quarta-feira, 8 de abril de 2020

FICÇÃO AUTISTA OU FILME REAL?



Nestes tempos de confinamento obrigatório pelo coronavírus, antecipando a iminente intimação para alguma tarefa caseira, o negócio é tirar a poeira dos livros, vídeos, CDs e acaricia-los como um pedido de perdão pelo abandono nas prateleiras.
Livros e filmes sobre autismo revivem dramas que se identificam com sua própria história. Famílias vivendo em condições indefinidas para vencer preconceitos e interrupção de carreiras, buscam provar que os desafios da condição não são barreiras para o êxito.
O exemplo familiar do pioneiro filme Meu filho, Meu Mundo de 1979, a partir do amor, aceitação, música, comida, jogos e estímulos entre outras atividades, inspiraram a abertura das vias de comunicação no mundo todo, tratamento, ensino e facilidades até então inexpugnáveis para autistas.
Poucos lembram que o filme Meu filho, Meu mundo, além de revelar a face pessoal do autismo, produziu o fenômeno sutil de induzir pessoas a acreditarem que ter autismo era uma coisa boa, todo autista é bonito e ser autista alheio à realidade encantador, o que ainda se verifica, e daí a origem da fantasia hollywoodiana, inclusive a irreal novelesca brasileira.
Rain Man, filme inspirado na história de Kim Peek, na condição de Savant, uma síndrome que intriga a Ciência ao proporcionar graves limitações e habilidades extraordinárias na pessoa, sem ser cinebiografia, deu a Dustin Hoffman o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator em 1988.
Em O Contador, filme de 2016, o ator Ben Affleck interpreta um autista que cuida de organizações criminosas, e secretamente leva uma vida de assassino profissional. O que se vê e encanta a plateia, é que o personagem, pela persistência de errar como autista, também pode fazer surgir à síndrome da imitação, como mais um mau exemplo de ficção que se transforma em realidade sobre o tema.
 O romantismo hollywoodiano de Rain Man não é regra. Qualquer trabalho cinematográfico envolvendo TEA carrega muita sutileza e sensibilidade, como é o caso de “Atypical”, a série de TV repleta de inexatidões ao contar a história de um autista que gosta de ser abraçado e na idade dos hormônios a flor da pele, decide namorar.
Nesta série o autismo recebeu do ator uma aprimorada demonstração, de como o personagem não se importa em parecer estranho, exceto quando busca uma namorada para ter relações sexuais, pois ignora os sentimentos das pessoas, e cada diálogo que ele tem, envolve um passo social falso.
Em Atypical de 2017, o autismo não é tão óbvio, e fere quem entende um pouco dele, quando retrata falsamente que os autistas são assustadores, e estranhos.
“The good doctor” (O bom doutor) conta a história de um jovem médico autista na condição de Savant, a mesma de Rain Man, que, se torna um profissional decifrando diagnósticos, dominando técnicas, e superando preconceitos, até conseguir um emprego.
“The good doctor” a série, fez do jovem médico autista um profissional de destaque nas tramas do hospital, mas os acertos que se assemelham não são atribuídos à sua condição, embora comovente. Puro preconceito.
 Filmes de temática distinta sobre autistas a exemplo de “Meu filho, Meu Mundo”, “Rain Man”, “O Contador, Atypical e The good doctor”, mostram o lado que dá voz a sentimento de frustração, alegria e fé deixando mensagem boa, embora reduzida.
Nosso desejo é que os atores que interpretaram com zelo o seu papel, e quem mais chegar, com seu trabalho, sirvam de exemplos para quem os vê de fora, possam contribuir para que os autistas encontrem o caminho rumo à plenitude da vida.
Nilton Salvador