quarta-feira, 30 de abril de 2014

TDAH - Um distúrbio infantil levanta mais perguntas



Com milhões de crianças diagnosticadas com o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (sigla TDAH), existe a preocupação de que o distúrbio esteja recebendo tratamento excessivo com medicamentos prescritos.
No entanto, alguns profissionais da saúde mental estão alegando ter identificado um novo distúrbio que pode amplamente expandir as classes de jovens tratados por problemas de déficit de atenção. Chamada de tempo cognitivo lento, dizem que a condição é caracterizada pela letargia, devaneios e pelo processamento mental lento.
Os especialistas que buscam mais pesquisa sobre o tempo cognitivo lento afirmam que o quadro está ganhando impulso na direção do reconhecimento como um distúrbio legítimo – e, como tal, um candidato ao tratamento farmacológico.
A publicação Journal of Abnormal Child Psychology dedicou 136 páginas da sua edição de janeiro aos estudos que descrevem a doença, com o estudo principal alegando que a questão da sua existência “parece ter sido enterrada até o momento dessa edição”. O psicólogo Russell Barkley da Universidade de Medicina da Carolina do Sul alega que o tempo de cognição lenta “se tornou o novo distúrbio de déficit de atenção”.
Keith McBurnett, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia em San Francisco, disse: “Quando começamos a falar sobre devaneios, divagação mental, esses tipos de comportamento, pessoas que têm um filho ou filha que faz isso excessivamente falam, ‘Conheço isso por experiência própria’. Essas pessoas sabem do que se trata”.
Contudo, alguns especialistas, inclusive o dr. McBurnett, afirmam que não existe consenso sobre os sintomas e muito menos sobre a sua validade científica. Eles alertam que a divulgação do conceito sem o rigor científico mais amplo pode expor crianças aos diagnósticos sem garantia e aos medicamentos prescritos – problemas já tratados pela TDAH.
Estamos vendo uma moda evoluindo: assim como a TDAH tem sido o diagnóstico da vez há 15 anos mais ou menos, esse é o começo de outra moda”, declarou o Dr. Allen Frances da Universidade de Duke na Carolina do Norte. “Isso é um experimento na saúde pública de milhões de crianças”.
Apesar do conceito do tempo cognitivo lento, ou TCL, ter sido pesquisado desde a década de 80, ele não foi reconhecido no Manual de Diagnóstico e de Estatística dos Distúrbios Mentais, usado pela Associação de Psiquiatria Americana.
 Steve S. Lee, professor associado de psicologia da Universidade da Califórnia em Los Angeles, disse divergir em relação à ênfase da revista no tempo cognitivo lento. Ele expressou a preocupação de que a TDAH já havia se ampliado para englobar muitas crianças com comportamentos comuns à idade, ou cujos problemas são oriundos do sono inadequado, da incapacidade de aprendizado diferente ou de outras fontes. Cerca de dois terços das crianças diagnosticadas com o TDAH tomam medicação diária, que quase sempre controla a impulsividade severa e a falta de atenção, mas também traz o risco de insônia, da perda do apetite e, entre os adolescentes e adultos, do abuso ou o vício.
Meu lado cientista diz que precisamos buscar o conhecimento, mas sabemos que as pessoas começarão a dizer que seus filhos têm isso, e os médicos começarão a diagnosticar e prescrever bem antes de sabermos se a doença é real”, dr. Lee declarou. “A TDAH se tornou uma pergunta pública sobre a saúde da sociedade, e é justo perguntar sobre a TCL. Mas é melhor irmos devagar e com mais cuidado”.
FONTE:
      The New York Time    
28/04/2014  - Por ALAN SCHWARZ
Foto:

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Marcas cerebrais do autismo


         Alterações na organização dos neurônios do córtex, a camada mais superficial do cérebro, podem estar ligadas ao surgimento do autismo, grupo de problemas que prejudicam a capacidade de comunicação e relacionamento, de causas ainda pouco compreendidas. 
        Em um estudo recente, pesquisadores examinaram o cérebro de 22 crianças mortas com idade entre 2 e 15 anos, metade diagnosticada com autismo. Usando marcadores moleculares, eles observaram manchas incomuns nos lobos temporal e pré-frontal de 10 dos 11 cérebros de autistas — essas regiões influenciam o comportamento social e a expressão pessoal.    
          As manchas não foram observadas nos cérebros de 10 das 11 crianças sem autismo (NEJM, março 2014). Segundo os pesquisadores, as manchas indicariam falhas no desenvolvimento do córtex, que começa a se formar por volta do quinto mês de gestação. 
        A equipe ainda não sabe as causas dessas alterações nem como elas afetam o comportamento. Uma hipótese é que estariam associadas a fatores genéticos, ambientais ou mesmo a falhas na divisão das células cerebrais. 

Edição 218 - Abril de 2014
 
Foto: Google 


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Uma nova terapia para o autismo

        A ideia veio de Ron Suskind, jornalista cujo novo livro, “Life, Animated” (Vida, Animada, em tradução livre, ainda sem título no Brasil), descreve a experiência da sua família na interação com seu filho autista, Owen.

     Eles aproveitaram o fascínio de Owen pelos filmes da Disney como “A Pequena Sereia” e “A Bela e a Fera”, e utilizaram os personagens para provocar e reforçar o desenvolvimento social.
      Milhões de pais fazem isso rotineiramente, se não sistematicamente, se jogando no chão com uma criança socialmente distante a fim de encenar os próprios personagens. Suskind, ex-repórter do Wall Street Journal, chamou o seu tratamento de “terapia de afinidade”. Os especialistas familiarizados com o seu caso afirmam que a teoria por trás da terapia é plausível, dado o que se sabe há anos através de estudos dos efeitos de outras abordagens.
     Agora, um grupo de cientistas reunidos por Suskind está tentando obter fundos para um teste de 16 semanas com 68 crianças com autismo, com idades entre quatro a seis anos.
     “A hipótese proposta é sólida, e com certeza merece ser estudada”, declarou Sally J. Rogers, professora de psiquiatria do Instituto Mind da Universidade da Califórnia, em Davis. “Se observarmos esses personagens animados, eles são fortes estímulos visuais; as emoções são exageradas, aquelas sobrancelhas e os olhos grandes, a música que acompanha as expressões. Muitos de nós aprendemos os roteiros apropriados às situações sociais assistindo a eles”.
     Segundo ela, muitas crianças autistas são fascinadas por objetos e por assuntos sem conteúdo social inerente – mapas, por exemplo. Porém, a terapia da afinidade faz sentido para os que se fixam em filmes, em programas televisivos ou em personagens animados.
     Na terapia de autismo, o progresso é medido em pequenos acréscimos e tende a ser lento, especialmente em crianças profundamente afetadas, declaram os especialistas. Mas o distúrbio – o espectro autista, como é conhecido – abrange um grupo de crianças bem diversificado cujas chances de melhora são imprevisíveis e individuais. Algumas crianças desenvolvem habilidades sociais em relativamente pouco tempo, enquanto outras são teimosamente inacessíveis.
     Kevin Pelphrey, diretor do laboratório de neurociência infantil da Universidade Yale, estaria envolvido com o estudo. Ele disse que a abordagem da afinidade incorporava muitos elementos do importante tratamento de resposta pivotal (PRT, sigla em inglês), um tipo de terapia sendo estudada intensamente. Ela incorpora um sistema de recompensas nas interações normais entre o terapeuta (ou os pais) e a criança, brincando juntos.
     “Em vez de assistir ao desenho Thomas e seus Amigos como recompensa, por exemplo, fazemos com que a criança entre no contexto social de Thomas e Percy e os outros personagens”, e que aprenda através deles o valor da amizade, das brincadeiras em conjunto e do contato visual, ele disse.
Suskind, agora membro sênior da Universidade de Harvard, ficou surpreso com a reação a sua teoria. “Todo o processo tem sido empolgante, e é um pouco esquisito, ver esses neurocientistas me ouvindo e dizendo, ‘OK, o que podemos fazer para ajudar?"
Por 
 
The New York Times
Fotos: Google.

terça-feira, 15 de abril de 2014

AUTISMO e o IMPOSTO DE RENDA

Endereço do Vídeo explicativo no rodapé do Blog.


  
O AUTISTA NÃO É ISENTO
mas pode ser declarado como dependente dos pais em qualquer idade.

 Portadores de determinadas doenças têm direito à isenção do Imposto de Renda, mesmo que tenham recebido rendimentos como aposentadoria, pensão por invalidez ou pensão alimentícia – não importando o valor recebido.
O consultor da IOB Folhamatic EBS, empresa do grupo Sage, Daniel Oliveira, esclarece no vídeo à dúvida de um internauta.
Mas certas condições, como a deficiência física e auditiva, ainda não estão contempladas nesta lista, embora já existam projetos de lei no Congresso Nacional que pretendem incluí-las no grupo de isenção.
No caso de um adulto AUTISTA, Oliveira explica que a mãe ou pai podem declará-lo como dependente, não importando sua idade. "Ela poderá aproveitar despesas médicas que tem com ele [para abater o Imposto de Renda]".
Segundo a Receita Federal, se o portador da doença exerce uma atividade profissional  – seja autônomo ou empregado – e ainda não tenha se aposentado, não tem direito à isenção do imposto
Caso o contribuinte seja isento pelas regras do Fisco, é preciso procurar um serviço médico oficial da União, dos Estados ou Municípios para fazer um laudo pericial que comprove a moléstia.
Se o laudo for emitido por um médico da fonte pagadora – como o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) –, o imposto deixa de ser retido na fonte automaticamente, de acordo com a Receita.
Apesar de nem todos os portadores de deficiência física e mental (incluindo autismo) terem direito a isenção do IR, ele já são isentos, por lei, de pagar IPI (Imposto sobre Veículos Industrializados) e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na aquisição de veículos.
CONFIRA A LISTA DE DOENÇAS GRAVES QUE PERMITEM ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA –
- AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)
- Alienação mental
- Cardiopatia grave
- Cegueira
- Contaminação por radiação
- Doença de Paget em estados avançados (Osteíte deformante)
- Doença de Parkinson
- Esclerose múltipla
- Espondiloartrose anquilosante
- Fibrose cística (Mucoviscidose)
- Hanseníase
- Nefropatia grave
- Hepatopatia grave (nos casos de hepatopatia grave somente serão isentos os rendimentos auferidos a partir de 01/01/2005)
- Neoplasia maligna
- Paralisia irreversível e incapacitante
- Tuberculose ativa
FONTE: RECEITA FEDERAL

Fonte da Notícia:
Economia IG.com.br

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Veja o filme: UM SÓ MUNDO

UM SÓ MUNDO (Autismo: Um filme para todos)



Com o lançamento do documentário Um Só Mundo, jornalista da Gazeta do Povo pretende esclarecer conceitos e derrubar mitos sobre o autismo
O garoto Gabriel é um dos personagens do filme Um Só Mundo
 A jornalista Adriana Cze­lusniak resolveu, há pouco mais de dois anos, fazer um curso de cinema. Tinha em mente um objetivo mais ou menos definido: pretendia utilizar os conhecimentos adquiridos, as habilidades técnicas que viesse a desenvolver, para potencializar um projeto maior, fundamental em sua vida: promover a conscientização da sociedade em relação ao autismo – um transtorno neurológico, que se manifesta nos primeiro três anos de vida de uma criança, e afeta o desenvolvimento normal do cérebro relacionado às habilidades sociais e de comunicação.
Desse anseio, nasceu Um Só Mundo, documentário de 27 minutos que, além de ser o trabalho de conclusão do curso, realizado por Adriana no Centro Europeu, em Curitiba, também é mais uma forma encontrada pela jornalista de falar sobre um assunto que lhe é muito caro não apenas no âmbito profissional. Ela é mãe de Gabriel, um garoto, de nove anos, com autismo.
Adriana Czeluzniak
 Adriana Czelusniak fez um curso de cinema para tratar de tema que lhe é caro
Diagnóstico tardio fez músico sofrer por não estabelecer relações
CONTRAPONTO
Um Só Mundo também traz um contraponto: é interessantíssimo o depoimento do músico Raphael Augusto Rocha Loures, adulto que tem autismo. Ele foi diagnosticado muito tardiamente. Baixista, Raphael conta que sofreu muito ao longo da vida por acreditar que eram traços de sua personalidade a dificuldade em estabelecer relacionamentos sociais mais duradouros, a necessidade de ficar só e a inconstância, que o levou a fazer vários cursos universitários e abandonar todos. Desde o diagnóstico, que o identificou como portador de uma forma mais branda do transtorno, tornou-se uma espécie de porta voz do autismo, e sente a necessidade de dar seu testemunho.

Também foram ouvidas a psicóloga Manoela Christi Lemos, a neuropediatra Mauren Bodanesi e o geneticista Salmo Raskin, que têm, em suas respectivas áreas, um trabalho clínico e/ou de pesquisa também voltado ao autismo. Seus depoimentos são esclarecedores e derrubam mitos.

Sobre o fato de ter preferido falar de um outro Gabriel, e não de seu filho, e de ter optado por não fazer um documentário autobiográfico, Adriana diz que ainda pretende contar sua história, seja na forma de documentário ou de um livro. Mas ela acha que não chegou a hora. Prefere, hoje, dedicar-se à causa do autismo.
 Serviço

Um Só Mundo Documentário de Adriana Czelusniak. 
Contato: uniaopeloautismo@gmail.com.

Setorista da área de Educação do jornal Gazeta do Povo, Adriana vem, sistematicamente, fazendo reportagens sobre o autismo, com o objetivo de aumentar o esclarecimento da população sobre o transtorno, e busca explorar diversos aspectos da questão. Desde o cotidiano das famílias, que muitas vezes não sabem – ou não conseguem – lidar com o diagnóstico, muitas vezes por falta de informações e apoio, até o despreparo das instituições de ensino e dos serviços públicos e privados, incapazes, por vezes, de dar ao autista a atenção, os tratamentos e as oportunidades de que tanto necessita.
Todos os anos, com a proximidade do dia 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Adriana faz questão de produzir uma grande matéria, explorando o tema, buscando novos ângulos. Mas, neste ano, essa data teve um gosto especial: ela pôde apresentar, em um evento realizado no Salão de Atos do Parque Barigüi, Um Só Mundo, que alcançou repercussão muito positiva, despertando interesse maior do que ela esperava. “Muita gente queria ver e ter uma cópia do documentário.”
Identificação
Para a jornalista, o filme, por contar com recursos de imagem e som, acaba tendo a possibilidade de não apenas sensibilizar mais o público, mas de trazê-lo mais para perto, estabelecendo vínculos de identificação com o que está sendo exibido na tela.
Realizado graças à parceria estabelecida com colegas de curso, especialmente o cinegrafista e editor Adriel Graff e Timóteo Paulino, Um Só Mundo tem como personagem central outro Gabriel, que não é o filho de Adriana. Trata-se de um garoto que também frequenta o Centro Conviver, voltado ao atendimento educacional de crianças que têm autismo. “Mas cheguei à família, na verdade, pelo grupo União de Pais pelo Autismo, que é uma associação da qual sou uma das fundadoras.”
O filme acompanha mo­mentos do dia a dia de Gabriel, que tem um comprometimento severo que o impede de falar, o que dificulta muito a sua comunicação. São comoventes os depoimentos de seus pais, o empresário Alessandro Ilkiu e Mariléa Bittencourt Ilkiu, que teve de deixar de trabalhar para cuidar exclusivamente do filho.
Eles falam sem rodeios sobre o preconceito que ronda a doença, decorrente do desconhecimento, da falta de informação. “Muitos acham não educamos o Gabriel direito, e por isso ele é assim, agitado”, diz Alessandro.
FONTE:

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1461730&tit=Um-filme-para-todos

Publicado em 14/04/2014 | Paulo Camargo

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O universo do estudante autista




Colagem do autista Eros Daniel (8 anos)
 No último dia 2 de abril, foi comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data, decretada desde 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi comemorada pelo seu sexto ano seguido para pedir mais atenção ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estima-se que, das cerca de um milhão de pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil, apenas 100 mil recebem algum tipo de tratamento.
O Transtorno do Espectro Autista é caracterizado por problemas que afetam o interação social, a capacidade de comunicação e implicam em um padrão restrito de comportamento, afetando a fala, os movimentos do corpo, o interesse por amizades, a vida social e até as emoções. O autismo pode variar entre diferentes graus. Nos limites dessa variação, há desde casos graves, com sérios comprometimentos no cérebro, a quadros mais leves, como a Síndrome de Asperger.
"A síndrome de Asperger é um nível mais leve de autismo, onde as crianças não têm tanto comprometimento na fala, pelo contrário, elas se comunicam, conseguem se expressar. Há, às vezes, interesses restritos a objetos específicos, quase uma fixação. No autismo mais moderado, primeiro é preciso estabelecer o contato, pegar no rosto, chegar próximo, pedir para olhar nos olhos, colocar algo na mão. Há mais dificuldade de interação. O nível severo é mais complicado. Pode haver comprometimentos físicos e é mais difícil haver uma troca, uma interação", explica Priscila Maria Romero Barbosa, especialista em educação especial e coordenadora do projeto de inclusão no colégio Esil Educacional.
O diagnóstico de autismo baseia-se na história de vida do paciente, no comportamento observado em diversas situações e em testes educacionais e psicológicos. Os primeiros sinais podem ser vistos em crianças de oito a dez meses de idade, que tendem a ser mais passivas, mais difíceis de acalmar ou até mesmo não reagirem quando alguém chama seu nome. Por volta de um ano de idade, essas crianças chegam a apresentar prejuízos de orientação ao estímulo social. Esses sinais podem e  devem ser observados pelos pais, para facilitar o diagnóstico.
"Os pais podem fazer o diagnóstico a partir do momento que a criança nasce, começando a observar se há algo diferente, por exemplo: a criança não olhar nos olhos, apresentar dificuldades para mamar. Até se aquele aconchego no colo da mãe, que é comum aos recém-nascidos, estiver diferente, é bom procurar um neurologista porque pode ser um sintoma", alerta Priscila.
É importante que o diagnóstico seja feito antes dos três anos de idade para minimizar o isolamento, a dificuldade de comunicação, e o comportamento agitado, desatento e algumas vezes agressivo. Os sintomas normalmente permanecem com a pessoa durante toda sua vida. Por isso, a intervenção precoce pode fazer grande diferença no desenvolvimento da criança, se trabalhada com sabedoria e responsabilidade por especialistas.
"Trabalhamos muito com o concreto para desenvolver o conhecimento nas crianças autistas. Só a audição, só o diálogo não funciona. Usamos muito do visual e do manual para estabelecer interação. Pegar algum objeto e colocar na mão da criança facilita o aprendizado dela. Além disso, temos psicólogos, fonoaudiólogos, mediadores educacionais e psicomotricistas para ajudar no desenvolvimento dessas crianças", conta Priscila Romero.
Escolas têm papel decisivo no desenvolvimento do autista
Lucas Benigno tem 13 anos e é portador do transtorno do espectro autista. O menino estuda no colégio Esil Educacional. Para sua mãe, Viviane Benigno, a escola é a grande responsável pelo desenvolvimento de Lucas.
"O Lucas foi para o Esil com 8 anos. Ele se sente totalmente em casa. O Lucas chegou e no primeiro dia parecia que já conhecia a escola. Acho que eles, os autistas, têm esse sentido apurado para perceber quem gosta deles e quem os quer bem", conta Viviane, que desmistifica a questão dos autistas não gostarem de toques. "O Lucas gosta da turma, mas tem um carinho todo especial com uma amiga, que também é autista. Eles se abraçam e se gostam muito."
Segundo a mãe de Lucas, o diagnóstico do menino foi feito cedo e isso facilitou seu tratamento. "O Lucas é o que chamam de autismo secundário, foi diagnosticado aos quatro anos. Ele teve síndrome de west aos 6 meses. Ficou em crise por mais  dois meses, mas não teve nenhuma sequela neurológica, apenas algumas lacunas, com a questão da comunicação e a escrita, mas ele está desenvolvendo e melhorou muito nos últimos anos."
Lucas, hoje, está no 4° ano do ensino fundamental e, junto com o acompanhamento de uma mediadora em sala de aula, segue com seu tratamento, sempre estudando, para não atrasar o desenvolvimento. "O Lucas é muito tranquilo, muito calmo. Nunca teve irritabilidades muito grandes. Tem uma boa comunicação, fala bem. Tem contado histórias e relatado fatos, além de gostar muito de computador. Ele já está escrevendo e lendo. Em sala de aula é normal. O que acontece é que quando o limite dele está chegando ao fim, ele tem a opção de ir para o computador, fazer o que ele gosta", diz Viviane.
Evolução do aluno é maior quando profissionais são especializados
Cada fase do desenvolvimento da criança autista apresenta necessidades peculiares. Na pré-escola, a evolução da coordenação motora e a capacidade de adaptação ao grupo são fundamentais. Na alfabetização, dificuldades podem requerer intervenção de fonoaudiólogo e psicopedagogo. Com o início da adolescência, no entanto, novas dificuldades podem surgir e exigir outras prioridades para estimular o desenvolvimento.
A intervenção comportamental, a terapia ocupacional e a fonoaudiologia estão, normalmente, integradas ao programa educacional. Profissionais especializados são indispensáveis para esse conjunto de forças que garantirá um tratamento adequado à criança.
Viviane Soutelinho é professora de Educação Física e psicomotricista. Sua função é estudar, avaliar, prevenir e tratar o indivíduo na aquisição e no desenvolvimento de transtornos psicomotores. "A psicomotricidade vai trabalhar, basicamente, com a livre expressão; com a linguagem corporal. O que eu faço, normalmente, é um trabalho com jogos, através de brinquedos e as crianças é que vão criando. Eles trazem suas habilidades e perspectivas e eu entro com a dinâmica e o aprendizado."
De acordo com Viviane Soutelinho, a livre expressão é o carro-chefe para o aprendizado porque é a linguagem da criança. Para o autista conseguir transformar, criar e imaginar depende de um jogo lúdico. "Eu trabalho com as inteligências deles. Começo com o que eles gostam e depois vou inserindo os exercícios. Com isso consigo exercitar a linguística, o raciocínio lógico, a inteligência musical, interpessoal. Sentimentos também são trabalhados, como alegria, raiva e tudo o que eles sentem pelo outro. Tudo sempre se forma bem lúdica", descreve.
O mediador escolar, como é conhecido o profissional responsável por acompanhar e auxiliar na inclusão das crianças com necessidades educacionais especiais, além de proporcionar aos alunos atenção individualizada, trabalha com eles aspectos do comportamento, habilidades sociais, comunicação e linguagem. Beatriz Rocha, ao contrário de boa parte dos mediadores escolares, é contratada pela escola na qual trabalha, o Esil Educacional. A profissional conta que media para um aluno autista e para uma menina com síndrome de down. Para ela, a função é gratificante e sem muitas dificuldades.
"Minha aluna com síndrome de down, por exemplo, é muito geniosa, às vezes não participa junto ao grupo, mas, quando quer, fala e se expressa muito bem. Ela gosta muito de música e de histórias, então uso desses artifícios com ela. É sempre bom conhecer o aluno e saber o que ele gosta, para usar disso no aprendizado", conclui.
Solange Gomes, por sua vez, é mediadora particular, contratada pelos pais de seu aluno. O menino do qual Solange é cuidadora tem transtorno opositivo desafiador (TOD). No caso de Solange, o trabalho é manter o foco da criança. "O caso do meu aluno, que tem TOD, é que ele perde muito o foco, então tenho de estar sempre perto para trazer a atenção dele de volta a aula. Às vezes ele tem crises fortíssimas. Fora isso não tenho problemas. Ele é agitado e inquieto, mas muito inteligente."
Psicomotricidade e apoio pedagógico como estratégias
Independente dos níveis de autismo, o diagnóstico precoce do transtorno pode facilitar e ajudar no desenvolvimento da criança, desde que essas habilidades sejam identificadas e estimuladas de forma inteligente. Esse passo, muitas vezes, não depende apenas dos pais, mas, sobretudo, da escola e de sua qualidade pedagógica.
Visando a dar maior respaldo às crianças e jovens com necessidades educacionais especiais, o colégio Esil Educacional um projeto em parceria com o Instituto Pertencer, que busca fortalecer a inclusão a partir de um posicionamento pedagógico sócio-interacionista. "Nossa escola sempre se posicionou cientificamente como uma escola interacionista e socioconstrutivista. No momento em que nos posicionamos assim, nossa filosofia faz valer o seguinte: olhar cada aluno em suas peculiaridades e, a partir disso, adotar uma pedagogia diferenciada" salienta a diretora da colégio Esil Educacional Débora Dias Gomes.
A instituição existe há 33 anos, tem duas unidades - uma na Tijuca e outra na Penha - e conta com cerca de 250 alunos da educação infantil ao 9° ano do ensino fundamental. Cerca de 30% desse quadro são alunos de inclusão. Além de crianças com transtorno do espectro autista, o Esil Educacional tem alunos com síndrome de down, transtorno opositivo desafiador (TOD), transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dentre outros distúrbios. A diretora da escola, no entanto, pontua que sua instituição é de todos e para todos.
"Nosso projeto de inclusão existe há 10 anos e sei que inclusão pressupõe diversidade em sala de aula, então temos todos os perfis de alunos na escola, dentre alunos de inclusão e neurotípicos. Não somos uma escola 100% de crianças especiais, mas nosso quadro de inclusão também não é pequeno. Somos uma escola que naturalizou-se como inclusiva por ter uma filosofia sócio-interacionista. Inclusão só é inclusão quando não exclui ninguém", ressalta a diretora.
Para atender a demanda por vagas, o Esil Educacional tenta adequar sua estrutura para receber todos os alunos. Entre funcionários, professores e corpo pedagógico, há, ainda, a preocupação em oferecer salas de recurso e um planejamento pedagógico adequado às necessidades dos estudantes com necessidades especiais. "Construímos um plano de ação praticamente personalizado para cada criança, com atividades complementares, como a psicomotricidade e o apoio pedagógico, por exemplo. Sabemos que os autistas têm suas características, suas peculiaridades, pois isso construímos contextos para nos aproximarmos deles", diz Débora Dias Gomes.
FONTE:

Juliana Britto 
Folha Dirigida
 http://www.folhadirigida.com.br/fd/Satellite/educacao/reportagens-especiais/O-universo-do-estudante-autista-2000071723419-1400002102372