Assim que a cortina desceu e o teatro lotado começou
a aplaudir, Wilker Vilela, 12, ficou feliz com a sua estreia nos palcos.
"Gostei, é muito bom o calor dos aplausos."
Wilker é um dos 21 jovens do projeto Aut, que busca,
por meio do teatro, ajudar crianças com autismo a melhorar suas habilidades
sociais e a superar dificuldades de comunicação.
Wilker Vilela, 12, encena peça musical no teatro Dias Gomes, em SP |
Depois de um ano de ensaios semanais, a estreia do
musical teatral aconteceu no mês passado, no teatro Dias Gomes, em São Paulo.
No início, conta Ribeiro, os jovens não olhavam uns
para os outros, apenas para baixo. O som alto, o ambiente apertado da coxia e a
expressão das emoções em cada fala foram dificuldades superadas pelos agora
atores.
Apesar de o objetivo inicial não ter sido uma
terapia formal, as aulas de teatro acabaram dando resultados. A melhora na
empatia dos jovens será medida por testes.
Esse tipo de atividade em grupo tem sido cada vez
mais procurada pelos pais das crianças com autismo, segundo a psicóloga Roberta
Marcello, diretora do instituto Priorit, no Rio.
"O foco é estimular a troca social das
crianças", diz ela. Entre as atividades oferecidas na Priorit,
especializada no tratamento de crianças com autismo e deficit de atenção, estão
a capoeira, o judô, o canto e o desenho, indicadas a partir dos quatro anos de
idade e realizadas com terapeutas que as adaptam à realidade do transtorno.
Segundo a psicóloga, muitos pais buscavam essas
atividades em escolas normais, mas as crianças não conseguiam se adequar.
"É importante não só contornar as dificuldades
da criança mas estimular suas habilidades", diz Marcello.
Segundo a psicóloga Caia Pacífico, colaboradora no
Ambulatório de Autismo do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP, essas
atividades não podem ser consideradas terapias, pois carecem de evidências
científicas, "mas podem ter caráter terapêutico, na medida em que
favorecem uma interação com o outro".
TERAPIAS
Entre os tratamentos individuais do autismo,
destacam-se as terapias comportamentais e a psicanálise, sendo que a última tem
sido alvo de críticas pela alegada falta de estudos científicos que comprovem
seus resultados.
O método ABA (análise aplicada do comportamento, em
inglês), usado desde a década de 1960, baseia-se em programas estruturados sob
a ideia de um comando, um comportamento resultante (reação ou falta de reação)
e uma consequência, como a recompensa por um comportamento desejado, explica a
psicóloga comportamental Cláudia Romano, diretora do grupo Gradual.
"Há programas para desenvolver a sociabilidade,
treinar o uso do banheiro, para alfabetização, linguagem etc.", completa
Pacífico.
Já o Teacch (Tratamento e Educação para Autistas e
Crianças com Deficits relacionados com a Comunicação), desenvolvido no início
dos anos 1970, usa estímulos visuais, como figuras, e corporais, como gestos,
para a comunicação.
A psicanálise, por outro lado, não se concentra nos
sintomas. Segundo Vera Regina Fonseca, diretora científica da Sociedade
Brasileira de Psicanálise, o método busca a superação das dificuldades de
relacionamento da criança por meio de jogos e da participação ativa do
analista, como objeto de desenvolvimento da criança.
O objetivo é que ela consiga compartilhar emoções e
compreender o que outras pessoas estão sentindo.
"Buscamos identificar quem a criança é, e não
como gostaríamos que ela fosse. As outras terapias têm uma ideia de como a
criança deve ser."
O Centro de Educação Terapêutica Lugar de Vida, em
São Paulo, usa uma abordagem que mescla a psicanálise com a educação e também
as atividades em grupo.
"Partimos da ideia de que a educação constrói a
subjetividade e molda um modo de ser e como a criança se relaciona com os
outros", diz Maria Cristina Kupfer, uma das fundadoras da instituição.
Uma característica do local são os grupos de
educação terapêutica. "Formamos minigrupos com crianças com diferentes
dificuldades, formando uma pequena experiência do que seria uma socialização de
fato", diz Cristina Keiko, do conselho administrativo da instituição. Entre
as atividades propostas estão oficinas de música, de cozinha e de escrita.
Maria Eugênia Pesaro, também da Lugar de Vida, diz
que há uma busca por dar voz à criança autista: "Isso não significa que
ela tenha de falar, o objetivo é que o que quer que a criança produza, seja
fala, seja outro meio de expressão, tenha a ver com querer estar com o
outro."
Para melhor visualização clique na imagem.
FONTE:
FERNANDO TADEU MORAES
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