terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Uma praga da ciência brasileira: os artigos de segunda

CIÊNCIA
A profusão de periódicos que publicam qualquer estudo, por menos rigoroso que ele seja, bastando apenas que o autor pague por isso, é uma praga a que o Brasil vem aderindo com preocupante entusiasmo — mesmo aquelas instituições que deveriam zelar pela excelência da pesquisa no país

Um espectro assombra a comunidade científica in­­ternacional: o dos periódicos sem credibilidade. Não é difícil entender o porquê. Alguns dos avanços mais extraordinários da ciência vieram a público pela primeira vez sob a forma de artigos editados em veículos de peso. Neles prevalece aquilo que está no coração da própria metodologia científica, a peer review, ou seja, a revisão pelos pares. Esse processo visa a replicar os resultados de um estudo, a fim de comprová-lo, sem a presença de seu autor 
ou autores. Não há outra maneira de fazer a ciência merecer esse nome — e andar para a frente. Dois exemplos bastam para dar a dimensão exata da importância dos autênticos periódicos científicos: a teoria da relatividade, do alemão Albert Einstein, teve seu registro de nascimento documentado numa série de quatro ensaios veiculados entre março e setembro de 1905 nos Annalen der Physik, um dos mais antigos mensários do gênero, fundado em 1790, em Berlim; já a estrutura do DNA, desvendada pelo britânico Francis Crick e pelo americano James Watson, foi apresentada ao mundo num breve texto assinado por eles na edição de 25 de abril de 1953 da Nature, prestigiosa revista inglesa cujo número de estreia circulou em novembro de 1869. Além de colocarem as novas pesquisas — e seus autores, claro — no centro das atenções, as publicações que primam pelo rigor científico impulsionam os estudos nas áreas envolvidas, fazendo girar, assim, a roda do conhecimento.
Um fenômeno recente, no entanto, está pondo em risco esse círculo virtuoso: a proliferação de editoras que mantêm periódicos cujo único obstáculo para a veiculação de artigos pseudoacadêmicos é o pagamento de uma taxa de publicação, que varia muito, mas costuma começar na casa dos 600 dólares. Pouco importa se os textos se baseiam em má ou nenhuma pesquisa; se são originais ou plagiários; se obedecem a mínimos critérios de metodologia e seriedade. Como a produção ensaística é um valioso critério para ascensão profissional no universo acadêmico, e tendo em vista que a publicação de artigos em veículos de credibilidade costuma seguir um implacável e lento processo de seleção, um número cada vez mais expressivo de cientistas tem recorrido ao expediente de pagar para ter, rapidamente, seus textos editados. Se para os pseudocientistas o volume de artigos publicados pode permitir galgar importantes degraus de prestígio intelectual — inflando também a vaidade pessoal —, para os proprietários dos periódicos científicos de segunda linha, como em qualquer negócio, o aumento de clientes costuma significar um faturamento maior.
Não era esse, é verdade, o objetivo inicial das publicações do chamado modelo open access, surgidas na Europa e nos Estados Unidos na década de 90. A ideia era ampliar a difusão do conhecimento e oferecer mais oportunidades aos intelectuais de países em desenvolvimento. Não demorou, porém, para que o escopo ganhasse outros contornos. Abrindo mão do rigor — a americana Science (1880), para se ter uma ideia, publica apenas 7% dos artigos que recebe — e reduzindo ao mínimo o tempo para a veiculação dos textos, os novos periódicos viraram um atalho para os maus cientistas e uma boa fonte de renda para quem se dispôs a, digamos assim, empreender nesse novo ramo. As revistas e jornais científicos tradicionais não cobram especificamente pela edição de artigos, embora, muitas vezes, exijam que os textos venham acompanhados de gráficos e fotos, o que incorre em custos, e, após a divulgação, cobram de todos aqueles que quiserem visualizar o paper — em média, 32 dólares. De qualquer modo, não parecem exigências descabidas.
Nem todo veículo open access, ressalte-se, tem como principal característica o desleixo científico; entretanto, todo meio científico desleixado é open access. O Brasil aderiu a esse modelo com preocupante entusiasmo. Já são mais de 1 000 publicações no gênero, o que põe o país atrás apenas dos EUA (onde elas passam de 1 200). Ao mesmo tempo, um rápido levantamento on-line permite constatar que é grande o número de pesquisadores brasileiros que recorrem a periódicos questionáveis, daqui ou do exterior, para divulgar seus trabalhos. Impressiona ainda mais o fato de muitos desses veículos serem bem avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento à pesquisa ligada ao Ministério da Educação. Sob sua batuta está o Qualis, um sistema de avaliação da qualidade dos periódicos científicos, que atribui a eles conceitos A, B e C, decrescentes, segundo determinados parâmetros. Tais notas são consideradas por universidades e instituições na hora de conceder financiamentos ou mesmo promoções aos pesquisadores que frequentam as páginas daqueles veículos. Se as publicações que desprezam o apuro científico forem bem avaliadas pela Capes — e isso ocorre, como se verá adiante —, é evidente que decorrerá disso uma grave distorção.Haverá pesquisadores beneficiados a partir de falsos méritos. E isso, muitas vezes, com recursos públicos. Agora, o pior: é possível detectar entre os clientes dos meios sem credibilidade professores que fazem parte da Capes, ou seja, exatamente aqueles que deveriam zelar pela excelência da produção acadêmica do país.
Se fossem quadros de baixo escalão, já seria péssimo. Contudo, o próprio presidente da instituição, o biomédico Jorge Almeida Guimarães, aceitou se valer de um veículo de credibilidade duvidosa para publicar o trecho de um livro do qual é coautor. Mediante pagamento de 670 euros (cerca de 2 100 reais), a editora croata InTech Open disponibilizou na internet o capítulo “Lesão renal aguda induzida por cobras e artrópodes venenosos”, escrito por Guimarães e dois pesquisadores das universidades federais de Minas e do Rio Grande do Sul. No texto, eles afirmam que picadas de cobras e de artrópodes venenosos são importantes problemas de saúde pública negligenciados pelas autoridades brasileiras e estrangeiras. A InTech, que já mudou de nome pelo menos quatro vezes desde que foi fundada, em 2004, está na lista negra de periódicos científicos elaborada por Jeffrey Beall, bibliotecário da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, uma referência no assunto. A exemplo do índex preparado por Lars Bjørnshauge, ex-diretor das bibliotecas da Universidade de Lund, na Suécia, a relação montada por Beall é consultada periodicamente por instituições e pesquisadores do exterior na hora de fazerem suas avaliações. Procurada por VEJA, a assessoria de imprensa da Capes respondeu que Guimarães não tinha disponibilidade de agenda para tratar do assunto.
Outro acadêmico cuja posição implicaria cuidar da qualidade das pesquisas no Brasil, mas que também usufrui as facilidades dos veículos de baixa credibilidade, é Jailson Bittencourt de Andrade, professor da Universidade Federal da Bahia, conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e consultor do CNPq, da Capes, da Fapesp e da Finep. Andrade — que não respondeu ao pedido de entrevista da reportagem — assina como coautor um texto publicado na Scientific Research Publishing (Scirp) ao preço de 1 000 dólares (pouco mais de 2 500 reais). Essa editora chinesa é a mesma usada pelo egípcio Mohamed El Naschie, pretenso contestador da teoria da relatividade, cuja trajetória de derrapagens foi apontada pela Nature em 2008. Em 2010, a revista publicou outro texto alertando para as práticas antiéticas da própria Scirp, que copiava artigos respeitáveis de outros sites e os adicionava às páginas de seus mais de 200 jornais com o propósito de fazê-los parecer confiáveis. Além disso, a Scirp acrescentava ao seu quadro editorial nomes vistosos que nem sabiam de sua existência.
Esse recurso, aliás, é mais frequente no submundo acadêmico do que se poderia supor. Dele se vale, para ficar em apenas mais um caso, a editora Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI) — onde também constam artigos de Andrade. O fundador da MDPI, Shu-Kun Lin, tem seu nome associado a casos de corrupção e plágio.
A editora diz estar baseada na Suíça e até cobra pela publicação de artigos na moeda local, no entanto grande parte de seus funcionários fica na China. O biólogo e geneticista italiano Mario Capecchi, que ganhou o Nobel de Medicina em 2007, foi incluído no conselho editorial da MDPI sem ser consultado. Nessa problemática editora, que cobra 1 600 francos suíços (4 200 reais) para veicular artigos científicos, foi publicado o paper “Diagnóstico molecular e patogênese da hemocromatose hereditária”, que tem entre seus autores o pr­ó-reitor de pesquisa da USP, José Eduardo Krieger. “Em trabalhos escritos a muitas mãos, nem sempre minha vontade prevalece”, justifica-se Krieger.
Pode-se alegar que muitos pesquisadores acabam publicando artigos em veículos sem rigor acadêmico induzidos pela pontuação que eles ostentam no Qualis. O nigeriano African Journal of Agricultural Research aparece com o conceito A2 na classificação da Capes, ou seja, apenas um degrau abaixo da nota máxima, A1, atribuída à Science e à Nature. Pois bem: o jornal virou motivo de chacota na Indonésia no início deste ano após aceitar um documento científico copiado da web e com o nome dos verdadeiros autores substituído pelo de dois artistas da região.
A fim de testar a idoneidade de editoras do modelo open access com perfil duvidoso, o biólogo e jornalista John Bohannon enviou um manuscrito científico falso a 304 periódicos sediados em dezenas de países. Um deles foi a publicação brasileira Genetics and Molecular Research (GMR), de propriedade do biólogo Francisco Alberto de Moura Duarte, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo e presidente da Fundação de Pesquisas Científicas de Ribeirão Preto. Além de o trabalho conter erros crassos, os biólogos que o assinavam (Roboodee Agnor, Annyassee Barree e Bellakah Motoday) foram simplesmente inventados, assim como o Instituto de Medicina Wassee, do qual diziam fazer parte, supostamente sediado na Eritreia. Das 304 editoras, 157 caíram na armadilha do americano e publicaram o artigo falso. A GMR, que tem jornais classificados com as notas A1 e A2 no Qualis, estava entre elas. “O jornalista agiu de m­á-fé”, defende-se Duarte. A experiência de Bohannon, que rendeu uma longa reportagem na Science no ano passado, lembra um escândalo que ficou conhecido como Caso Sokal. Em 1996, o físico e matemático Alan Sokal, da Universidade de Nova York, enviou propositalmente um artigo-embuste para a revista pós-moderna Social Text, vinculada à Duke University Press. A ideia era comprovar que um ensaio cheio de meias verdades e teorias sem sentido poderia ser publicado se fosse bem escrito e exaltasse as posições ideológicas dos editores. O paper afirmava, entre outras coisas, que o número pi, uma das mais antigas constantes da geometria, não passava de um produto do pensamento ocidental, ou seja, se tivesse sido descoberto por chineses, não seria igual a 3,1416 — e ainda assim foi publicado sem restrições. Simultaneamente com a veiculação da Social Text, Sokal anunciou a fraude em outra publicação, a Língua Franca, e descreveu o artigo como “um pasticho de jargões esquerdistas, referências aduladoras, citações pomposas e completo nonsense”.
Embora os efeitos perversos dos periódicos científicos desleixados sejam ainda pouco discutidos — e até pouco conhecidos — no Brasil, em outros países já provocaram terremotos acadêmicos. Em fevereiro deste ano, Ibrahim Gashi, reitor da Universidade de Pristina, em Kosovo, foi parar na imprensa por divulgar artigos em várias revistas suspeitas. Seu objetivo era acelerar um processo de promoção. Os estudantes da universidade se revoltaram e precisaram ser contidos pela polícia. A situação só se acalmou quando Gashi renunciou. Caso similar ocorreu naquele mesmo mês na Universidade da Islândia, onde Þórhallur Örn Guðlaugsson, professor associado de administração, que ganhava bônus por texto publicado, foi suspenso após a descoberta de que se valia de veículos sem credibilidade para divulgar seus artigos.
A revolta dos estudantes de Kosovo é completamente justificável. Ao usufruir os serviços de um jornal, revista ou site acadêmico que tudo publica mediante pagamento, o pesquisador contribuiu para uma cadeia de equívocos — que pode até influenciar na escolha de uma universidade bem posicionada num ranking de instituições de ensino superior baseado, em parte, na produtividade do corpo docente. Tal tipo de distorção, infelizmente, já alcança o Brasil. Na análise da Thomson Reuters, empresa com a maior base de dados sobre trabalhos científicos no mundo, o país galgou onze posições, entre 1993 e 2013, no ranking das nações que produzem a maior quantidade de estudos — hoje ocupa o 13º lugar.

Se esses estudos fossem de boa qualidade, teriam impacto em outro levantamento, o da revista britânica Times Higher Education. Trata-se do mais respeitado ranking internacional de universidades, que leva em conta treze indicadores para elencar as 500 melhores instituições de ensino superior do mundo. A excelência das pesquisas é o item que mais influencia a classificação. Há anos que apenas duas universidades brasileiras figuram entre as 500 e, de 2011 a 2014, tanto a Universidade de São Paulo (USP) como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) perderam posições — a USP caiu 35 e a Unicamp, 38. Diz o editor Phil Baty, responsável pelo levantamento da Times Higher Education: “O Brasil não deve se preocupar em aumentar o volume de suas publicações, mas, sim, focar em estudos de alto impacto que ampliem os limites de nossa compreensão do mundo”. Em outras palavras, as instituições acadêmicas do país precisam não perder de vista que veículos científicos de segunda só publicam artigos de segunda. E, com eles, a ciência não vai a lugar algum.

FONTE
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/uma-praga-da-ciencia-brasileira-os-artigos-de-segunda
Fone:
Fernanda Allegretti
Negreiros/VEJA

domingo, 7 de dezembro de 2014

Deficiência intelectual e autismo podem ter causa comum

Doenças como a deficiência intelectual e os transtornos do espectro autista podem ter como causa alterações na mesma via molecular. O resultado de pesquisa foi divulgado no artigo “Molecular Convergence of Neurodevelopmental Disorders”, publicado em outubro com destaque no American Journal of Human Genetics e abre possibilidade de novas abordagens para a forma como entendemos essas enfermidades conhecidas como doenças de neurodesenvolvimento.
“Ao se definir completamente a principal via molecular pela qual essas síndromes ocorrem, uma opção viável é posteriormente focar o tratamento nessa via”, disse Elizabeth Suchi Chen, professora do Departamento de Morfologia e Genética da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Com a pós-doutoranda Carolina de Oliveira Gigek, da mesma instituição, Chen divide a autoria principal do artigo. A professora contou com apoio FAPESP na modalidade Bolsa de Pesquisa no Exterior para realizar a investigação na McGill University, em Montreal, no Canadá.
Essas doenças são relacionadas a alterações moleculares das células neuronais, que formam o sistema nervoso e o cérebro humano, no momento em que o embrião está se desenvolvendo. Para estudar esses efeitos, as pesquisadoras trabalharam com células neuronais fetais de linhagem comercial, produzidas para fins de pesquisa por empresas especializadas.
A equipe também utilizou linhagens de células desenvolvidas no próprio laboratório. Fibroblastos, células da pele, foram reprogramados para se transformar em células precursoras neuronais. Esse trabalho foi executado pela equipe do professor Carl Ernst, do Departamento de Psiquiatria da universidade canadense, que também assina o artigo.
A diferenciação em neurônios teve de ser reproduzida em laboratório e parte das células investigadas teve reduzida a expressão de dois genes específicos, o TCF4 e o EHMT1. “Nos pacientes com doenças agrupadas como síndrome do neurodesenvolvimento, é observada a redução de cerca de 50% da expressão desses genes; por isso, modificamos as linhagens para apresentarem redução semelhante”, disse Gigek.
Após a diferenciação, as células com redução de expressão foram comparadas ao grupo controle, que não sofreu modificações nos genes, para se analisar quais modificações moleculares haviam ocorrido. Para isso, a equipe lançou mão de tecnologia de sequenciamento de última geração.
“O objetivo foi saber quais alterações moleculares seriam decorrentes da redução da expressão desses genes nas células neuronais”, disse Chen. A descoberta foi que, alterados separadamente, esses genes provocaram alterações moleculares semelhantes nessas células. Isso levou à conclusão de que, isoladamente, tanto o TCF4 como o EHMT1 podem gerar alterações moleculares que levam a doenças do neurodesenvolvimento similares. Além disso, observou-se que uma mesma modificação celular pode provocar diferentes enfermidades desse tipo.
De acordo com Chen, até a pesquisa, o que se sabia era que diversas alterações em diferentes genes estavam associadas a doenças do neurodesenvolvimento. “No entanto, observamos que a redução da expressão nesses dois genes levou a uma convergência de alterações moleculares”, disse.
Diferenciação celular prematura
Outra descoberta importante do trabalho foi a relação entre a redução de expressão dos genes estudados nas células neuronais e o fato de elas iniciarem mais precocemente o seu processo de diferenciação.
“As células alteradas parecem apresentar uma diferenciação prematura em relação ao desenvolvimento celular normal, o que poderia ser uma causa do problema”, disse Gigek. A diferenciação celular é o processo em que a célula-tronco adquire as características que definirão sua função no organismo.
O gatilho dessa diferenciação precoce da célula, todavia, não pôde ser confirmado na pesquisa. As pesquisadoras desconfiam que alguns RNAs e microRNAs possam estar envolvidos. “Com base na função do gene, isso pode ser sugerido; porém, serão necessárias outras pesquisas para que a causa seja levantada”, disse a pós-doutoranda.
Os microRNAs associados ao desenvolvimento celular, de acordo com Chen, são um foco interessante para um futuro estudo.
As pesquisadoras explicam que, caso sejam comprovadas a relação deles com a diferenciação prematura e as consequentes doenças de neurodesenvolvimento, poderão ser abertas alternativas de terapias moleculares.
“Caso o problema seja provocado pela superexpressão do RNA, por exemplo, poderiam ser ministrados inibidores para que a célula não seja estimulada a se diferenciar cedo”, exemplificou Gigek. Ela ressaltou, no entanto, que tal terapia ainda dependerá de muito trabalho de pesquisa.
Agora, as pesquisadoras pretendem validar os resultados em outras linhagens de células neuronais, para confirmar os resultados. Também é preciso saber se as alterações moleculares no desenvolvimento humano comportam-se da mesma maneira que as culturas estudadas isoladamente nos modelos. “Por isso, é preciso ainda muito trabalho de pesquisa para confirmar as descobertas, mas o avanço obtido foi considerável”, disse Chen.
O artigo Molecular Convergence of Neurodevelopmental Disorders doi: 10.1016/j.ajhg.2014.09.013), de Elizabeth S. Chen, Carolina O. Gigek e outros, poder ser lido por assinantes do AJHG em http://www.cell.com/ajhg/abstract/S0002-9297(14)00396-6

FONTE:
Fabio Reynol - Agência Fapesp - 06.12.2014 - 17h22
http://www.ebc.com.br/tecnologia/2014/12/deficiencia-intelectual-e-autismo-podem-ter-causa-comum

Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

DESPERCEBIDAMENTE!

Aquele sorriso torto
TAXI...
“Esse seu é calminho, hein? O nosso, quando tinha esse tamanho, dava medo.”
E assim começamos a conversar. No trânsito. Infernal, como todo e qualquer trânsito. Para ir ao centro de Porto Alegre há muito tempo desisti de ir dirigindo. O caos é tamanho que terceirizar o stress é uma medida necessária. Isso significa ir de transporte coletivo ou tomar um táxi.
Levei um susto porque demorei um pouquinho a entender o assunto da conversa. Com meu filho sentado ao meu lado, logo percebi que o assunto era ele. Não, não era ele. Era o irmão dele. Do taxista. Um “downzinho” como o “meu”.
Para quem não está familiarizado com o termo, “downzinho” é o coletivo/genérico empregado às crianças que nasceram com a síndrome de Down, principalmente entre familiares. Eu até confesso que mantive por muito tempo muita relutância em usar o termo. Mas, diante de outros usados mais ou menos abertamente e claramente depreciativos (ver lista ao final*), “downzinho” hoje eu considero carinhoso. Não me incomodo mais. Verdade que não.
Unido de repente a essa grande família sindrômica, despertei do choque inicial da conversa e aproveitei para indagar ao taxista sobre o downzinho “deles”. É uma curiosidade sem medida essa, como bem sabem todos os pais e mães. Porque mal tive tempo de perguntar seu nome, não vou usar nenhum nome aqui e tentar dissipar qualquer referência concreta o quanto antes. Essa é uma história real e não desejo nem por um instante expor a ninguém. Então pensei em pedir que ele contasse mais sobre o irmão, mas nem precisou. E ele então prosseguiu.
O downzinho “deles”, segundo me contou, era incontrolável. Mordia os colegas. Era medicado para conseguir dormir algumas poucas horas por noite. Foi expulso das escolas onde tentaram mantê-lo, quase sempre em virtude do comportamento agressivo. Mesmo na APAE foi difícil mantê-lo na infância. Ele era considerado “ineducável”. Disseram-lhes que era autista também. Ou esquizofrênico. A jornada médica foi terrível, por anos a fio. A família gastou o que não tinha para procurar tratamentos. Mudaram do interior para a capital para tentar recomeçar a vida, levando pouco mais que a mala podia portar. Mas foi então que as coisas começaram a mudar, no mais improvável cenário que se pode imaginar.
Estamos quase chegando ao nosso destino. Estou levando meu filho ao oftalmologista, para revisar o grau dos óculos e pegar receita para fazer nova armação. É a terceira do ano. As outras duas foram perdidas. E sob muita reclamação. O taxista parou o carro e continuou contando. Não me atrevi a insinuar que era hora de descer, que estávamos quase atrasados. Era verdade, se o dissesse. Mas queria ouvi-lo mais. E ele, por sua vez, queria falar mais também.
O “nosso downzinho”, disse ele, “teve de começar a trabalhar comigo. Vendíamos flores nos cruzamentos. Às vezes na rodoviária. Nos parques da cidade. Ele era um grande vendedor de flores. Bastava abrir o sorriso ‘meio torto’ que as mulheres, principalmente, se derretiam. E alguns homens também. Se houvesse um prêmio de vendedor de flores, ele mereceria um troféu, de tantas que vendeu.” Isso durou dois anos e esse dinheiro fez com que a família pudesse se estabelecer. Alugaram uma casa melhor e, embora ele não quisesse sair das ruas, voltou a estudar. A mãe não aguentava mais sofrer em saber que ele andava por aí, mesmo que sob a proteção do irmão. Não havia onde mais acender velas na casa. Isso que era uma casa de três cômodos.
“Na APAE de novo?”, eu perguntei.
Não foi na APAE, mas em outra escola especial, que o aceitou apesar da idade já mais avançada. Perguntei em que ano foi isso e ele falou que foi no começo dos anos noventa, mais ou menos na época do impeachment do presidente Collor. Calculei rápido e concluí que hoje ele deveria estar por volta dos quarenta anos.
“E a agressividade aquela, onde foi parar?”, precisei perguntar.
“Logo depois que começou a sair comigo, melhorou muito.” O que ele precisava era cansar, segundo o irmão. E conversar, mesmo que daquele jeito embaralhado. E andar mais solto. Quando voltou à escola, a mãe acompanhava ele todos os dias, mas logo não foi mais preciso. Começou a ter aulas de judô. E começou a tomar banho sozinho. A cuidar mais de si mesmo. Ele estava é apaixonado, mas não contava nada. E dali em diante não teve mais um dia na vida em que não estivesse “enrabichado” com alguém. A mãe e o pai deixavam. E assim foi que ele voltou a trabalhar e nunca mais pareceu aquele capeta.
“E hoje, como ele está?”, foi quase minha última pergunta. A consulta estava atrasando de verdade agora.
Muito melhor que eu, ele foi dizendo. Trabalha numa farmácia e namora a farmacêutica, que é dona da farmácia. “Sério?”, pergunto. “Claro, aquilo é um safado de marca maior”. E então ele riu bastante. E eu também. “Mas ela não é down, claro que não”, ele disse. “E como foi que ele conquistou a moça?”, perguntei já conferindo o troco. Ele demorou um pouco antes de responder, em meio a um tipo de suspiro, talvez..
“Eu acho que foi aquele sorriso torto..”
Então o tempo fechou e choveu muito, embora nossas roupas na rua, depois, continuassem secas e enxutas.. Não consegui perguntar mais nada. Fomos saindo. Eu e o meu menino. Ele, o taxista, também não olhou mais pelo retrovisor, mas teve tempo de desejar boa sorte. E disse para carregar na dose de paciência. E que, no fim, valia a pena. Que tudo iria dar certo.
Só me arrependo mesmo de não ter ficado com o endereço da farmácia para um dia desses ir lá conhecer o “ineducável”. É que educar dá trabalho mesmo, mas compensa.
Postado por Lucio

http://morphopolis.wordpress.com/

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Autismo como uma reflexão diária é tema de minicurso do Encontro de Saberes

Isolamento, falta de comunicação, mundo interior, criatividade. Todas essas palavras vêm à mente da maioria das pessoas quando se fala em autismo, mas o que poucas pessoas entendem é como lidar e compreender o ponto de vista dos autistas. Pensando na perspectiva educacional, vários questionamentos são levantados: como incluí-los na sala de aula? Como trabalhar as nossas dificuldades em relação a eles quando os ensinamos algo? Como construir uma ponte de comunicação com eles? E, por fim, será que o autista quer realmente ser incluído? Durante o minicurso “O autismo no contexto educacional: disciplinaridade, transdisciplinaridade e indisciplinaridade”, que integrou a programação do Encontro de Saberes, o Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (Capsi) buscou discutir esses questionamentos que, na realidade, não possuem respostas exatas.
     “No Capsi de Ouro Preto, trabalhamos com 11 autistas que precisam ser acompanhados diariamente e, com esse trabalho, podem aos poucos ser inseridos em escolas e melhorar a relação em casa”, explica a terapeuta ocupacional Paula Oliveira. A coordenadora Christine Vianna e o psiquiatra e professor de medicina da UFOP Ricardo Moebus mostraram um pouco desse trabalho do Capsi de Ouro Preto e deixaram aberta a discussão sobre o que as pessoas presentes no minicurso entendiam sobre o autismo.      Dessa forma, queriam somar ideias para adquirir mais conhecimento.
     Fazendo um panorama do assunto, discutiu-se sobre como antigamente as doenças e suas deficiências eram tratadas às escondidas por amigos e familiares, fazendo com que essas pessoas ficassem à margem das relações. Christine conta que, diferentemente disso, hoje existe um importante trabalho de inserção dessas pessoas na sociedade . “Será que só a nossa vontade de inclusão é o que vale?”, questiona.
     A coordenadora também diz que essa inclusão deve ser mais discutida, a partir da compreensão da vontade de o autista também ser incluído em um meio comum. “Muitas vezes ele constrói uma ponte para se comunicar com os outros e nós não percebemos. Aceitar o que não é semelhante a nossas opiniões é muito difícil e, por isso, o foco é aprendermos a construir meios de comunicação com eles”, explica.
     A administradora Shirley Dias é mãe de uma criança autista e foi assistir ao minicurso. Ela conta que, como acabou de mudar para Ouro Preto e seu filho é o primeiro caso de autismo dentro da escola, uniu-se aos membros da instituição em busca de conhecimento sobre a forma correta de lidar com o caso, respeitando a vontade e o interesse dele em participar das atividades.
Sobre o autismo
     O psicólogo conta que devemos lembrar que o autismo é uma doença e que as dificuldades existem. “Essas visões que muitos colocam apenas com pontos negativos ou positivos devem ser eliminadas”, comenta Ricardo. E ainda acrescenta. "Assim como em alguns casos existem a enorme criatividade e a facilidade em desenvolver diversas habilidades, as limitações também devem ser levantadas”. Ricardo enfatiza que devemos aprender a lidar com as diferenças, pois elas existem em todos os lugares, e lembra que a categorização que muitas pessoas usam, como, por exemplo, falar que brasileiro gosta de futebol e samba, desconsiderando a opinião de milhões de outras pessoas que não pensam assim, é o que acontece também com o autismo, quando não se tratando cada um como único e sim como um grupo.
     Já Paula explica como lida com os casos em que trabalha. “O indivíduo autista deve ser ensinado a ter sua própria autonomia, criar seus vínculos e aprender a querer e a discordar, fazendo suas próprias escolhas”. Ela também comenta que a comunicação pode ser o ponto mais difícil e que deve ser centrada na questão de fazer com que os autistas expressem seus sentimentos e dificuldades. “Trata-se de um processo contínuo de entender e interpretar cada um e, a partir da confiança, começar a realizar esse estudo. Nenhum indivíduo é capaz de conseguir fazer e ser bom em todas as coisas, e com os autistas isso também acontece. Impor exigências em torno deles para que consigam realizar diversas tarefas não é necessário, pois a vontade deles deve ser respeitada”.
     O intuito do minicurso foi o de dar continuidade ao assunto, buscando o entendimento para cada caso de autismo, para cada indivíduo, respeitando a individualidade de cada um dos que possuem essa doença, bem como daqueles que não a possuem. Entender que não existe um conceito sobre o que é o autismo, que esse conceito deve ser construído diariamente, e levar a temática para a universidade, para as escolas, para a casa, enfim, para todos os espaços do público foi um dos objetivos.
FONTE:
Daiane Bento

                   http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=15702&Itemid=196
Foto: Google.

sábado, 22 de novembro de 2014

“FOI DE RASGAR O CORAÇÃO”

“FOI DE RASGAR O CORAÇÃO”
Mara Gabrilli Programa Jô Soares – 19.11.2014

Nesta semana, o autismo, foi um assunto que agitou as postagens nos facebooks e similares da vida, e eu que não falei nada, embora tivesse compartilhado a repercussão, recebi algumas mensagens dizendo que se nada falasse a respeito era por que ainda não tinha saído das eleições presidenciais. Pelo contrário, saí e decidi que: o Brasil que perdeu, ganhou.  
Embora a imprensa brasileira nos últimos tempos, noticie um pouco mais sobre o autismo, não o faz com ênfase, até por estar dando mais atenção aos complexos temas que envolvem o Brasil nas páginas policiais que são mais espetaculares, sem se flagrar com a importância de assunto como políticas de saúde que não funcionam, com base no viés aparente de que cada povo tem o governo que merece.
O foco era a entrevista que a Mara Gabrilli, deputada federal reeleita, um ícone das pessoas com deficiência neste país, e relatora da Lei 12.764/12 (Lei Berenice Piana) que instituiu a política de proteção aos autistas concedeu ao Jô Soares, sobre a qual, observei para alguns que horas antes pela agitação e com o interesse na discussão, a audiência teve grande repercussão deixando, felizmente, vários temas para discussão.
O ponto principal da repercussão foi o de que o Jô “abriu uma oportunidade” para discutir o autismo no seu programa, tema ao qual ele resistia expor, por questões de ordem pessoal e isso é indiscutível, tendo em vista a irreparável perda do seu filho Rafinha, pessoa na condição de autista, até 51 anos de idade, dias antes, quando voltou para a Pátria Espiritual, legítimo lugar a que pertencia.
A presença extraordinária da Mara Gabrilli, falando com segurança sobre autismo, trouxe novo alento para que milhões de pais de autistas suscitem nova reação contra a falha no zelo das suas reais finalidades, do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência - CONADE, que deixou inserir no texto de regulamentação da Lei 12.764/12, uma anomalia subliminar que destina os autistas para serem tratados nos CAPS – Centro de Atenção Psico Social onde lhes falta capacidade e capacitação, no mesmo nível de pessoas com esquizofrenia e dependentes químicos.
A única razão que autoriza o CONADE usar do artifício subliminar como a cilada disposta no artº 3º, Alínea “C” do texto da regulamentação da Lei 12.764/12, é a de ratificar o favorecimento comercial da iniciativa privada no âmbito das políticas publicas de saúde, colidindo frontalmente com a Constituição Federal.
As respostas pontuais dadas por Mara Gabrilli ao ser questionada por Jô Soares, que com sua experiência em autismo discutiu a seu tempo o apoio as necessidades da disciplina ser implantada nas faculdades de Medicina, tendo em vista a falta de capacitação existente, a exemplo dos tempos em que os médicos nada sabiam a respeito, bem como desconheciam os males da síndrome.
Os CAPS, que procedem a tratamento a dependentes químicos, alcoolismo, e outros transtornos, são apenas fornecedores de remédios reducionistas controlados, enquanto deveriam ser também uma instituição para atendimento, onde estaria incluído o tratamento terapêutico específico para autistas, mas não o é, resguardadas as especialidades e comorbidades inerentes à síndrome.
Autista se não é tratado adequadamente fica infeliz, e faz a família infeliz, disse Mara Gabrilli. Jô emendou exemplificando que quando seu filho Rafinha tinha dois anos, um médico disse à mãe dele: “esse menino aí, o melhor que você tem a fazer é fazer outro, porque esse não vai falar andar e escrever”. A expressão foi para comprovar a falta de conhecimento do médico que não tinha ideia do que fazer.
Existe uma “mania global” de dizer que o autismo é bonito, em face caracterização hollywoodiana de responsabilidade da indústria da mídia, a partir do filme Rain Man. O mais importante sobre a disfunção da imprensa com o autismo, é o aspecto qualitativo que ela pode apresentar, a partir do ponto essencial que é analisar e criticar sem agressividade, como costumeiramente acontece pelo mau uso da palavra.
Pais e interessados no autismo quando sabem das suas complexidades não se deixam iludir por ele.  A capacidade mesmo limitada de cada um permite saber que o autismo não pode ser considerado um erro moral e deve ser tratado como causa e não como um sintoma fantasioso, o que permite o aprendizado de todos.  
Já temos o nome da deputada federal Mara Gabrilli, do senador Paulo Paim, Berenice Piana de Piana a idealizadora da Lei 12.764/12, Ulisses Costa e Fernando Cotta destacadamente, gravados indelevelmente na história em favor das pessoas com deficiência, pela influência e na ajuda de inestimável valor na vida dos nossos filhos autistas. Quis agora a Providência Divina trazer Jô Soares para juntar-se a nós e outros certamente virão pelo que podem fazer por eles, interferindo com seus saberes pela exclusão da alínea “C” do decreto, como um primeiro passo.
O Ministério da Saúde tem conhecimento das sugestões para criação de centros de excelência para estudos do autismo custeados pelo Estado, e pela iniciativa privada para inclusão e independência dos autistas, sem a postura tradicional do assistencialismo, mas sim científica, por ser a Ciência a única forma para atingir os resultados necessários e promissores ao tratamento do espectro, porém só atendem sugestões de quem está ligado a interesses preexistentes discutíveis.
Os autistas tem capacidade de aprender. Temos que ter capacidade de ensiná-los.
Que a lei saia do papel, disse Mara.
Cabe-nos fazer com que nossos filhos não sofram mais do que o inevitável.  

Nilton Salvador

sábado, 15 de novembro de 2014

Como ensinar o conceito de tempo a crianças com Autismo

O conceito de tempo é fundamental na nossa vida. As mudanças de estação (que aqui no Brasil não são sentidas com tanta intensidade), os períodos do dia e as tarefas próprias de cada horário (café da manhã, almoço, jantar, hora de dormir e de ir para escola) são questões comuns a vida de cada um de nós e precisa ser compreendida.
     Pensando na criança com Autismo, a ausência do conceito de tempo pode gerar comportamentos indesejados e situações desafiadoras para os pais e familiares. Sendo assim, separamos as sugestões de Penina Rybak, uma especialista em Autismo, e acrescentamos algumas outras ideias de como ensinar e trabalhar com os pequenos o conceito de tempo.
Brinquedos e a tecnologia (por que não?) aparecem como facilitadores desse processo. O conceito de tempo vai ajudar na compreensão e na causalidade dos fatos; a entender o tempo sequenciado dos movimentos e das conversas (entenda aqui conversas e narrativas). Utensílios domésticos e fotos digitais podem ajudar na compreensão do antes e depois; do começo, meio e fim que indicam a passagem o tempo.
Aqui estão algumas sugestões:
– Escolher livros de histórias e chamar atenção para o começo, o meio e o fim; revendo sempre a sequência dos fatos.
– Atividades de arte também são excelentes escolha porque têm um produto final e etapas para sua realização. A arte pode até ser exposta em casa ou na internet para os parentes e amigos mais distantes.
– Atividades de culinária que têm um produto final também são ótimas para o conceito de tempo.
Fato: como as atividades de arte e a culinária dependem de um tempo para seguirem para o próxima etapa e serem finalizadas, um cronômetro pode ajudar, tornando esse tempo “mais concreto” e ajudando as crianças.
– Assistir um vídeo ou filme, parar em intervalos regulares para rever e discutir a ordem dos eventos.
– Nos lugares onde o Outono mostra “suas folhas”, uma brincadeira na pilha de folhas ao ar livre pode ser registrado. O antes e depois de jogar pode ser clicado!
É válido usar a tecnologia, os aplicativos que usam algumas das atividades, como as descritas acima, para ajudar também no aprendizado do conceito de tempo. Aqui no reab.me já mostramos o Buddy’s Time, um app que tem uma proposta neste sentido. Clica aqui e confere!
Aprender o conceito de tempo é um dos passos necessários para aprender sobre a causalidade. Causalidade envolve previsões de resultados. Previsões se fazem com base em uma ação emocional ou ação física no ambiente. Ou seja, tudo está interligado e garante um bom funcionamento no cotidiano. Nas crianças essas habilidades estão relacionadas ao aprendizado as regras, a programação do dia e a fazer inferências sobre isso.

Fonte: Friendshipcircle.org

domingo, 9 de novembro de 2014

Autismo: dúzias de genes identificados



Dois estudos genéticos, que envolveram mais de 50 laboratórios, identificaram dúzias de novos genes associados ao autismo. Os estudos publicados na revista “Nature” demonstraram que as mutações nestes genes afetam a rede de comunicação no cérebro e comprometem os mecanismos biológicos fundamentais que decidem se os genes são ativados, quando, e como.
Os investigadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, associaram mutações em mais de 100 genes envolvidos no autismo. A maioria das mutações identificadas nos estudos são mutações de novo, ou seja, mutações que não estão presentes nos genomas dos pais que não têm a doença, mas que aparecem espontaneamente numa única célula dos espermatozoides ou óvulo, mesmo antes da conceção da criança.
Os genes envolvidos nestes dois estudos pertencem a três categorias distintas. Uns estão envolvidos na formação e função das sinapses, locais de comunicação entre as células no cérebro. Outros regulam, através de um processo conhecido por transcrição, como as instruções de outros genes são transmitidas para a maquinaria celular que está envolvida na síntese de proteínas. A terceira classe envolve o modo como o ADN é enrolado e “empacotado” nas células numa estrutura conhecida por cromatina.
De forma a chegarem as estas conclusões, num dos estudos, os investigadores utilizaram amostras de ADN de 3.000 famílias que tinham uma criança com autismo. O segundo estudo envolveu o Consorcio de Sequenciação do Autismo, uma iniciativa apoiada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, que permite aos cientistas de todo o mundo colaborarem em grandes estudos genómicos que não poderiam ser realizados por laboratórios individuais.
Antes destes estudos, apenas tinham sido identificados, com elevado grau de precisão, 11 genes associados ao autismo, agora temos mais do quadruplo desse número ", revelou, em comunicado de imprensa, uma das autoras dos estudos, Stephan Sanders. Com base nestas tendências, a investigadora acredita que a descoberta de novos genes vai continuar a ritmo acelerado podendo atingir os 1000 genes associados ao risco de autismo.
"Tem havido uma grande preocupação que estes 1000 genes representem 1.000 tratamentos diferentes (…)", disse um outro autor do estudo, Matthew W. Estado

"Já existe uma forte evidência de que estas mutações convergem para um número muito menor de funções biológicas importantes. Precisamos agora de nos concentrar nesses pontos de convergência para começar a desenvolver novos tratamentos”, conclui.

FONTE:>
http://noticias.bancodasaude.com/autismo-duzias-de-genes-identificados

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Autismo, use a tecnologia para ajudar

A tecnologia faz girar o mundo. É uma frase que poucos terão coragem de contrariar mesmo quando se apontam vícios e risco de segurança na sua utilização. Mas a tecnologia é muito mais que isso e, quando aproveitada com qualidade, a tecnologia pode mesmo mudar a vida de milhares de crianças em todo o mundo, todos os dias.
E se usássemos a tecnologia para ajudar crianças com problemas? Se, por exemplo, no autismo usássemos mais ferramentas tecnológicas para entrar no espaço confinado do autista?
O autismo é um distúrbio neurológico que afeta o modo como uma pessoa se comunica e se relaciona com as pessoas em seu redor. Sendo que normalmente, crianças com autismo, têm problemas em se comunicar com outras pessoas, problemas em olhar outras pessoas nos olhos e em alguns casos ficam perturbadas simplesmente por ouvirem algum tipo de ruído ou verem algum tipo de luz brilhante.
No entanto, esta perturbação é uma condição espectro, o que significa que apesar de os autistas terem algumas dificuldades em comum, a sua condição pode também ser afetada de maneiras diferentes. Sendo que, muitas pessoas que sofrem de autismo podem viver uma vida relativamente independente.
Além disso, existe ainda o Síndrome de Asperger, uma ‘subcategoria’ do autismo, onde, normalmente, incluiu uma inteligência acima da média. Podendo estas pessoas ter menos problemas com a fala, mas podem, no entanto continuar a ter dificuldades de compreensão e comportamento.
Mas em que aspectos é que a tecnologia pode melhorar a vida das crianças autistas?
Compreensão geral do ambiente em seu redor;
Habilidades de interação social;
Habilidades de comunicação;
Habilidades de atenção;
Habilidades de motivação;
Habilidades de organização;
Habilidades acadêmicas;
Habilidades de autoajuda;
Habilidades de hábitos diários.
De que forma a tecnologia tem influência nessa melhoria?
A vida destas pessoas tem uma melhoria significativa a partir do momento em que começam a utilizar tecnologias assistivas. Mas o que são estas tecnologias afinal? As tecnologias assistivas são todos os equipamentos e sistemas que podem ser modificados ou personalizados de forma a aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais de pessoas com algum tipo de dificuldade funcional, como é o caso das pessoas que sofrem de autismo.
Normalmente, as crianças que sofrem de autismo processam de forma mais fácil e célere informação visual do que informação auditiva. Logo, sempre que são utilizados dispositivos tecnológicos com estas crianças, como é o caso de tabletes ou mesmo smartphones, está a ser transmitir informação através da sua área mais forte de processamento, a área visual.
Posto isto, pode afirmar-se que a utilização deste tipo de tecnologias no dia-a-dia destas crianças poderá melhorar muito as suas capacidades.
De forma a comprovar isto, alguns investigadores no Canadá selecionaram 12 crianças autistas em 6 salas de aula na cidade de Ontário. Essas salas receberam vários tabletes para um teste de seis meses.
Após os seis meses, estes investigadores chegaram à conclusão que nove dessas doze crianças mostraram uma evolução em nível das suas habilidades de comunicação. Além de que, a sua motivação aumentou em cerca de 80%, aumentando ao mesmo tempo a sua capacidade de atenção e a sua capacidade de interagir com os outros.
Dados Interessantes
Pensa-se que cerca de uma em cada 50 crianças no mundo inteiro tem alguma forma de autismo, número que tem vindo a aumentar de ano para ano.
Uso da tecnologia para o tratamento do autismo tem vindo igualmente a aumentar, principalmente com a criação de dispositivos como Tablets, Smartphones, entre outros.
Simples aplicações, como jogos, por exemplo, fazem estas crianças sentirem-se seguras, fazendo com que se comuniquem mais facilmente.
Crianças com autismo utilizam as tecnologias para mostrar coisas que pretendem, onde gostariam de ir e até mesmo para praticar caligrafia e cálculo.
Normalmente, as crianças autistas gostam de comboios porque eles são previsíveis, seguem sempre o mesmo caminho e abrem e fecham as portas sempre da mesma forma.
Projeto Toca Boca
http://videos.sapo.pt/MAw2WVGPlqZVH8JjQBEp
Toca Boca é uma empresa sueca de desenvolvimento de jogos para crianças entre os 3 e os 6 anos. Muito embora a empresa não desenvolva os seus jogos especificamente para crianças autistas, as suas aplicações tornaram-se muito populares entre elas.
Com este artigo, apenas queremos mostrar que a tecnologia é utilizada hoje em dia para muito mais do que é anunciado nos média, e que realmente para muitas pessoas, a tecnologia pode ser muito importante, pois pode melhorar de forma significativa a maneira como estas crianças vivem e como enfrentam o mundo.
Desta forma mostramos que a tecnologia não tem apenas como objetivo o lazer, ou até mesmo mostrar a superioridade, apenas porque se tem uma tecnologia de ultima geração, ou de topo, tecnologia, a tecnologia para muitos é torna-os apenas superficiais, mas para outras faz toda a diferença.
FONTE:
http://pplware.sapo.pt/informacao/autismo-use-a-tecnologia-para-ajudar/
Por Hugo Sousa para KIDS.PPLWARE.COM

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Psiquiatria: diagnóstico errado atrasa tratamento

Alguns sintomas que indicam TDAH na criança podem, na verdade, ser de outras doenças

Rio - A existência do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é novidade. E o comportamento de crianças com o mal também é conhecido. Mas especialistas alertam que nem todos os pequenos ‘diagnosticados’ têm realmente TDAH.
É preciso identificar a real necessidade que os pacientes têm de tomar remédios
Foto:  Divulgação
De acordo com o psiquiatra infantil Fábio Barbirato, da Associação Brasileira de Psiquiatria, desatenção, hiperatividade e impulsividade podem estar presentes também em depressão, ansiedade, doenças neurológicas, Transtorno do Espectro Autista, retardo mental, Transtorno do Humor Bipolar e dislexia.
Barbirato alerta que cabe ao psiquiatra fazer a diferenciação. Por exemplo, crianças com dislexia podem ter falta de atenção pela dificuldade em interpretar o que leem. No TDAH, diz, atividades de leitura não se alteram enquanto houver possibilidade de manter a atenção. “Na dislexia, a criança não precisa de remédio, mas de um fonoaudiólogo”, explica.
Ainda segundo ele, crianças autistas têm dificuldade em lidar com mudanças e, por isso, podem ter irritabilidade. No TDAH, a impulsividade se dá pela dificuldade de autocontrole, que leva a comportamentos irritáveis.
Em alguns casos, falta de atenção pode ser depressão. “A criança deprimida não tem interesse nem para brincar, por isso fica dispersa na aula”, explica.
Segundo Barbirato, o maior dano do erro no diagnóstico não é a medicação desnecessária, mas o tratamento que será errado e adiado. “Criança com autismo não tratada pode ter problema de sociabilização. Na dislexia sem tratamento, o risco de evasão escolar é maior”, afirma.
Pais têm como tirar dúvidas
O TDAH será um dos assuntos abordados no 2º Congresso Brasileiro de Psiquiatria da Infância e Adolescência, que acontece nos dias 5 e 6 de dezembro. Além do debate de temas relevantes para profissionais de saúde, o evento terá atividades para os responsáveis. Eles assistirão a palestras e poderão tirar dúvidas com especialistas em psiquiatria infantil. São 150 vagas e o preço para os dois dias de oficinas é R$ 80.
Com o tema ‘Modernidade, Ciência e Mitos em Psiquiatria da Infância e Adolescência’, o congresso será no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo.
Informações: simposiocomportamento@gmail.com.
FONTE:
BEATRIZ SALOMÃO

http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2014-11-02/psiquiatria-diagnostico-errado-atrasa-tratamento.html

sábado, 1 de novembro de 2014

Pesquisa também aponta que mutações genéticas pequenas, raras, em 107 genes podem contribuir para o risco do transtorno

Um enorme estudo internacional começou a desvendar os "pequenos detalhes" da razão de algumas pessoas desenvolverem autismo, informaram pesquisadores. Eles observaram milhares de amostras de DNA de crianças com autismo e de seus pais.

Os resultados, publicados na revista científica Nature, constataram que até 33 genes estão envolvidos no desenvolvimento da condição.
Anticorpos maternos são nova pista para o autismo, indica estudo
Poluição do ar pode levar ao autismo ou à esquizofrenia
Autismo pode ser identificado nos primeiros meses de vida, diz estudo
Assassinatos em massa teriam ligação com autismo, diz estudo
A National Autistic Society (NAS), no Reino Unido, no entanto, afirmou que ainda há "um longo caminho" para a descoberta das causas do autismo.
O estudo sugere haver uma série de diferentes fatores de risco para a doença, de acordo com o autor principal, professor Joseph Buxbaum, do Icahn School of Medicine at Mount Sinai New York.
"O gatilho é a genética - mas há um monte de diferentes possíveis causas", disse Buxbaum.
Análise do DNA
O autismo é um transtorno que afeta a capacidade das pessoas de se socializarem.
Os pesquisadores avaliaram 15.480 amostras de DNA para determinar o impacto de mutações genéticas passadas de pai para filho, bem como as que surgem espontaneamente.
Dos até 33 genes ligados ao autismo, 7 genes são completamente novos para os cientistas (em sua conexão com o autismo), enquanto 11 não eram considerados risco real devido à falta de dados. Do total, 15 genes já eram conhecidos como potenciais propagadores da condição.
O estudo também afirma que mutações genéticas pequenas, raras, em 107 genes podem contribuir para o risco de autismo.
Mais de 5% das pessoas autistas estudadas apresentaram mutações genéticas (com perda de funções nos genes) não herdadas.
'Detalhe mais fino'
O estudo deve ajudar a melhorar a compreensão de algumas das causas do autismo, disse o professor David Skuse, chefe da equipe de distúrbios da comunicação social, no Great Ormond Street Hospital, em Londres, e um contribuinte para o relatório.
"Até agora, nós realmente não fomos capazes de compreender os mecanismos que levam ao autismo", disse ele. "Este (estudo) chegou a pequenos detalhes".
Skuse acrescentou que o estudo poderia começar a ajudar as famílias a entender o autismo. A National Autistic Society (NAS) disse que havia muitas lacunas no conhecimento do tema.
Carol Povey, diretora do Centro para Autismo do NAS, disse: "O autismo vem de uma relação altamente complexa de genes que não apenas interagem com outros genes, mas também com fatores não-genéticos também".
"Pesquisas como esta nos ajudam a entender a genética envolvida em algumas formas de autismo e abrem a possibilidade de famílias obterem uma melhor compreensão da condição", disse ela.
"No entanto, ainda estamos muito longe de saber o que causa o autismo. O que as pessoas com a doença, suas famílias e cuidadores precisam, acima de tudo, é de acesso agora para o tipo certo de apoio, para serem capazes de levar uma vida plena", acrescentou.


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Cientista brasileiro usa células de dente de leite para fazer neurônio autista se comportar como normal

Alysson Muotri, um dos autores do estudo e professor na Universidade da Califórnia, fala também sobre o futuro do transtorno do espectro autista
autismo_neuronios_alysson (Foto: divulgação)
 O biólogo molecular brasileiro Alysson Muotri acaba de finalizar uma pesquisa com resultados promissores sobre o espectro autista. No estudo, que utilizou células extraídas de dente de leite de crianças, Muotri descobriu como fazer o neurônio de um autista clássico se comportar de forma normal.
“Nossa equipe recebeu o dente de leite de uma criança sem autismo e outro de uma criança brasileira com autismo clássico. Então, retiramos as células da popa dos dentes e fizemos elas se diferenciarem em neurônios corticais”, explica o cientista. O córtex é uma região do cérebro importante para o processamento de linguagem e sociabilidade. Por meio de comparação, o pesquisador percebeu que o neurônio da criança com autismo tem alterações morfométricas e funcionais em comparação ao da criança sem autismo.
O cientista Alysson Muotri (Foto: divulgação)
Após observar o sequenciamento genético do paciente autista e conhecer as mutações, os pesquisadores descobriram que uma das maneiras de reverter o quadro é com o uso de uma substância chamada hiperforina, encontrada na erva de São João. Essa droga pode ter efeito em pessoas com mutação em um gene específico, o TRPC6. “Na teoria, esses pacientes poderiam se beneficiar tomando o chá da erva de São João. Começamos a fazer esse teste com uma criança autista brasileira com mutação no gene TRPC6, mas o trabalho não está concluído. O que temos é um indicativo de resposta positiva”, diz Muotri.
Quando questionado se existe uma cura para o autismo, o cientista não tem dúvida: “Acredito que sim. Há algum tempo, meus colegas não gostavam de usar o termo ‘cura’, mas isso já não é mais tão tabu assim”. Até o final de 2015, o grupo do pesquisador irá concluir o teste de 55 mil drogas para reverter o autismo.

Fonte:

CRESCER
Por Maria Clara Vieira
http://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2014/10/cientista-brasileiro-usa-celulas-de-dente-de-leite-para-fazer-neuronio-autista-se-comportar-como-normal.html

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Livro revela a história autobiográfica de uma mulher que se dedicou a trabalhar com crianças psicóticas ou autistas

A Vogais edita entre nós «Crianças Perdidas», um livro sobre o autismo e os problemas de comportamento e desenvolvimento na infância, mas também a história autobiográfica de uma mulher excecional, que se dedicou a trabalhar com crianças catalogadas como psicóticas ou autistas, acabando por transformar as suas vidas. «No que concerne a lidar com crianças problemáticas ninguém tem a sabedoria, compaixão e sensibilidade de Mary MacCracken», escreveu o New York Times.
«Quando se voluntariou para trabalhar numa escola para crianças com distúrbios emocionais, Mary MacCracken rapidamente se sentiu atraída pelas pessoas que ali ensinavam e por aquelas crianças especiais e respetivos pais angustiados. Embora quase todos os meninos aparentassem ser saudáveis, a realidade era muito mais triste, pois encontravam-se numa dimensão distante, privadas de amor e de verdadeiro contato humano.
Depressa se tornou evidente que Mary era uma professora com dotes invulgares. Fruto das suas observações e de um instinto inato, conseguiu comunicar e relacionar-se com as crianças mais difíceis. Com o tempo, conseguiu descodificar os murmúrios dos seus alunos e ensinou-os a ler e a falar. Mas, mais importante do que isso, ajudou-os a começarem a sentir confiança e amor.»
FONTE:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=740904
https://www.youtube.com/watch?v=uDprrK6WoOk

Encontrados os três mapas genéticos do autismo

A maior fotografia da doença revela que as mutações conformam o grande fator de risco
Crianças afetadas pelo autismo aprendem através de pictogramas 
em uma escola especial, em 2009. / EL PAÍS
As causas do autismo são discutidas há meio século e continuam sem estar claras, mas cada vez fica mais evidente a transcendência dos fatores genéticos. Dois macroestudos apresentados na revista Nature confirmam agora os fortes e complexos componentes genéticos do autismo, identificam mais de 100 genes relacionados com o risco de desenvolver a doença e revelam os três grandes mapeamentos pelos quais viaja esse emaranhado de material hereditário. Dois deles – a formação das sinapses e o controle dos genes cerebrais – eram de certo modo esperados, mas ninguém contava com o terceiro: a cromatina, uma arquitetura de alto nível que empacota ou expõe grandes áreas da geografia genômica em resposta ao ambiente.
Os resultados têm implicações imediatas para o diagnóstico genético do autismo, que agora é formado por um modesto 20% de capacidade de predição e poderá se multiplicar em poucos anos, embora certamente com a introdução das modernas técnicas da genômica – o sequenciamento de exomas, ou a parte do DNA que significa proteínas – ao alcance dos serviços de psiquiatria hospitalar. Além disso, esses dados darão trabalho durante muito tempo aos neurocientistas, que deverão esclarecer como esses genes afetam o cérebro, e aos farmacêuticos, que poderão dirigir seus dardos químicos contra toda uma nova bateria de alvos.
O autismo, que aparece mais ou menos em uma de cada 100 crianças, é um transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade social, de comunicação e de linguagem, e costuma ser evidente antes dos três anos de idade. O autismo “clássico”, a síndrome de Asperger e o transtorno generalizado do desenvolvimento não especificado (PDD-NOS pela sigla em inglês) são três quadros relacionados que costumam se agrupar sob o guarda-chuva de transtornos do espectro autista. Os macroestudos abrangem este espectro em geral, e não apenas o autismo clássico.
Os resultados têm implicações imediatas para o diagnóstico genético do autismo.
As mutações herdadas e de novo – ocorridas nos óvulos ou no esperma dos pais, e que, portanto, dão lugar a casos sem precedentes familiares – são o principal fator de risco para desenvolver o autismo; somando os dois tipos de mutações, os dois novos estudos identificam mais de 100 genes de risco. São, de longe, os maiores estudos sobre genética do autismo feitos até o momento.
O primeiro envolveu 37 instituições científicas internacionais, incluídas duas espanholas, foi coordenado pelo neurocientista e geneticista Joseph Buxbaum, do Hospital Monte Sinai de Nova York, e analisou o genoma de 3.871 autistas e 9.937 controles relacionados. O segundo foi coordenado por Michel Wigler, do Laboratório Cold Spring Harbor, também em Nova York, e examinou o genoma de 2.500 famílias com filho autista, com um foco particular nas mutações de novo, que podem superar 20% de todas as mutações de risco segundo sua análise.
Estas mutações de novo são parte da razão pela qual a influência genética no autismo foi subvalorizada nos primeiros estudos: apesar de ter uma causa genética, estes casos não apresentavam relações familiares óbvias. “Mas as mutações de novo não são nenhuma peculiaridade do autismo”, explica Ángel Carracedo, da Universidade de Santiago de Compostela e coautor do primeiro trabalho. “Nossos óvulos e espermatozoides sofrem mutação, é parte do mecanismo de geração da diversidade humana.” A outra autora espanhola é Mara Parellada, da Universidad Complutense.
Bauxbaum, líder desse mesmo estudo, acha que o consórcio não só contribuiu com a fotografia teórica mais completa de como numerosas mudanças genéticas se combinam para afetar o cérebro das crianças com autismo, “mas também sobre as bases do que torna os humanos seres sociais”. Em termos lógicos, esses mesmos genes devem formar, quando funcionam corretamente, a base lógica das estruturas sociais do cérebro.
Estes estudos contribuem para o mapeamento teórico mais completo de como numerosas mudanças genéticas se combinam para afetar o cérebro das crianças com autismo.
“Todas estas descobertas genéticas”, continua Bauxbaum, “devem ser transportadas agora a estudos moleculares, celulares e animais para conseguir futuros benefícios para os afetados e suas famílias; um estudo como este cria uma indústria de muitos anos, com laboratórios procurando os efeitos fisiológicos das mudanças genéticas que encontramos e procurando fármacos para contrapor seus efeitos”.
“A genética que subjaz ao autismo é altamente complexa”, acrescenta o segundo coordenador do estudo, Mark Daly, do Instituto Broad (MIT e Harvard, e um dos pontos centrais do projeto genoma público), “e apenas tendo acesso a grande amostras é possível traçar as mutações e entender os mecanismos implicados”.


FONTE:
http://brasil.elpais.com/autor/javier_sampedro/a/

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Conferência Internacional sobre o autismo

Cidade do Vaticano (RV) – Realizar-se-á na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, de 20 a 22 de novembro próximo, a XXIX Conferência Internacional do Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes da Saúde, sobre o tema: “O pessoa acometida pelo autismo: gerar esperança”.
Em seu anúncio, Dom Zygmunt Zimowski, Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes da Saúde, dirigiu uma mensagem aos familiares e aos agentes de saúde, onde exprime “a proximidade e a solicitude de toda a Igreja para esta realidade que vivem as pessoas afetadas” pelo autismo, e em particular “às famílias que partilham cotidianamente desta experiência”.
Segundo o Presidente do organismo vaticano, Dom Zygmunt Zimowski, a conferência tem como objetivo enfrentar os desafios que o autismo apresenta à Pastoral da Saúde, como também à ciência, à medicina, às famílias, às estruturas educacionais e assistenciais e, mais em geral, à sociedade e aos jovens.
Em vista deste evento, Dom Zimowski exorta as famílias a manterem a esperança diante da real dificuldade de integração e de comunicação, pela qual passa a pessoa autista e quem a assiste. Para enfrentar os desafios que esta doença suscita, é preciso trilhar o caminho da integração na comunidade, rompendo o isolamento e as barreiras impostas pela patologia e pelo preconceito, mediante relações interpessoais.

Enfim, o Presidente do organismo vaticano destaca que o encontro de novembro será uma oportunidade para a comunidade científica debater e assumir compromissos. E conclui citando a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, onde o Papa Francisco afirma: “É indispensável fazer atenção às novas formas de pobreza e de fragilidade, nas quais somos chamados a reconhecer Cristo sofredor. (MT)

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O AUTISMO E A CEGUEIRA MENTAL

Quando falamos em cegueira mental e transtorno do espectro autista, isto se refere ao fato dos autistas não conseguirem entender os sentimentos e ideias dos outros.
Isto se refere a dificuldades com a teoria da mente que é a habilidade que todos temos de se colocar no lugar do outro e de entender como os outros sentem e pensam prevendo o que vai acontecer.
A capacidade de empatia e vital para a vida em sociedade.
Os autistas acabam tendo dificuldades para compreender como alguém sente ou pensa. Isto explica porque as interações sociais são tão difíceis para eles pois este mundo pode parecer confuso, difícil e assustador pela falta de previsibilidade.
Estes problemas com a teoria da mente levam a:
- apontar para as coisas ao invés de pedir ou pegar por si próprio. Para conseguir o que querem usam as pessoas como instrumento;
- ter dificuldades em estabelecer um contato visual que é difícil e doloroso pois, em muitos casos, o outro incomoda ou não tem sentido;
- dificuldades em seguir com os olhos enquanto os outros falam e se movimentam pois, esta fala, não tem sentido para ele;
- dificuldade em usar a fala ou gestos para se comunicar;
- dificuldades para entender as emoções no rosto alheio. Muitas vezes, não entendem se a pessoa está triste ou alegre, mas conseguem entender a mudança corporal intensa e a alteração forte no tom de voz;
- dificuldades em mostrar interesse em outras crianças o que levam eles a se relacionar melhor com adultos ou crianças mais velhas do que com crianças da sua idade. As crianças são muito rápidas e os adultos são mais lentos, tolerantes e previsíveis;
- não saberem como brincar com outras crianças pois tem dificuldades em brincar de faz de conta;
- se colocar no lugar dos outros pois eles são muito egocêntricos e pensam sobre o mundo sob o seu ponto de vista. Por outro lado, gostam de atividades que não dependem dos outros pois gostam do isolamento;
- falta de flexibilidade em interações sociais pela dependência em rotinas e pelo fato de usar as regras sociais de forma rígida;
- ter a tendência a receber mais do que dá o que não quer dizer que ele não tenha afeto e amor. O que ele não sabe é como demonstrar em algumas situações;
- a falarem excessivamente sobre um tópico específico manifestando ecolalia tardia ou imediata sem se preocupar se isto incomoda os outros ou não;

- terem comportamentos rígidos indo aos mesmos lugares, pelos mesmos caminhos, fazendo as mesmas coisas pois se concentram nas rotinas aprendidas. Estas rotinas faz com que eles evitem experiências novas que causam ansiedade.

fonte:
http://atividadeparaeducacaoespecial.com/inclusao-autismo-e-a-cegueira-mental/