quarta-feira, 20 de abril de 2011

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - III - Eros Daniel

Quando leio essa variação de temas escritos pelo Nilton, sempre comento que ele quer mesmo é ver a choradeira das mães de autistas quando elas contam suas histórias.
Dramáticas e espetaculares, como ele diz.

     Uma das nossas amadas mães e amiga sugeriu que eu também participasse dessa série dedicada ao Dia das Mães (de autistas), que vi como uma boa idéia, afinal a gente se envolve tanto com os nossos filhos, que às vezes esquecemos o papel participativo que temos nas lides autísticas.
Pai de um jeito, mãe de quase todos os outros jeitos, né mesmo?

     Nós, quando começamos a “nossa história” há trinta e poucos anos atrás, tivemos que nos tornar terapeutas do nosso próprio filho autista aprendendo com suas manifestações comportamentais, na difícil e complexa convivência diária, grandes lições de amor, renúncia e sacrifício, espontaneamente aceitos com lucidez e abnegação, até porque a síndrome ainda era e continua quase como uma ilustre desconhecida.

     Buscamos todos os recursos possíveis e disponíveis, oferecidos pela medicina oficial, neurologia, psiquiatria, psicologia e terapêuticas altamente especializadas existentes na época, o que nos levou, isentos de vaidades, ficarmos especialistas na síndrome, tal a profundidade que nos envolvemos nos estudos dos tratados médicos, psicopedagógicos e educação especial dos chamados “excepcionais”.

     Com profundo sentimento de Fé, Amor e Abnegação, aceitamos o desafio que a vida nos concedeu, pelo nosso filho diagnosticado autista, outra raridade tal eram as dificuldades de informação, compreendendo que ele é um Espírito ou uma Consciência em processo de evolução como todo ser humano, “co-criador” do seu próprio destino e que nós, pais, assumimos o compromisso perante as Leis Divinas e da própria Consciência de amá-lo incondicionalmente, colaborando na sua própria autoredenção, o que nos possibilitou compreender sua condição de autista encapsulado, como então lhe caracterizava a psiquiatria vigente.

     Compreendemos também que o núcleo familiar constitui, em última análise, um verdadeiro laboratório consciencial, no qual mentes e corações se encontram e reencontram no vai-e-vem das vidas sucessivas, obedecendo a um planejamento maior, em harmonia com o Plano Divino alicerçado nas Leis do Amor, do progresso evolutivo e do aperfeiçoamento individual e coletivo, que nos proporcionou uma cosmovisão da vida e da natureza realista e otimista, de bom ânimo, perseverança, paciência e de esperança, fortalecendo-nos no testemunho diário, para compreender e aceitar as razões profundas de uma prova existencial tão complexa, difícil e desafiadora como é o autismo.

     Sempre esperamos que alguém respondesse aos nossos chamados. Sentíamos então que tudo o que pensávamos era real. Às vezes isso até não era um absurdo. Tentávamos nos enganar. Dizer para nós mesmos que éramos bobos. Nosso filho sabia que ainda estávamos enfraquecidos; às vezes até dava uma choradinha; quando não fazia alguma coisa, ficava quieto demais. Estava dormindo, mas nós sabíamos que se acendesse a luz, lá estaria ele, olhando-nos.

     Suspirávamos.
    
     Hoje, aqui em casa, pelo som macio da sua voz, ele continua aprendendo o que se quer dele e do seu corpo. Ele é grande fisicamente, mas continua na sua velocidade autística, a crescer mentalmente, tentando a cada gesto transformar-se numa presença.


     Enquanto isso, nós sabemos que ele deve antes satisfazer os desígnios divinos.

Roseli Antonia
Mãe do Eros Daniel - Autista



terça-feira, 19 de abril de 2011

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - II - Sheila

  • Sheila passou por todos os processos de desenvolvimento e aprendizagem de uma menina autista.
  • Antes mesmo de ser diagnosticada por mim como autista pois, nos anos de 1971 em que nasceu ninguém sabia distinguir o autismo.
  • Seu grau no espectro autista é de alto funcionamento. Aos 8 anos de idade foi duvidosamente reconhecida como tal. Neste tempo foi estimulada por psicólogos e nas escolas, embora nenhuma delas suportava os seus comportamentos agressivos.
  • Com o passar dos anos as minhas angústias e meus temores aumentavam gradativamente.
  • Atualmente, aos seus 39 anos de idade, reside em um condomínio para pessoas deficientes leves desde 2001 e namora um Down há vários anos o que a ajudou ser mais afetiva.
  • Alí aprendeu a ser mais adulta e sabe conversar com mais desenvoltura.
  • Aprendi com ela a ser mais paciente e não censurar e dar reprimendas.
  • Ao mesmo tempo, com seus problemas próprios de autismo, conseguiu se socializar ao entender o limite dos outros e o seu mesmo.

PENSAMENTOS DE AUTISTA

Outubro de 2008

Muitas pessoas falam alto penso que é uma bronca, mas não é.
Me dá pavor, medo e susto porque me sinto culpada.
Toque:
Quando alguém me toca ou me abraça eu me sinto penalizada, sensível, arrepiada.
Tenho medo que me ataquem nas minhas costas.
Fujo das multidões e de grandes barulhos, penso que as pessoas vão me pressionar, me apertar,
por isso que eu tenho medo.
Dificuldade no pensamento de lembrar o que as pessoas falaram.
Assim acabo perguntando mais de uma vez.
Relembrar às vezes é bom.
O Davi representa para mim uma obsessão que quando vai para São Paulo,
sinto falta dele porque gosto dele.
A falta é saudade e medo de perder ele porque um dia ele pode morrer.
O Davi tem 61 anos e com a idade surgem problemas de saúde.
O Davi representa o amor para mim. Por isso não gosto de ficar longe dele.
O que significa morte para mim: acabou a vida da pessoa e isso me entristece.
Quando as pessoas falam: "muda de assunto" fico triste e irritada.
As pessoas não entendem que eu preciso de repetição para aprender coisas novas.
Não consigo lembrar de tudo porque é muita coisa na minha cabeça.
Sinto que muitas informações se acumulam.
Eu tenho muita dificuldade de prestar bastante atenção porque me perco nos pensamentos.
Prefiro estar com pessoas mais velhas porque entende a minha dificuldade e aprendo coisas novas com pessoas mais velhas.
Interrompo as conversas porque o assunto não me interessa. Eu não sou uma máquina não consigo fazer as coisas ao mesmo tempo.
Assunto de adulto demora para entender porque me perco nos pensamentos e
não entendo o que eles dizem.
Emoções: sinto contente com a família, ganhar presentes, estar perto do meu namorado, amigos, estar com a terapeuta indo na fazenda, ouvindo música.
Tem muita gente que fala alto demais pensando que é uma bronca mas é o jeito da pessoa.
Me dá raiva quando as pessoas estão de mau-humor comigo.
Me dá tristeza quando fico longe do meu namorado.
O Davi é a pessoa que mais me chama a atenção, significa "cheguei" porque amo ele por isso que eu fico com uma obsessão profunda, forte, me preocupa demais porque adoro porque está dentro do meu coração como se o Davi fosse uma coisa super importante. A minha preocupação mundial é o Davi.
Não consigo esquecer ele, me faz falta, fico 24 horas pensando nele.
Tudo o que me chama a atenção e me dá alegria: cavalo bonito manso,
vaca com bezerro manso, fazenda bonita em geral.
Fico imaginando sobre shopping, roupa colorida bonita, brinquedo, livraria, papelaria.
Imagino também cria de gatos e cachorros.
Não consigo participar quando tem muita gente em uma reunião ou festa porque não entendo o que as pessoas estão falando e fico afastada.
Medo de algumas pessoas não gostarem de mim e me tocarem.
A minha mãe fica me pressionando para aprender a fazer as coisas mais rápido.
Uma colega fica me pressionando para entender rápido e eu não consigo entender rápido. Medo de aprender coisas novas que é difícil de fazer.
Família: reunião de gente. Pai, mãe, irmãos, tios, avós, bisavós.
Família significa para mim felicidade porque me dá presente que eu gosto.
Eu gosto de visitar a minha família porque tenho novidades para contar.
Tem coisa gostosa para comer que nem bolo.
Não entendo o que significa os familiares.
Venci a preguiça de trabalhar o dia todo, tenho amigos conversando sobre outros assuntos.
Barreira ou dificuldade significa uma estrada congestionada para esvaziar para chegar em casa.

Yvonne Falkas.
Mãe da Sheila - autista

Crianças Autistas entram em campo

Os jogadores do Avaí que venceram o Concórdia na tarde deste domingo, dia 17, pelo placar de 4 a 0, entraram em campo acompanhados por crianças autistas. A homenagem deve-se ao dia de discussão e reflexão sobre o Autismo, que foi comemorado em 2 de abril.
O clube veio a público manifestar apoio à causa e essa ação de reverenciar o debate sobre o Autismo consta no planejamento estratégico através da Diretoria de Ação Social e Comunitária. A ação deste domingo, na Ressacada, contou com a participação do Grupo de Apoio à Inclusão do Autista de Florianópolis (GAIA).



segunda-feira, 18 de abril de 2011

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - 1 - Laura


Até os sete anos, Laura não sabia se embalar sozinha no balanço.

O pai dela fez um balanço na chácara.
Lá ela aprendeu.
Agora, olhem como se embala. Sem as mãos.
Eu nem olho porque meu coração fica pequeno de angústia de tanto medo que caia.
Ela percebe meu medo e se embala mais alto ainda!
Por isso nem olho!
Mas por outro lado, quanto equilíbrio ela tem!

Anda de carona na moto desde os sete anos.

Também quase morro de medo porque também na moto ela solta as mãos.

Mas o pai dela confia nela.

Eu prefiro confiar no anjo do autista que a protege.

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MENINA, PARTO DO CORAÇÃO*

Todos os caminhos que percorri,
Todas as coisas que vivi
Todas me levaram pra ela.
Todos os sonhos que sonhei,
Todos os que realizei,
Levaram-me até ela!
Caminhos sem trilhos,
Trilhas sem descaminhos,
Sol Luz de energia,
Sonhos noite e dia,
Levaram-me até ela!
Todos os caminhos mostraram a verdade
Vida incompleta, ela era a metade!
Menina, parto do coração!
A imagem do anjo, aparição!
Imagem mensagem, menina
Sempre esteve em mim.
Está ainda!
Menina, parto do coração!


*Lúbia:
Mãe da Laura - autista






 






quinta-feira, 14 de abril de 2011

Pitoco discute Imagem & Semelhança

Estatuto da Pessoa com Deficiência precisa ser revisto.

Propostas que tratam do tema tramitam no Congresso há mais de dez anos.
      O projeto que cria o Estatuto da Pessoa com Deficiência (PL 3638/00) precisará ser revisto quando for retomada a sua discussão no Congresso. Essa é a posição dos participantes de seminário promovido nesta quarta-feira pela Frente Parlamentar Mista de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
     A proposta de Paulo Paim (PT-RS), ex-deputado e hoje senador, causa polêmica devido a uma suposta falta de sintonia com o tratado internacional resultante da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, em 2006.       
     Mais de 140 países são signatários do tratado, incluindo o Brasil.
     No seminário, realizado no Senado, o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região Ricardo Tadeu da Fonseca explicou que o PL 3638/00 iniciou sua tramitação antes da ratificação da convenção pelo Congresso Nacional, em 2008. “O projeto está substancialmente inconstitucional e precisa ser revisto radicalmente”, disse.
     Segundo Ricardo Fonseca, o ideal seria fazer um substitutivo, em uma ação conjunta da Câmara e do Senado e com apoio de técnicos. Para ele, esse novo texto tornaria mais eficaz a proteção aos direitos das pessoas com deficiência, ao colocar, em um só lugar, todas as normas hoje válidas no Brasil.
     A subprocuradora-geral do Ministério Público do Trabalho, Maria Aparecida Gurgel, afirmou que outras normas precisarão ser revisadas, como as leis previdenciárias. “A lei precisa ser revista porque, por exemplo, a pessoa com deficiência intelectual que recebe pensão não pode trabalhar. Ora, trabalho é um direito constitucional, e a convenção reforça esse direito ao trabalho”, disse.

     Percepção sobre a deficiência

     O seminário reuniu deputados, senadores e representantes de entidades de defesa dos direitos da pessoa com deficiência para discutir a melhor forma de colocar em prática os dispositivos da convenção da ONU.     
     Os palestrantes foram unânimes ao afirmar que a principal mudança provocada pelo documento é a de percepção em relação à deficiência.
     A presidente da Rede Latino-Americana de Organizações de Pessoas com Deficiência e suas Famílias, Regina Atalla, afirmou que a sociedade deve deixar de caracterizar a pessoa com deficiência com base em sua limitação, buscando, ao contrário, minimizar essa limitação, dando oportunidades iguais.
     Segundo Regina Atalla, um livro de 100 páginas reproduzido em braile terá quase 500 páginas, mas hoje, com a tecnologia, é possível produzir um livro digital. “Mas há toda uma briga de direitos autorais que impede os cegos de ter acesso à literatura. Isso é inaceitável”, afirmou.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Prece de um Autista


Pai:

Se existisse um mundo,
Sem guerras e sem paixões,
Sem beijos mas sem traições
Sem dissimulações, sem mentiras,
Sem lutas por posições.
Um mundo prá se viver
Sem precisar se esconder
E onde fosse possível
Ler sem ser interrompido
Sonhar, mesmo sem ter dormido
Correr sem medo do tombo
Crescer sem ser corrompido
Um mundo pra ser feliz
Sem nada de hipocrisia
Sem arma ou fisiologia
Sem ter medo do escuro
E sem ter pavor do dia
Pai:

Se existisse um mundo assim,
Não criava um só prá mim!

Autor: Manuel Vázquez Gil
Psicólogo e Psicanalista Clínico,
com Mestrado e Doutorado em Psicanálise.
Tem um filho autista.
Não clinica.











segunda-feira, 11 de abril de 2011

AUTISMO, FAMÍLIA E CONCIENTIZAÇÃO SOBRE O AUTISMO


Volta Redonda envolta no azul do silêncio

Preciso agradecer a todos os integrantes da APADEM, que durante a semana de celebrações do Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, movimentaram e estimularam a necessidade permanente de uma prática muito humana, amorosa e essencial em favor dos autistas, fazendo refletir de maneira única o simbolismo da cor azul que identifica a síndrome, gritando silenciosamente da cidade de Volta Redonda - RJ, para quem quis ouvir, que só não é capaz quem não quer.
Honrado que fui para proferir a palestra de encerramento sobre o Dia Mundial de Conscientização criado pela ONU, não posso deixar adormecer a necessidade da inclusão de pessoas autistas como tema central das mensagens nas celebrações deste ano, bem como agradecer profundamente sensibilizado pela generosidade da APADEM, por sua presidente Claudia Moraes e todos os seus integrantes, onde pude perceber que o desejo de cada um pode ser representando por uma porta de saída solidária para a liberdade do autista, bem como uma entrada de tanta gente que necessita desse conhecimento e esclarecimentos para o desenvolvimento dos seus filhos, autistas ou não.
  • Na medida do possível, queiram por obséquio transmitir àqueles trabalhadores anônimos da APADEM, autoridades, instituições, patrocinadores, e a seus colaboradores, nossa homenagem e agradecimento pela participação no evento.
  • Por todos os motivos, e pela apresentação mais emocionante do dia, onde Gabriel Gustavo deixou em cada acorde um som de amor e saudade na nossa memória e para quem o ouviu na platéia, não nos surgem palavras para agradecer e grandiosidade do trabalho que a APADEM vêm fazendo em prol do autista.
  • Tenham a certeza, Cláudia, Liê, Hugo, Eduardo e todos os outros que amorosamente nos apoiaram nessa visita, que eu e minha filha voltamos para casa mais maduros e mais fortes, convictos de que “tudo que é bom dura pouco”, mas o suficiente para se tornar inesquecível.
  • Nos registros azuis que este dia mereceu, para todos aqueles que participaram, nós, juntos é que fazemos, e se queremos que isso prolifere cada vez mais temos apenas uma coisa a fazer: continuar sermos AMIGOS.
  • Vocês são demais.
  • Que o esforço de cada um seja recompensado por glórias divinas.
  • Fica aqui registrado o nosso agradecimento a todos.
Nilton Salvador
Anna Carolina de Oliveira Salvador



terça-feira, 5 de abril de 2011

A Família e o Autismo

Sábado – dia 09/04

Palestra com
Nilton Salvador

O impacto do autismo na família

A FAMÍLIA E O AUTISMO

O cuidado que demanda uma criança com autismo envolve toda a família, especialmente os pais, pelos desafios quotidianos que comporta, tanto no emocional como no econômico e cultural.
Por isso, os profissionais ajudam os pais para compreender de que forma manejar condutas e quais são as intervenções mais adequadas no caso. Mesmo assim, é necessário que, se o seu filho é dotado de autismo, você mantenha a calma e leve em conta o cenário novo no qual você e sua família vão viver.
 Nilton Salvador é pai de Autista
 Autor dos livros:
Vida de Autista, Autismo Deslizando nas Ondas, Autismo – Deficiência ou Eficiência? e Vivências Autísticas

Horário - 09:00 às 11:00 h

Local: Universidade Federal Fluminense (UFF) Auditório Central – Bloco B -
Inscrições para as palestras pelos telefones:
...24-33373683/ 33431458/33430827



quarta-feira, 9 de março de 2011

Calendário APADEM para a Concientização do AUTISMO


Sábado – dia 02/04
TEMA DO DIA

Diagnóstico e Intervenção Precoce no Autismo
Palestra com Dr. Walter Camargos Jr.

Psiquiatra da Infância e Adolescência, especialista nos Transtornos do Espectro Autista – UFMG
Belo Horizonte – MG
Assuntos: Espectro Autista, Conceito, diagnóstico/tratamento Diagnóstico em Bebês, tratamento e prognóstico.
Horário – 08:30 às 11:30 h
Local: Universidade Federal Fluminense (UFF) – Auditório Central – Bloco B - Rua Des. Ellis Hermydio Figueira, 783, Aterrado – Volta Redonda - RJ

Terça-Feira – dia 05/04

TEMA DO DIA

Autismo e Políticas Públicas

Audiência Pública Municipal
Horário - 17:00 h
Exposição de Arte Autística no hall de entrada da Câmara Municipal
Apresentação do Tenor Autista Saulo Caulas – Rio de Janeiro
Local: Câmara Municipal de Volta Redonda
Av. Lucas Evangelista nº 511 – Aterrado – Volta Redonda - RJ

Quinta-feira – dia 07/04

TEMA DO DIA

Divulgando o Autismo

Horário - 14:00 h
Passeata de pais, familiares, profissionais e amigos dos autistas –
Local: Praça Brasil – Vila Santa Cecília, Volta Redonda - RJ

Sábado – dia 09/04

TEMA DO DIA

A Família e o Autismo
Palestra com Nilton Salvador

Pai de Autista
Autor dos livros:
Vida de Autista, Autismo Deslizando nas Ondas, Autismo – Deficiência ou Eficiência? e Vivências Autísticas
Curitiba - PR
Horário - 09:00 às 11:00 h
Local: Universidade Federal Fluminense (UFF)  Auditório Central – Bloco B -


VAGAS LIMITADAS
Inscrições para as palestras pelos telefones:
...24-33373683/ 33431458/33430827

segunda-feira, 7 de março de 2011

Redefinindo o TDAH - Funções Executivas




O TDAH foi descrito tipicamente como uma tríade que inclui hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade. Esses três fatores, no entanto, não descrevem a totalidade dos problemas que essas pessoas experimentam. Russel Barkley (Barkley, R.A 2000 - Taking Charge of ADHD: The complete, authoritative guide for parentes. New York, Guilford Press) explica como, no TDAH, existe uma incapacidade de inibição do comportamento atual para que o passo futuro seja alcançado, devido a uma disfunção executiva.
Desta forma, a IMPULSIVIDADE acontece quando não há inibição de um estímulo interno. A DISTRAÇÃO ocorre quando não há inibição de um estímulo externo. A HIPERATIVIDADE ocorre quando, não havendo inibição, estes estímulos serão checados. Essa disfunção executiva faz parte do "pacote" do TDAH e explica uma série de outros comportamentos dessas crianças. A partir do momento em que entendemos esses mecanismos, percebemos o quanto existe além da tríade "hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção".

E o que são funções executivas?

Imagine a manhã de um domingo. Você vai fazer um churrasco e receber os amigos. Isso exigiu que você planejasse, organizasse sua agenda, fosse flexível, ajustando as diferentes tarefas ao seu tempo livre, usasse sua memória de trabalho e consultasse nela as lições que você aprendeu ao preparar reuniões anteriores. Você também teria que ter noção de tempo, para determinar a que horas precisaria começar a cozinhar. Precisaria iniciar o trabalho no tempo determinado, e mesmo que estivesse fazendo alguma coisa muito agradável naquele momento, digamos lendo jornal, você mudaria o seu foco da atividade (de ler para cozinhar), inibindo o prazer da leitura, e, usando o seu autocontrole, começaria a trabalhar. Todas essas funções (inibição, iniciação, memória de trabalho, oraganização, noção de tempo, flexibilidade, entre outras), são chamadas FUNÇÕES EXECUTIVAS, se processam em grande parte, nos lobos frontais e pré-frontais.
É muito importante reconhecer que existe uma gama enorme de comportamentos que são afetados pela disfunção executiva e que muitas vezes dificultam a vida junto à familia, amigos, escola e outras atividades sociais. Vamos ver como essa disfunção pode se manifestar na escola e o que pode ser feito para ajudar a desenvolver essas funções executivas que são deficientes. É verdade que muito do que é sugerido aqui se aplica a todas as crianças em termos de estrutura, persistência, supervisão, lembretes. Mas crianças com TDAH precisam de MAIS estrutura, MAIS persistência, MAIS supervisão, MAIS lembretes. Cada criança tem seu conjunto de características, nem um TDAH é igual a outro. Cabe a nós identificarmos os déficits presentes e traçarmos um plano.
O plano nos dá a segurança de não sermos pegos de surpresa, de nos sentirmos no controle.
Então, mão à obra.

FALTA DE INIBIÇÃO - É uma das características chaves do TDAH. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção. A falta de inibição de uma reação leva à impulsividade. A não inibição de uma ação física gera a hiperatividade. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção.

O QUE PODE SER FEITO PARA HIPERATIVIDADE:

- Use a movimentação (ir até o corredor, se levantar e andar na classe) como uma recompensa por bom comportamento.
- Encoraje a movimentação na sala de aula.
- Permita que o aluno que não consegue permanecer sentado se levante e ande ocasionalmente durante a aula. Ensine-o a fazer isso discretamente.
ie vários cargos, com diferentes funções, para os alunos trabalharem (ver lista de empregos).
- Durante o recreio promova e estimule jogos, corridas, atividades que exijam movimentação.
- Não use como punição reter o aluno durante o recreio.

O QUE PODE SER FEITO PARA A IMPULSIVIDADE:

- Seja pró-ativo. Perceba quando o aluno está perdendo o interesse e proponha uma nova ação antes que ele se torne disruptivo.
- Para alunos sem problemas de aprendizado, permita que ele exerça uma atividade (ler livros, gibis) enquanto o restante da classe está terminando a tarefa que ele já acabou.

O QUE PODE SER FEITO PARA A DESATENÇÃO:

- Intercale atividades muito paradas com utras que permitam movimentação.
- Use instruções curtas e objetivas. Uma por vez.
- Use atividades que encorajem discussão ou uso de duplas.
- Coloque o aluno sentado ao lado de um colega que seja um modelo positivo.
- Escolha uma carteira perto da lousa ou do professor, longe de janelas e portas.
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção durante a aula, para retornar a eles no seu tempo livre.
- considere usar 2 conjuntos de material escolar (um para casa outro para escola) quando a criança se esquece com frequência trazê-lo para escola.
- Chame atenção do aluno quando for enfatizar um ponto importante ou novo da matéria.
- Tenha certeza de manter contato visual ao dar orientações.
- Permita que o aluno faça suas provas num local calmo, com poucas distrações.
- O tempo para realização das provas pode ser pequeno para essas crianças. Como o que se deseja é avaliar o conhecimento e não a rapidez, dê um tempo maior para que ele possa responder todas as questões.

ORGANIZAÇÃO - Algumas pessoas são muito organizadas, mas a maioria dos portadores de TDAH, por natureza, não o são. Além da dificuldade de organização dos pensamentos, há dificuldade para se criar e manter um sistema organizacional necessário para o estudante estar em dia com suas obrigações. Na prática o que acontece é que o aluno não usa um sistema de agenda, ou não anota nela as tarefas, o que deve ser levado na escola, os trabalhos a serem entregues em curto prazo. Às vezes ele faz a lição e esquece em casa. Outras vezes, não sabe qual é a lição. Esquece as datas das provas, não se lembra de estudar a matéria...

O QUE PODE SER FEITO:

- Certifique-se que o aluno está usando uma agenda, escrevendo nela a tarefa e checando a agenda antes de ir para escola no dia seguinte.
- Para trabalhos que serão entregues em datas muito distantes, fazer anotação na agenda 3 dias antes e na véspera do vencimento do prazo.
- No dia em que não houver lição, faça o aluno se certificar que escreveu que determinada matéria não tem lição.
- Ensine o aluno a anotar as orientações usando palavras-chaves. Não exija que ele escreva "resolver os problemas de matemática das páginas 11, 12 e 13 para amanhã". Aceite "matem. 11-13"
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção, para retornar a eles no seu tempo livre.
- Fornecer para o aluno e para a família as rotinas das aulas, das lições, provas e trabalhos.
- colocar na internet a lição de cada dia, bem como os calendários da semana e do mês.
- ensinar que cada objeto tem seu lugar para ser guardado, incluindo folhas avulsas que vão e voltam da escola.
- ensine a criança a organizar a mesa de trabalho, deixando nela apenas o material que será usado.
- Peça para o aluno colocar os papéis que vão da escola para casa em uma pasta de uma cor e os que vão da casa para escola em outra cor.
- Use cores diferentes para matérias ou assuntos diferentes.
- Peça para o aluno grifar com marcadores de texto coloridos os pontos importantes a serem lembrados.
- mantenha contato frequente com os pais. Assim você pode ajudar no momento real e não apenas dar uma informação negativa quando já é tarde demais.
- Ensine aos alunos se perguntarem ao final da aula: "estou levando tudo o que preciso para casa?"
CONSISTÊNCIA - quando muito motivadas, pessoas com TDAH podem executar uma tarefa perfeitamente. Na semana seguinte, quando perderam a motivação, a tarefa se arrasta infinitamente. Isso faz com que essas crianças sejam criticadas até pelo seu sucesso (O que é isso? Você fez isso ontem tão bem... Deixe de ser preguiçoso!). O mesmo princípio se aplica ao se iniciar uma tarefa (o fator novidade é um grande motivador) e no início, a criança executa bem. Após algum tempo, com a repetição, o interesse vai embora e com ele a tarefa. Você pode achar que não é justo, que todo mundo faz muito melhor quando está motivado. Mas o fato é que, realmente, é MUITO mais difícil para essas crianças fazerem as coisas sem motivação.

O QUE PODE SER FEITO:

- Veja a inconsistência com a perspectiva de limitação do TDAH e não como preguiça ou má vontade da criança.
- Mantenha o aluno motivado. É a motivação do momento que move a criança, e não o objetivo longínquo de entrar na faculade daqui a dez anos. Eles vivem apenas o "agora". Ofereça elogios e recompensas imediatas para cada etapa do trabalho.
- Seja como um video-game para o seu aluno. Ofereça sempre novos "níveis" de desafios que sejam possíveis de serem alcançados. Você já reparou como a mesma criança que tem dificuldade de ficar sentada 10 minutos assistindo aulas consegue ficar 2 horas imóvel no computador jogando?
- Julgue a qualidade do conhecimento e não o volume de trabalho ao dar notas.
DIFICULDADE PARA INICIAR E TERMINAR TAREFAS - Imagine uma cabeça com MUITAS ideias, MUITOS planos, MUITOS projetos. Para a imaginação se tornar realidade é preciso organizar as ideias, priorizá-las e dar o primeiro passo. É preciso que a criança pare o que está fazendo (inibir um comportamento) para dar esse primeiro passo. Uma vez iniciado o trabalho, é preciso persistir nele, mesmo quando a novidade tenha se esgotado e finalizá-lo, fazendo pequenos numerosos e, às vezes, aborrecidos acertos finais. Tudo isso é MUITO difícil para que tem TDAH. Por isso é tão comum para eles deixarem para depois ou abandonar o projeto no meio do caminho, quando toda a energia positiva já se esgotou.

O QUE PODE SER FEITO:

- dividir os projetos em pequenos passos.
- ter um calendário ou agenda, determinando datas e prazos para cada um dos pequenos passos.
- ter alguém checando o calendário ou agenda (a criança se esquece de consultar a agenda ou calendário).
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- solicite tarefas ou trabalhos diferentes, casando o grau de dificuldade com a capacidade do aluno.
DIFICULDADE NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS - sim, as ideias são muitas, e, com muita motivação, a criança com TDAH começa a colocar a ideia em prática, para, bem no começo, verificar que, entre a ideia abstrata e a vida real, concreta, existe uma distância enorme a ser percorrida. Você sabe, antes de se fazer um bolo, a gente tem que ter a receita, ou ao menos a noção de quais ingredientes serão usados. Temos que rever, mentalmente o na prática, se temos em estoque tais ingredientes. Talvez tenhamos que comprar algum. Ai, finalmente, podemos colocar a mão na massa. Mas não se esqueça que existe uma ordem certa para se colocar cada ingrediente. Muitos passos, não é? Exige pesquisa ou conhecimento anterior. Precisa ler a receita, ou o manual. Quem gosta? Precisa planejamento e antecipação.
E na escola? Com tantas idéias na cabeça seria natural que essas crianças fizessem ótimas redações, não? Mas como fazer as idéias se organizarem numa sequencia lógica e interessante para o leitor? Como fazer o aluno escrever, já que ele detesta? E quem vai ler aquela letra?

O QUE PODE SER FEITO:

- ensine o planejamento passo a passo. Depois, pratique, pratique e pratique. Com o tempo, o aluno incorpora esse hábito.
- organize as informações necessárias (num trabalho escrito, faça a criança escrever num rascunho 3 itens: descrever o problema, contar como as pessoas tentaram reolvê-lo e qual foi o resultado).
- Dividir o planejamento em pequenos passos.
- escrever e numerar os passos em uma lista, de forma que fique mais fácil para criança checá-los.
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- ofereça diferentes opções para que um trabalho seja apresentado ou resolvido (escrito à mão, escrito no computador, power point, apresentação oral), assim o aluno pode usar seu estilo preferido de resposta.
 PROBLEMAS NA TRANSIÇÃO DE TAREFAS - Talvez você já tenha presenciado a cena. Você anuncia uma atividade e o aluno não quer fazer. Reclama, demora, enrola, se queixa, até que finalmente, ele se engaja. E mais, ele gosta. Então, chega a hora de parar, de mudar para o próximo tópico. Aí o aluno não quer mudar, reclama, demora, enrola, num eterno ciclo vicioso. A mudança de uma atividade para outra, quando comandada por uma terceira pessoa, com outra dimensão de tempo, é muito difícil para a criança com TDAH. Muitas vezes, é causa de explosões descontroladas, que parecem descabidas.

O QUE PODE SER FEITO:

- Tenha sempre o esquema do dia escrito na lousa.Chame atenção para eventuais mudanças da agenda.
- Lembre o aluno quanto tempo falta para cada atividade.
- Use sua empatia. Ofereça para o aluno, em fantasia, o que não se pode ter no momento: "seria tão bom se a gente pudesse continuar nesse projeto de ciências o dia todo, não é?"
- estabeleça bom contato visual quando for anunciar as transições.
NOÇÃO DE TEMPO - crianças com TDAH em geral tem uma pobre noção de tempo. Quando estão muito interessadas, podem ficar uma hora em uma atividade e juram que só se passaram 15 minutos. Quando estão se arrumando para escola, ao contrário, levam uma hora para fazer o que outras crianças gastam quinze minutos. Quando estão sonhando acordadas, não percebem que o relógio continua andando e elas, se atrasando na lição, para os compromissos...

O QUE PODE SER FEITO:

- forneça dicas para os alunos (já estamos na metade do tempo estimado para essa atividade, quinze minutos para o fim da prova, faltam 10 minutos para começarmos a guardar os brinquedos)
- use um timer sonoro ou, melhor ainda, visual e sonoro (timetimer.com)
- ensine aos alunos, através de brincadeiras, a estimar o tempo.
-  crie, com o aluno, um código para lembrá-lo do tempo (uma batida na mesa dele)
- quando o aluno é lento para copiar a matéria da lousa, considere imprimir os slides de cada aula ou, caso a escola tenha um sistema como smart board, a impressão do que foi escrito.
POBRE APRENDIZADO COM EXPERIÊNCIAS E ERROS PASSADOS - sim, todos nós, seres humanos, aprendemos com nossas experiências passadas. Isso garantiu a sobrevivência de nossa espécie. Só que algumas pessoas tiram mais benefícios dos erros e experiências do que outras. É natural pensar que, uma pessoa com disfunção executiva, tenha dificuldade em avaliar adequadamente como e o porquê suas atitudes, suas escolhas, interagindo com outras pessoas em determinada situação, provocaram certo desfecho. Por exemplo, no caso de um trabalho escolar que a classe tenha 2 semanas de prazo para entregar. O que deveria ser feito em quinze dias, envolvido pesquisa, redação, ficou esquecido, muito tempo atrás, numa página da agenda. Se é que foi escrito na agenda. Você resolve que já é hora desse aluno ter responsabilidade. Não enregou o trabalho? Vai ganhar um zero! Da próxima vez ele vai aprender. Certo? Errado. Da próxima vez e da próxima e da próxima, se nada for feito, o problema se repetirá. E isso significa que não tem fim, que não tem jeito?

SIM, VEJA O QUE PODE SER FEITO:

- Se o problema for em atividades que exijam organização, planejamento e controle de tempo, discuta com o aluno o que aconteceu até que ele próprio consiga perceber em qual ou quais pontos ele teve dificuldade. Isso feito, elabore de modo conjunto, um plano de ação para a próxima situação em que esteja previsto o mesmo problema. Ofereça ajuda para lembrar o aluno de usar o plano.
- Se o problema for em atividades sociais, nas quais que o aluno tenha pouca habilidade, considere um treinamento em um grupo de habilidades sociais.
- Se o problema for a dificuldade em capitular as experiências positivas, com enfoque apenas nos fracassos e negatividade recebidos, tente relembrar com o aluno os seus momentos de sucesso na classe. Nomeie a sequência de atitudes positivas para que ele consiga estabelecer um novo padrão.
- Converse com o aluno sobre os problemas sempre que eles aparecerem (mas não enquanto o aluno estiver descontrolado, com raiva ou irritado). De modo empático, coloque o problema a peça que o aluno ajude a apresentar soluções.
POBRE AUTO-AVALIAÇÃO - é comum crianças com TDAH não perceberem adequadamente seu desempenho. É como se eles se olhassem naqueles espelhos de parque de diversões, nos quais ficamos muito mais altos e magros ou muito gordos e baixos. Em termos acadêmicos acham que se saíram bem na prova, quando na verdade foram mal. Julgam que aquele projeto, desenvolvido a duras penas, merece uma nota boa, quando na verdade está muito abaixo das expectativas. Em termos sociais, acham que são mais queridos pelos colegas do que o são na realidade. Com o tempo, com a enxurrada de julgamentos negativos, de reprimendas, a auto-crítica deficiente pode ser substituída por uma sensação constante de falência. É fácil perceber porque a auto-avaliação é fraca. Seria necessário estar consciente de sua fala, de sua linguagem corporal, processar o que vai ser entregue para a outra parte. Ler os diferentes tipos de linguagem recebidos. Poder dar e receber. Ser empático. Pensar antes de falar. Escutar. As crianças com TDAH têm dificuldade em tudo isso. E ao receber um comentário da outra pessoa, não prestam atenção, não conseguem perceber nenhuma pista de que não estão agradando.
Quando em sala de aula se envolvem em algum atrito, não conseguem se enxergar como parte do problema. A culpa é do outro. Não percebem o poderia ser evitado, o que desagradou a outra parte.

QUE PODE SER FEITO:

- em termos acadêmicos, tente passar para o concreto os conceitos abstratos. Esquematize, coloque por escrito, os tópicos a serem desenvolvidos nos trabalhos.
- Treine com o aluno para que ele se acostume a colocar suas idéias primeiro em tópicos, para depois desenvolver o trabalho.
- revise o trabalho e aponte as deficiências. Permita que ele as corrija.

Em termos sociais,

- descreva as falas e acontecimentos (a criança em geral não se lembra do que foi falado e em qual sequência). Faça isso em tom neutro, sem julgamento.
- mostre e nomeie os sentimentos e reações envolvidos.
- aponte opções e modelos mais adequados.
- se tiver a oportunidade de filmar, aproveite esse recurso. A criança pode aí "enxergar" sua postura, seus atos, sua atitude.
DIFICULDADE PARA TER CONVERSA INTERNA - Parte do que foi descrito anteriormente se relaciona com a inabilidade da criança ter uma conversa interna, identificando o que está pensando no momento e o que e como pode ser usado para a solução dos seus problemas. Durante a aula, a criança não reconhece o momento em que sua atenção se desviou do professor para o aluno do lado. A menina que está sonhando acordada não está pensando, naquele momento, no que está se passando na sua cabeça. O menino, na solução de um conflito, não pensa em quais as possibilidades ou recursos podem ser usados. Não está consciente das suas emoções. Portanto, não está bem preparado para agir, apenas para reagir.

O QUE PODE SER FEITO?

- treine a criança a se perguntar: em que estou pensando? Onde está minha atenção?
- pratique a resolução de conflitos por escrito.
- ensine a criança a nomear e indentificar sentimentos e emoções.
REAÇÕES DESPROPORCIONAIS - tolerância a frustrações é uma habilidade frequentemente deficiente nas crianças com TDAH. Não é incomum a criança entrar numa espiral de descontrole como resposta a algo pequeno, que nem foi notado pelas outras pessoas. Ross Greene, em The Explosive Child, diz que, se a criança soubesse fazer melhor, ela logicamente o faria. E que provavelmente, a criança que tem uma resposta desproporcional, está respondento a uma emoção também desproporcionalmente forte dentro de si. A boa notícia é que essas habilidades podem ser ensinadas ao longo do tempo.

O QUE PODE SER FEITO:

- tente perceber em que situações a intolerância se manifesta. A partir de então, interfira sempre antes que a situação se desenvolva.
- caso os problemas sejam muito frequentes, faça um diário, anotando a hora e as situações desencadeantes.
- Entre em contato com os pais. Se a criança estiver usando medicação, confirme se no dia foi dado o remédio.
- quando a criança estiver mais calma, aborde o assunto de maneira empática, defina o problema e tente, junto com ela, procurar soluções.
INFLEXIBILIDADE - entre o branco e o preto existem infinitos tons de cinza, certo? Errado. Para parte das crianças com TDAH, cinza não existe. Nem a possibilidade de mudança de planos. Ou de alteração de projetos. Ou de compromissos suspensos ou adiados. Não quando isso é imposto por outras pessoas ou situações diversas. O que poderia ser facilmente contornado se torna um grande problema, um impasse, um escândalo.

O QUE PODE SER FEITO:

- ofereça opções para que o aluno escolha entre elas.
- discuta, sempre que possível, em situações de aula, como diferentes opniões podem estar certas.

Agora que você já sabe o que são disfunções executivas e como elas se manifestam no TDAH você provavelmente já identificou várias situações familiares. Oferecer um suporte adequado para essas crianças é fundamental para que elas se tornem mais hábeis nessas funções. Assim como o míope nessecita de óculos, as técnicas acima descritas podem ser comparadas a uma prótese. Elas fazem com que a criança tenha mais sucesso na vida diária, aumentando sua confiança e reduzindo o risco de problemas secundários como depressão, ansiedade. A boa notícia é que um dia, eventualmente, essas crianças podem não mais precisar desses "óculos".

É preciso lembrar que a criação de hábitos e rotinas e sua repetição exaustiva é a maneira mais efetiva de se desenvolver as funções executivas. Mas é preciso repetir e repetir inúmeras vezes, até que se torne automático. E isso leva tempo. Vamos começar logo!

O TDAH foi descrito tipicamente como uma tríade que inclui hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade. Esses três fatores, no entanto, não descrevem a totalidade dos problemas que essas pessoas experimentam. Russel Barkley (Barkley, R.A 2000 - Taking Charge of ADHD: The complete, authoritative guide for parentes. New York, Guilford Press) explica como, no TDAH, existe uma incapacidade de inibição do comportamento atual para que o passo futuro seja alcançado, devido a uma disfunção executiva.

Desta forma, a IMPULSIVIDADE acontece quando não há inibição de um estímulo interno. A DISTRAÇÃO ocorre quando não há inibição de um estímulo externo. A HIPERATIVIDADE ocorre quando, não havendo inibição, estes estímulos serão checados. Essa disfunção executiva faz parte do "pacote" do TDAH e explica uma série de outros comportamentos dessas crianças. A partir do momento em que entendemos esses mecanismos, percebemos o quanto existe além da tríade "hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção".

E o que são funções executivas?

Imagine a manhã de um domingo. Você vai fazer um churrasco e receber os amigos. Isso exigiu que você planejasse, organizasse sua agenda, fosse flexível, ajustando as diferentes tarefas ao seu tempo livre, usasse sua memória de trabalho e consultasse nela as lições que você aprendeu ao preparar reuniões anteriores. Você também teria que ter noção de tempo, para determinar a que horas precisaria começar a cozinhar. Precisaria iniciar o trabalho no tempo determinado, e mesmo que estivesse fazendo alguma coisa muito agradável naquele momento, digamos lendo jornal, você mudaria o seu foco da atividade (de ler para cozinhar), inibindo o prazer da leitura, e, usando o seu autocontrole, começaria a trabalhar. Todas essas funções (inibição, iniciação, memória de trabalho, oraganização, noção de tempo, flexibilidade, entre outras), são chamadas FUNÇÕES EXECUTIVAS, se processam em grande parte, nos lobos frontais e pré-frontais.

É muito importante reconhecer que existe uma gama enorme de comportamentos que são afetados pela disfunção executiva e que muitas vezes dificultam a vida junto à familia, amigos, escola e outras atividades sociais. Vamos ver como essa disfunção pode se manifestar na escola e o que pode ser feito para ajudar a desenvolver essas funções executivas que são deficientes. É verdade que muito do que é sugerido aqui se aplica a todas as crianças em termos de estrutura, persistência, supervisão, lembretes. Mas crianças com TDAH precisam de MAIS estrutura, MAIS persistência, MAIS supervisão, MAIS lembretes. Cada criança tem seu conjunto de características, nem um TDAH é igual a outro. Cabe a nós identificarmos os déficits presentes e traçarmos um plano. O plano nos dá a segurança de não sermos pegos de surpresa, de nos sentirmos no controle. Então, mão à obra.

FALTA DE INIBIÇÃO - É uma das características chaves do TDAH. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção. A falta de inibição de uma reação leva à impulsividade. A não inibição de uma ação física gera a hiperatividade. A falta de inibição de um pensamento leva à desatenção.

E PODE SER FEITO PARA HIPERATIVIDA
- Use a movimentação (ir até o corredor, se levantar e andar na classe) como uma recompensa por bom comportamento.
- Encoraje a movimentação na sala de aula.
- Permita que o aluno que não consegue permanecer sentado se levante e ande ocasionalmente durante a aula. Ensine-o a fazer isso discretamente.
- Crie vários cargos, com diferentes funções, para os alunos trabalharem (ver lista de empregos).
- Durante o recreio promova e estimule jogos, corridas, atividades que exijam movimentação.
- Não use como punição reter o aluno durante o recreio.

O QUE PODE SER FEITO PARA A IMPULSIVIDADE:

- Seja pró-ativo. Perceba quando o aluno está perdendo o interesse e proponha uma nova ação antes que ele se torne disruptivo.
- Para alunos sem problemas de aprendizado, permita que ele exerça uma atividade (ler livros, gibis) enquanto o restante da classe está terminando a tarefa que ele já acabou.

O QUE PODE SER FEITO PARA A DESATENÇÃO:

- Intercale atividades muito paradas com utras que permitam movimentação.
- Use instruções curtas e objetivas. Uma por vez.
- Use atividades que encorajem discussão ou uso de duplas.
- Coloque o aluno sentado ao lado de um colega que seja um modelo positivo.
- Escolha uma carteira perto da lousa ou do professor, longe de janelas e portas.
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção durante a aula, para retornar a eles no seu tempo livre.
- considere usar 2 conjuntos de material escolar (um para casa outro para escola) quando a criança se esquece com frequência trazê-lo para escola.
- Chame atenção do aluno quando for enfatizar um ponto importante ou novo da matéria.
- Tenha certeza de manter contato visual ao dar orientações.
- Permita que o aluno faça suas provas num local calmo, com poucas distrações.
- O tempo para realização das provas pode ser pequeno para essas crianças. Como o que se deseja é avaliar o conhecimento e não a rapidez, dê um tempo maior para que ele possa responder todas as questões.
ORGANIZAÇÃO - Algumas pessoas são muito organizadas, mas a maioria dos portadores de TDAH, por natureza, não o são. Além da dificuldade de organização dos pensamentos, há dificuldade para se criar e manter um sistema organizacional necessário para o estudante estar em dia com suas obrigações. Na prática o que acontece é que o aluno não usa um sistema de agenda, ou não anota nela as tarefas, o que deve ser levado na escola, os trabalhos a serem entregues em curto prazo. Às vezes ele faz a lição e esquece em casa. Outras vezes, não sabe qual é a lição. Esquece as datas das provas, não se lembra de estudar a matéria...

O QUE PODE SER FEITO:

- Certifique-se que o aluno está usando uma agenda, escrevendo nela a tarefa e checando a agenda antes de ir para escola no dia seguinte.
- Para trabalhos que serão entregues em datas muito distantes, fazer anotação na agenda 3 dias antes e na véspera do vencimento do prazo.
- No dia em que não houver lição, faça o aluno se certificar que escreveu que determinada matéria não tem lição.
- Ensine o aluno a anotar as orientações usando palavras-chaves. Não exija que ele escreva "resolver os problemas de matemática das páginas 11, 12 e 13 para amanhã". Aceite "matem. 11-13"
- Ensine o aluno a anotar pensamentos que estejam desviando sua atenção, para retornar a eles no seu tempo livre.
- Fornecer para o aluno e para a família as rotinas das aulas, das lições, provas e trabalhos
- colocar na internet a lição de cada dia, bem como os calendários da semana e do mês.
- ensinar que cada objeto tem seu lugar para ser guardado, incluindo folhas avulsas que vão e voltam da escola.
- ensine a criança a organizar a mesa de trabalho, deixando nela apenas o material que será usado.
- Peça para o aluno colocar os papéis que vão da escola para casa em uma pasta de uma cor e os que vão da casa para escola em outra cor.
- Use cores diferentes para matérias ou assuntos diferentes.
- Peça para o aluno grifar com marcadores de texto coloridos os pontos importantes a serem lembrados.
- mantenha contato frequente com os pais. Assim você pode ajudar no momento real e não apenas dar uma informação negativa quando já é tarde demais.
- Ensine aos alunos se perguntarem ao final da aula: "estou levando tudo o que preciso para casa?"
INCONSISTÊNCIA - quando muito motivadas, pessoas com TDAH podem executar uma tarefa perfeitamente. Na semana seguinte, quando perderam a motivação, a tarefa se arrasta infinitamente. Isso faz com que essas crianças sejam criticadas até pelo seu sucesso (O que é isso? Você fez isso ontem tão bem... Deixe de ser preguiçoso!). O mesmo princípio se aplica ao se iniciar uma tarefa (o fator novidade é um grande motivador) e no início, a criança executa bem. Após algum tempo, com a repetição, o interesse vai embora e com ele a tarefa. Você pode achar que não é justo, que todo mundo faz muito melhor quando está motivado. Mas o fato é que, realmente, é MUITO mais difícil para essas crianças fazerem as coisas sem motivação.

O QUE PODE SER FEITO:

- Veja a inconsistência com a perspectiva de limitação do TDAH e não como preguiça ou má vontade da criança.
- Mantenha o aluno motivado. É a motivação do momento que move a criança, e não o objetivo longínquo de entrar na faculade daqui a dez anos. Eles vivem apenas o "agora". Ofereça elogios e recompensas imediatas para cada etapa do trabalho.
- Seja como um video-game para o seu aluno. Ofereça sempre novos "níveis" de desafios que sejam possíveis de serem alcançados. Você já reparou como a mesma criança que tem dificuldade de ficar sentada 10 minutos assistindo aulas consegue ficar 2 horas imóvel no computador jogando?
- Julgue a qualidade do conhecimento e não o volume de trabalho ao dar notas.
DIFICULDADE PARA INICIAR E TERMINAR TAREFAS - Imagine uma cabeça com MUITAS ideias, MUITOS planos, MUITOS projetos. Para a imaginação se tornar realidade é preciso organizar as ideias, priorizá-las e dar o primeiro passo. É preciso que a criança pare o que está fazendo (inibir um comportamento) para dar esse primeiro passo. Uma vez iniciado o trabalho, é preciso persistir nele, mesmo quando a novidade tenha se esgotado e finalizá-lo, fazendo pequenos numerosos e, às vezes, aborrecidos acertos finais. Tudo isso é MUITO difícil para que tem TDAH. Por isso é tão comum para eles deixarem para depois ou abandonar o projeto no meio do caminho, quando toda a energia positiva já se esgotou.

O QUE PODE SER FEITO:

- dividir os projetos em pequenos passos.
- ter um calendário ou agenda, determinando datas e prazos para cada um dos pequenos passos.
- ter alguém checando o calendário ou agenda (a criança se esquece de consultar a agenda ou calendário).
-permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- solicite tarefas ou trabalhos diferentes, casando o grau de dificuldade com a capacidade do aluno.
DIFICULDADE NA EXECUÇÃO DAS TAREFAS - sim, as ideias são muitas, e, com muita motivação, a criança com TDAH começa a colocar a ideia em prática, para, bem no começo, verificar que, entre a ideia abstrata e a vida real, concreta, existe uma distância enorme a ser percorrida. Você sabe, antes de se fazer um bolo, a gente tem que ter a receita, ou ao menos a noção de quais ingredientes serão usados. Temos que rever, mentalmente o na prática, se temos em estoque tais ingredientes. Talvez tenhamos que comprar algum. Ai, finalmente, podemos colocar a mão na massa. Mas não se esqueça que existe uma ordem certa para se colocar cada ingrediente. Muitos passos, não é? Exige pesquisa ou conhecimento anterior. Precisa ler a receita, ou o manual. Quem gosta? Precisa planejamento e antecipação.
E na escola? Com tantas idéias na cabeça seria natural que essas crianças fizessem ótimas redações, não? Mas como fazer as idéias se organizarem numa sequencia lógica e interessante para o leitor? Como fazer o aluno escrever, já que ele detesta? E quem vai ler aquela letra?

O QUE PODE SER FEITO:

- ensine o planejamento passo a passo. Depois, pratique, pratique e pratique. Com o tempo, o aluno incorpora esse hábito.
- organize as informações necessárias (num trabalho escrito, faça a criança escrever num rascunho 3 itens: descrever o problema, contar como as pessoas tentaram reolvê-lo e qual foi o resultado).
- Dividir o planejamento em pequenos passos.
- escrever e numerar os passos em uma lista, de forma que fique mais fácil para criança checá-los.
- permita que o aluno use computador para trabalhos que exigiriam escrever um texto longo.
- ofereça diferentes opções para que um trabalho seja apresentado ou resolvido (escrito à mão, escrito no computador, power point, apresentação oral), assim o aluno pode usar seu estilo preferido de resposta.
PROBLEMAS NA TRANSIÇÃO DE TAREFAS - Talvez você já tenha presenciado a cena. Você anuncia uma atividade e o aluno não quer fazer. Reclama, demora, enrola, se queixa, até que finalmente, ele se engaja. E mais, ele gosta. Então, chega a hora de parar, de mudar para o próximo tópico. Aí o aluno não quer mudar, reclama, demora, enrola, num eterno ciclo vicioso. A mudança de uma atividade para outra, quando comandada por uma terceira pessoa, com outra dimensão de tempo, é muito difícil para a criança com TDAH. Muitas vezes, é causa de explosões descontroladas, que parecem descabidas.

O QUE PODE SER FEITO:

- Tenha sempre o esquema do dia escrito na lousa.
- Chame atenção para eventuais mudanças da agenda.
- Lembre o aluno quanto tempo falta para cada atividade.
- Use sua empatia. Ofereça para o aluno, em fantasia, o que não se pode ter no momento: "seria tão bom se a gente pudesse continuar nesse projeto de ciências o dia todo, não é?"
- estabeleça bom contato visual quando for anunciar as transições.
NOÇÃO DE TEMPO - crianças com TDAH em geral tem uma pobre noção de tempo. Quando estão muito interessadas, podem ficar uma hora em uma atividade e juram que só se passaram 15 minutos. Quando estão se arrumando para escola, ao contrário, levam uma hora para fazer o que outras crianças gastam quinze minutos. Quando estão sonhando acordadas, não percebem que o relógio continua andando e elas, se atrasando na lição, para os compromissos...

O QUE PODE SER FEITO:

- forneça dicas para os alunos (já estamos na metade do tempo estimado para essa atividade, quinze minutos para o fim da prova, faltam 10 minutos para começarmos a guardar os brinquedos)
- use um timer sonoro ou, melhor ainda, visual e sonoro (timetimer.com)
- ensine aos alunos, através de brincadeiras, a estimar o tempo.
- crie, com o aluno, um código para lembrá-lo do tempo (uma batida na mesa dele)
- quando o aluno é lento para copiar a matéria da lousa, considere imprimir os slides de cada aula ou, caso a escola tenha um sistema como smart board, a impressão do que foi escrito.
POBRE APRENDIZADO COM EXPERIÊNCIAS E ERROS PASSADOS - sim, todos nós, seres humanos, aprendemos com nossas experiências passadas. Isso garantiu a sobrevivência de nossa espécie. Só que algumas pessoas tiram mais benefícios dos erros e experiências do que outras. É natural pensar que, uma pessoa com disfunção executiva, tenha dificuldade em avaliar adequadamente como e o porquê suas atitudes, suas escolhas, interagindo com outras pessoas em determinada situação, provocaram certo desfecho. Por exemplo, no caso de um trabalho escolar que a classe tenha 2 semanas de prazo para entregar. O que deveria ser feito em quinze dias, envolvido pesquisa, redação, ficou esquecido, muito tempo atrás, numa página da agenda. Se é que foi escrito na agenda. Você resolve que já é hora desse aluno ter responsabilidade. Não enregou o trabalho? Vai ganhar um zero! Da próxima vez ele vai aprender. Certo? Errado. Da próxima vez e da próxima e da próxima, se nada for feito, o problema se repetirá. E isso significa que não tem fim, que não tem jeito?

SIM, VEJA O QUE PODE SER FEITO:

- Se o problema for em atividades que exijam organização, planejamento e controle de tempo, discuta com o aluno o que aconteceu até que ele próprio consiga perceber em qual ou quais pontos ele teve dificuldade. Isso feito, elabore de modo conjunto, um plano de ação para a próxima situação em que esteja previsto o mesmo problema. Ofereça ajuda para lembrar o aluno de usar o plano.
- Se o problema for em atividades sociais, nas quais que o aluno tenha pouca habilidade, considere um treinamento em um grupo de habilidades sociais.
- Se o problema for a dificuldade em capitular as experiências positivas, com enfoque apenas nos fracassos e negatividade recebidos, tente relembrar com o aluno os seus momentos de sucesso na classe. Nomeie a sequência de atitudes positivas para que ele consiga estabelecer um novo padrão.
- Converse com o aluno sobre os problemas sempre que eles aparecerem (mas não enquanto o aluno estiver descontrolado, com raiva ou irritado). De modo empático, coloque o problema a peça que o aluno ajude a apresentar soluções.
POBRE AUTO-AVALIAÇÃO - é comum crianças com TDAH não perceberem adequadamente seu desempenho. É como se eles se olhassem naqueles espelhos de parque de diversões, nos quais ficamos muito mais altos e magros ou muito gordos e baixos. Em termos acadêmicos acham que se saíram bem na prova, quando na verdade foram mal. Julgam que aquele projeto, desenvolvido a duras penas, merece uma nota boa, quando na verdade está muito abaixo das expectativas. Em termos sociais, acham que são mais queridos pelos colegas do que o são na realidade. Com o tempo, com a enxurrada de julgamentos negativos, de reprimendas, a auto-crítica deficiente pode ser substituída por uma sensação constante de falência. É fácil perceber porque a auto-avaliação é fraca. Seria necessário estar consciente de sua fala, de sua linguagem corporal, processar o que vai ser entregue para a outra parte. Ler os diferentes tipos de linguagem recebidos. Poder dar e receber. Ser empático. Pensar antes de falar. Escutar. As crianças com TDAH têm dificuldade em tudo isso. E ao receber um comentário da outra pessoa, não prestam atenção, não conseguem perceber nenhuma pista de que não estão agradando.

Quando em sala de aula se envolvem em algum atrito, não conseguem se enxergar como parte do problema. A culpa é do outro. Não percebem o poderia ser evitado, o que desagradou a outra parte.

O QUE PODE SER FEITO:

- em termos acadêmicos, tente passar para o concreto os conceitos abstratos. Esquematize, coloque por escrito, os tópicos a serem desenvolvidos nos trabalhos.
- Treine com o aluno para que ele se acostume a colocar suas idéias primeiro em tópicos, para depois desenvolver o trabalho.
- Revise o trabalho e aponte as deficiências. Permita que ele as corrija.

em termos sociais,

- descreva as falas e acontecimentos (a criança em geral não se lembra do que foi falado e em qual sequência). Faça isso em tom neutro, sem julgamento.
- mostre e nomeie os sentimentos e reações envolvidos.
- aponte opções e modelos mais adequados.
- se tiver a oportunidade de filmar, aproveite esse recurso. A criança pode aí "enxergar" sua postura, seus atos, sua atitude.
DIFICULDADE PARA TER CONVERSA INTERNA - Parte do que foi descrito anteriormente se relaciona com a inabilidade da criança ter uma conversa interna, identificando o que está pensando no momento e o que e como pode ser usado para a solução dos seus problemas. Durante a aula, a criança não reconhece o momento em que sua atenção se desviou do professor para o aluno do lado. A menina que está sonhando acordada não está pensando, naquele momento, no que está se passando na sua cabeça. O menino, na solução de um conflito, não pensa em quais as possibilidades ou recursos podem ser usados. Não está consciente das suas emoções. Portanto, não está bem preparado para agir, apenas para reagir.

O QUE PODE SER FEITO?

- treine a criança a se perguntar: em que estou pensando? Onde está minha atenção?
- pratique a resolução de conflitos por escrito.
- ensine a criança a nomear e indentificar sentimentos e emoções.
REAÇÕES DESPROPORCIONAIS - tolerância a frustrações é uma habilidade frequentemente deficiente nas crianças com TDAH. Não é incomum a criança entrar numa espiral de descontrole como resposta a algo pequeno, que nem foi notado pelas outras pessoas. Ross Greene, em The Explosive Child, diz que, se a criança soubesse fazer melhor, ela logicamente o faria. E que provavelmente, a criança que tem uma resposta desproporcional, está respondento a uma emoção também desproporcionalmente forte dentro de si. A boa notícia é que essas habilidades podem ser ensinadas ao longo do tempo.

O QUE PODE SER FEITO:

- tente perceber em que situações a intolerância se manifesta. A partir de então, interfira sempre antes que a situação se desenvolva.
- caso os problemas sejam muito frequentes, faça um diário, anotando a hora e as situações desencadeantes.
- Entre em contato com os pais. Se a criança estiver usando medicação, confirme se no dia foi dado o remédio.
- quando a criança estiver mais calma, aborde o assunto de maneira empática, defina o problema e tente, junto com ela, procurar soluções.
INFLEXIBILIDADE - entre o branco e o preto existem infinitos tons de cinza, certo? Errado. Para parte das crianças com TDAH, cinza não existe. Nem a possibilidade de mudança de planos. Ou de alteração de projetos. Ou de compromissos suspensos ou adiados. Não quando isso é imposto por outras pessoas ou situações diversas. O que poderia ser facilmente contornado se torna um grande problema, um impasse, um escândalo.

O QUE PODE SER FEITO:

- ofereça opções para que o aluno escolha entre elas.
 - discuta, sempre que possível, em situações de aula, como diferentes opniões podem estar certas.
Agora que você já sabe o que são disfunções executivas e como elas se manifestam no TDAH você provavelmente já identificou várias situações familiares. Oferecer um suporte adequado para essas crianças é fundamental para que elas se tornem mais hábeis nessas funções. Assim como o míope nessecita de óculos, as técnicas acima descritas podem ser comparadas a uma prótese. Elas fazem com que a criança tenha mais sucesso na vida diária, aumentando sua confiança e reduzindo o risco de problemas secundários como depressão, ansiedade. A boa notícia é que um dia, eventualmente, essas crianças podem não mais precisar desses "óculos".
É preciso lembrar que a criação de hábitos e rotinas e sua repetição exaustiva é a maneira mais efetiva de se desenvolver as funções executivas. Mas é preciso repetir e repetir inúmeras vezes, até que se torne automático. E isso leva tempo. Vamos começar logo!


Adriana L. C. R. Dutra de Oliveira
Neurologista