Resultados de
duas pesquisas desafiam a noção prevalecente na comunidade científica de que os
autistas apresentam carência de conexões neurais
·
Saiba mais...
- Sinais do autismo aparecem no olhar de recém-nascidos
- Desviar o olhar: um dos sinais mais precoces de autismo visto pela ciência
- Estudo revela que induzir o parto pode aumentar risco de autismo
- Estudo de Harvard relaciona a poluição ao maior risco de o bebê nascer com autismo
O cérebro de
crianças com autismo tem mais conexões do que o daquelas que apresentam um
desenvolvimento tradicional. De acordo com duas pesquisas lideradas por
cientistas norte-americanos, os neurônios hiperconectados podem explicar o
distúrbio mental. Esse efeito seria proporcional, pois os estudiosos observaram
que o cérebro de pacientes com os sintomas sociais mais graves são também os
mais hiperconectados. Os resultados, divulgados no jornal científico Cell
Reports, desafiam a noção prevalecente na comunidade científica de que os
autistas apresentam carência de conexões neurais.
“Nosso estudo
aborda uma das perguntas em aberto mais quentes da pesquisa científica em
autismo”, avalia Kaustubh Supekar, um dos autores e professor da Escola de
Medicina de Stanford. O trabalho realizado por ele e por Vinod Menon teve como
objetivo caracterizar a conectividade de todo o cérebro em crianças. Usando um
dos maiores e mais heterogêneos conjuntos de dados pediátricos de neuroimagem
funcional, a dupla mostrou que o órgão de crianças com autismo são
hiperconectados de forma proporcional à gravidade do comprometimento social exibido
por elas. “Nossos resultados sugerem que o desequilíbrio de excitação e
inibição dos circuitos cerebrais locais poderiam gerar deficits cognitivos e
comportamentais observados no autismo”, acrescenta.
Esse
desequilíbrio é uma característica da epilepsia, o que pode explicar por que as
crianças com autismo sofrem muitas vezes também com as crises epiléticas.
“Baseando-se nessas observações, pode não ser um exagero especular que os
medicamentos usados para tratar a epilepsia podem ser potencialmente úteis no
tratamento do autismo”, cogita Supekar.
Análise
pontual
O segundo
artigo focou em regiões cerebrais vizinhas para encontrar um aumento atípico de
conexões em adolescentes com diagnóstico de transtorno do espectro do autismo.
Um excesso de conexões observado pelos estudiosos, em particular nas regiões do
cérebro que controlam a visão, também foi associado à gravidade dos sintomas.
“Nossos resultados apoiam o estatuto especial do sistema visual em crianças com
mais pesada carga de sintoma”, resume Ralph-Axel Müller, da Universidade
Estadual de San Diego.
Ele lembra que
todos os participantes da pesquisa foram considerados “de alto funcionamento”,
apresentado quociente de inteligência (QI) acima de 70 — cerca de 70% das
crianças com autismo apresentam um quadro de atraso mental, com QI inferior a
70. Segundo os dados encontrados, é possível que as medidas de conectividade
local no córtex possa ser usado como um auxílio no diagnóstico do distúrbio
mental, baseado hoje puramente em critérios comportamentais. Para os
pesquisadores de ambos os trabalhos, as descobertas podem levar a novas
estratégias de tratamento e novas maneiras de detectar o autismo mais
precocemente.
Por: Bruna Sensêve
FONTE: - Correio Braziliense http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/02/01/noticia_saudeplena,147368/cerebro-de-autistas-tem-mais-conexoes-neurais.shtml