A maior prova de que a síndrome de Asperger não significa incapacidade total de desenvolvimento e de relacionamento está nos seus próprios portadores. Muitos músicos, matemáticos, líderes de empresa e cientistas considerados gênios em suas áreas têm, se não o diagnóstico já fechado, traços do distúrbio tão claros que levam especialistas a colocá-los na lista dos supostos portadores de autismo. Outro podem não ter recebido um laudo positivo apenas porque não viveram tempo o bastante até que a doença fosse amplamente conhecida e diagnosticada. Confira alguns dos ilustres nomes que compõem essa lista:
Peter Howson, pintor
A obra do pintor escocês, famoso pelos seus retratos da guerra civil da Bósnia, no início dos anos 1990, e principalmente de trabalhadores e classes sociais mais baixas, figura nas coleções de personalidades como David Bowie, Madonna e Mick Jagger. Enfrentou problemas com o álcool e as drogas — também retratados na sua obra — e só em 2009 recebeu o diagnóstico de síndrome de Asperger.
Jerry Newport, matemático e escritor
O diagnóstico de Newport também veio tardiamente: apenas aos 47 anos. Newport é licenciado em matemática pela Universidade de Michigan e também portador da Síndrome de Savant, um distúrbio caracterizado por uma grande habilidade intelectual — memória apurada ou capacidade de fazer cálculos complexos, por exemplo — aliada a um déficit de desenvolvimento. Hoje, ele escreve artigos para uma revista especializada em autismo e Asperger, além de proferir palestras sobre o assunto. Sua vida e a de sua mulher, Mary Newport, também Asperger, inspirou o longa Loucos de Amor, de 2005.
Craig Nicholls, músico
O guitarrista e compositor australiano é conhecido por liderar a banda de rock alternativo The Vines. Antes de ter o diagnostico feito por um especialista, em 2004, o músico protagonizou algumas cenas de rebeldia que causaram problemas à banda, como o episódio, em maio do mesmo ano, em que se irritou com a plateia durante uma apresentação para a rádio Triple M, porque ouviu uma risada vinda da multidão. Antes, ele já havia destruído o cenário do Tonight Show with Jane Roy, em um ataque de rebeldia durante o ensaio, o que deixou o Vines de fora da programação do talk show. Em 2008 o The Vines cancelou shows pela Austrália e pelo Japão, em função de uma piora na saúde mental de Nicholls.
Adam Young, músico
O norte-americano é o criador do projeto de música eletrônica Owl City. Ele começou a produzir no porão da casa dos pais e a postar suas composições na sua página do MySpace e na loja virtual de músicas da Apple, o iTunes. O seu primeiro álbum, lançado de forma independente em 2008, chegou à 13ª posição do ranking de eletrônicos norte-americanos, o que o levou a se apresentar em uma turnê por todo o país. No ano passado, o terceiro trabalho, All Things Bright and Beautiful, alcançou o primeiro lugar de vendas no top 10 álbuns eletrônicos do iTunes, tanto nos Estados Unidos, como no Canadá.
Tim Page, crítico musical
Page tem formação musical e desde cedo, ainda na faculdade, começou a escrever para algumas publicações especializadas em artes e música. Nos anos 1980, entrou para o The New York Times como repórter de cultura. Nos anos 1990, pouco depois de se tornar o crítico chefe de música clássica do Washington Post, ganhou o prêmio Pulitzer pelo seu criticismo “esclarecedor e lúcido”. O diagnóstico de Asperger de Page também não veio nos seus primeiros anos de vida. Apenas em 2007, ele revelou à revista The New Yorker que finalmente havia descoberto qual era seu problema, após uma longa procura por explicações para alguns desconfortos que o acompanharam durante toda a vida. Em 2010, o crítico lançou o livro Parallel Play: Growing Up With Undiagnosed Asperger's (Jogo paralelo: crescendo com Asperger não diagnosticado, em tradução livre), ainda sem versão oficial para o português.
Bill Gates, fundador da Microsoft
O líder por trás da gigante de informática e um dos homens mais ricos do mundo protagoniza uma complexa discussão pelos sites e fóruns de autistas, portadores de Asperger e especialistas. Entre as evidências que o colocam como possível Asperger estão sua timidez exagerada, o comportamento estranho na infância relatado por algumas pessoas próximas, movimentos circulares e de vai e vem nos momentos de tensão e angústia e o fato de ser canhoto, algo bastante comum entre autistas. Ainda assim, se Gates algum dia recebeu o diagnóstico, ele nunca foi divulgado oficialmente.
Albert Einstein, cientista
Há quem diga que o criador da teoria da relatividade só não recebeu um diagnóstico ainda em vida porque o autismo ainda não era comum e estudado na época. Mas os relatos contam que ele só pronunciou as primeiras palavras aos quatro anos, tinha problemas de aprendizado na escola, se expressava com dificuldade, sonhava acordado com frequência e se expressava melhor em imagens. Além disso, uma autópsia teria revelado que o cérebro de Einstein era maior que o normal — uma característica também presente em autistas e portadores da síndrome de Asperger.
Charles Darwin, biólogo
Em 2009, um renomado psiquiatra norte-americano, Michael Fitzgerald, levantou a hipótese de que o cientista, criador da teoria da evolução das espécies, teria sido portador da síndrome de Asperger. Segundo Fitzgerald, Darwin era uma criança solitária e sua imaturidade emocional e medo de intimidade teriam se estendido até a vida adulta. Além disso, ele gostava de caminhar sozinho pela mesma rota diariamente, era um excelente observador e permaneceu bastante introspectivo por toda a vida.
Fonte: Correio Baziliense
Reportagem:
Carolina Samorano
Publicação: 21/10/2012
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