Passo a expor o meu pensamento a respeito desta
polêmica envolvendo autistas adultos do município de Rio Grande/RS, e
respectivas famílias, e a escola Municipal de Educação Especial Maria Lúcia
Luzzardi.
Penso que é necessário analisar a questão pelos
distintos prismas, talvez interesses, envolvidos.
Resumindo estes em grandes
grupos, temos:
1) família com filhos adultos;
2) Escola, sua direção e
respectivo corpo técnico;
3) poder público (Município de Rio Grande) e 4)
família com filhos menores.
Os dois primeiros com participação relevante na
criação, existência desta escola modelo para o Brasil inteiro.
O terceiro é o mantenedor desta escola.
Os últimos são usuários desta escola.
Uma observação para auxiliar a fechar o raciocínio:
hoje, de um modo geral, há muito mais incidência de casos de autismo que no
passado, porém, num grau mais ameno, mais sutil, que o apresentado pelas
crianças de duas, três décadas atrás.
Voltando...
Os primeiros (família com filhos adultos) lutaram
arduamente, no passado, para que esta escola existisse. A escola lhes fornece,
desde então, um auxílio importantíssimo, seja na educação, seja no carinho e
atenção ou mesmo no cuidado diário.
A segunda (escola), como o nome mesmo diz, é voltada
para a educação, para o aprendizado, para a evolução do assistido. Seus
profissionais estudaram e especializaram-se para proporcionar a educação aos
especiais. E este é o seu objetivo principal e, diria, primordial.
O terceiro (município), que é quem deveria estar
mais envolvido na questão, é quem tem obrigação (frente à constituição e às
leis) de assistir o cidadão especial, assim como o típico carente, de prover a
necessidade das famílias especiais, tanto na educação como nos cuidados
diários.
Os últimos (família com filhos menores) são
usuários/“clientes” da escola e, alguns destes, parceiros da escola.
A escola, reduzindo o horário de atendimento aos
autistas adultos que não a utilizam para aprendizado pedagógico, foca no seu
objetivo essencial que é o ensino/aprendizado do autista, o que possibilitará
um aperfeiçoamento maior de sua força de trabalho e, por conseguinte, uma
melhor prestação de serviço aos autistas mais novos, ou seja, os da família com
filhos menores, cuja demanda tem aumentado sobremaneira.
As família com filhos adultos, que há tempo já não
possuem uma relação harmônica com a direção e o corpo técnico da escola,
sentem-se excluídos e apunhalados com a decisão da escola (reduzir horário de
atendimento aos autistas adultos que não apresentam ganho pedagógico). Além de
que, para estes, surgirá maior dificuldade pela frente, fora todas as pedras
que já tiveram que tirar de seus caminhos nesta longa caminhada, pois, a partir
de agora, terão que ocupar, sozinhos, o tempo no qual a escola cuidava de seus
autistas.
Sei que muitos pais de autistas adultos possuem
participação essencial na existência desta escola, assim como muitos da direção
e do corpo técnico atuais da escola também...
E o município??
Inicialmente, é necessário esclarecer que os
riograndinos com autistas em suas famílias são abençoados, pois esta cidade
possui uma escola, pública, para estes cidadãos especiais que pode ser
considerada modelo e que MUITOSSSSS pais Brasil afora gostariam de ter em suas
cidades. É uma questão em que o poder público deveria agir, em todas as
cidades, mas raras são as exceções em que políticas públicas benéficas são
implantadas.
Então, O RESPONSÁVEL DE SUPRIR ESTA LACUNA É O
PRÓPRIO MUNICÍPÍO.
O município tem a obrigação de continuar prestando o serviço
de educação e aprendizado às crianças autistas, assim como tem o dever de
continuar auxiliando, assistindo, às famílias de autistas adultos, mesmo que
para isso tenha que criar instituição nova, específica para os cuidados destes,
inclusive em tempo integral.
Portanto, todos têm o que defender, todos possuem a
sua razão no caso, mas só um, o município (poder público), possui a obrigação
de prover as necessidades das famílias com autistas adultos, das famílias com
autistas mais novos, bem como as demais famílias necessitadas.
As intrigas, desavenças e declarações inflamadas
não levarão à solução.
Paz no coração de todos, que Deus nos auxilie e
proteja e QUE O PODER PÚBLICO, ATRAVÉS DE POLÍTICAS PÚBLICAS, SUPRA TODAS AS
NECESSIDADES ESSENCIAIS DOS ESPECIAIS (NO CASO), E TAMBÉM DOS NÃO ESPECIAIS!
Anderson Clivatti dos Santos
Amigo dos Autistas
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