Nestes tempos de confinamento obrigatório
pelo coronavírus, antecipando a iminente intimação para alguma tarefa caseira,
o negócio é tirar a poeira dos livros, vídeos, CDs e acaricia-los como um
pedido de perdão pelo abandono nas prateleiras.
Livros e filmes sobre autismo revivem dramas
que se identificam com sua própria história. Famílias vivendo em condições
indefinidas para vencer preconceitos e interrupção de carreiras, buscam provar
que os desafios da condição não são barreiras para o êxito.
O exemplo familiar do pioneiro filme Meu
filho, Meu Mundo de 1979, a partir do amor, aceitação, música, comida, jogos e
estímulos entre outras atividades, inspiraram a abertura das vias de
comunicação no mundo todo, tratamento, ensino e facilidades até então
inexpugnáveis para autistas.
Poucos lembram que o filme Meu filho, Meu
mundo, além de revelar a face pessoal do autismo, produziu o fenômeno sutil de
induzir pessoas a acreditarem que ter autismo era uma coisa boa, todo autista é
bonito e ser autista alheio à realidade encantador, o que ainda se verifica, e
daí a origem da fantasia hollywoodiana, inclusive a irreal novelesca
brasileira.
Rain Man, filme inspirado na história de Kim
Peek, na condição de Savant, uma síndrome que intriga a Ciência ao proporcionar
graves limitações e habilidades extraordinárias na pessoa, sem ser
cinebiografia, deu a Dustin Hoffman o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator em
1988.
Em O Contador, filme de 2016, o ator Ben
Affleck interpreta um autista que cuida de organizações criminosas, e
secretamente leva uma vida de assassino profissional. O que se vê e encanta a
plateia, é que o personagem, pela persistência de errar como autista, também
pode fazer surgir à síndrome da imitação, como mais um mau exemplo de ficção
que se transforma em realidade sobre o tema.
O romantismo hollywoodiano de Rain Man não é
regra. Qualquer trabalho cinematográfico envolvendo TEA carrega muita sutileza
e sensibilidade, como é o caso de “Atypical”, a série de TV repleta de
inexatidões ao contar a história de um autista que gosta de ser abraçado e na
idade dos hormônios a flor da pele, decide namorar.
Nesta série o autismo recebeu do ator uma
aprimorada demonstração, de como o personagem não se importa em parecer estranho,
exceto quando busca uma namorada para ter relações sexuais, pois ignora os
sentimentos das pessoas, e cada diálogo que ele tem, envolve um passo social
falso.
Em Atypical de 2017, o autismo não é tão
óbvio, e fere quem entende um pouco dele, quando retrata falsamente que os
autistas são assustadores, e estranhos.
“The good doctor” (O bom doutor) conta a
história de um jovem médico autista na condição de Savant, a mesma de Rain Man,
que, se torna um profissional decifrando diagnósticos, dominando técnicas, e
superando preconceitos, até conseguir um emprego.
“The good doctor” a série, fez do jovem
médico autista um profissional de destaque nas tramas do hospital, mas os
acertos que se assemelham não são atribuídos à sua condição, embora comovente. Puro
preconceito.
Filmes de temática distinta sobre autistas a
exemplo de “Meu filho, Meu Mundo”, “Rain Man”, “O Contador, Atypical e The good
doctor”, mostram o lado que dá voz a sentimento de frustração, alegria e fé
deixando mensagem boa, embora reduzida.
Nosso desejo é que os atores que
interpretaram com zelo o seu papel, e quem mais chegar, com seu trabalho,
sirvam de exemplos para quem os vê de fora, possam contribuir para que os
autistas encontrem o caminho rumo à plenitude da vida.
Nilton Salvador