Bruna Linzmeyer |
Na reta final de "Amor à Vida", nem as
pegações de Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall) conseguiram
ofuscar o romance entre Linda (Bruna Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete). A
relação entre a autista e o advogado foi crescendo ao longo da trama de Walcyr
Carrasco e alcançou seu ápice dramático com a prisão de Rafael após trocar um
beijo com a jovem.
Autismo
Incentivada por Leila (Fernanda Machado), Neide
(Sandra Corveloni) denunciou o advogado por abuso de incapaz. Procurada pelo
UOL, Rita Valéria Brasil Santos, presidente da Associação de Amigos do Autista
da Bahia, condenou a maneira como Walcyr tem conduzido a trajetória de Linda.
"É uma utopia o que a novela apresenta no momento", opinou ela.
Mãe de um autista de 21 anos, Rita relembrou que
Linda foi criada sob um rígido controle dos pais e longe da sociedade, tornando
pouco crível a possibilidade de uma interação com o "namorado".
"O autor preferiu mostrar apenas a questão de
sexualidade e não mostrou a luta da família para conseguir escola, tratamento,
diagnóstico. Ele [Walcyr] é um formador de opinião e tenho medo de que mães de
autistas tenham a ideia da Linda na cabeça", comentou.
A opinião foi corroborada por Ana Maria Mello,
superintendente da Associação de Amigos do Autista de São Paulo, e mãe de um
autista de 32 anos. "A realidade da Linda está muito distante do que é o
autismo. Está muito romanceado. Não existe gente com autismo como a Linda, pelo
menos que eu conheça", disse.
Segundo Ana Maria, da forma como é mostrado na
trama, o relacionamento entre Linda e Rafael não deveria acabar em prisão – na
vida real, porém, a situação seria diferente. "Dentro do enredo da novela,
eu acharia uma injustiça denunciá-lo. Na vida real, seria abuso porque não
existe a menor possibilidade de ser uma ação conjunta. O relacionamento é uma
das maiores dificuldades que eles têm. É difícil você perceber um afeto. Até
para demonstrarem afeto pela própria família é complicado".
Marisa Furia, presidente da Associação Brasileira de
Autismo, contou que há um caso na Suécia envolvendo o casamento entre autistas,
mas que a situação é rara, além de receber apoio do governo. "Na novela
percebo que o rapaz [Rafael] está cuidando dela, proporcionando boas coisas, e
por isso ela consegue interagir com ele, mas acho muito complexo falar de uma
relação amorosa", ponderou ela, mãe de um homem autista de 36 anos.
Para Marisa, o descontrole de Neide com o fato é
aceitável. "Entendo que exista uma
grande preocupação da família, é preciso de um acompanhamento intenso para que
essa relação seja decente. Não sei dizer o percentual de 'Lindas' no Brasil,
mesmo assim acredito que a discussão é interessante", ressaltou.
"Na vida real não é assim"
A doutora Carla Gikovate, neurologista e
especialista em autismo, acredita que a trama envolvendo Linda ficou confusa.
"A personagem tem características de autismo severo, mas também de autismo
leve", considerou. Para ela, o namoro de Linda com Rafael jamais existiria
na vida real.
"Não há chances de um rapaz normal se apaixonar
por um autista moderado, como acredito ser o caso da Linda. Na vida real o cara
ia perceber e cair fora", opinou. Indagada se os pais de Linda têm razão
de manter Rafael longe da jovem, Carla brincou: "A denúncia não
aconteceria porque essa situação [amorosa] também não aconteceria".
Contudo, a simples abordagem do autismo em uma trama da Globo já é bem vista
pela profissional.
"O número de crianças que apareceram no
consultório em razão da abordagem demonstra o quanto o assunto é importante,
mesmo sendo tratado dessa forma na novela", finalizou enfatizando que o
caso da Linda não seria de um autista.
FONTE:
UOL
UOL
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