Berenice Piana, o trecho que deixava existir a possibilidade de se poder educar a criança e o jovem de acordo a necessidade de cada um, tirando assim, a obrigatoriedade de se ter que educar o autista em uma escola regular.
O autismo se manifesta de maneira diferente em cada pessoa, e isso cria necessidades diferentes para cada um. Então, muitos pais não sentem que essas necessidades serão atendidas por uma escola regular, justamente por acharem que além da escola não estar preparada para receber seus filhos, eles precisam de uma atenção além daquela que a escola poderia oferecer. E, ainda existem as alegações de que o filho é tratado de forma diferente, principalmente pelos outros alunos, sofrendo, muitas vezes, preconceito.
As opiniões dos profissionais se dividem. A maior parte deles afirma que o governo brasileiro vem criando, nos últimos anos, leis que garantam que toda criança frequente a escola, e que se a criança ou jovem tiver alguma condição bastante grave que a impeça de ir a escola, a escola deverá ir até ela. Porém, associações como a APAE, por exemplo, defendem a educação especial.
A meu ver, o maior problema nessa questão é o direito de escolha dos pais de onde educar seus filhos. Sim, em um lugar perfeito, a escola regular seria inclusiva com todos, independente da criança ter algum tipo de deficiência ou não. Isso porque, somos todos diferentes. Vamos ter necessidades, dificuldades, facilidades diferentes. E a escola deveria acolher essas diferenças. É preciso pensar, no caso específico do autismo, qual é a necessidade particular e a partir disso, procurar o que é melhor pra essa necessidade.
Ainda estamos caminhando. As leis são apenas o começo. Agora é preciso criar a possibilidade de se incluir os autistas em nossa sociedade, e isso deve sim começar pela educação. Atender as necessidade e diferenças de cada um, independente da criança ser autista ou não, é dever de toda escola.

Por fim, é preciso sempre ter em mente de que cada criança é um caso particular, e os pais são os mais indicados, sempre, para dizer o que é melhor para seus filhos, se é uma escola regular ou se é uma educação especial.
FONTE:
Foto: Estou Autista - Google. 
Camila Gadelha

VIVÊNCIAS AUTÍSTICAS

VIVÊNCIAS AUTÍSTICAS

Como o autismo ajudou Messi a se tornar o melhor do mundo

 
Os sintomas da Síndrome de Asperger trabalharam a seu favor.

     Messi é autista. Ele foi diagnosticado aos 8 anos de idade, ainda na Argentina, com a Síndrome de Asperger, conhecida como uma forma branda de autismo. Ainda que o diagnóstico do atleta tenha sido pouco divulgado e questionado, como uma maneira de protegê-lo, o fato é que seu comportamento dentro e fora de campo são reveladores.
     Ter síndrome de Asperger não é nenhum demérito. São pessoas, em geral do sexo masculino, que apresentam dificuldades de socialização, atos motores repetitivos e interesses muito estranhos.           Popularmente, a síndrome é conhecida como uma fábrica de gênios. É o caso de Messi.
    É possível identificar, pela experiência, como o autismo revela-se no seu comportamento em campo — nas jogadas, nos dribles, na movimentação, no chute. “Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e repeti-lo exaustivamente”, diz Nilton Vitulli, pai de um portador da síndrome de Asperger e membro atuante da ong Autismo e Realidade e da rede social Cidadão Saúde, que reúne pais e familiares de “aspergianos”.
     “O Messi sempre faz os mesmos movimentos: quase sempre cai pela direita, dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol de cavadinha, típico dele”, diz Vitulli, que jogou futebol e quase se profissionalizou. E explica que, graças à memória descomunal que os autistas têm, Messi provavelmente deve conhecer todos os movimentos que podem ocorrer, por exemplo, na hora de finalizar em gol. “É como se ele previsse os movimentos do goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando ele entra na área, já sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquela sorriso típico de autista, de quem cumpriu sua missão e está  aliviado”.
     A qualidade do chute, extraordinária em Messi, e a habilidade de manter a bola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, são provavelmente, segundo Vitulli, também padrões de repetição, aliados, claro, à grande habilidade do jogador. Ele compara o comportamento de Messi a um célebre surfista havaiano, Clay Marzo, também diagnosticado com a síndrome de Asperger. “É um surfista extraordinário. E é possível perceber características de autista quando ele está numa onda. Assim, como o Messi, ele é perfeito, como se ele soubesse exatamente o comportamento da onda e apenas repetisse um padrão”. Mas autistas, segundo Vitulli, não são criativos, apenas repetem o que sabem fazer. “Cristiano Ronaldo e Neymar criam muito mais. Mas também erram mais”, diz ele.
Autistas podem ser capazes de feitos impressionantes — e o filme Rain Man, feito em 1988, ilustra isso. Hoje já se sabe, por exemplo, que os físicos Newton e Einstein tinham alguma forma de autismo, assim como Bill Gates.
     Também fora de campo, seu comportamento é revelador. Quem já não reparou nas dificuldades de comunicação do jogador, denunciadas em entrevistas coletivas e até em comerciais protagonizados por ele?      Ou no seu comportamento arredio em relação a eventos sociais? Para Giselle Zambiazzi, presidente da AMA Brusque, (Associação de Pais, Amigos e Profissionais dos Autistas de Brusque e Região, em Santa Catarina), e mãe de um menino de 10 anos diagnosticado com síndrome de Asperger, foi uma revelação observar certas atitudes de Messi.
     “A começar pelas entrevistas: é  visível o quanto aquele ambiente o incomoda. Aquele ar “perdido”, louco pra fugir dali. A coçadinha na cabeça, as mãos, o olhar que nunca olha de fato. Um autista tem dificuldade em lidar com esse bombardeio de informações do mundo externo”, diz Giselle. Segundo ela, é possível perceber o alto grau de concentração de Messi: “ele sabe exatamente o que quer e tem a mesma objetividade que vejo em meu filho”.
     Giselle observou algumas jogadas do argentino e também não teve dúvidas:  “o olhar que ‘não olha’ é o mesmo que vejo em todos. Em uma jogada, ele foi levando a bola até estar frente a frente com um adversário. Era o momento de encará-lo. Ele levantou a cabeça, mas, o olhar desviou. Ou seja, não houve comunicação. Ele simplesmente se manteve no seu traçado, no seu objetivo, foi lá e fez o gol. Sem mais”.
     Segundo Giselle, Messi tem o reconhecido talento de transformar em algo simples o que para todos é grandioso e não vê muito sentido em fama, dinheiro, mulheres, badalação. “Simplesmente faz o que mais sabe e faz bem. O resto seria uma consequência. Outra aspecto que se assemelha muito a meu filho”.
     Outra característica dos autistas, segundo ela, é ficarem extremamente frustrados quando perdem, são muito exigentes. “Tudo tem que sair exatamente como se propuseram a fazer, caso contrário, é crise na certa. E normalmente dominam um assunto específico. Ou seja, se Messi é autista e resolveu jogar futebol, a possibilidade de ser o melhor do mundo seria mesmo muito grande”, diz ela.
     A ideia de uma das maiores celebridades do mundo ser um autista não surpreende, mas encanta. Messi nunca será uma celebridade convencional. Segundo Giselle, ele simplesmente será sempre um profissional que executa a sua profissão da melhor forma que consegue — mas arredio às badalações, às entrevistas e aos eventos.  “Ele precisa e quer que sua condição seja respeitada. Nunca vai se acostumar com o assédio. Sempre terá poucos amigos. E dificilmente saberá o que fazer diante de um batalhão de fotógrafos e fãs gritando ao seu redor. De qualquer modo, certamente a sua contribuição para o mundo será inesquecível”, diz ela.