domingo, 22 de janeiro de 2012

Médicos americanos revisam diagnóstico de autismo



Mudanças importantes propostas por pesquisadores médicos para a definição de autismo vão reduzir drasticamente o número de pessoas diagnosticadas com o distúrbio e ainda tornar mais difícil classificar pacientes que não satisfazem os critérios para obter os serviços educacionais e sociais previstos como auxiliares no tratamento. A definição médica de autismo está sob revisão por um painel de especialistas nomeados pela Associação Americana de Psiquiatria, que vai concluir os trabalhos para a quinta edição do Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais. O DSM, como o manual é conhecido na sigla em inglês, é referência-padrão para a definição de transtornos mentais, a condução do tratamento, a pesquisa e as decisões sobre seguros de saúde.
Os resultados do estudo ainda são preliminares, mas oferecem a estimativa mais recente de como apertar os critérios para o diagnóstico do autismo, afetando drasticamente a taxa de pacientes com esta classificação. Índices de autismo e desordens mentais relacionadas, como a síndrome de Asperger, têm decolado para as alturas, desde o início de 1980, ao ponto de uma em cada cem crianças receber o diagnóstico. Muitos pesquisadores suspeitam que esses números são inflados por causa da indefinição nos critérios atuais.
_ As alterações propostas põem um fim à epidemia de autismo _ avalia o médico Fred R. Volkmar, diretor do Centro de Estudos da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale e um dos autores da revisão. _Gostaríamos de cortar o mal pela raiz.
Especialistas trabalharam na nova definição questionando fortemente as estimativas do número de pacientes dos distúrbios relacionados ao autismo.
_Eu não sei como as instituições estão recebendo esses números tão elevados _ afirmou a médica Catherine Lord, membro da força-tarefa trabalhando no diagnóstico.
Projeções anteriores concluíram que muito menos pessoas seriam excluídos com a mudança de diagnóstico proposta, segundo o Dr. Lord, diretor do Instituto de Desenvolvimento do Cérebro, um projecto conjunto do New York-Presbyterian Hospital, do Weill Cornell Medical College, do Columbia University Medical Center e do New York Center for Autism.
Pelo menos um milhão de crianças e adultos já têm um diagnóstico de autismo ou de um distúrbio relacionado a ele, como a síndrome de Asperger (ou "transtorno invasivo do desenvolvimento, não especificado de outra forma"). As pessoas com Asperger têm algumas dos mesmos distúrbios sociais das pessoas com autismo, mas não satisfazem totalmente a definição médica para autismo. A alteração proposta agora iria consolidar todos os diagnósticos sob uma categoria, a de transtorno do espectro do autismo, eliminando a síndrome de Asperger do manual psiquiátrico. De acordo com os critérios atuais, uma pessoa pode se qualificar para o diagnóstico através da exibição de seis ou mais de um total de 12 comportamentos. Nos termos da definição proposta, a pessoa teria que exibir três déficits de interação social e de comunicação e pelo menos dois comportamentos repetitivos _ um cardápio bem mais estreito.
O Dr. Kupfer avalia que as mudanças propostas pela Sociedade de Psiquiatria são uma tentativa de esclarecer essas alterações e colocá-las sob um único nome. Centenas de milhares de pessoas recebem apoio do Estado pelos serviços especiais para ajudar a compensar os efeitos dos transtornos incapacitantes, que incluem problemas de aprendizagem e de interação social, e o diagnóstico é, em muitos aspectos, fundamental para suas vidas. Redes de pais estão unidas por experiências comuns com as crianças, e os filhos, também, podem crescer para encontrar um sentido de sua própria identidade em sua luta com o transtorno.
Mary Meyer, de Ramsey, New Jersey, disse que o diagnóstico de síndrome de Asperger foi crucial na obtenção de ajuda para sua filha. O acesso aos serviços ajudaram-na tremendamente.
_ Estou muito preocupado com a mudança no diagnóstico, porque eu me pergunto se minha filha sequer qualificaria para receber ajuda agora _ disse ela. _ Ela é sobre a deficiência, que é parcialmente baseado no de Asperger, e eu estou esperando para levá-la para habitação de apoio, que também depende de seu diagnóstico.
Mark Roithmayr, presidente da Autism Speaks, uma organização de defesa de pacientes, acha que o novo diagnóstico proposto deve trazer a clareza necessária, mas que o efeito sobre os serviços ainda não está claro.
_ Precisamos acompanhar atentamente o impacto dessas mudanças de diagnóstico sobre o acesso aos serviços de saúde e garantir que a ninguém está sendo negado serviços de que necessita _ disse o Sr. Roithmayr. _ Alguns tratamentos e serviços são movidos unicamente por diagnóstico de uma pessoa, enquanto que outros serviços podem depender de outros critérios como idade, QI ou história médica.
Na nova análise, o Dr. Volkmar trabalhou juntamente com Brian Reichow e McPartland James, ambos na Universidade de Yale. Eles usaram dados de um estudo de 1993 de grande porte que serviu de base para os critérios atuais. Eles se concentraram em 372 crianças e adultos que estavam entre o mais alto funcionamento e descobriram que, acima de tudo, apenas 45% deles se qualificariam para o diagnóstico do espectro do autismo proposto, agora em análise. O foco em um grupo de alto funcionamento pode ter exagerado um pouco essa porcentagem, isto os autores reconhecem.
A probabilidade de ser deixado de fora sob a nova definição depende do diagnóstico original. Cerca de um quarto das identificadas com autismo clássico em 1993 não seria identificada com base nos novos critérios propostos. Cerca de três quartos das pessoas com Asperger não se qualificariam; e 85% das pessoas com outros distúrbios associados estaria fora da nova classificação.
As conclusões preliminares da revisão foram apresentadas pelo Dr. Volkmar esta semana. Agora, os pesquisadores vão publicar uma análise mais ampla, com base em amostra maior e mais representativa de mil casos. O Dr. Volkmar disse que, embora o novo diagnóstico proposto seja para distúrbios de espectro mais amplo, ele incide fortemente sobre "pacientes classicamente definidos como autistas", crianças na extremidade mais grave da escala. Segundo o médico, o maior impacto da revisão recai sobre aqueles que são cognitivamente mais capazes.

BENEDICT CAREY, DO NEW YORK TIMES

4 comentários:

Unknown disse...

Isso realmente me passa mais como um problema financeiro
Do que ficar reavaliando autista. Eles têm meios
Técnicos para fazê-lo... E sempre fizeram, e a respeito de epidemia eles sempre negaram.
Há muito tempo que eles mesmos disseram que havia aumentado o índice porque as avaliações estavam mais eficazes... Agora dizem que as avaliações estão exagerando.
Estranho, essa medida aqui me parece, mas ação de Governo do que médico.
Mas tem órgãos de pais lá que estão atentos... É uma briga feia... Até porque DSM que sairá 2013, que circula nos meios científicos, não descarta Asperge do Espectro Autista. É estranho muito estranho... Fiquemos atentos.

Vivencias Autísticas disse...

Oi Liê.
Lá como cá...Adivinha se a medida não será copiada por aqui.
Os americanos não poderão mudar nada, porque já existe uma Lei do presidente Obama a respeito disso.Naquele país, as leis são cumpridas. Lembra?
Olho vivo...Vide Governo do Rio de Janeiro, que vetou o projeto em benefício dos autistas.
Em nome do que e por que razões?
Até quanto o governador Sergio Cabral conhece o assunto autismo, que embora uma nada tenha ver com a revisão de diagnóstico, não deixa de ser um ensaio.
Abraços.

Unknown disse...

Com certeza Nilton, na verdade esse Governador me parece alienado não só para causa dos autistas, qualquer Projeto humanitário, ele pouco se importa, alias ele é Governador das UPPES, que pelo jeito não está acabando com nenhuma violência nas favelas, do Carnaval, Copa do Mundo, é uma pena. Mas vamos continuar na luta.
Espero realmente que eles não mudem as leis lá a partir desse estudo. Porque o que não falta no mundo é politico querendo prejudicar aqueles que necessitam.
abraço amigo..
Liê e Gabi autista.

Unknown disse...

Nilton, outra coisa que pensei também, a Lei não muda, mas as crianças que se beneficiam dela pode cair drasticamente, não estou dizendo que concordo com avaliações erradas, mas digo que muitas vezes ouvimos, que isso mãe seu filho não tem nada, logo ele falará, logo ele isso, ele aquilo, e as intervenções precoces, vão sendo deixada de lado e muitas vezes o autista perde muito com isso. O que me deixa cabreira nesse discurso dos médicos é que só agora 2012 eles acreditam e super avaliação do autismo.
Paz e luz
Liê e Gabi autista.