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De acordo com o pesquisador, Ami Klin, o diagnóstico precoce pode atenuar limitações do autismo. |
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento que,
entre outras consequências, afeta profundamente a capacidade de estabelecer
relações sociais. O isolamento e o universo absolutamente particular do autista
vêm intrigando pesquisadores do tema e são fontes de angústia e sofrimento para
pais e familiares de portadores do transtorno.
Por que uma criança aparentemente normal começa a
se fechar em si até se isolar completamente? A resposta para esse
questionamento ainda está longe de ser totalmente elucidada, mas é consenso
entre especialistas no tema que o diagnóstico precoce pode interferir no
desenvolvimento do distúrbio, atenuando muitas das características que impedem
o autista de interagir socialmente.
É nesse ponto que entra o trabalho do brasileiro
Ami Klin, diretor do Marcus Autism Center, o maior centro de pesquisa e
tratamento do distúrbio nos Estados Unidos. Há mais de uma década, Klin e
equipe vêm desenvolvendo uma forma de identificar precocemente os sinais do
autismo, analisando como crianças sem e com o transtorno direcionam a atenção
quando expostas a vídeos com situações rotineiras de interação social.
Atualmente, o grupo já conseguiu estabelecer padrões de identificação do
distúrbio até em bebês de poucos meses.
Desde as primeiras semanas de vida, explica Klin,
os recém-nascidos preferem escutar a voz humana – preferencialmente de quem
cuida deles – e dão mais atenção aos olhos de seus cuidadores do que a qualquer
outra coisa ao redor. Essa preferência é algo instintivo, faz parte de um
mecanismo de desenvolvimento social no qual a criança precisa estabelecer laços
com quem cuida dela, pois disso dependerá nada menos do que a própria
sobrevivência. É por meio dessa interação que os bebês vão se tornando sociais
e se fazem entender usando o olhar, o choro, o riso, os gritos, os gestos, os
primeiros balbucios e finalmente a fala.
Essa interrupção no processo de construção da
interação social acaba gerando e agravando o isolamento, os problemas de
linguagem, o retardo mental e a dificuldade para intuir os sentimentos dos
outros em situações de interação. Sem essas habilidades básicas, o autista vai
se isolando cada vez mais do mundo e das pessoas, para mergulhar no mundo das
coisas.
“A maior parte das incapacitações associadas ao
autismo tem a ver com os problemas gerados pela dificuldade de interação
social. Aqui nos Estados Unidos o diagnóstico correto do distúrbio ocorre, em
média, aos cinco anos. Em classes menos favorecidas, isso demora mais ainda. É
muito tarde”, diz Klin.
A pesquisa desenvolvida por Klin e equipe se propõe
a identificar, por meio de uma técnica chamada eye-tracking, o rastreamento do
movimento dos olhos, sinais de que a atenção da criança está mais focada em
coisas do que em pessoas – um indicativo da presença do distúrbio.
O foco da atenção em objetos e outras áreas que não
o rosto (especialmente olhos e boca) do interlocutor, aliás, é uma das
primeiras coisas que as mães de crianças autistas percebem de estranho com seus
bebês. Quanto mais cedo essa suspeita foi investigada, maiores serão as chances
interferir na evolução do transtorno e, assim, atenuar as características mais
incapacitantes do autismo, como o retardo mental, por exemplo.
Interromper o caminho em direção ao isolamento não
é uma tarefa simples e depende da ajuda de profissionais capacitados, além de
um grande envolvimento dos pais e familiares da criança. “Sempre digo aos pais,
durante o diagnóstico: um filho com autismo é um desafio, mas hoje há muito a
ser feito, dependendo da idade e do perfil do transtorno. Sempre digo a eles
para não pensarem no futuro e sim no presente. Digo para não limitarem as
próprias aspirações em relação a essas crianças e os estimulo a tentarem
entender as forças e as fraquezas delas, para se focarem em tratar as fraquezas
o quanto antes. O objetivo não deve ser curar o autismo, mas criar uma situação
em que essas pessoas possam se desenvolver e ser felizes”, comenta o
especialista.
Fonte: IG
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