Um grupo de investigadores norte-americanos
utilizou, com sucesso, um fármaco antigo para restaurar as comunicações
celulares do cérebro num modelo animal, conseguindo reverter os sintomas do
autismo. Face aos bons resultados, os especialistas da Universidade da
Califórnia - San Diego, nos EUA, esperam dar início a um pequeno ensaio clínico
com humanos já no próximo ano.
A descoberta
da utilidade da suramina, um "inibidor de sinais purinérgicos das
células" utilizado desde 1926 no tratamento da doença do sono, em África,
e no combate a outras patologias parasitárias, foi efetuada por uma equipa
coordenada por Robert Naviaux que deu, este mês, a conhecer os resultados da
investigação através de um estudo publicado na revista científica PLOS ONE.
"A nossa
teoria sugere que o autismo acontece porque as células ficam 'presas' num
metabolismo defensivo que as torna incapazes de comunicar normalmente umas com
as outras, o que pode interferir com o desenvolvimento e função do
cérebro", explica o professor de medicina Naviaux em comunicado
divulgado pela universidade norte-americana.
"Utilizámos
um tipo de fármaco que já existe há quase um século para tratamento de outras
doenças com o objetivo de bloquear o sinal de 'perigo' [que as células recebem
e que desencadeia a postura defensiva] em ratinhos e conseguimos que as células
retomassem o metabolismo normal e que a comunicação celular fosse
restaurada", revela o investigador.
Ensaio clínico com humanos arranca em 2014
Durante a
investigação, o fármaco corrigiu 17 sintomas da doença, normalizando a
estrutura sináptica do cérebro, o envio de sinais entre as células, o
comportamento social, a coordenação motora e o metabolismo mitocondrial.
Robert
Naviaux admite que, "obviamente, mesmo sendo capazes de corrigir falhas em
cérebros de modelos animais geneticamente modificados, continuamos a estar
longe de uma cura eficaz para humanos". No entanto, os especialistas estão
esperançados e planeiam dar continuidade à investigação, desta feita com
pessoas, já em 2014.
"Sentimo-nos
suficientemente encorajados para testar esta abordagem num pequeno ensaio
clínico com crianças autistas no próximo ano", desvenda o
docente. "Acreditamos que esta terapia [denominada terapia
antipurinérgica, APT na sigla em inglês] oferece um caminho novo e
entusiasmante que poderá levar ao desenvolvimento de fármacos para tratar o
autismo", garante.
Segundo o
coordenador da investigação, a eficácia demonstrada no estudo quanto à
utilização deste tipo de terapia para "reprogramar a resposta das células
ao perigo e reduzir a inflamação" constitui-se, portanto, "como uma
oportunidade de desenvolver novos anti-inflamatórios para tratar esta e outras
doenças".
FONTE
3)
Estudo completo em inglês.
4)
(http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0057380
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