domingo, 24 de abril de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - VI - Amanda Frank


Amanda uma menina “espuletinha”.

     Ao adotarmos a Amanda em 1999, ela tinha apenas alguns dias de vida.
     Sentimos que ela traz em seu olhar algo que nos deixa intrigados. É um olhar profundo que vai buscar a gente para bem pertinho dela.
     Andou com facilidade, tinha habilidade incrível para dirigir sua motoca, e logo andou com a bicicleta, mas não brincava com os irmãos ou outras crianças. Gostava de ver os objetos girando por horas. Adorava abrir e trancar fechaduras.
     Falou com perfeição até os 3 anos de idade repetindo todo repertório que lhe falávamos ou que ela ouvia na televisão, gostando especialmente de repetir propagandas. Mas depois deste período ela repentinamente parou de falar e só voltou a falar de forma diferente, com um tom monótono e repetitivo. A ecolalia é a forma que ela se expressava e a levamos a pediatras, psicólogos, fonoaudiólogas, neuropediatras. Todos nos diziam que “iria passar” e que nós estávamos demasiadamente preocupados com o desenvolvimento dela.
     No entanto o comportamento de isolamento social da Amanda se agravou. Ela ficou agressiva em alguns momentos para expressar descontentamento ou mal estar. Não conseguia expressar com palavras o que estava sentindo.
     Na escola enfrentamos o início de nossas dificuldades sociais que perduram até hoje: exclusão do ensino regular, discriminação, falta de profissionais capacitados em autismo para lidarem com alunos que necessitam de atendimento diferenciado.
    Amanda poderia ter se desenvolvido melhor na escola se todos estes profissionais estivessem capacitados para atenderem adequadamente as necessidades e as dificuldades que ela apresenta. No entanto os anos vão passando e todos se limitam a fazer experiências, aprender convivendo com a Amanda, aproveitando esta convivência para apresentarem mestrados, teses ou trabalhos e nós nos perguntamos:      quando estes profissionais olharão com maior amor e carinho para seus alunos com deficiência?
     Quando estes profissionais descerão de seus “saltos altos” e de sua arrogância para se dedicarem verdadeiramente à este alunado?
     Para fazermos a inclusão é apenas preciso começar. Não temos mais justificativas para não fazermos a tal inclusão destes alunos especiais. Eles precisam da inclusão para se socializarem, para se comunicarem ou aprenderem a se comunicar, para aprenderem a ter autonomia, independência e acima de tudo enfrentarem a vida e o futuro.
     Como filha é uma adolescente amável, carinhosa, que me questiona diariamente: Porque, mamãe, não posso estudar com os meus coleginhas? Ela quer participar da inclusão social e escolar mas falta-lhe ajuda.
     Apronta bastante em casa: outro dia a flagrei atacando o pote de açúcar. Uma verdadeira formiga atômica em ação. Em outra semana pegamos ela experimentando o pote de sal e foi um dia inteirinho bebendo água para acabar com a sede.
     Não gosta muito de assistir TV, no entanto ela precisa todos os dias passear de bicicleta ou de carro, pois fica inquieta e ansiosa. Ela acompanha a troca de marchas do motorista, o ronco do motor do carro e as paisagens.
     Ao me ver cortando o cabelo do irmão ela tentou fazer o mesmo com o cabelo dela. O resultado deixou a desejar, mas ela promete ser uma cabelereira algum dia uma vez que ela aprende muitas coisas só observando.
     Ela é muito mais inteligente do que as pessoas imaginam. Fica manhosa para conseguir exatamente o que almeja usando de artifícios diversos. Percebe até onde pode manipular as pessoas e suas emoções para chegar até os seus objetivos.
     Como mãe da Amanda estou empenhada para que ela tenha uma autonomia e independência para o futuro que a espera.

Cristina Langner Frank
Mãe da Amanda - autista