terça-feira, 14 de abril de 2020

PSEUDOARTISTAS


Em tempo de coronavírus, depois de alguns minutos vendo alguns beija-flores se alimentando do néctar de viçosos hibiscos florescidos, o estresse do isolamento fica menos tenso.  Lindo. Foge a rotina.
Na televisão, nem tudo o que é exibido pode ser desperdiçado, pois é um alívio saber que o coronavírus acabou com a fome, as milícias, a chikungunha, dengue, a H1N1 e outras pragas.
Denúncias generalizadas foram excluídas da pauta amestrada da “Glocontra” que sem futebol e feminicídios, enquanto o Brasil não for campeão mundial de contagiados e mortos pelo coronavírus, ela não descansa, surfando na onda do seu padrão de fantasia do quanto pior, melhor.
Poucas pessoas públicas, pela prática da arte de muito falarem asneiras e nada dizerem, sabem que Autismo é uma condição médica, caracterizada pela dificuldade na comunicação e na socialização. Embora já conte 77 anos de idade desde sua descrição, e que antes de deturpá-lo deveriam pelo menos saber que atualmente atinge cerca de 2 milhões da população do Brasil.
Ficar só na etimologia da palavra é o primeiro grande erro, como foi o caso dos humoristas que se titulam artistas”, nos fatos recentes, que demostraram imaginação para inventar e reinventar versões da mesma história, sem o mínimo conhecimento do que é um autista, deturpando-os com requintes de violência.
Autismo é diagnosticado pelo CID-10 - Código Internacional de Doenças e DSM-5 de 2013.
Pais de autistas esquecem que ganharam da ONU o Dia Mundial da Conscientização do Autismo para gritar. Quem abriu o bocão no dia 2 de abril?
O isolamento “coronavirano” faz recordar que em 2011 a MTV apresentou um quadro “Casa dos Autistas” um escárnio e propaganda do bullyng contra a pessoa autista. A MTV sob pressão dos pais retratou-se. Ofereceu direito de resposta. A asneira fez com que alguns “artistas” desaparecessem. Um deles atualmente é do elenco global.
Em dezembro de 2012 um serial killer matou a tiros 20 crianças em uma escola nos EUA, seis mulheres, e pouco antes a própria mãe em casa. Para concluir se suicidou. Seu irmão atribuiu o crime afirmando que ele era "meio autista".
A frase despertou interesses para defender as relações entre autismo e matanças em série. A frustração pela inexistência e a disseminação do preconceito frustrou quem resolveu tratar do assunto.
Em um “Domingão do Faustão” no mesmo ano, uma entrevista do apresentador com uma psicóloga, misturaram Síndrome de Asperger com psicopatia. Historicamente a reação dos pais de autistas contra o programa foi sem precedentes, revelando a mentira e o oportunismo do apresentador pelo bizarro. Enquanto a profissional de psicologia foi condenada ao desterro, sumiu.
A Globo prometeu uma novela como forma de esclarecimento do autismo, cumpriu, embora inócua.
No Brasil e no continente europeu, um falso artigo da revista científica Lancet, ligou o autismo à tríplice vacina (MMR).  A “falsificação elaborada”, foi desmascarada por Brian Deer, pai de um filho autista, tarde demais, pois somente doze anos depois é que a revista Lancet reafirmou a falsidade das conclusões.
Por não verem algumas doenças acontecerem, na última década foram observados movimentos de pais que com base em falsidades consideram as vacinas uma coisa opcional.
Sendo assim, criaram a geração do descuido, e com isso milhões de famílias deixaram de vacinar seus filhos, provocando o ressurgimento de doenças como sarampo, caxumba e rubéola, antes erradicadas.
A pessoa nasce com autismo ou é diagnosticada mais cedo ou mais tarde. “Não se morre de vacinas, morre-se de doenças".
O Congresso Nacional adotou a recomendação para que no debate político, os intervenientes não mais se acusem uns aos outros de autistas. A resolução foi adotada por unanimidade, pois a acusação não pode fazer da síndrome uma arma política para depreciação de pessoas.
Matérias jornalísticas sobre autismo raramente tem flexibilidade. Alguns autores além de nada apurar sobre a síndrome, posam como donos da razão. Não sabem o que é o abismo autista.
Tripudiar uma pessoa com autismo, além de ignorância, é um caso de covardia, pois quando esse protagonismo parte de pseudosartistas, comprova-se que falar asneira, discriminação e preconceito, a exploração da tragédia alheia é a única coisa que lhes resta.
Parece simples, mas não é, orientadas pelo uso da propaganda enganosa, pessoas corrompem e distorcem as palavras de acordo com o oportunismo que lhe convém.

Nilton Salvador





Nenhum comentário: