O quinto filho de Eduardo e Renata Campos tem síndrome de Down, e eles celebraram a vida
Foi o poeta João Cabral de Melo Neto quem disse:
"Não há melhor resposta que o espetáculo da vida". É raro que ocorram
episódios comoventes na esfera privada de políticos brasileiros. A imediata
divulgação, pelo governador Eduardo Campos, de que seu quinto filho nasceu com
a síndrome de Down e a forma com que ele e sua mulher, Renata, lidaram com isso
justificam a transcrição da mensagem que postaram na quarta-feira:
"Hoje os médicos confirmaram o que já estava
pré-diagnosticado há algum tempo. Miguel, entre outras características que o
fazem muito especial, chegou com a síndrome de Down. Seja bem-vindo, querido
Miguel. Como disse seu irmão, você chegou na família certa! Agora, todos nós
vamos crescer com muito amor, sempre ao seu lado".
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Esse tipo de comportamento revela não só o afeto de
uma família, como serve de exemplo. Crianças nascidas com essa síndrome às
vezes inibem os pais,
infelicitando-lhes as vidas.
Houve época em que eram
raros os casos como o de Charles de Gaulle, cuja filha Anne nasceu com ela. O
general que liderou a Resistência Francesa e governou o país por mais de dez
anos, até 1969, era conhecido por sua reserva pessoal. Raramente ria ou
brincava, salvo se estivesse com Anne.
Com ela até cantava, fazia teatrinhos e tomava
beliscões nas bochechas. Nunca se afastou da menina e levou-a consigo para a
Inglaterra quando a França se rendeu à Alemanha. A moça morreu em 1948. Vinte e
dois anos depois, quis ser sepultado ao seu lado.
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Conduta muito diferente de
Joseph, o patriarca da família Kennedy. Ele educou seus filhos num padrão de
competitividade doentia. Quando Rosemary, a filha mais velha, mostrou-se
depressiva e lenta no aprendizado (nada mais que isso), submeteu-a a uma lobotomia
experimental.
Deu tudo errado. Aos 23 anos, ela perdeu a fala e
andava com dificuldade. Esconderam-na num asilo e os pais não a visitaram.
Rosemary terminou seus dias em 2005, aos 86 anos, tendo sobrevivido a três
irmãos homens e a uma irmã que se tornara marquesa.
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Felizmente, no Brasil, ocorreram mudanças
exemplares.
Em 2011, Romário levou sua filha Ivy a um evento contra a
discriminação.
O mesmo fez o ministro Dias Toffoli,
do STF,
com seu irmão José
Eduardo.
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Texto por: Elio Gaspari
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/150434-o-belo-nascimento-do-menino-miguel.shtml
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