segunda-feira, 10 de abril de 2017

BELO, ESTRANHO E COMOVENTE.



      Durante os dias de celebração da Conscientização do Autismo de 2017, conversamos, lemos, vimos e ouvimos, participamos de caminhadas, exposições fotográficas, eventos políticos, de educação inclusiva em escolas, com muito bom proveito. O que mais marcou de tudo isso foi à ansiedade para tirar dúvidas ligadas ao espectro entre os familiares.
      O que sobrou desta celebração instituída pela ONU para dar visibilidade e quebrar os preconceitos que cercam as pessoas com autismo, foi repetir o prazer do significado da própria vida que reinicia todos os dias.
      É de se perguntar para quem participou das celebrações em todos os quadrantes do país, se durante a caminhada azul, deu uma paradinha, para pensar que do chão ao distante horizonte de dores e sofrimentos, mesmo que de relance foi purificado pela alegria incontida do aprendizado por viver o dia-a-dia dos autistas.
      O ser humano, como ser pensante, pouco celebra a vida, não avalia o maior presente que recebeu enquanto pratica o aprendizado diário. 
      Os autistas muito além de seres humanos são imagens que também devem estar andando por aí, como único milagre possível de exigir, mas que o egoísmo nos impede de enxergar a realidade dos valores mais altos que à nossa frente se apresentam. 
      O “autismo é um alvo em movimento, é um conceito que muda com o tempo.” Não me lembro de onde li. Foi bom porque não esqueci.
      Belo, estranho e comovente, o autismo é como uma nuance entre as características musicais e a percepção visual das cores que diagnosticam o espectro, porém se acontecer que algumas crianças fiquem desarmônicas, não há decreto que as excluam do meio-ambiente. 
      Se você perceber que o autismo está difícil de ver, experimente olhar para os filhos dos outros, circule por alguns meios antes impensados como a escola, a praça de alimentação, o parquinho e pratique um ato de extrema coragem correndo o risco de ir com o filho ao cinema, por exemplo, onde poderá viver situações que se forem de realidade fantástica ou efeitos especiais não são dificuldades, mas sim falta de maturidade. 
      Quando os pais permitirem que seus filhos autistas experimentem o mundo ao seu redor, provavelmente eles ultrapassarão de forma natural e espontânea os possíveis “obstáculos” que possam surgir no caminho, como oportunidade para interpretar um novo repertório.
      Permita que o seu ou a sua autista interaja com outras pessoas, explore ou reconheça ambientes, caminhe descalço para sentir a terra, se aventure, divirta, frustre e vivencie ser rejeitado, faça escolhas até se arrependendo delas por eventuais erros, mas quando elogiado nos acertos saberá que abriu um leque de boas e futuras reações antes desconhecidas.
      E assim eles vão adquirindo habilidades que dependem, portanto, da interação social, da relação familiar no ambiente cultural no qual estamos inseridos e dos estímulos que lhes são dados no decorrer da vida. 
      Ser um pai de autista extremamente protetor, por exemplo, pode limitar o desenvolvimento emocional da espontaneidade e das habilidades do filho, enquanto cabe a ele criar o ambiente ideal para viver.
      Os autistas nos fazem senti-los como se fossemos nós mesmos. Percebê-los como reais, espirituais e verdadeiros principalmente quando eles não deixam passar despercebida a conscientização à sua volta.

Nilton Salvador
Pai de Autista