segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Novo procurador critica 'autismo' e falta de transparência da gestão Gurgel
Sobre 'Mensalão Tucano', engavetado pelo
antecessor, Rodrigo Janot diz que
trabalhará para evitar prescrições de penas
Para Janot, Procuradoria Geral da República deve
dialogar mais com outros poderes
São Paulo – Em entrevista concedida aos repórteres
Felipe Recondo e Andreza Matais, para o jornal O Estado de S. Paulo, o novo
Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, deixou claro que está disposto a
imprimir ao Ministério Público Federal um ritmo menos partidarizado e mais
transparente do que seu antecessor no cargo, Roberto Gurgel. Ele critica o
“autismo” que tomou conta do órgão não gestão passado, devido ao que ele chama
de falta de diálogo com os demais poderes, e se recusou a classificar o chamado
mensalão como “maior escândalo de corrupção da História do Brasil” – como fazia
Gurgel. Para Janot, “toda corrupção é ruim”. O importante a destacar, segundo o
novo procurador, é que houve
investigação e julgamento, o que contrasta com a ideia de suposta impunidade.
Perguntado se vai acelerar o processo que tratada do chamado Mensalão Tucano,
que ocorreu em Minas Gerais nos governos Fernando Henrique Cardoso e Eduardo
Azeredo, ambos do PSDB, Janot respondeu: “Pau que dá em Chico dá em Francisco”.
Abaixo a íntegra da entrevista publicada:
O processo do mensalão está acabando. O senhor vai
acelerar o processo do mensalão mineiro?
Pau que dá em Chico dá em Francisco. O que posso
dizer é que, aqui na minha mão, todos os processos, de natureza penal ou não,
vão ter tratamento isonômico e profissional. Procuradores, membros do
Ministério Público e juízes não têm processo da vida deles. Quem tem processo
da vida é advogado. Para qualquer juiz e para o Ministério Público todo
processo é importante.
O crime de formação de quadrilha no mensalão
mineiro já prescreveu. O senhor vê novos riscos?
Uma das minhas formas de trabalho aqui é dar a
prioridade a qualquer processo com risco iminente de prescrição. Isso é buscar
efetividade da justiça.
O senhor já disse que não deve pedir prisão
imediata dos réus do mensalão. Mas vai agilizar os pareceres aos embargos
infringentes?
Eu tenho de esperar o acórdão. Vou me desincumbir
do que tenho de fazer o mais rápido possível. Mas não posso dizer se vou usar o
prazo todo ou não. Vai depender do acórdão. Eu vou inclusive usar o recesso.
Não vou tirar férias.
O senhor considera que o julgamento do mensalão foi
um marco contra a impunidade?
Não. Eu tenho muito receio de dizer que um processo
é um marco contra a impunidade, que é marco disso ou daquilo. Eu espero que isso
contribua, dentro de um contexto maior, para que todo o processo chegue ao
final com o resultado que a lei prevê. Será que esse é o grande marco? Não sei
se é o grande marco. Eu olho pra trás e vejo que este julgamento, há 20 anos,
não teria ocorrido, não existiria o processo. Essa tem que ser a grande
mudança.
Por que não haveria processo há 20 anos?
Havia uma resistência a se aplicar igualmente a lei
para todo mundo. Hoje a República é mais República.
O senhor comunga da ideia de que foi o maior escândalo
da história do País?
O que é maior? Receber um volume de dinheiro de uma
vez só ou fazer uma sangria de dinheiro da saúde, por exemplo. São igualmente
graves, mas eu não consigo quantificar isso. Não sei o que é pior. Não sei se
este é o maior caso de corrupção, não. Toda corrupção é ruim.
Talvez pelo envolvimento da cúpula de um governo.
E a (corrupção) difusa? Envolve também muita gente.
Dinheiro que sai na corrupção falta para o atendimento básico de saúde,
educação e segurança pública. Toda corrupção é ruim.
O senhor já disse que não defende a prisão agora
dos condenados do mensalão com novo julgamento. E os demais?
]Para esses, transitando e julgando a prisão é
decorrente. Para os demais (que terão um segundo julgamento), só depois da
publicação do acórdão.
O senhor defende a extinção do foro privilegiado ou
a mudança poderia gerar mais impunidade?
Quanto mais se sobe o foro, mais diminui a revisão
dos julgados. Se você diminui a revisão do julgado, maior é o risco de ter
erro. Essas questões têm que ser colocadas de maneira clara na mesa para
discutir esse assunto.
O senhor disse que tem disposição ao diálogo. Isso
tem a ver com pessoas que o senhor investigará?
Investigação não é diálogo. Falo de relação
institucional entre poderes.
Esse diálogo faltou nos últimos anos?
O Ministério Público se fechou. Virou uma
instituição autista. Diálogo não é composição. Se eu tiver de investigar, eu
vou investigar. Eu sou mineiro ferrinho de dentista.
Como o senhor pretende acelerar processos que estão
no Ministério Público?
Vou dar maior transparência às questões que
tramitam no gabinete do procurador-geral. A sociedade brasileira tem direito de
saber o que tem aqui dentro, como tramitam os processos e os prazos. Eu quero
abrir o gabinete. Minha segunda meta é acabar com os processos que ficam na
prateleira. O acervo é a massa do diabo. Não podemos ter medo de arquivar e de
judicializar.
O senhor é a favor de flexibilização das regras
para criação de novos partidos?
Não temos que flexibilizar. Temos que cumprir a
lei. A lei fixa os requisitos para a criação dos novos partidos. Nós temos que
ver se os requisitos foram cumpridos. Ponto.
O senhor enviará proposta ao Congresso para
diminuir benefícios salariais para os membros do Ministério Público, como
auxílio-moradia ou licença prêmio?
Eu discuto o estatuto (do Ministério Público) como
um todo. Para que eu possa enviar uma proposta cortando o que está previsto no
estatuto, tenho que negociá-lo como um todo. Duvido que qualquer colega meu não
deixe de trocar privilégio pela garantia de investigação.
Outros procuradores-gerais da República já saíram
com a pecha de engavetador e prevaricador. O sr. quer deixar qual marca?
Quero deixar uma marca: simplicidade. Só.
©SÉRGIO LIMA/FOLHAPRESS
sábado, 21 de setembro de 2013
Deficiente intelectual precisa de autorização para casar?
NÃO
Direito à felicidade
MARA GABRILLI E ROMÁRIO
Quem
disse que somente pessoas sem deficiência intelectual têm condições de escolher
seus parceiros?
Se
tal prerrogativa correspondesse à realidade, divórcios entre pessoas sem
deficiência não chegariam a índices tão altos. Índices que, aliás, têm batido
recordes no país, de acordo com o IBGE.
Casados
há nove anos, Rita Pokk e Ariel Goldenberg não fazem parte dessa estatística.
Atores com síndrome de Down do filme "Colegas", eles são prova de que
precisamos rever nossa legislação, que insiste em impor barreiras para que
pessoas com deficiência intelectual, por conta própria, casem-se.
Arthur
Dini Grassi Netto e Ilka Farrath Fornaziero conhecem bem essas dificuldades.
Também jovens com a síndrome de Down, os dois lutaram por um ano para vencer
impedimentos legais e conseguirem, enfim, concretizar seu matrimônio.
Assim
como eles, muitos casais são impedidos pela Justiça de simplesmente exercer seu
direito civil.
Tolher
uma pessoa de seu direito de amar é destituí-la da condição humana. O direito
de manifestar afeto é legitimo, não pode ser ignorado.
No
Brasil, o exercício do direito à afetividade, ao voto, à sexualidade e outros
são frequentemente negados às pessoas com deficiência intelectual em função de
um processo que se tornou quase mecânico: a interdição judicial.
Embora
o Código Civil não seja claro ao tratar a questão, é prática recorrente atribuir
ao curador de uma pessoa com deficiência intelectual todas as decisões de sua
vida civil e, muitas vezes, atos de natureza não civil. Não se leva em
consideração a real capacidade e vontade do curatelado, que deveria ser
assistido em vez de representado.
O
Código Civil tem incongruências com relação à Convenção da ONU sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é signatário. Ela
garante o reconhecimento de que as pessoas com deficiência têm capacidade
legal, em igualdade de condições com as demais pessoas, em todos os aspectos.
Para
propor mudanças nesse cenário, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (projeto de
lei nº 7.699/2006) traz alterações ao Código Civil com vistas à adequação do
procedimento judicial de interdição. A ideia é que pessoas com deficiência
intelectual não precisem mais da autorização da Justiça para colocar em prática
o direito ao matrimônio, mesmo sob curatela.
O
texto do estatuto, aberto até 5 de outubro para consulta pública no
edemocracia.camara.gov.br, prevê ainda o direito de votar e ser votado e à
saúde sexual e reprodutiva, restringindo ao curador o envolvimento em questões
de cunho patrimonial. O objetivo é garantir o protagonismo do interditando, sem
impedir, no entanto, quando necessário, a interferência da figura do curador,
que deve respeitar o potencial e a autonomia do curatelado.
Os
direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiência intelectual são os
mesmos de qualquer outro cidadão, bem como os direitos civis e políticos.
Privá-las de exercê-los só fortalece o preconceito da sociedade sobre a
deficiência intelectual, que entre todas as deficiências é a mais discriminada.
Hoje
já assistimos, ainda que de forma incipiente, à inclusão da pessoa com
deficiência intelectual. Pessoas com síndrome de Down, que há poucas décadas
tinham a expectativa de vida muito curta, agora lutam para formalizar sua
maturidade, exercendo o direito ao matrimônio. E o fazem de maneira consciente,
sem perder a espontaneidade e a candura, tão características de seu jeito de
encarar a vida. Vetá-las de sua autonomia, decidindo por elas seu futuro, além
de ir contra qualquer diretriz de uma nação inclusiva, cria uma barreira que as
impede de buscar a própria felicidade.
MARA GABRILLI, 45, é
deputada federal (PSDB-SP) e ROMÁRIO, 47, é deputado federal (sem partido-RJ)
FONTE:
TENDÊNCIAS/DEBATES –
Folha de S. Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/09/1345323-mara-gabrilli-e-romario-direito-a-felicidade.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/09/1345323-mara-gabrilli-e-romario-direito-a-felicidade.shtml
Não basta querer
MARIA ELISA GRANCHI FONSECA
Desde
2002, a Associação Americana de Retardo Mental propõe a compreensão de
deficiência mental para além do mero ser ou não ser intelectualmente
"bom" ou "ruim".
É
preciso considerar os sistemas de apoio com que a pessoa com deficiência
intelectual (DI) precisará contar ao longo da vida. Além das habilidades
intelectuais, há que se considerar a saúde física do indivíduo, seu desempenho
social e sua capacidade de adaptação às práticas da vida diária, e tudo isso
depende da severidade de cada caso.
Limitações
de adaptação prejudicam tanto a convivência quanto a capacidade da pessoa em
responder ao que o ambiente espera dela em sua residência, na escola, no
trabalho e na comunidade.
Pense,
então, na situação conjugal, que advém do casamento. Uma situação que envolve
rotina doméstica, contas a pagar, faxina a fazer, comida a preparar e
"amor para dar", o que, aliás, não é a questão. Aspectos emocionais,
direito ao amor, apaixonar-se, envolver-se intimamente, tudo isso é da condição
humana. Independentemente da DI. Independentemente de ser ou não DF, PC, TDAH,
DA e demais siglas.
A
concepção de matrimônio e casamento costuma ser romanceada, como um direito a
ser garantido. Mas não se pode deixar de considerar os efeitos desse contrato
sobre a vida de quem os leva.
Não
basta querer casar para casar. Um par com recursos intelectuais e funcionais
limitados, a ponto de precisarem de apoio pervasivo e supervisão direta, terão
consciência plena de estarem em um lar, e não somente em uma casa mobiliada? A
presença de alguém mediando o casamento faz do mesmo matrimônio?
Não
que neguemos a essas pessoas o direito à família e ao casamento. Mas não
podemos negar, outrossim, que essas mesmas pessoas sejam passíveis de recursos
linguísticos limitados, tenham dificuldade no trato com o dinheiro, problemas
com autonomia e independência, falhas nas competências sociais, na observância
de regras e leis, na credulidade.
Podem
também ter dificuldades para evitar a vitimização, problemas com deslocamento,
higiene, vestuário, manejo de medicamentos, habilidades ocupacionais e com a
segurança --situações de difícil enfrentamento quanto mais severa for a
deficiência intelectual.
Tudo
isso poderá fazer com que as competências necessárias para a vida a dois passem
a ser motivos para a vida a três, ou quatro, ou cinco. A presença constante de
alguém pode vir a ser urgente e até critério para a manutenção da independência
e qualidade de vida do casal.
Há
dúvidas quanto a se o casamento entre duas pessoas com DI vai se caracterizar
como casamento no sentido pleno do termo. Ou ainda como "viver
junto", "estar perto de", tanto faz. Isso está relacionado ao
grau da DI. Quanto melhor a pessoa funcionar no ambiente, menos problemas de
adaptação terá no convívio com seu cônjuge, em seu lar.
Não
parece ter havido discussão sobre casamento entre pessoas com DI leve. Isso
pelo fato de os quadros leves estarem próximos dos neurotípicos, que se
confundem na multidão. A discussão que se se observa considera indivíduos com
quadros mais comprometidos, o que provoca um questionamento: de onde partiu a
ideia? Quem resolveu casar com quem?
Se
o caso é mais severo, o rebaixamento intelectual deixa o indivíduo menos
suscetível a fantasias e à tentação de fazer planos. Será que alguém não
resolveu por ele que, agora, além de todos os direitos iguais, também é preciso
exigir o direito civil de se casar? Não, deficientes intelectuais não devem se
casar sem autorização antes que se avalie a severidade de cada caso.
FONTE:
TENDÊNCIAS/DEBATES –
Folha de S. Paulo
MARIA ELISA GRANCHI
FONSECA, 42, psicóloga, é supervisora de atendimentos a autistas da Apae
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)
Certidão de Nascimento da Biblioteca na APADEM
Essa placa foi feita em sua homenagem, e marca mais uma etapa de vida da Apadem - Volta Redonda, sempre voltada a ofertar conhecimento sobre a Síndrome.
Ela tem várias nuances que nos tocam e esperamos que
chegue direto ao seu coração!
Obrigada por podermos edificar nossa casa com essa homenagem ao seu nome!
Com Marlice Zonzin, Maria Auxiliadora Carvalho, Eliane Flores, Maristela Senhorinho, Zoraide Viana, Flávia Gioseffi, Vanessa Y Fabios, Wania do Amaral Melo, Claudia Moraes, e toda a
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Pressionado, MEC propõe novo texto para o Plano Nacional de Educação
Ministério admite manutenção do financiamento de escolas especiais, mas adverte que elas precisam assumir o atendimento especializado.
Foto: Geraldo MagelaPaim (3º à esq.) preside audiência na CDH que marca o início da Semana Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência |
A pressão das entidades dedicadas às crianças e
jovens com deficiência surtiu efeito: o Ministério da Educação (MEC) anunciou
que vai propor uma nova redação para a Meta 4 do Plano Nacional de Educação. As
entidades afirmam que, dependendo do texto a ser aprovado, há o risco de que se
acabe com o acompanhamento diferenciado oferecido em escolas públicas para
alunos com deficiência.
O MEC também informou que a Meta 4 não vai mais
definir data para o fim dos repasses do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica (Fundeb) às instituições que oferecem ensino especial, como
é o caso da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). A previsão era
de que os repasses fossem encerrados a partir de 2017, o que gerou protestos.
O anúncio de uma nova redação para a Meta 4 foi
feito pela secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão do MEC, Macaé Maria dos Santos, durante audiência ontem na Comissão de
Direitos Humanos (CDH). O Plano Nacional de Educação tramita na Casa sob a
forma de um projeto de lei, o PLC 103/2012, e a controvérsia vem atrasando a
aprovação dele.
Apesar das concessões que anunciou, Macaé fez um
alerta: disse que, na visão do governo, as instituições privadas filantrópicas
e comunitárias “precisam ir se preparando para assumir o atendimento
educacional especializado [destinado aos alunos com deficiência]”.
Contraturno
Um dos críticos à proposta que poderia dar
exclusividade à rede pública no atendimento especial foi Wellington Dias
(PT-PI), que é pai de uma adolescente autista. O senador disse que muitos
estudantes com deficiência não conseguem adaptar-se às escolas regulares, seja
pelas próprias dificuldades ou porque as escolas não estão preparadas para
recebê-los.
— Elas podem, inclusive, ficar traumatizadas com a
experiência. É comum. Os pais de crianças com deficiência sabem como é esse
drama, que eu vivenciei com minha esposa — disse.
Wellington afirmou que, com a redação dada à Meta 4
pela CAE (que ainda não incorporou a nova proposta do MEC), “o que fica para o
ensino especializado [direcionado aos alunos com deficiência] é o chamado
contraturno; é como se o estudante fosse obrigado a estudar em uma escola
regular para ter direito à escola especializada, o que é inaceitável”.
— Como já disse ao ministro [da Educação], sou o
líder do partido da presidente aqui no Senado, mas tenho divergências quanto a
esse assunto — frisou Wellington.
Inclusão
Lurdinha Danezy, coordenadora-geral do Fórum
Permanente de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência do DF e Entorno
(Faped), utilizou argumentos semelhantes aos de Wellington ao defender as
escolas especiais. Mãe de um adolescente com síndrome de Down, ela lembrou que
há vários tipos de deficiência (que vão da surdez e cegueira, por exemplo, a
problemas que prejudicam o desenvolvimento mental) e em variados graus. Para
ela, “com o modelo de escola regular atual, as escolas especiais precisam
existir, porque as pessoas com deficiências muito severas precisam desse ensino
diferenciado”.
— Se acabarmos com as escolas especiais, estaremos
condenando muitas pessoas com deficiência a passar o resto de suas vidas dentro
de casa. Estaremos excluindo-as do convívio social — ressaltou, acrescentando
que “a escola é o ambiente ideal para o desenvolvimento cognitivo e
profissional”.
O Plano Nacional de Educação está para ser votado
na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ).
FONTE:
Jornal do Senado
Pintura une mãos em Setúbal pela inclusão de pessoas com autismo
"Vamos pintar um mundo para
todos" é o lema da iniciativa para a inclusão das pessoas com autismo que
se realiza no sábado em Setúbal, com o apoio de dezenas de figuras públicas
portuguesas.
A iniciativa, que terá lugar na placa
central da Avenida Luísa Todi, envolve a criação de obras de arte a várias
mãos, em que também participam crianças com autismo, a partir de duas dezenas
de telas, com imagens previamente esboçadas por diversos artistas.
Segundo o coordenador da Associação
Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA), José
Nogueira, "o sinal que se pretende dar é de que todos podem pintar, todos
podem participar neste grande quadro que é a sociedade, independentemente do
grau de incapacidade ou de funcionalidade de cada pessoa".
"O objectivo deste evento é
consciencializarmos a sociedade portuguesa para a inclusão de crianças, jovens
e adultos com perturbação de espectro do autismo, uma vez que ainda há poucas
pessoas com autismo a frequentar os espaços públicos e subsistem muitas
barreiras", frisou.
Na iniciativa estão confirmadas as
presenças da dupla de cantores Anjos e da cantora Sofia Vitória, vencedora da
Operação Triunfo, disse José Nogueira.
A organização conta também com as
presenças dos locutores da RTP José Carlos Malato e Isabel Angelino, dos atores
José Pedro Gomes, Luís Aleluia, Almeno Gonçalves, Cristina Areia, Nuno Janeiro,
da modelo Sofia Aparício, de alguns jogadores do Vitória de Setúbal e "velhas
glórias do Sporting", acrescentou José Nogueira.
Durante o evento, que decorre no dia em
que a avenida Luísa Todi será encerrada ao trânsito no âmbito da Semana
Europeia da Mobilidade, está ainda prevista a actuação de diversos artistas,
como Clemente, Piedade Fernandes e Deolinda de Jesus.
Fonte:
Lusa/SOL
domingo, 15 de setembro de 2013
Autismo: faltam profissionais até na rede privada
Na novela global "Amor à Vida", Linda
(personagem de Bruna Linzmeyer) chama a atenção para um transtorno que, segundo
estimativas, atinge 0,6% da população. Isto significa que a cada 200 pessoas há
uma que se encontra no espectro autista. Apesar disso, a doença ainda é
bastante desconhecida e as famílias afetadas sofrem com o preconceito e com a
falta de assistência do poder público.
De acordo com a psicóloga clínica Fernanda
Fernandes, por mais que o poder público tenha se mobilizado para atender essa
demanda, a realidade é que hoje ainda há no Estado uma estrutura bastante
precária e incapaz de oferecer assistência necessária. "Tenho ouvido muito
das famílias que chegam até o meu consultório o relato da dificuldade em
encontrar profissionais especializados nesta área, mesmo nos tratamentos
particulares", diz.
Para ela, o fortalecimento e estruturação da
Associação dos Amigos do Autista (AMA) em Cuiabá seria fundamental para uma
melhor perspectiva em relação ao atendimento de pessoas autistas, em especial
daqueles que não possuem recursos para prover um tratamento adequado. A
reportagem do Diário tentou manter contato com a AMA, mas a informação obtida é
de que a entidade estaria se reestruturando.
Conforme Fernanda Fernandes, o autismo é um
transtorno invasivo do desenvolvimento, caracterizado por padrões restritos,
repetitivos e estereotipados de comportamentos e prejuízos na interação social
e na comunicação. "Este transtorno tem sido relacionado a uma alteração
cerebral, cuja origem ainda não se sabe ao certo, mas vem sendo o foco de
investigação de muitos pesquisadores", explica a psicóloga, que participou
do Centro de Autismo e Inclusão Social (CAIS), vinculado ao Instituto de
Psicologia da USP e que presta atendimento a autistas e orientações a familiares.
As primeiras características percebidas por boa
parte das famílias estão sinais como o fato da criança não estabelecer (ou
estabelecer muito pouco) contato visual, aparenta quase nunca ouvir quando
alguém lhe chama pelo nome e nem responde comandos mesmo não tendo qualquer
problema auditivo, apresenta um atraso no uso funcional da linguagem e até
mesmo na aquisição da fala, demonstra fisionomia pouco expressiva, em alguns
casos apresenta comportamentos repetitivos (os mais frequentes costumam ser
rodar objetos, balancear o corpo e fazer um flapping com as mãos, como se
estivesse batendo repetidamente em alguma coisa no ar), prefere interagir com
objetos do que com as pessoas, além de utilizar o adulto como “ferramenta”,
como por exemplo, ao invés de pedir um copo de água a criança segura o braço
dos pais e os leva até o bebedouro.
"Muitas vezes a criança autista fala sem erros
e com ausência do chamado 'tatibitate'. Também é muito comum a intolerância ao
barulho, a inflexibilidade em mudar de rotina, os interesses restritos (até
mesmo uma restrição na dieta alimentar)", frisa. Outro dado importante é
que o autismo costuma ter uma incidência quatro vezes maior em meninos do que
em meninas.
Fernanda Fernandes alerta que logo que as primeiras
características chamarem a atenção dos familiares ou educadores, estes devem
procurar profissionais qualificados a fim de investigar e diagnosticar o
quadro, pois quanto mais cedo se inicia o tratamento maior é a perspectiva de
melhora do quadro.
O tratamento não proporciona a cura do autismo.
Porém, é possível amenizar seus sintomas. "O tratamento pode envolver uma
equipe multidisciplinar, muitas vezes composta pelo psiquiatra, neurologista,
psicólogo e fonoaudiólogo. Também temos outras propostas alternativas, tais
como a equoterapia e o método 'Son Rise'", frisa. "Dentro das
abordagens psicológicas, o método ABA (Análise do Comportamento Aplicada) tem
se revelado altamente proficiente para o tratamento do autismo. Devido ao
sucesso, foi considerado pelo governo americano como um tratamento psicológico
de excelência", acrescentou.
FONTE:
JOANICE
DE DEUS
Logo: Autismo Mundo Azul
sábado, 14 de setembro de 2013
"É preciso criar leis contra a discriminação genética", diz historiador
O Congresso Mundial sobre Doença de Huntington, que
começa amanhã no Rio, terá entre seus palestrantes um dos mais famosos
portadores da mutação que causa esse mal neurodegenerativo incurável e fatal: o
historiador Kenneth Serbin, conhecido pelo blog de Gene Veritas, pseudônimo que
usou por mais de uma década.
Ainda livre de sintomas, Serbin decidiu manter seu
cérebro estimulado com uma manobra radical: aos 53 anos, o professor da
Universidade da Califórnia em San Diego está mudando de ramo.
Ele é especialista na história recente do Brasil.
Tem dois livros publicados pela Companhia das Letras. Um deles é "Diálogos
na Sombra "" Bispos e Militares, Tortura e Justiça Social na
Ditadura", tema sobre o qual falará semana que vem na Comissão da Verdade
da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Nick Abadilla
O historiador Kenneth Serbin com sua mulher, Regina Serbin, e a filha, Bianca |
Nos últimos anos, Serbin começou a migrar para o
campo da história da ciência. Na sua avaliação, a sociedade precisa de leis
para amparar pessoas como ele, para que possam se preparar para doenças
devastadoras sem medo de discriminação.
O gene associado com Huntington conta com trechos
repetidos. Quem tem de 10 a 25 repetições é normal. Ter entre 36 e 39
repetições já implica risco considerável. De 40 em diante, é certo que a pessoa
vai ter a doença. Serbin tem 40, assim como sua mãe, que morreu aos 48 anos.
Casado com a historiadora brasileira Regina Barros Serbin, que conheceu em 1991 num encontro às cegas no restaurante italiano Parmê do largo do Machado, no Rio, Serbin falou à Folha em português fluente.
*
Folha - Os EUA têm desde 2008 uma legislação contra
a discriminação genética, mas no Brasil há um projeto de lei (4.610/98)
esperando ser aprovado há 15 anos. Todo país precisa de uma lei dessas?
Kenneth Serbin - Essa legislação é muito
necessária, com as consequências do genoma e das pesquisas que estão mudando o
sistema de saúde. O fato de uma pessoa poder saber seu futuro por um teste
genético exige mais proteção para o cidadão.
Infelizmente, a discriminação é forte entre
empregadores, companhias de seguros, colegas de trabalho. A própria família
discrimina o doente. Isso acontece com doenças neurológicas, que de certa forma
mudam a personalidade da pessoa.
É necessária uma legislação que ajude as pessoas a
ter uma vida tranquila, a criar um clima de entendimento sobre doenças
genéticas. A gente tem de achar uma maneira de as pessoas não terem medo de
fazer os testes.
O sr. levou 17 anos para sair do "armário
genético". Por quê?
Eu só revelei isso agora para o meu plano de saúde,
embora tivesse Huntington na família desde 1995. Tinha medo de perder o
emprego, de ter de mudar de universidade e de plano de saúde, de ficar sem
cobertura para Huntington. Todos esses anos eu me tratei do meu próprio bolso.
Sofreu alguma discriminação depois de revelar que
era o autor do blog de Gene Veritas?
Foi primeiro uma reação de choque. Ninguém
imaginava que eu e a minha família estivéssemos passando por isso. Três testes
preditivos: primeiro minha mãe, em 1995, depois eu, em 1999, depois minha
filha, em 2000.
É uma doença horrível, como se fosse uma combinação
de alzheimer, parkinson e problemas psiquiátricos. Também problemas cognitivos,
perda de memória de curto prazo, da fala, do raciocínio. Agressividade,
depressão, alucinações. Algumas pessoas dizem que essa é a doença do diabo.
Os colegas não tinham noção, mas, até agora,
encontrei bastante solidariedade.
Como o sr. compara a organização de quem milita
pela causa no Brasil e nos EUA?
Há dificuldades em qualquer país. Nos EUA, a
Sociedade Americana da Doença de Huntington existe há quase 50 anos. A
Associação Brasil Huntington tem mais ou menos 15 anos e está fazendo um ótimo
trabalho, quando você leva em conta a quase inexistência de recursos. A
americana tem orçamento na casa de US$ 9 milhões, e a brasileira, R$ 40 mil.
Queria que minha ida ao congresso no Rio desse
impulso ao movimento, que as pessoas doassem mais dinheiro para a associação.
O sr. é católico praticante. Caso o teste de sua
filha indicasse a mutação, o que o casal faria a respeito?
A gente teria de conversar, refletir, rezar, falar
com os médicos, amigos e parentes. Seria uma decisão difícil. Claro que havia a
possibilidade de aborto, aqui [nos EUA] é legal, diferentemente do Brasil. Não
sei o que a gente teria feito. Pensava na possibilidade de um aborto? Sim.
Por causa da instabilidade genética, um homem pode
passar para o filho uma versão mais grave da doença. De minha mãe eu herdei a
cópia exata da mutação. Eu poderia ter passado para a minha filha uma mutação
mais severa, e ela poderia desenvolver a doença na juventude. Dez por cento dos
casos de Huntington são juvenis, a maioria morre antes dos 30 anos.
Nem todo teste genético é tão preditivo quanto o de
Huntington. O sr. é a favor de testar embriões mesmo no caso dessas outras
doenças?
Para isso existe a bioética. Sou contra o que se
faz na China, na Índia, abortar pelo sexo da criança. Eu não faria, mas não vou
julgar quem faz. Aborto tem de ser uma opção, para não acontecer o desastre de
saúde pública que há no Brasil, com tantas mulheres que morrem porque não podem
fazer aborto no hospital.
Um teste preditivo dá as informações de que você
precisa para fazer seu plano para enfrentar a vida. Preciso me cuidar, tenho
uma filha de 13 anos. Se eu ficar doente, não sou um peso só para mim, mas para
minha família.
A que o sr. atribui a ausência de sintomas? Sua mãe
desenvolveu a doença aos 48 anos, e o sr. está com 53. Tem esperança de não
desenvolvê-la?
Faço exercícios, não como besteira. Esperança? Por
enquanto, não.
Mudar de especialidade aos 50 anos é uma
reviravolta. O sr. acredita que essa ginástica mental pode ter a ver com a
ausência de sintomas?
Não posso comprovar nada cientificamente, mas acho
que sim. Estou fazendo a coisa certa, seguindo os conselhos dos médicos. Tomo
suplementos: creatina, coenzima Q10, açúcar trealose, ômega 3, comprimidos de
mirtilo. Claro que o plano de saúde não cobre. A burocracia médica é lenta para
aceitar os novos remédios.
Quanta informação o sr. dá para sua filha?
Se ela faz uma pergunta, respondo. Quando ela tinha
uns dois ou três anos, já sabia que a avó estava doente. Falei que ela tinha um
machucadinho no cérebro. Ela perguntou: "Como a vovó conseguiu esse
machucadinho?". Disse que tinha nascido com ele. Ela logo disse:
"Ainda bem que não nasci com esse machucadinho". Agora, com 13 anos,
ela entende muito bem. Quem esconde só cria problemas.
PALESTRAS
Rio de Janeiro - "Como Lidar com a
Doença", Congresso Mundial de Huntington, Hotel Sheraton, seg. (16) às 14h
São Paulo - "A Doença de Huntington e a
Bioética", Centro Universitário São Camilo, r. Raul Pompeia, 144, sáb.
(21) às 10h (aberto ao público)
FONTE:
Marecelo Leite
O autismo e seus personagens
Não é uma doença. E, definitivamente,
o indivíduo
dentro do espectro do autismo não pode,
nem deve, ser tratado como doente
Marilize, Mariangela e Ana Paula acompanham de perto toda a rotina das crianças (Foto: Camila Tsubauchi/ Diário) |
“Sou a Ana Paula, mãe das gêmeas Caroline e
Gabriela que hoje têm seis anos. Quando elas tinham três, recebemos o
diagnóstico de que elas estavam dentro do espectro autista”. “Sou o Cleverson e
essa é a minha esposa Mariangela, somos os pais do Tiago de três anos, que
também está dentro do espectro”. “Meu nome é Jacieli, sou mãe do Caio de sete
anos e ele é autista”.
Frases como essas foram ditas inúmeras vezes na
noite de uma segunda-feira. As alterações se limitavam ao nome e idade dos
personagens, mas a conclusão era sempre a mesma: meu filho está dentro do
espectro autista. Era uma reunião de pais que, juntos, pretendem formar uma
associação guarapuavana que auxilie no tratamento de crianças, e até mesmo de
adultos, com diagnóstico de autismo.
Os encontros acontecem a cada 15 dias e são
coordenados pela psicóloga especialista no transtorno, Rosemeire Silva Pereira.
Foi dela a ideia de juntar os quase 20 pais em torno da mesma mesa. O objetivo
era compartilhar progressos, percalços e experiências do dia a dia das
crianças. “A gente precisa de apoio psicológico também. Temos altos e baixos
que não se pode acreditar”, contou Ana Paula dos Santos.
Rosemeire apresenta estudos, notícias e presta
esclarecimentos sobre o transtorno. Também são exibidos vídeos e
disponibilizados materiais que podem contribuir para o desenvolvimento das
crianças. Mas em duas horas, todos têm direito a falar. “Esse grupo é
justamente para nos dar um respaldo, para a gente ver que existem mais pessoas
dentro da mesma situação”, justificou Ana Paula.
Para Marilize Zanatta, mãe de Matheus, 8, é o
momento de compartilhar vitórias com quem as entenda como vitórias. Jacielide
Campos concorda e exemplifica. “Para os nossos filhos, escovar os dentes e
pentear o cabelo é uma dificuldade enorme”. Isso acontece porque a coordenação
motora fina dos autistas é diferente da exibida por crianças neurotipicas. Na
maioria das vezes, ela é limitada.
E é preciso ressaltar o termo “na maioria das
vezes”, pois não é difícil encontrar pacientes dentro do espectro com excelente
domínio dos movimentos. “O autismo não tem um padrão, cada um é diferente”,
disse a psicóloga. Matheus é exemplo disso. Com muito treino, o menino aprendeu
a tocar piano, mas por causa da agenda apertada, teve de interromper as aulas
por alguns meses.
Na semana passada, Marilize voltou à escola de
música com Matheus. “Ele se sentou na frente do piano e tocou como se nunca tivesse
parado”, contou ela, entre lágrimas. As reações de orgulho e alegria são
coletivas. Todos comemoram e apóiam o sucesso de suas próprias crianças e das
crianças dos outros. “Os pais precisam estar bem para cuidar bem dos filhos”,
desabafou Jacieli.
A associação
Há cerca de um mês, o ideal de fundar a associação
de pais e profissionais começou a tomar forma. A proposta partiu de Cleverson
Toledo, pai de Tiago, e foi aceita pela maioria. Ana Paula, que é advogada,
buscou se inteirar sobre a legislação vigente e os trâmites para registrar a
entidade. “Acredito que até o fim deste mês o estatuto esteja fechado e já
estamos indo atrás de uma sede própria”.
As psicólogas do grupo também estão envolvidas na
organização. Rosemeire trabalha em conjunto com Tamires Bareta para reunir
informações sobre a quantidade de pacientes diagnosticados em Guarapuava, não
diagnosticados ainda ou que recebem tratamento só uma vez por semana. Quando
tudo isso estiver pronto, a associação pretende lutar pela implementação de políticas
públicas em saúde.
“A rede pública não nos oferece nada. Temos duas
clínicas especializadas, uma em São Paulo e outra em Curitiba, que dão suporte
ao tratamento. Alguns pais pagam por essas clínicas e elas dão respaldo para
profissionais da cidade que vistoriam nossos filhos”, explicou Ana Paula. “É
uma equipe que nós mesmos montamos e é paga individualmente”, completou
Rosemeire.
Outro ponto que deve ser trabalhado pela associação
é o diagnóstico precoce do espectro autista. Estudos apontam que a idade ideal
para início do tratamento é até os 3 anos de idade. Segundo Rosemeire, “em
Guarapuava, existem crianças de 12 anos que os médicos ainda afirmam que não
têm nada. Nessa idade, a gente já perdeu um tempão que podia ter sido usado
para trabalhar as necessidades”.
Para fechar o laudo de diagnóstico, é necessária a
opinião de pelo menos três profissionais distintos: um neuropediatra, um
psicólogo e um fonoaudiólogo. Conforme Rosemeire, a constatação depende de uma
avaliação comportamental porque não existe exame de laboratório que identifique
o transtorno. “A gente vê muitos profissionais que não têm essa leitura e acaba
passando batido. Quando adulto, o prognóstico é menor”.
Os encontros de pais e profissionais de saúde
acontecem a cada 15 dias, sempre nas noites de segunda-feira. Informações
adicionais podem ser obtidas com a psicóloga Tamires Bareta pelo telefone (42)
9984-9395.
• Entenda o autismo
Não é uma doença. E, definitivamente, o indivíduo
dentro do espectro do autismo não pode, nem deve, ser tratado como doente. Isso
é preconceito. Entre os pais, não faltam histórias de discriminação nos mais
diversos meios: escola, trabalho, supermercado e até mesmo em órgãos públicos.
Esses episódios são fruto da falta de conhecimento
sobre o transtorno – uma falta muito comum na sociedade em que vivemos. “Quando
o médico me falou que o Caio tinha autismo, lembrei da única coisa que já tinha
visto sobre, a propaganda que passava na televisão com a Mônica e o Cebolinha”,
contou Jacieli.
A campanha foi desenvolvida pela Ama (Associação de
Amigos do Autista) e destacava as reações da criança autista frente a
atividades simples do dia a dia. Mas não faltam opções no cinema e na
literatura que tratam do tema. Separamos algumas sugestões de filmes que têm
personagens autistas em sua trama.
• Rain Man (1988)
Charlie (Tom Cruise), um jovem yuppie, fica sabendo
que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se viam há vários anos, mas
ele vai ao enterro e ao cuidar do testamento descobre que herdou um Buick 1949
e algumas roseiras premiadas, enquanto um “beneficiário” tinha herdado três
milhões de dólares. Curioso em saber quem herdou a fortuna, ele descobre que
foi seu irmão Raymond (Dustin Hoffman), cuja existência ele desconhecia.
Autista, Raymond é capaz de calcular problemas matemáticos com grande
velocidade e precisão. Charlie sequestra o irmão da instituição onde ele está
internado para levá-lo para Los Angeles e exigir metade do dinheiro, nem que
para isto tenha que ir aos tribunais. É durante uma viagem cheia de pequenos
imprevistos que os dois entenderão o significado de serem irmãos.
• Tão Forte e tão perto (2012)
Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto muito
apegado ao pai, Thomas (Tom Hanks), que inventou que Nova York tinha um
distrito hoje desaparecido para fazer com que o filho tivesse iniciativa e
aprendesse a falar com todo tipo de pessoa. Thomas estava no World Trade Center
no fatídico 11 de setembro de 2001, tendo falecido devido aos ataques
terroristas.
A perda foi um baque para Oskar e sua mãe, Linda
(Sandra Bullock). Um ano depois, Oskar teme perder a lembrança do pai. Um dia,
ao vasculhar o guarda-roupa dele, quebra acidentalmente um pequeno vaso azul.
Dentro há um envelope onde aparece escrito Black e, dentro dele, uma misteriosa
chave. Convencido que ela é um enigma deixado pelo pai para que pudesse
desvendar, Oskar inicia uma expedição pela cidade de Nova York, em busca de
todos os habitantes que tenham o sobrenome Black.
FONTE:
Diário
de Guarapuava
Camila
Tsubauchi
Autismo: uma doença cercada por mitos e preconceitos
Atualmente abordado pela novela das nove, da Rede
Globo, o autismo é uma doença há muito conhecida, mas pouco entendida e
difundida entre a sociedade. Segundo a psicóloga e psicopedagoga da Amhpla
Cooperativa Médica, Raquel Bueno, "hoje as pessoas estão melhor informadas
sobre o autismo, mas o preconceito e o medo quando se trata de doença mental
ainda é uma realidade. A pessoa com deficiência não pode andar nas ruas sem ser
alvo de olhares e comentários, algumas vezes sofrendo até discriminação",
lamenta a especialista.
No entanto, a principal arma no combate ao
preconceito e para a melhoria na qualidade de vida de quem convive com a
doença, é a informação. Também especialista no assunto e credenciada da Amhpla,
a psicóloga Karina Liboni afirma que "fornecer informações precisas sobre
o autismo e autistas e suas características através da mídia, folhetos,
palestras e grupos de apoio são importantes para a quebra de tabus sobre o
tema. É preciso aumentar a conscientização sobre a diversidade, as semelhanças
e as diferenças entre os indivíduos”, frisa.
Para quem não conhece, o autismo é uma disfunção
global do desenvolvimento, é uma alteração que afeta a capacidade de
comunicação do indivíduo, de socialização e de comportamento. Quando
diagnosticado com autismo, a família do portador da doença também deve se
moldar e estudar sobre o assunto, a fim de proporcionar maior qualidade de vida
àqueles que precisam de auxílio.
"Para os pais poderem fazer a inclusão do
autista, seja na sociedade ou a nível escolar, é necessário conhecimento.
Conhecimento dos direitos da pessoa com deficiência para poder exigir do Estado
toda a estrutura necessária para o desenvolvimento e bem estar do autista;
conhecimento de como educar e de como entender o universo em que essa pessoa vive,
tudo para poder traduzir a nossa realidade para ele", afirma Raquel. E
Karina completa dizendo também que os pais precisam ser presentes e pacientes:
“É importante o incentivo para as habilidades como vestir, comer, beber, que
ajudam a criar independência. No processo de socialização, por exemplo, a
prática de comunicação ajuda a criança autista a fazer amigos e ser aceito por
seus pares”.
Além disso, destaca Raquel, os graus de autismo são
diferentes, assim como os tratamentos e as limitações: “A educação tem que ser
especializada, levando em conta as habilidades e limitações de cada indivíduo,
pois temos autistas com graus variados de comprometimento. Pais e educadores
têm que estar preparados para poder ensinar”.
Neste sentido, uma educação diferenciada e livre de
preconceitos contribui para o desenvolvimento psicológico, social e motor das
crianças autistas. A inclusão social e o auxílio dos pais, portanto, são
fundamentais no processo de inserção dos autistas no meio social.
Ilustração Blog/Facebook Vivências Autísticas
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
O autismo vem se tornando um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil.
Hoje, estima-se que uma em cada cem crianças
apresenta o transtorno. Há 15 anos, os dados indicavam um caso em cada 2.000
crianças. Ainda que os critérios de diagnóstico tenham mudado, os especialistas
reconhecem que houve aumento do número absoluto de casos.
Políticas em saúde mental infantil são uma
preocupação relativamente recente, mesmo com índices crescentes de transtornos
em crianças e adolescentes. Neste ano, importantes conquistas foram obtidas em
termos legais, e a perspectiva de que o tratamento oferecido pelo Estado
contemple abordagens psicológicas distintas é cada vez maior, o que configura
enorme progresso.
Alguns desses avanços resultaram também da
iniciativa de psicanalistas que se mobilizaram para tornar o autismo pauta do
dia e para impedir que o seu método deixasse de ser utilizado nos Centros de
Atenção Psicossocial (Caps), sob o argumento da "falta de
cientificidade".
Em São Paulo, o Movimento Psicanálise, Autismo e
Saúde Pública (MPASP) é um dos mais importantes no comando dessa iniciativa,
dirigindo-se aos profissionais e aos gestores públicos da saúde a fim de
incentivar a pluralidade de abordagens científicas e a oferta de um tratamento
interdisciplinar das pessoas com autismo e suas famílias.
Apesar disso, chama a atenção como as grandes
mídias ignoram a psicanálise, que tem, sim, muito a contribuir em termos de
diagnóstico e tratamento. Programas televisivos recentes não disponibilizaram à
população um rol completo de informações sobre o tema, enfocando apenas uma das
formas de compreender o transtorno.
A perspectiva psicanalítica é uma valiosa abordagem
para uma gama enorme de transtornos psíquicos e com o autismo não é diferente.
Seu instrumental clínico possui reconhecimento em diversos centros de cuidado e
deve ser integrado em nossas políticas públicas de saúde.
Sobre os métodos de tratamento, o que mais se vê em
reportagens sobre o tema é o comportamental, com abordagens em torno de
"dar independência" à criança, ensinar tarefas simples e
"controlar a agressividade". Raramente se fala sobre o tratamento ter
como foco a criança e seu bem-estar, simples assim.
A ênfase na necessidade de a criança autista se
enquadrar em um modelo de comportamento tido como normal prevalece, deixando de
lado a busca pelos sentidos que os sintomas expressam e que ajudam a
compreender o papel da doença não apenas para a criança, mas também para a sua
família.
A psicanálise compreende que o autismo está ligado
a uma dificuldade de a criança se relacionar com a outra pessoa como um outro.
E daí surgem consequências como os rituais autísticos, cuja função é manter o
seu isolamento e impedir as trocas sociais.
Um aspecto central é a importância do diagnóstico
precoce. Quanto mais cedo o transtorno é identificado, melhores os resultados
do tratamento, já que é possível evitar que modos desviantes de funcionamento
se cristalizem.
Em relação ao tratamento, o método psicanalítico se
ocupa da estrutura mental e é pensado para trazer a criança para o contato,
reduzir seu isolamento. Ainda que ela pareça muitas vezes estranha e
inacessível, o que se busca é encontrá-la onde ela estiver e trazê-la ao
convívio.
A Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo,
que conta com dois grupos de estudos integrantes do MPASP, reconhece a
complexidade do assunto, estimula o diálogo com outras abordagens e contribui
na articulação de novas propostas para a saúde pública infantil.
Ignorar a psicanálise como método para detecção e
tratamento do autismo é privar as famílias de um instrumental científico que
pode, em muito, abreviar o caminho para um diagnóstico definitivo e
proporcionar um tratamento de qualidade.
FONTE:
NILDE JACOB PARADA FRANCH, 77, é presidente da
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Autismo: cientistas conseguem restabelecer conexões entre neurônios
Imagem mostra no topo à esquerda um neurônio normal. À direita deste, está um neurônio de um camundongo com mutação no gene que produz a proteína NHE6. Na parte inferior, à esquerda, aparece novamente um neurônio normal e, à direita, um com defeito - mas ambos tendo recebido tratamento com BDNF (Morrow lab/Brown University/Divulgação)
Pesquisa com camundongos mostra caminho para possível tratamento
Cientistas identificaram uma causa genética para um
déficit na ligação entre neurônios e os circuitos cerebrais em pessoas com
certos tipos de autismo. Os pesquisadores afirmam ainda que conseguiram, em
camundongos, restaurar o crescimento neuronal ao compensar o problema nos
mecanismos moleculares que eles identificaram. O estudo foi divulgado nesta
quinta-feira na revista especializada Neuron.
A mutação do gene que produz uma proteína chamada
de NHE6 costuma ser diretamente associada a um tipo raro e severo de autismo
chamado de síndrome de Christianson. Mas os pesquisadores afirmam ter
descoberto uma ligação desse gene com outros tipos de autismo mais comuns.
"No autismo geral essa proteína é
desregulada", diz Eric Morrow, professor da Universidade Brown, nos
Estados Unidos. A NHE6 ajuda a regular a acidez do endossomo - organelas
responsáveis por transportar o material ao redor das células e degradar
proteínas, inclusive aquelas necessárias para que os neurônios cresçam seus
longos braços (axônios e dendritos) para formar as conexões dentro do cérebro.
Os cientistas descobriram que camundongos com
mutação nesse gene tinham uma acidez maior nos endossomos. Essa desregulação
afetava moléculas presentes na célula que regulam o crescimento dos axônios e
dendritos. Os animais com essa mutação acabavam por ter menos conexões entre
neurônios, chamadas de sinapses.
"Um dos problemas primordiais em desordens
como o autismo, nós acreditamos, é que elas são um problema de comunicação
entre diferentes áreas do cérebro e de neurônios que se comunicam com outros em
rede", diz Morrow.
Para tratar o problema, os cientistas testaram
aplicar diretamente uma das moléculas em falta nos camundongos (chamada de
fator neurotrófico derivado do cérebro, ou BDNF, na sigla em inglês). Os
animais que receberam o BDNF tiveram um crescimento dos axônios e dendritos
próximo ao de um neurônio normal. Outro dado destacado é que já existem
remédios para reposição do BDNF disponíveis para os pacientes.
"Nós não achamos que isto seja tudo sobre esta
condição", diz Morrow, que agora tenta entender melhor as respostas dadas
ao uso dos medicamentos. "Mas se somos capazes de tratar este mecanismo
com drogas exógenas, isso poderia reparar o suficiente ou ao menos algum
elemento (do autismo)?", questiona
FONTE:
ISTOÉ ONLINE
http://www.istoe.com.br/reportagens/324041_AUTISMO+CIENTISTAS+CONSEGUEM+RESTABELECER+CONEXOES+ENTRE+NEURONIOS?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
Assinar:
Postagens (Atom)