O Estado, que
ente é esse hoje tão afastado da compreensão do povo e cujo papel e dimensão
nem de longe são reconhecidos?
No Brasil da segunda década deste século XXI os
contornos dessa compreensão, bem como da compreensão da cidadania, estão cada
vez mais embaçados. Sistematicamente cegada pela falta de formação cidadã em
todos os ambientes de educação (lembrando que estes extrapolam as escolas), a
sociedade segue numa certa confusão geral e instituída de forma que os direitos
dos indivíduos, assegurados pelo texto constitucional, sejam por eles
esquecidos à conveniência daqueles que se beneficiam de tal ignorância,
manejando um Estado aliado a seus próprios interesses.
Os muitos interesses de
muito poucos.
No precipício
que se alarga a cada dia entre dirigentes e dirigidos é flagrante a manutenção
histórica de cidadãos de primeira e de
segunda classe. Espremidos na retaguarda
daqueles tratados como gente de segunda categoria estão algumas minorias com
demandas bastante específicas, as pessoas com deficiências e as pessoas com
autismo aí englobadas. De forma ainda mais aguda que o restante da sociedade,
são penalizadas pela omissão do Estado e pela ausência de controle social sobre
o cumprimento do que é expresso no texto constitucional.
Para que
cidadania e inclusão social caminhem juntas são necessários instrumentos e
intervenções. O instrumento para que os direitos sejam cumpridos, as leis sejam
postas em prática, e cidadão seja mais do que uma nomenclatura vazia chama-se
POLÍTICA PÚBLICA.
Diferindo aqui e ali, de um para outro autor, o conceito base
de Política Pública é: o Estado em ação. No caso do Brasil, a Política Pública
pode acontecer por ações de âmbito federal, estadual ou municipal, mas, tanto
aqui quanto em qualquer porção do planeta, é do Estado o papel de propor ações
para atender a determinados setores da sociedade civil.
Sem ter bem
claras as noções de seus direitos e menos claras ainda as atribuições do
conjunto de órgãos do Poder Público, a população segue sem se dar conta de que
detêm nas mãos a legitimação e o controle SE e QUANDO decidir fazer valer a
soberania popular, atributo primeiro de uma democracia. Trocando em miúdos,
parece que uma larga fatia da sociedade vem sendo convencida de que o Estado já
não tem obrigação alguma, que a função de seus dirigentes, ou dos indivíduos
que compõem os serviços burocráticos, é somente a de ali se manterem, e que
devolver à sociedade o que lhe toma em impostos, contribuições e trabalho, na
forma de serviços de manutenção da vida e do território é algo opcional ou até
mesmo um favor.
Nadando contra a
correnteza da inconsciência uma porção da sociedade civil se mantém ainda
lúcida. Espécies de heróis da resistência, cidadãos que sabem bem o significado
de cidadania compõem a luta para a mudança dos cenários, para a transformação
social. Individualmente ou em grupos vão disseminando a conscientização através
do próprio exemplo (como já pregava Paulo Freire) de participação e
mobilização, principalmente em favor daqueles cuja cidadania não é considerada
nem respeitada: as pessoas em condições econômicas e sociais mais precarizadas
- a maior fatia da população.
Francisco Cerignoni em Guaratinguetá, fala de Políticas Públicas e Pessoas com Deficiência. |
Entretanto é do fundamento da luta da sociedade organizada que sua
atuação exista para que os recursos (impostos, contribuições, etc, etc)
retornem aos setores que necessitam das ações, e já que o Estado não o faz
diretamente, que o faça de forma indireta, de forma terceirizada.
Daí a
nomenclatura Terceiro Setor, cuja representatividade é tanto maior quanto mais
essa organização da sociedade civil sirva como ponte, cobrindo as lacunas
sociais e cobrando do Estado suas obrigações. Direcionando verbas e trabalho
para os setores onde as necessidades estão, cumprem, na atual realidade, as
obrigações deixadas de lado pelo Poder Público.
Entretanto, para
se manterem legitimadas como representação da sociedade organizada, cabe também
a elas conscientizar incansavelmente a população sobre seus direitos, e compor o número de vozes que pleiteiam a ação
do Estado na feitura e na concretização das Polícias Públicas, com as quais a
sociedade, seja em cada indivíduo, seja nas organizações que representam os
diversos grupos, será a grande beneficiada.
Claudia Moraes, presidente da APADEM, compartilhando suas vitórias com o Autismo. IV Fórum de Inclusão Social do ILA. |
Dedico este post
a duas pessoas que são exemplos dessa atuação.
Fica aqui minha homenagem e
profunda admiração à Claudia Moraes, da APADEM, e ao Francisco Núncio
Cerignoni, da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência-FCD.
Ele, de
Piracicaba-SP, e ela, de Volta Redonda- RJ, estiveram compartilhando
conhecimentos e edificando a conscientização nos dias 21 e 22 de setembro, em
Guaratinguetá a convite do ILA - Instituto Lucas Amoroso em seu IV Fórum de
Inclusão Social.
Aplausos de pé!
Fonte:
Márcia Lombo Machado
Um comentário:
Obrigada Nilton Salvador pela divulgação da publicação em que fui citada.
Somos todos elos da mesma corrente!
Abraços fraternos,
Claudia Moraes
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