quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A Intensidade Profissional e Espiritual do Tratamento do Meu Filho


Aqui em casa o amor que temos pelo autismo, nossa prova de cada dia, ultrapassa os limites do nosso próprio entendimento. Procuramos sempre com a mais intensidade o mundo desconhecido do autista, não nos limitarmos em médicos, remédios e terapias. O tempo foi nosso aliado. Fomos além. Além dos espaços geográficos terrenos. Procuramos transcender a aceitação e o processo de cura, buscamos em todos os lugares que nos foi permitido ir.
Igualmente, temos também nossas filhas para coroar. Meus elos de entendimento e amor transcenderam até ao que me é permitido entender e do meu pensamento espiritual, consignado por Deus e seus mentores, mensagens vieram as mais variadas.
Conversamos com pessoas abalizadas como o Dr. Walter Camargos (o psiquiatra do André), o amigo e escritor Nilton Salvador, que sempre nos apoiou na caminhada de amor (uma preciosa amizade), a psicopedagoga Elizabeth Andés, entre outros profissionais e amigos que o escoltaram a evolução excepcional do André Luís. Atualmente, André freqüenta duas escolas e nomes como, Delma, Maria José, Cacá, Eliane, Andréia, e outras pessoas queridas devem ser sempre lembradas.
Há um acerto em todo o pessoal que conviveu e convive com o meu filho, todos estes anos, com variada intensidade e compreensão que aqui fica limitado escrever. Mas é preciso que o mundo saiba. Novas mães e pais podem ler nossa experiência e deve ser relatada aqui neste espaço virtual.
Por fim, sempre me preocupo com a efemeridade e acho que a nossa passagem no planeta deve ser bem vista, mais evoluída das "deficiências humanas” num acerto todo pessoal (Silvânia e André Luís). Não seria possível um acordo se não existissem agentes e amigos e com eles os resultados pessoais. Pude observar que muitas pessoas, inclusive eu, ocasionalmente, queremos saber mais do que os médicos. Isto é difícil de controlar. Aprendi no cerne do problema, que o problema é uma intensa aprendizagem. Paguei o aprendizado a preço caro. Penitencio-me até hoje. Mas minha abordagem hoje é voltada totalmente para a compreensão e para o amor. O amor que sinto pelo meu filho, pelo autismo e sua convivência diária.
Compreendo hoje que não fosse a intensidade do zelo da minha família e dos profissionais da educação que convivem com o André e a nossa aceitação não teríamos vencido o autismo, ou melhor, ACEITADO O AUTISMO. Ele se tornou nosso feijão com arroz.
Mas os relatos de aprendizagem são os mais variados. Ao falarmos de emoções temos que nos dinamizar. Uma emoção resulta de um sentimento ou de uma forma de sentir uma experiência. A experiência de afetos positivos do autismo gera sentimentos de segurança e de prazer e, conseqüentemente, os neurotransmissores adequados para manter um estado psicológico isento de tensões e reforço das comunicações .Insta saber tudo isto acontece, quando há aceitação e não existe revolta. Fatores importantes para o qualquer filho autista. A experiência de afetos negativos, sentimentos de desprazer que o autismo proporciona em um estado de tensão, pode levar ao estresse, com aumento de desamparo do autista. As crianças autistas que apresentam níveis mais elevados têm maior incidência de atrasos de desenvolvimento cognitivos, motores e sociais.
Assim o zelo velado se fez presente. O autismo do André é severo e exige muita resignação e dedicação. André, apesar de suas limitações, constitui-se em uma doce presença, com reais atitudes de uma criança feliz.
A sua presença é doce e desejada, nunca como um peso para a família que o aceitou como dádiva de extrema significação, mais do que justo, um privilégio. Por ele somos felizes.
Até então, contribuiu com o aprendizado de todos nós, pois com a intenção de aproximá-lo ao nosso coração, ao nosso convívio, cada vez mais intenso, partimos para um trabalho de pesquisa que busca explicação a respeito de seus sintomas autísticos. Trata-se de um estudo consciente que traz esperanças e, ao mesmo tempo, aumenta o nosso amor pela causa. Apesar da plena aceitação do problema do meu filho, ninguém se acomoda, não foge à luta de uma proposta de recuperação do nosso querido filho. Será sempre a página do registro da vida e do amor por ele.
Afinal, os autistas têm dificuldades de comunicação, mas não UM MUNDO próprio. Para eles comunicar é algo difícil, e, como poucas pessoas compreendem esta situação, conflitos são gerados. Ensiná-los a se comunicar pode ser difícil, mas pode ajudar o autista a acabar com seus conflitos. Assim como pessoas normais, os autistas têm variações de inteligência se comparados um ao outro. É muito comum apresentarem níveis de atraso, que podem ser superados com o passar dos anos.
O autismo não dá trégua, mas traz a esperança de acendermos, sermos melhores neste mundo de desigualdades. Por mais que se lute, não se pode esperar que ele mude. Ele continua lá da mesma forma, implacável e temos que aprender. Mas o retorno em termos de aprendizagem não é muito pequeno. Pelo contrário, ensina-nos nas experiências de professor.
É preciso muita persistência para tentar mudar a situação e, na maioria das vezes, as evoluções são quase imperceptíveis. É uma batalha desigual, mas que eleva o espírito de uma família. É como dizer sempre, o que não tem remédio, remediado está. E o resultado, qual será
Para entrar no mundo dos autistas é preciso saber amar sem esperar troca. O amor verdadeiro é a maior lição que eles podem nos dar ao longo da vida e do zelo. Só o amor se frutifica na intensidade exigida pelo silêncio que o autista impõe.
O seu discurso sem fala vale por todos os códigos de uma linguagem universal... não é fragmentado como as palavras que profiro, nem se perde na carga semântica dos termos incompletos da minha acanhada emoção. O meu filho é o professor que me ensina a essência de todas as coisas, na magistral enciclopédia da vida. A sua canção me faz vibrar... são acordes de ternura que leio no palpitar de seu sussurro, no ressonar de seu sono irregular e na vigília dos seus dias. As suas poesias de silêncio possuem asas e cores... são páginas do meu álbum, originais como são, valem pelo prazer do mistério e da beleza... Agradeço o privilégio de chamá-lo de filho.
Chega-se ao ápice da melhora. O meu filho vestiu terno e gostou. Quer a convivência social de sentar-se numa mesa com amigos, ir a um baile de formatura, ser visto e dançar. Falaremos desta experiência depois. Imagino... Quantos gostariam de possuir a riqueza que me foi doada, por acréscimo...

Silvania Mendonça Almeida Margarida

Um comentário:

Lu Ar disse...

Apesar da hora tardia, vim dar uma espiadinha e não pude deixar de ler este depoimento tão generoso. Digo generoso porque nos mostra o poder do amor, do carinho e da FÉ. E nos mostra o valor de cada conquista. O que é comum no dia a dia de uma pessoa dita normal é uma bênção para o autista por menor que seja a conquista. Lembro a felicidade que fiquei quando vi a Laura com oito anos usando chinelinho de dedos pela primeira vez! O barulho dos chinelinhos parecia o mais lindo dos sons! Parabéns ao André por suas conquistas e a sua família que lhe possibita que as alcance!