sexta-feira, 30 de maio de 2014

Jovens com deficiência ganham espaço em restaurantes italianos

Cantinas e pizzarias vêm contratando jovens com síndrome de Down e autismo leve, mas rejeitando a conotação assistencialista.
Emanuele Raffaele, 24, está aprendendo a culinária
observando o chef de seu restaurante 
(Foto: Erika
Zidko/BBC)
Jovens com deficiência intelectual, síndrome de Down e autismo leve têm conquistado espaço profissional em novas cantinas e pizzarias italianas, que tentam expandir sua contratação para todo o país.
Muitos desses restaurantes são criados por associações e cooperativas, já incorporando a mão de obra de jovens com deficiência que passaram por cursos de especialização.
Só na Locanda dei Girasoli, em Roma, 15 funcionários com necessidades especiais trabalham na cozinha, servindo às mesas ou na fabricação de doces.
Graças ao sucesso da experiência, os responsáveis estão abrindo outras filiais do restaurante, uma delas em Palermo, na Sicília, e pensam em transformar a ideia numa franquia.
"Recebemos diversos pedidos de consultoria por parte de associações e restaurantes interessados em adotar o nosso modelo. Estamos criando um protocolo com ajuda de especialistas de diferentes setores, porque não se trata de um sistema para atrair clientes ou para fazer assistencialismo", disse à BBC Brasil o presidente da Cooperativa Social Síntese, responsável pela gestão do local, Enzo Rimicci.
"É muito importante evitar especulações. Nosso objetivo é o acesso efetivo desses jovens ao mercado de trabalho", afirmou.
No restaurante, os funcionários portadores de deficiência têm o mesmo tratamento previsto aos trabalhadores da categoria. "São todos remunerados, inclusive os estagiários. Assim como os demais, eles também recebem treinamento e têm horário de trabalho e funções específicas", disse Rimicci.
Como em qualquer atividade comercial, os empregados passam por um processo de seleção. "O trabalho em restaurantes requer agilidade. É preciso dizer sem rodeios que são pessoas com deficiências cognitivas e que nem todas são aptas a realizar este tipo de atividade", explica.
"Os que não superam o período de prova certamente poderão realizar um outro trabalho. Há sempre uma oportunidade para todos".
Boa comida e integração social
Para o ajudante de cozinha Emanuele Raffaele, jovem de 24 anos com síndrome de Down, o segredo da boa cozinha é o cuidado com os ingredientes.
"Para preparar algo bom é necessário lavar bem as hortaliças e verduras, saber cortar as partes duras ou eliminar as folhas ruins". Para ele, poder trabalhar na cozinha é uma conquista e o próximo passo é aprender a preparar peixes. "Vejo tudo com os olhos, depois memorizo e repito tudo o que o chef faz", disse à BBC Brasil.
Viviana Ponzelli, 39, é garçonete no local há oito anos
e portadora da síndrome de Down
(Foto: Erika Zidko/BBC)
Segundo a mãe de Emanuele, Antonella Marrazzi, o trabalho no restaurante tem ajudado o filho a amadurecer. "Vejo que a cada dia ele adquire mais segurança no modo de relacionar-se com os colegas e com os chefes no seu trabalho. Hoje ele se sente importante", disse.
Entre os funcionários especiais, a mais antiga da casa é Viviana Ponzelli, garçonete de 39 anos e portadora de Down, que trabalha no local há oito anos. "Preparo a mesa e sirvo os clientes. Estou bem aqui", contou.
"Se os clientes vissem que os portadores de deficiência estão no nosso restaurante sem fazer nada, pensariam que estão fazendo beneficência. Não é o nosso caso. As pessoas vêm ao nosso local porque se come bem e porque há jovens com algumas dificuldades fazendo o próprio trabalho", afirma o responsável pelo restaurante.
Em toda Itália
Outro local em Roma a empregar pessoas com deficiências intelectuais é a Trattoria degli Amici, localizado no bairro de Trastevere. Em Florença o restaurante I ragazzi del Sipario abre apenas para almoço, enquanto em Milão o serviço de catering do Laboratório Procaccini Quattordici deve ser reservado com muita antecedência.
Em Modena, o La Lanterna di Diogene emprega jovens com síndrome de Down inclusive na própria horta.
Aberto em Turim em 2008, o Caffè Basaglia também conta com funcionários especiais. O nome é uma homenagem ao psiquiatra Franco Basaglia, responsável pela lei de 1978 que aboliu os manicômios na Itália em favor da criação de redes de serviços territoriais de assistência às pessoas com distúrbio mentais.

FONTE:
da BBC

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/jovens-com-deficiencia-ganham-espaco-em-restaurantes-italianos.html

terça-feira, 27 de maio de 2014

A chacina do bom senso

Por Lucio Carvalho     
Nova chacina cometida em solo norte-americano viraliza noções erradas sobre o autismo, doença mental e homicídios. Na última sexta-feira (23/05), um novo episódio de violência pessoal atingiu o solo norte-americano naquilo que parece ser a continuação de um filme, exceto que não se trata de um filme, mas de uma realidade cruel que acabou com a vida de pelo menos seis pessoas, além de ter ferido outras tantas. Como todos os homicídios, uma violência abominável e, pelo menos aparentemente, absolutamente desnecessária e injustificável. O autor dos homicídios, um jovem de 22 anos chamado Elliot Rodger, é o mais novo monstro da América, que parece reciclar de tempos em tempos personagens dessa realidade mais sombria que os mais sombrios filmes do seu cinema.
Elliot Rodger, o homicida, está morto também. Ele pode ter sido morto no tiroteio que trocou com a polícia de Isla Vista, Califórnia, ou pode ter tirado a própria vida. Seu gesto, serial, repete o de outros homicidas, tais como James Eagan Holmes que, em 2012, executou 12 pessoas em uma exibição do filme Batman: o cavaleiro das trevas em Denver, Colorado (ver aqui) ou com o personagem Kevin, do livro e filme Vamos falar sobre Kevin?, baseado em dezenas de relatos semelhantes estudados pela escritora Lionel Shriver.
Algo mais que a evidente tragédia e semelhantes coincidências acaba por remeter um crime ao outro. No caso de Elliot, a hipótese de uma forma de autismo, a síndrome de Asperger, estar por trás do gesto foi apresentada pelo advogado da família, Alan Schifman (ver aqui). Não é a primeira vez que a associação é feita nem que se debita ao diagnóstico a causa direta de comportamentos homicidas.
Comportamento criminoso
Em 2012 ainda, em outra chacina – desta vez em Newtown, Connecticut – quando, em uma escola, 26 pessoas foram mortas, os temas também estiveram muito próximos. Muitas pessoas opinaram, entre jornalistas, especialistas e familiares de pessoas com autismo. Isso aconteceu, no Brasil, especialmente depois que uma psicóloga declarou ao vivo, no programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, que o comportamento poderia ser explicado pelo diagnóstico. À época, familiares e entidades de pessoas com autismo expuseram sua contrariedade com os argumentos apresentados, na tentativa de refutar a associação que se estabelecia. Nas redes sociais, o assunto dominou inúmeras discussões e os próprios meios de comunicação jogaram luz ao que as pessoas diretamente envolvidas estavam discutindo a respeito.
É muito provável que, a respeito da nova ocorrência, o mesmo volte a acontecer. A torrente de opiniões é incontrolável e, dentre a torrente, é cada vez mais impreciso distinguir quem tem um pouco de razão e quem já perdeu totalmente o bom senso. Visualizar o que familiares e as próprias pessoas com autismo estão relatando é um passo fundamental no sentido de evitar conclusões e generalizações apressadas e sem nenhum sentido. Os especialistas podem e devem colaborar, mas tomá-los exclusivamente é um risco considerável, já que em muitos casos sua perspectiva é apenas patologizante, não veem a pessoa por trás do indivíduo e o sujeito tomado apressadamente pelo rótulo, em explicações que não se aventuram a entender o evento além do seu causador, confinando as causas à imprecisão que ronda tanto o autismo quanto as doenças mentais, isso ainda hoje.
Some-se a isso o fato de que o assassino foi apresentado pela própria família desta forma, talvez na esperança de atenuar ou justificar a violência cometida. Mas um diagnóstico não comete crimes, quem os comete são as pessoas. A tese de que existam assassinos ou psicopatas inatos é antiga, remonta às teorias lombrosianas e aos precursores do criminalismo. Entretanto, ainda hoje são objetos de polêmica. No caso de James Eagan Holmes, em Aurora, acontecera o mesmo e, como o autor do crime permanece vivo, pleiteou-se a apresentação do diagnóstico de doença mental como atenuante, como uma espécie de álibi. Neste caso, a situação é um pouco distinta, mas não talvez o que se procura ao vincular-se um comportamento criminoso a causas psicológicas.
Barbárie social
A confusão mais simples que é feita, nesses casos, é entre o que seja autismo e o que seja doença mental. Postular uma hierarquia de gravidade e periculosidade, mesmo na opinião de familiares, é um tipo de crueldade que as pessoas não parecem importar-se em cometer. Não se trata de que o autismo possa ser menos grave que a esquizofrenia (ou vice-versa) ou que um dos diagnósticos seja causa de comportamentos violentos e o outro não, o fato é que um não deveria ser o bode expiatório do outro. Além disso, talvez seja necessário repetir, diagnósticos não cometem assassinatos. Quem os faz são as pessoas e mesmo autistas e esquizofrênicos são sujeitos sociais, não são essencialmente portadores de uma sintomatologia cujo comportamento pode ser tomado como previsível.
Assim como debitar as razões de crimes violentos e absurdos, como estes, diretamente a causas patológicas ou ao autismo especificamente é uma temeridade irresponsável, aventar que pessoas autistas e esquizofrênicas não possam cometer crimes é igualmente incompreensível. Podem e cometem, como todas as pessoas, mas no seu caso parece querer-se embutir uma espécie de razão iatrogênica, como se fossem pessoas fadadas a isso. Frente a argumentações dessa espécie, é preciso duvidar e investigar um pouco mais os contextos sociais e afetivos nos quais a violência explode de modo tão abissal. Isso requer mais que cuidado com as pessoas, requer consideração pela pessoa humana e, sobretudo, a consideração de que mesmo o autismo e a doença mental constituem naturalmente a experiência humana.
Por outro lado, previsível mesmo é que uma sociedade – deixemos os indivíduos e seus diagnósticos de lado por um instante – que vende armas de fogo com a mesma facilidade que se vendem brinquedos ou comida acabará por ter de encarar o resultado de acesso tão franqueado à violência, mesmo que em situações bárbaras como são as chacinas. Se não é possível evitar que eventualmente alguém tenha acesso a arsenais particulares de eliminação, então a sociedade norte-americana- talvez a planetária – esteja em um impasse ainda maior, pela necessidade de resolver uma cultura baseada em padrões de força, ocupação e beligerância permanente. A existência de uma barbárie social tampouco pode justificar crimes monstruosos como estes, mas a pior chacina que se pode fazer é contra a possibilidade de criarem-se relações humanas mais respeitosas. E isso, claro, a despeito de qualquer diagnóstico. Se há uma tendência na estigmatização de criminosos assim, não é possível recusar a violência inerente ao próprio estigma social do qual, mais ou menos diretamente, todos continuamos a dar causa.
FONTE:
CADERNO DA CIDADANIA
MÍDIA & PRECONCEITO
Lucio Carvalho é coordenador-geral da Inclusive –
Inclusão e Cidadania e autor de Morphopolis

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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Os benefícios da equoterapia

Movimentos do cavalo auxiliam no resgate do equilíbrio e da coordenação motora, afetados por doenças como o Mal de Parkinson e outras síndromes.
Há meses sob o tratamento conduzido pela instrutora Dora Alho, Nicolas, de 3 anos, já consegue sentar e controlar o tronco
O uso do cavalo como método terapêutico, sobretudo para os que buscam o desenvolvimento de pessoas com algum tipo de deficiência, está se mostrando eficaz também para pessoas diagnosticadas com doença de Parkinson. A doença degenerativa, provocada por uma disfunção dos neurônios, prejudica progressivamente os movimentos e a coordenação.
O representante comercial Joel de Arruda, 61, que há oito anos descobriu ter a doença de Parkinson, não imaginava que o gosto pelo hipismo um dia o levaria à terapia complementar contra a doença. Após ser diagnosticado e perder o emprego, Joel pensou também em abandonar o hipismo, até ser informado que a equoterapia poderia ajudá-lo.
INDICAÇÕES
Tratamento também pode ajudar vítimas de AVC e outras doenças
A equoterapia é indicada para casos em que há comprometimento neuromotor de origem encefálica ou medular. Pode ser aplicada em pacientes com autismo, paralisia cerebral, infartados, pessoas com problemas circulatórios, psíquicos, vítimas de AVC ou que tenham deformidade de membros, deficiências auditiva, visual ou na fala. É indicada também para crianças hiperativas ou que têm desvio de atenção, pelo fato de a atividade exigir grande concentração.
Síndromes
O tratamento de síndromes também pode ser complementado com a terapia. É o caso de Nicolas Felipe Pereira, 3 anos, que sofre de síndrome de Angelman, doença caracterizada pelo atraso no desenvolvimento intelectual e dificuldades na fala.
A dona de casa Eliane da Silva Refundini, 38, mãe de Nicolas, conta que o filho foi diagnosticado aos 2 anos de idade. Ele não andava nem falava. A mãe conta que, no início, o tratamento indicado pelo fisioterapeuta lhe causou desconfiança, mas em dois meses começou a perceber mudanças positivas no comportamento da criança. Hoje, segundo ela, o menino já se senta sozinho, controla o tronco, e, com apoio, consegue até ficar em pé. “Acredito que ele ainda vai andar sozinho”, comemora (RS).
Método
Segundo a instrutora de equoterapia Dóris Alho, o método surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial. Os soldados voltavam para casa com muitos problemas psicológicos e como havia um grande número de cavalos no exército, muitos deles eram colocados para cavalgar. A partir daí começou-se a observar progressos psicológicos e, algumas vezes, motores. Depois, estudos foram comprovando os benefícios da equoterapia.
A terapia ocorre por meio da equitação, o ato de cavalgar. Segundo a instrutora Dóris Alho, educadora física especializada em equoterapia, a principal característica do tratamento é o movimento tridimensional do cavalo, ou seja, o animal se move para cima, para baixo, para as laterais, para frente e para trás. Movimentos globais, como esses, nenhum outro aparelho consegue simular. Os principais benefícios são o desenvolvimento do equilíbrio, da coordenação, melhor controle do tronco, desenvolvimento de noção de espaço e do senso tátil.
A fisioterapeuta Marília Ramalho Assunção, que ministra aulas de equoterapia, lembra que são atendidos pacientes de todas as idades e a maioria dos que procuram a terapia tem comprometimento neurológico e motor, mas alguns entram no programa apenas para buscar socialização. Ela diz que a equoterapia teve um salto na procura nos últimos dez anos.
A instrutora Dóris Alho explica que a terapia é apenas complementar ao tratamento, que deve reunir ainda o trabalho da fonoaudiologia, da fisioterapia e da terapia ocupacional. “Alguém pode dizer que sentiu melhora muito grande com a equoterapia, mas não foi só isso. Melhorou porque tem um conjunto de terapias. Não dá para medir, mas ajuda muito, especialmente no equilíbrio”, diz.
Essa melhora no equilíbrio foi percebida pelo representante comercial Joel de Arruda. “Ajuda cem por cento”, comemora. Ele conta que, além da condição física, sente-se melhor no campo emocional e, principalmente, em relação os tremores causados pela doença de Parkinson. As pernas dele também respondem melhor aos movimentos. “Às vezes queria movimentar as pernas, correr, mas não consigo. A montaria força a trabalhar todos os músculos da perna.”
O instrutor Paulo Roberto Vicente ressalta a importância dos exercícios que passa a Joel Arruda, especialmente no alongamento. Para ele, ajudar quem necessita com esse trabalho é gratificante.

FONTE:
RAFAEL SANCHEZ, ESPECIAL PARA O JL
http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=1471413&tit=Os-beneficios-da-equoterapia


terça-feira, 20 de maio de 2014

Zoóloga desenvolve tratamento com cães para obesos, idosos e autistas

 Prática envolve profissionais de educação física, 
medicina veterinária e psicologia.
Tratamento gratuito é oferecido em projeto de 
extensão de faculdade em AL.
Um projeto acadêmico multidisciplinar que já atendeu mais de 100 pessoas em Maceió vem mostrando que o cachorro, além de melhor amigo do homem, pode ser um bom terapeuta. Wendy, Shakira, Naomi, Solara, Lava e Isis são alguns desses doutores de quatro patas que integram o Focinhos Terapeutas e ajudam no tratamentos de obesos, idosos e crianças autistas.
 Zoóloga entre monitoras e crianças autistas durante tratamento com cães
 (Foto: Natália Souza/G1)
Criado em 2011 pela zoóloga com especialidade em treinamento físico, Maja Kraguljac, o projeto envolve estudantes dos cursos de educação física, medicina veterinária, fisioterapia, psicologia, nutrição, entre outros da área de saúde de uma faculdade particular do estado.
“A ideia surgiu quando eu ainda morava em Belo Horizonte, e minha mãe desenvolveu um quadro de depressão. Notei que quando compramos um cachorro ela começou a apresentar alguma melhora. Então pesquisei sobre os benefícios que os animais podem trazer a pessoas com alguns tipos de doenças, mas não fui além disso na época”, contou Maja.
Em 2011, já em Maceió, ela submeteu o então pré-projeto de terapia assistida por cachorros a editais de projeto de extensão da faculdade e deu certo. Além de já ter realizado mais de mil sessões gratuitas, o Focinhos é tema de pesquisas anuais e já foi objetos de estudo em artigos apresentados em congressos nacionais.
Interação com autistas
Os pequenos Heitor e Felipe, ambos de quatro anos e com autismo de grau leve, interagiram durante quase 30 minutos com dois dos Focinhos Terapeutas, em uma das sessões que o G1 acompanhou.
As instrutoras voluntárias estimulavam a socialização das crianças passando a mão delas no pelo do cachorro, colocando o pé dos meninos por cima da pata dos cães, que nem pareciam se incomodar com todo aquele contato. Em vários momentos, as brincadeiras arrancaram gargalhadas das crianças.
A mãe de Heitor, a psicopedagoga Silvia de Souza e a mãe de Felipe, a servidora pública Márcia Vitorino, afirmaram notar leves mudanças no comportamento desde o início do treinamento.
“Felipe tinha muito medo de animais, principalmente de cachorro. Notei que agora esse medo diminuiu, ele fica menos estressado”, contou Márcia.  “Essa interação também é ótima para a parte pedagógica, é um estímulo a mais”, afirmou Silvia.
Rodrigo é estimulado pelos monitores por brincadeiras com a cadelinha 
(Foto: Natália Souza/G1)
Em outra sala equipada com circuito cheio de obstáculos, colchões, cordas Rodrigo, 8, interage com a cadela Solara. Incentivado pelos dois instrutores, ele joga a bola para a cachorra pegar. “A gente já tem um cachorro em casa e ele era mais estressado, agora fica mas calmo”, contou a mãe de Rodrigo, Roseana Xavier.
Maja explica que os cães trazem muitos benefícios no tratamento de crianças com autismo. “Os estudos científicos mostram que os cães têm muita influência entre crianças autistas, devido ao estímulo da socialização. Conseguir que um autista se concentre e olhe dois segundos nos seus olhos já é uma grande conquista. E esse projeto mostra que essas crianças começaram a interagir melhor com os pais e família, com o ambiente, melhoria no contato visual”, afirmou.
Motivação para obesos
“As pesquisas também revelam que é mais fácil emagrecer quanto se tem uma motivação, como por exemplo, sair para passear com o cachorro, correr. Muitos vêm fazer exercício só por gostar de ter a presença do cão”, explicou Maja.
Exercícios com cães estimulam obesos a levar tratamento adiante 
(Foto: Natália Souza/G1)
Segundo ela, alguns resultados do projeto apontam que os obesos que participam das sessões com os cães já tiverem uma melhora na frequência cardíaca e na pressão arterial. “Lembrando que a terapia assistida por animais é uma terapia complementar, para dar certo é preciso outro conjunto de fatores”.
A técnica de laboratório Verônica Lino, chegou a pesar 105 kg, hoje com 101 kg, ela reconhece que está no caminho certo para chegar a ter uma vida saudável. “Eu fui a pioneira do projeto. Estou participando desde o início. Notei que na minha família as mulheres têm um histórico de longevidade, minha avó chegou aos 103 anos, então eu quero envelhecer com qualidade. Quero perder peso. Essa interação com animais é ótima. Parece que tem dias que eles sentem o que estamos sentido”, afirmou.
Treinamento dos focinhos
Os 15 cães que participam das sessões às terças-feiras em uma faculdade particular localizada no bairro do Farol, e na Associação dos Amigos Autistas (AMA) às quartas-feiras, passaram por um adestramento especial, segundo a coordenadora do projeto.
“Eles são adestrados para não ter problemas de interagir com as crianças. Os cães precisam ser dessensibilizados, ou seja, se eu puxar o rabo, puxar a orelha, colocar a mão na boca deles, eles não vão morder”, explicou Maja.
Aline Fernandes Melo, instrutora do projeto e graduanda do curso de medicina veterinária explicou que também é observada a sanidade dos animais. “Ele é vermifugado, vacinado, passa por um treinamento e há uma preocupação com a carga horária das sessões para não sobrecarregá-los. Prezamos também pelo bem estar dos animais”, contou.
“O maior benefício é conseguir trazer uma qualidade de vida melhor para essas pessoas por meio do contatos com animais e conscientizá-las que a maioria dos nossos animais foi de rua. Esses bichinhos podem fazer um lindo trabalho. Acabamos promovendo, inclusive,  adoções e modificando comportamento. Gente que não gostava de bichos, chega aqui e começa a gostar”
Para se inscrever no atendimento gratuito do projeto Focinhos Terapeutas é só acessar o site do projeto (clicando aqui) ou pela página de mesmo nome no Facebook.
Cães recebem treinamento e tratamento veterinário adequados 
para o convívio com crianças (Foto: Natália Souza/G1)


FONTE:
Natália Souza

http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2014/05/zoologa-desenvolve-tratamento-com-caes-para-obesos-idosos-e-autistas.html

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Desafio: o autista na sala de aula regular

A diretriz governamental de incluir o autismo no sistema de ensino esbarra no 
despreparo e desconhecimento
Para especialistas, o autismo requer atuação individualizada
As recentes diretrizes para educação especial no País têm ratificado o caminho da alfabetização do aluno autista na sala de aula de ensino regular, desafio que multiplica a relação professor-aluno-portador de transtorno no já fragmentado e deficiente sistema educacional do País. O desafio não é somente de natureza pedagógica, mas tem raízes humanas e psicossociais.
Para especialistas, educadores e profissionais que lidam com o autismo e a alfabetização em Bauru, os diferentes níveis de autismo podem permitir, com exceção para os casos severos, evolução nos processos de aprendizagem. Contudo, o despreparo, a ausência de conscientização e compreensão sobre o mundo particular do autista, aliado às carências das escolas, põem em risco o futuro dos portadores do distúrbio sem cura.           
A consequência da diretriz é a crescente redução da participação de instituições especializadas no trato com pacientes do segmento, como a Apae Bauru. Para especialistas da entidade, o autista apresenta déficits e excessos comportamentais que exigem atuação individualizada, específica, abordagens dificilmente alcançadas no cotidiano do ensino regular.   
Incluir ou não a criança autista na escola regular é uma decisão que merece muitos debates, aponta o estudo que se debruçou sobre a integração do autista exatamente na chamada “escola comum”, de autoria das pedagogas Marilene de Oliveira Milagre e Wagna da Silva Souza. O trabalho, de 2011, foi de conclusão do programa de graduação em pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira.
No estudo, elas definem: “o indivíduo autista, não abraça, não pede colo, nem proteção quando se magoa, evita manter o contato físico e visual e permanece indiferente das pessoas que o cercam”.
Porém, este mesmo cidadão com síndrome sem cura pode dar respostas excepcionais para o desenvolvimento e o aprendizado. “O autista não deve ser visto como alguém que não aprende, mas sim, como uma pessoa que têm formas diferentes para alcançar este aprendizado”, conclui o estudo.
Outro desafio da escola regular na inclusão de autistas é a heterogeneidade dos pacientes e de suas necessidades e competências. Cada caso exige adequação específica e muito concreta das estratégias e objetivos de tratamento. Os objetivos e procedimentos terapêuticos e educacionais são variáveis e singulares, o que também depreende comprometimento da pessoa, nas suas diferentes dimensões.
“As escolas ainda não estão preparadas para receber esses alunos nos níveis de suas necessidades especiais, porque lhes falta adaptação curricular, reformulação de critérios de avaliação e outras estratégias para desempenhar de forma favorável estes indivíduos”, resume o estudo de graduação.
Enquanto a orientação governamental é pela inclusão do autista no ensino regular, a resistência dos pais em aceitar o distúrbio e a demora no diagnóstico médico para o enfrentamento dos casos trazem prejuízos ao portador.
De outro lado, a fragilidade na compreensão do quadro e os ruídos no relacionamento entre escola e pais geram litígios. Em Bauru, o caso do adolescente Pedro Paullo de Castro, ainda está pendente no Judiciário.
O pai, Paulo de Castro Moreira, reclama no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ) consequência ao colégio particular que expulsou Pedro da unidade após ocorrência de agressão a dois professores pelo garoto que sofre da Síndrome de Asperger (onde o autismo se apresenta em geral com crianças com bom nível de inteligência).   
Sem receita pronta, a inclusão é individual
Luci de Paula realiza atendimento especializado em educação especial pela Apae. Para a profissional formada em fonoaudiologia é preciso considerar três elementos para dar suporte adequado ao autista: a alteração de comportamento, a linguagem e a interação social.
Mas a profissional adverte: “não existe receita pronta. Cada abordagem tem de ser individual, com cada indivíduo e de forma detalhada”. Para tanto, a orientadora da Apae considera que a tríade da ação pelo autismo exige equipe multidisciplinar.
Sobre a possibilidade de inclusão do portador do transtorno na escola regular, ela posiciona: “O autismo severo é de difícil condução inclusive no sistema especializado, realidade muito distante da escola regular”.
A secretária de Educação, Vera Casério, reconhece a especificidade. “Em alguns casos a Apae chega a ter um professor especialista para um único aluno em uma sala”, diz.
De outro lado, Luci sentencia que o autista é capaz de aprender. “O ensino regular exige capacitar o profissional para que ele considere o universo das diferenças para o autista e a capacidade de identificação da forma como o autista compreende e vê o mundo à sua volta. Sem compreender a linguagem do autismo a relação não avança”.
Por essa razão, a especialista acrescenta que “em uma sala de aula com 40 alunos o estímulo específico e individual do autista não é possível de ser realizado na plenitude. É preciso o atendimento individual, uma realidade muito distante das escolas”.
Assim, Luci considera que a inclusão escolar do autista deve levar em conta o grau da síndrome, as diferentes estratégias para atuação com cada caso e a percepção, pelos pais, de que o caminho no desenvolvimento de seu filho é longo e permanente. “A resistência dos pais em aceitar a síndrome tem gerado muitos prejuízos, pelo retardo no início das abordagens”, finaliza.      
Expulsão de adolescente revolta pai
Paulo de Castro Moreira não se conforma com a expulsão do adolescente Pedro Paullo de Castro por um colégio particular de Bauru, no ano passado.
Segundo o processo apresentado pelo pai ao JC, com ação em tramitação no Tribunal de Justiça (TJ), Pedro não apresentou dificuldades no desenvolvimento até a sexta série. Na sétima série, entretanto, em razão de uma sequência de desentendimentos e de reações do garoto no relacionamento em sala de aula, o garoto foi expulso após agressão a dois professores.
O pai contesta, diz que houve despreparo da unidade e negligência na condução das mudanças de rotina no ano passado e quer punição do estabelecimento pela expulsão sumária e, também, pela perda do ano letivo do menino.
Após o caso ser discutido no Ministério Público local, Pedro conseguiu se matricular em uma unidade da rede pública local (escola Santa Maria). “Ele está indo muito bem lá, se desenvolvendo muito bem. Ele é muito inteligente e começou a contestar a realização de tarefas que já sabia. E quem lidou com ele na escola ignorou esses sinais. Fui várias vezes à escola discutir isso. A agressão é produto de uma série de erros e a expulsão injusta e prejudicial a meu filho”, protesta o pai, que também foi professor e deu aula para aluno autista.
Pedro tem diagnóstico da Síndrome de Asperger, considerada moderada e que não interfere em níveis de inteligência. Ao contrário, o portador desse tipo de transtorno tende a ter inteligência acima da média. O craque Leonel Messi, jogador argentino que atua pelo Barcelona da Espanha, tem o mesmo diagnóstico que o garoto Pedro.
“O autista não agride, mas responde de forma severa, dura, se sua rotina for modificada sem explicação. O autista tem opinião própria e não arreda o pé. O Pedro é excelente para interpretar textos e é bom de matemática. Bastou ser ignorado por uma professora e reagido a mudanças de rotina que a escola se omitiu e o expulsou, ao invés de solucionar o caso”, completa o pai. O colégio foi contatado, mas não quis falar a respeito do caso que encontra-se no TJ atualmente.


FONTE:
Nélson Gonçalves
JCNet.com.br

http://www.jcnet.com.br/Geral/2014/05/desafio-o-autista-na-sala-de-aula-regular.html

sábado, 17 de maio de 2014

Atendimento de autistas em Arapiraca aumenta com apoio do Grupo Coringa



Centro foi ampliado graças a participação do Grupo Coringa

O Centro de Reabilitação e Reintegração de Crianças com Autismo (Trate) de Arapiraca começou suas atividades em 2011 e é o primeiro espaço público no Brasil que atende exclusivamente crianças autistas pelo Sistema Único de Saúde. Idealizado pelas psicólogas Ana Paula Rios e Luana de Freitas, o local atende 60 crianças entre zero e 14 anos e 117 famílias com crianças autistas.
O sonho  das duas psicólogas era poder dar um tratamento adequado para estas crianças que até 2010 eram atendidas no Cemfra (Centro de Medicina Física e Reabilitação de Arapiraca). “O Autismo não é uma deficiência física, sabíamos que precisava de local especializado e merecia uma atenção e cuidado especial. Os avanços só acontecem com um acompanhamento interdisciplinar envolvendo psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Não tínhamos estes profissionais e estas condições no Cemfra”, explicou a neuropsicóloga Ana Paula.
Depois de muita luta as psicólogas com a ajuda da então secretária de Saúde de Arapiraca, Aurélia Fernandes, e algumas empresas como a Concrenorte, conseguiram abrir o primeiro e único centro de reabilitação e reintegração de crianças com autismo no município. O autismo é uma disfunção cerebral que se reflete no desenvolvimento global e que afeta a capacidade de comunicação, a socialização e o comportamento adequado ao ambiente.

Entre muitas características estão a agressividade, resistência ao contato físico e hiperatividade. Estas características podem variar de intensidade de acordo com o grau da síndrome. Sendo diagnosticado, a família inscreve a criança em uma lista de espera e participa das reuniões de pais semanalmente juntamente com os profissionais da instituição. Um dos critérios fundamentais para que a criança tenha atendimento no Trate, é a participação dos pais nos grupos e engajamento da família no tratamento.
“O diferencial do Trate é concretizar um SUS que foi idealizado, com um atendimento humanizado. O serviço é do usuário. Reabilitamos famílias e elas se sentem responsáveis pelo bem estar dos serviços. O usuário preserva, cuida, porque sabe que é patrimônio deles. Nosso maior ganho é fazer essas famílias sentirem-se potentes e capazes de participar do processo de reabilitação de seus filhos, eles saem do papel de paciente para agentes transformadores”, explicou Ana Paula que teve sua vida transformada após seu envolvimento na causa.

O Grupo Coringa ajudou na ampliação do Trate permitindo que mais 20 crianças da lista de espera pudessem ter tratamento apropriado. A instituição que atendia com quatro salas, ganhou mais três recintos que melhoraram as condições de atendimento. Uma sala de fonoaudiologia, uma de fisioterapia e terapia ocupacional e por último a de avaliação neuropsicológica proporcionando assim mais condições de trabalho no centro.
Ricardo Miranda, de 37 anos e pai de uma menina autista com quatro anos, largou o emprego que tinha em uma revendedora de motocicletas e se dedica exclusivamente ao tratamento da filha. Há quase dois anos sendo assistido na instituição, ele conta os avanços no tratamento.
“Tudo melhorou para Sofia. O vocabulário, coordenação motora, interação social. Hoje ela permite nosso toque e nosso carinho. Tudo trabalhado e monitorado pelos profissionais que nos ajudaram a entender melhor esta síndrome. Participar das reuniões dos grupos de pais foi fundamental, pois quanto mais cedo diagnosticada e tratada a doença, maiores as chances de regressão de algumas características”, avalia.
“Os profissionais do Trate são extremamente carinhosos e atenciosos. Fazem seu trabalho com amor e dedicação. Hoje eu vejo uma Sofia com vontades e opiniões. Em nome de todos os pais, agradeço a esta equipe maravilhosa e a empresas como o Coringa que nos apoiam e nos ajudam a enfrentar este problema. Agora outras crianças poderão ser beneficiadas”, afirma Ricardo, que também é membro da Associação de Pessoas com Transtorno Autístico do Agreste de Alagoas, que tem 80 pais associados e todos atendidos no Trate.
A instituição é mantida pelo município e conta com uma equipe de duas psicólogas, uma neuropsicóloga, duas terapeutas ocupacionais, uma fonoaudióloga, uma fisioterapeuta, uma assistente social, três agentes administrativos e dois serviços gerais. Todos os profissionais são contratados pela Prefeitura de Arapiraca.
 











por Ascom/Grupo Coringa
Fotos: Assessoria
FONTE:
http://aquiacontece.com.br/noticia/2014/05/17/atendimento-de-autistas-em-arapiraca-aumenta-com-apoio-do-grupo-coringa

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Autismo: O que sabemos, o que nos falta saber



  A geneticista Wendy Chung compartilha o que sabemos sobre o transtorno conhecido como autismo. Ela afirma que o autismo possui causas múltiplas, talvez entrelaçadas. E pergunta: existe hoje uma epidemia de autismo?
 Diretora do setor de pesquisas clínicas da Simons Foundation Autism Research Initiative, a médica Wendy Chung é uma autoridade mundial em matéria dos aspectos genéticos do autismo.
 Vídeo da palestra sobre autismo proferida por Wendy Chung :
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/139940/Autismo-O-que-sabemos-o-que-nos-falta-saber.htm
"Por quê?" "Por quê?" é a pergunta que os pais sempre me fazem. "Por que meu filho desenvolveu autismo?" Como pediatra, como geneticista, como pesquisadora, tento tratar essa questão.
Mas o autismo não é uma condição única. Na verdade é um espectro de distúrbios, um espectro que vai, por exemplo, de Justin, um menino de 13 anos que não fala, não consegue falar, e se comunica usando um iPad em que toca imagens para comunicar suas ideias e ansiedades, um menininho que, quando fica chateado, começa a se sacudir, e, por fim, quando muito incomodado, bate a cabeça chegando a se ferir seriamente, precisando levar pontos. Mas o mesmo diagnóstico de autismo também se aplica a Gabriel, outro menino de 13 anos que possui uma realidade bem diferente de desafios. Na verdade, ele é incrivelmente talentoso em matemática. Ele multiplica três números, por outros três números, de cabeça e com facilidade. Contudo, no que se refere a tentar manter uma conversa, ele tem muita dificuldade. Ele não faz contato visual. Ele tem dificuldades para puxar conversa, sente-se sem jeito e, quando fica nervoso, ele acaba se fechando. Mas esses dois meninos têm o mesmo diagnóstico de transtorno do espectro autista.
 Uma das coisas que nos preocupam é se realmente existe ou não uma epidemia de autismo. Hoje em dia, uma em cada 88 crianças é diagnosticada como autista, e a pergunta é: por que este gráfico está assim? Será que esse número tem aumentado drasticamente com o passar do tempo? Ou será que hoje passamos a chamar esses indivíduos de autistas, simplesmente lhes dando esse diagnóstico, embora essas pessoas já existissem antes, mas simplesmente não eram chamadas assim? Na verdade, no fim da década de 1980 e início da década de 1990, foi aprovada lei que proporcionou aos indivíduos com autismo recursos, acesso a material educativo que os ajudaria. Com essa maior conscientização, mais pais, mais pediatras e mais educadores aprenderam a reconhecer as características do autismo. Consequentemente, mais indivíduos receberam o diagnóstico e tiveram acesso aos recursos de que precisavam. Além disso, mudamos nossa definição com o passar do tempo. Na verdade, ampliamos a definição do autismo, a que se deve, em parte, o aumento da prevalência que vemos.
 A outra pergunta que todo mundo faz é: o que causou o autismo? E uma concepção errônea comum é a de que as vacinas causam autismo. Mas permitam-me deixar bem claro: as vacinas não causam autismo. (Aplausos) Na verdade, o trabalho de pesquisa original que sugeriu que essa era a causa foi completamente fraudulento. Foi, na verdade, retirado do jornal Lancet, em que foi publicado, e o autor, um médico, perdeu sua licença de exercício da profissão. (Aplausos) O Instituto de Medicina, o Centro para Controle de Doenças, investigou isso repetidas vezes e não há evidência palpável de que as vacinas causem autismo. Além disso, um dos ingredientes das vacinas, chamado timerosal, era considerado como sendo a causa do autismo. Na verdade, ele foi removido das vacinas em 1992, e é possível perceber que ele não tinha nada a ver com o que acontecia com a prevalência do autismo. Então, mais uma vez, não há evidência alguma de que esta seja a resposta. Então, a pergunta permanece: o que causa o autismo?
Na verdade, provavelmente não existe uma única resposta. Assim como o autismo é um espectro, há um espectro de etiologias, um espectro de causas. Com base em dados epidemiológicos, sabemos que uma das causas ou uma das associações, devo dizer, é a idade avançada do genitor, ou seja, a idade avançada do pai à época da concepção. Além disso, outro período crítico e de vulnerabilidade em termos de desenvolvimento é quando a mãe está grávida. Durante esse período, enquanto o cérebro do feto se desenvolve, sabemos que a exposição a alguns agentes pode, na verdade, aumentar o risco de autismo. Em particular, existe um medicamento, o ácido valproico, que mães com epilepsia às vezes tomam, e que sabemos que pode aumentar o risco de autismo. Além disso, pode haver alguns agentes infecciosos que também podem causar autismo.
E uma das coisas em que vou passar muito tempo me concentrando são os genes que podem causar o autismo. Este é o meu foco não porque os genes sejam a única causa do autismo, mas é uma das causas do autismo que podemos prontamente definir e ser capazes de compreender melhor a biologia e como o cérebro funciona, para que possamos pensar em estratégias para podermos intervir. Um dos fatores genéticos que não compreendemos, entretanto, é a diferença que vemos entre homens e mulheres. Os homens são afetados pelo autismo a uma razão de 4 por 1, comparados às mulheres, e realmente não entendemos por quê.
Uma das formas de entendermos que a genética é um fator é analisando algo chamado de taxa de concordância. Em outras palavras, se um irmão é autista, qual a probabilidade de outro irmão nessa família ser autista? E podemos analisar, em particular, três tipos de irmãos: gêmeos univitelinos, gêmeos que compartilham 100% de sua informação genética e que compartilharam do mesmo ambiente intrauterino; gêmeos bivitelinos, gêmeos que compartilham 50% de sua informação genética; e irmãos comuns, irmão-irmã, irmã-irmã, que também compartilham 50% de sua informação genética, embora não compartilhem do mesmo ambiente intrauterino. E quando analisamos essas taxas de concordância, uma das coisas mais impressionantes que vemos é que, em gêmeos univitelinos, essa taxa de concordância é de 77%. Mas, notavelmente, não é de 100%. Não que os genes sejam responsáveis por todo o risco de autismo, mas são responsáveis por boa parte do risco, porque, quando analisamos os gêmeos bivitelinos, essa taxa de concordância é de apenas 31%. Por outro lado, há uma diferença entre os gêmeos bivitelinos e os irmãos comuns, o que sugere que há exposições em comum para os gêmeos bivitelinos que podem não ser compartilhadas de forma tão comum em irmãos comuns.
Então, isso nos fornece alguma informação de que o autismo é genético. Bem, genético até que ponto? Quando comparado a outras condições que conhecemos, coisas como o câncer, doenças do coração, diabetes, na verdade, a genética possui um papel bem maior no autismo do que em qualquer dessas outras condições. Mas com isso, não sabemos quais genes. Nem sabemos, em qualquer criança: é um gene apenas, ou potencialmente uma combinação de genes?
Então, na verdade, em alguns indivíduos com autismo, é genético!
Ou seja, é um único gene, poderoso e determinístico, que causa o autismo.
Contudo, em outros indivíduos, é genético, ou seja, é, na verdade, uma combinação de genes, em parte com o processo de desenvolvimento, que, por fim, determina o risco de autismo. Não sabemos em nenhuma pessoa, necessariamente, qual dessas duas respostas é a correta, até começarmos a nos aprofundar.
Então, a pergunta se torna: como podemos começar a identificar exatamente quais são esses genes? Deixem-me colocar algo que talvez não seja intuitivo.
Certos indivíduos podem ter autismo por uma razão genética, mas, mesmo assim, não porque o autismo ocorra na família. Isso porque alguns indivíduos podem ter mudanças ou mutações genéticas que não são transmitidas pela mãe nem pelo pai, mas, na verdade, são mutações novas nesses indivíduos, mutações que estão presentes no óvulo ou no esperma no momento da concepção, mas que não foram passadas de geração a geração na família. E podemos usar essa estratégia para hoje entender e identificar esses genes que causam o autismo nesses indivíduos.
 Então, na verdade, na Fundação Simons, pegamos 2.600 indivíduos que não tinham histórico algum de autismo na família, e pegamos a criança, a mãe e o pai e tentamos entender quais eram os genes que causavam o autismo nesses casos. Para isso, tivemos que, de forma abrangente, ser capazes de analisar toda essa informação genética e determinar quais eram as diferenças entre a mãe, o pai e a criança. Fazendo isso, peço desculpas, vou usar uma analogia fora de moda, de enciclopédias em vez de Wikipedia, mas vou fazer isso para tentar ajudar a explicar que, quando fizemos esse inventário, precisávamos analisar quantidades enormes de informação.
Nossa informação genética é organizada em uma serie de 46 volumes, e, quando fizemos isso, tivemos de dar conta de cada um desses 46 volumes, porque, em alguns casos de autismo, na verdade, falta um volume inteiro. Mas tínhamos que ser mais minuciosos que isso. Para isso, tínhamos que começar a abrir esses livros e, em alguns casos, a mudança genética era mais sutil. Talvez fosse um único parágrafo faltando, ou, ainda mais sutil que isso, uma única letra, uma entre três bilhões de letras que estivesse modificada, alterada, e, mesmo assim, tivesse efeitos profundos em termos de como o cérebro funciona e afeta o comportamento. Fazendo isso com essas famílias, conseguimos dar conta de aproximadamente 25% dos indivíduos e determinar que havia um único e poderoso fator genético que causava o autismo nessas famílias. Por outro lado, há 75% que ainda não compreendemos.
Mas, fazermos isso foi realmente impressionante, porque percebemos que não havia apenas um gene para o autismo. Na verdade, as estimativas atuais são de que haja de 200 a 400 genes diferentes que podem causar o autismo. E isso explica, em parte, por que vemos um espectro tão amplo em termos de seus efeitos. Embora existam todos esses genes, existe um método na loucura. Não é simplesmente randômico 200, 400 genes diferentes, mas, na verdade, eles se encaixam. Eles se encaixam em um trajeto. Eles se encaixam em uma rede que está começando a ser compreendida hoje, em termos de como o cérebro funciona.
Estamos começando a ter uma abordagem ascendente, em que estamos identificando esses genes, essas proteínas, essas moléculas, entendendo como interagem entre si para fazer esse neurônio funcionar, entendendo como esses neurônios interagem para fazer os circuitos funcionarem, e entender como esses circuitos funcionam para controlar o comportamento e entender isso tanto em indivíduos com autismo quanto em indivíduos que possuem cognição normal. Mas o diagnóstico precoce é fundamental para nós. Ser capaz de fazer esse diagnóstico em alguém que é suscetível em um momento no tempo em que podemos transformar, impactar um cérebro que está crescendo e se desenvolvendo é crucial.
Por isso, pessoas como Ami Klin desenvolveram métodos para conseguir levar crianças, bebês, e poder usar biomarcadores, neste caso, o contato ocular e o rastreamento ocular, para identificar uma criança em risco. Essa criança em particular, vocês podem ver, fazendo um contato visual muito bom com essa mulher enquanto ela canta "A Dona Aranha", na verdade não vai desenvolver autismo. Sabemos que esse bebê vai estar livre disso. Por outro lado, esse outro bebê vai desenvolver autismo. Nesta criança em particular, pode-se ver que ela não faz bom contato visual. Em vez de os olhos terem foco e de terem uma conexão social, estão olhando para a boca, para o nariz, olhando para outra direção, mas novamente não se conectando socialmente, e sendo capaz de fazer isso em escala muito grande, examinar os bebês, examinar as crianças para ver se têm autismo, através de algo bem robusto, bem confiável, será bem útil em termos de conseguirmos intervir em um estágio precoce, em que podemos causar o maior impacto.
Como vamos intervir? Provavelmente será uma combinação de fatores. Em parte, em alguns indivíduos, vamos tentar usar medicamentos. Então, na verdade, identificar os genes do autismo é importante para nós para identificarmos os alvos dos medicamentos, para identificarmos coisas que possamos impactar e termos certeza de que é realmente aquilo que precisamos fazer no autismo. Mas essa não será a única resposta. Além de apenas medicamentos, vamos usar estratégias educacionais.
Alguns indivíduos com autismo têm uma programação cerebral um pouquinho diferente. Eles aprendem de forma diferente. Eles absorvem o que está ao redor de forma diferente, e precisamos conseguir educá-los de forma mais eficiente para eles. Além disso, há muitos indivíduos nesta sala que têm grandes ideias em termos de novas tecnologias que possamos usar, tudo, desde dispositivos que podemos usar para treinar o cérebro para torná-lo mais eficiente e conseguir compensar as áreas em que ele tenha algum probleminha, até coisas como o Google Glass.
Vocês podem imaginar, por exemplo, que o Gabriel, com sua estranheza social, possa usar um Google Glass com um fone de ouvido em sua orelha, possibilitando que um treinador o ajude a pensar em conversas, em como puxar conversas, sendo capaz até de, um dia, convidar uma moça para um encontro.
Todas essas novas tecnologias oferecem oportunidades tremendas para que consigamos impactar os indivíduos com autismo, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Mesmo sabendo tanto, há muito mais que ainda não sabemos, e, por isso, convido todos vocês a nos ajudarem a pensar em como fazer isso de forma melhor, em como usar, enquanto comunidade, nossa sabedoria coletiva para conseguirmos fazer a diferença, e, em particular, para os indivíduos e famílias com autismo, eu convido vocês a se juntarem à Rede Interativa do Autismo, a serem parte da solução, porque realmente serão necessários muitos de nós para pensar no que é importante, no que vai fazer uma diferença significativa.
Ao pensarmos em algo que seja potencialmente uma solução, vai funcionar bem? É algo que realmente vai fazer a diferença em suas vidas, enquanto indivíduos, enquanto família com autismo? Vamos precisar de indivíduos de todas as idades, dos jovens aos idosos, e de todas as formas e tamanhos do transtorno do espectro autista, para garantir que causemos impacto. Então, convido todos vocês a se juntarem à missão e a ajudar a conseguir tornar as vidas de indivíduos com autismo muito melhor e muito mais rica.

FONTE:
Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Leonardo Silva. Revisão: Ruy Lopes Pereira
 Tradução integral da palestra de Wendy Chung proferida no TED:
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/139940/Autismo-O-que-sabemos-o-que-nos-falta-saber.htm