Carta de um leitor de Curitiba e o início de uma autocrítica que só pode ser feita na prática do dia-a-dia
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Ao
Editor e Jornalista responsável do Jornal Contato
PEDRO
VENCESLAU
Refiro-me a matéria publicada na Edição
de 11 de junho de 2014
Autismo político no Palácio do
Bom Conselho?
Senhor Editor.
Observei
na matéria de título acima que foi utilizada a palavra “autismo” para
caracterizar, pessoas públicas da sua cidade, como uma característica
desqualificante.
Uma
vez que não há identificação do autor, repórter presumo, ele fica isento da
responsabilidade de ler o que não quer, já que escreveu a seu ver o que quis,
porém, sabemos que nestes casos sempre sobra para o editor, que direta ou
indiretamente expõe seus conhecimentos sobre autismo do seu ponto de vista, a
nosso ver equivocado e discriminatório.
Ao
redigir esta mensagem, não quis repetir a identificação dos vereadores de
Taubaté, expostos na sua matéria, para não reativar a lavanderia de roupas
sujas de suas alegações, que mesmo sendo infundadas, não constituiriam crime, pois
compreensíveis são vítimas da democracia que eles entendem, cheia de feridas não
cicatrizadas. Culpa das conveniências que eles mesmos ambicionam e geram para
si.
A
matéria ratifica as diferenças abissais entre o prefeito anterior e o atual de
Taubaté como uma maldição palaciana que segue a mesma trilha, embora se esforce
para manter as aparências ao revelar “sintomas de autismo político” como se a
síndrome fosse o mal que assola a administração da sua cidade provocando o descompasso
entre os poderes.
Não
seria nada inconveniente se o prefeito, atual, se munisse de rezas e patuás para
se blindar da inveja, pragas e calúnias expressas pelos vereadores que geraram a
matéria em pauta, que comparadas a intrigas de esquina são inócuas, alegações
infundadas, pois sequer são vitimas do seu opositor político.
Senhor
editor, AUTISMO não é uma maldição que possa se abater sobre este ou aquele,
pois nada tem a ver com incompetência.
Para
seu conhecimento e dos leitores do Jornal Contato que não sabem, sem
generalizar é claro, até por achar que é uma palavra diferente, principalmente
para estigmatizar pessoas, a realidade do AUTISMO, está catalogada no Código
Internacional de Doenças - CID-10 (F81- F81. 0 - F81.1 - F81.2 - F81.3 - F81.8 e
F81.9). Se não lhe for enfadonho, ou julgar uma perda de tempo, não precisa ser
com profundidade, mas sugiro que leia estas definições.
O
AUTISMO é fundamentalmente uma forma particular de se situar no mundo e,
portanto, de se construir uma realidade para si mesmo. Associado ou não a
causas orgânicas. O autismo é reconhecível pelos sintomas que impedem ou
dificultam seriamente o processo de entrada na linguagem para uma pessoa, desde
criança, a comunicação e o laço social.
As
estereotipias, as ecolalias, a ausência de linguagem, a autoagressividade, os
solilóquios, a insensibilidade à dor ou a falta de sensação de perigo, são
alguns dos sintomas que mostram o isolamento da criança ou do adulto em relação
ao mundo que o rodeia e sua tendência a bastar-se a si mesmo.
Eu estou
escrevendo para o senhor como cidadão preocupado e pai de um filho diagnosticado
com autismo. Esta ação é mais uma busca de ajuda para que a sociedade entenda o
que é autismo e como estas pessoas podem ter uma qualidade de vida imensamente
maior SE além de receberem a apropriada ajuda, haja conscientização e se criem
meios de utilização das políticas públicas de saúde, sem discriminação e sem
preconceito.
Existe
uma imensurável polêmica nas possíveis causas do autismo, e exatamente neste
ponto é que o Jornal Contato poderia pautar suas informações, além da
necessidade de informação e conscientização para proteção e cuidados para qualquer
pessoa no espectro autista, no mínimo.
Rotular qualquer pessoa, não importa quem seja
como autista, além de representar ignorância sobre a síndrome, é um caso de
covardia e crueldade.
Quando citações
como a sua no Autismo
político no Palácio do Bom Conselho? sobre os prefeitos e vereadores de
Taubaté, comprova-se que: a síndrome de
falar asneira, também afetou quem tem nas mãos o poder de propor leis que levem
à melhoria da condição de vida das pessoas deficientes da mente, autistas ou
não.
Não tenho
conhecimento, mas o Jornal Contato já fez alguma reportagem sobre a existência,
causa, tratamento e consequências na cidade de Taubaté/Vale do Paraíba?
Além do
senhor, farei desta mensagem uma extensão aos vereadores e ao prefeito atual para
dizê-los que a síndrome do Autismo não é contagiosa e que eles enquanto
detentores da palavra na tribuna da Câmara ou fora dela, jamais a pronunciem
que não seja para contribuir com o que a cidade pode fazer pelas pessoas
naquela condição.
E diria a
este grupo de vereadores citados, que salvo engano meu: discriminação e
preconceito não caberiam na biografia deles, principalmente como jornalista e
professores que são, e que certamente tanto prezam.
Quanto à editoria do Jornal
Contato sugerimos que instrua ao seu repórter que a sociedade tem abismos que
convém não mexer nem provocar, sem conhecimento de causa. Ele não se deu conta
disso, talvez por falta de conhecimento, ou experiência jornalística de cutucar
bichos que todo pai de autista traz na alma.
A condição autista que afeta nossos filhos, senhor
editor, não deve ser desejada ao seu pior inimigo, pois também é seu dever
evitar que ela venha se tornar um triste estigma. É uma síndrome que ainda não
tem cura.
Se o ex-prefeito, o atual e os vereadores
desta pauta sofrem de algum distúrbio comportamental, ou algum componente da
sua conjuntura política é isso ou aquilo, não nos cabe diagnosticar a doença.
Cabe-nos
sim, tentar impedir que nossos filhos sofram mais do que o inevitável.
Respeitosamente,
Nilton
Salvador
Pai de
Autista
Curitiba,
12 de junho de 2014
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FONTE:
http://jornalcontato.com.br/home/index.php/2014/06/17/autismo-politico-no-palacio-do-bom-conselho-2/
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