domingo, 5 de abril de 2020

ISOLAMENTO SOCIAL


        Marcando o Dia Mundial da Conscientização do Autismo celebrado em 2 de abril, mais uma vez os maiores monumentos do mundo foram iluminados de azul, por ser a cor dos meninos e, mesmo considerando estes dramáticos tempos da pandemia de coronavírus.
Para marcar o evento, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) divulga que a prevalência do autismo aumentou em quase 10%, para 1 em cada 54 crianças nos EUA, como estimativa de apoio global, sendo validadas pela primeira vez para crianças negras e brancas, e um progresso significativo em relação ao número de crianças que recebem diagnóstico precoce.
Autistas sofrem imensamente com as mudanças provocadas pelo isolamento, daí a importância da comunicação por meio de forma didática, uma das maiores dificuldades que eles têm, enquanto requerem ações nomeando sentimentos.
Temos o que comemorar? Não! Não temos. Não somos sequer capazes de escolher representantes que de fato nos representem. Pais de autistas formam grupos coesos, mas são politicamente fracos, quase nulos, o que infelizmente os obriga pagar o alto preço do descaso com eles, que em princípio devem ser mantidos nos seus graus de dificuldade em sua maioria para continuar a serem explorados pela simpatia natural de cada um.
Ninguém precisa concordar comigo, mas convenhamos, especialistas em promessas no poder suprimem direitos não cumprindo leis específicas duramente conseguidas, com algumas que até já foram mutiladas como impeditivos de acessibilidade, que verdadeiramente não se consegue transpor caminhos como realidade dolorida.
Permita-me chamar sua atenção para o momento de Isolamento Social que estamos vivendo, para que você pense e veja se consegue descrever exatamente como está se sentindo? 
Nós pais de autistas, vivemos este isolamento permanentemente. Raramente somos convidadas para um almoço em família ou para uma festa de aniversário, porque nosso filho autista pode causar algum problema e, em tempo de coronavírus só pode ser olhado de longe.
Não existe solidariedade. Existe dó. Raramente alguém pensa qual o sentimento dessa família, da mãe que quer fazer o melhor para o filho ou filha, mas é impedida ora pelo mau uso de palavras ou quando se deparam com uma situação fortuita de surto, tensão nervosa, descompensação, discriminação e a pior das pandemias, o preconceito.
Navegar é preciso, dizia Camões. Conscientizar é preciso, dizem os pais de autistas, no sentido duplo da palavra. Depois deste Dia Mundial da Conscientização do Autismo, recém passado, eu peço para você pensar um pouquinho nisso.  
É o melhor momento, porque o coronavírus separou você de gente, familiares ou não, te escondeu dentro do teu próprio lar, mas sem poder sair, e pior, impede de abraçar o seu amigo, seu vizinho, seu amado, seu familiar, e à distância, cuide da fresta, pois ele é imprevisível.
Isso vai durar bem pouco. Vai virar fumaça, mas eu gostaria de chamar sua atenção para esse isolamento social. Se você não sabia, é bom que saiba que as famílias de pessoas com autismo passam uma vida assim, sistematicamente.
Então vamos amar, respeitar, ajudar, não apenas nesse período em que estamos todos comovidos, onde precisamos ajudar uns aos outros, mas que para isso continue acontecendo.
Não é fácil reconhecer, mas quando você ver uma mãe em qualquer lugar com uma criança em crise, não critique, não julgue, pergunte se você pode ajudar. Faça o seu melhor, pois de repente aquela criança despertando a tua intolerância é autista.
Intensifique seus efeitos, esforços, exerça sua influência, pois nunca é tarde demais para uma doação, ajudando ainda mais as famílias e pessoas com autismo que precisam de apoio, agora mais do que nunca, pois nestes momentos aparecem uma série de segmentos que se diferenciam, onde dores, a fome e as necessidades se intensificam, mas na realidade são iguais. 
Qualquer donativo, grande ou pequeno, aumentará nossa capacidade de fornecer assistência direta à comunidade de autistas, na medida em que atravessamos esses difíceis tempos de ISOLAMENTO SOCIAL, pois todos nós somos responsáveis uns pelos outros.
Nilton Salvador