sábado, 23 de abril de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - V - Gabriel Moraes

Gabriel foi um bebê tão lindo...
Mas, muito difícil prá uma mãe de primeira viagem...
Não dormia, não comia, não parava de chorar!
Eu me cansava, eu me descabelava, e por outro lado,
eu me enternecia cada dia mais com aquele ser e seus mistérios.
Eu cantava prá ele nas noites insones: "é só de ninar, e de desejar que a luz do nosso amor, matéria-prima dessa canção, fique a brilhar..."
E ele demorava uma noite inteira prá dormir e dez minutos prá acordar, renovado, aceso, pronto prá vida!
Com ele aprendi quase tudo que sei, e vou ainda aprender o que não sei.
Com ele desenvolvi meus instintos, minha fé e minha força.
Com seu autismo aprendi a amar sem esperar nada em troca, e mesmo assim recebo tanto.
O Autismo muitas vezes pode ser um bicho-papão, mas se você levantar as cobertas e olhar de frente prá ele, pode se surpreender fazendo um novo amigo, e seguir em frente de mãos dadas.
Hoje quando o vejo adulto, olho dentro de seus olhos, tentando encontrar o referencial de adulto, mas a criança se faz presente,nos gestos, nos atos, na dependência, na solicitude.
Penso que mesmo que eu envelheça até o último dos meus cabelos brancos, vou olhar para o lado e ver apenas um menino, pedindo que eu o aperte num abraço prá que ele possa enfim dormir...

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GABRIEL

Amo meu filho,
com um amor que surpreende a cada instante.
Me traz a força que não tenho,
Me traz a esperança que sempre busco,
Me traz a paciência que necessito.
Me desconheço sem ele,
penso que leva consigo minha identidade.
Não teria muita valia prá esse mundo,
se aqui não houvesse o autismo,
se aqui não houvesse o Gabriel.
Meu maior título é o de mãe,
e não o troco por nada,
esse é o meu orgulho bom.
É este dom que me move,
por ele penso, por ele acordo, por ele trabalho,
por ele gostaria de viver mais.
Há tantos sentimentos bons num coração,
e a diversidade deles nos faz seres completos e especiais.
Mas, o amor de mãe é uma coisa única,
e esse bem ninguém pode tirar,
ninguém pode diminuir,
ninguém pode afastar.
Meu filho tão diferente em seus autismos,
Meu filho recluso em seu silêncio,
Meu filho às vezes tão longe do alcance,
e às vezes tão perto que faz doer...
Sua vida entregue na minha,
Suas necessidades por vezes tão descabidas,
Seu jeito evasivo de me olhar.
A vida é tão boa com a sua presença...
Seu sorriso ilumina meus dias,
como um sol enorme invadindo cada cantinho de mim,
e então eu sinto a tão inesperada e almejada felicidade,
o que me confirma que foi prá isso que eu vim!


Claudia Moraes - mãe do Gabriel - Autista,
às vezes Clássico, às vezes Rock´n Roll.