quarta-feira, 18 de junho de 2014

Autismo político no Palácio do Bom Conselho?

Carta de um leitor de Curitiba e o início de uma autocrítica que só pode ser feita na prática do dia-a-dia
www.jornalcontato.com.br
Ao Editor e Jornalista responsável do Jornal Contato

PEDRO VENCESLAU

Refiro-me a matéria publicada na Edição de 11 de junho de 2014
Autismo político no Palácio do Bom Conselho?

Senhor Editor.
Observei na matéria de título acima que foi utilizada a palavra “autismo” para caracterizar, pessoas públicas da sua cidade, como uma característica desqualificante.
Uma vez que não há identificação do autor, repórter presumo, ele fica isento da responsabilidade de ler o que não quer, já que escreveu a seu ver o que quis, porém, sabemos que nestes casos sempre sobra para o editor, que direta ou indiretamente expõe seus conhecimentos sobre autismo do seu ponto de vista, a nosso ver equivocado e discriminatório.
Ao redigir esta mensagem, não quis repetir a identificação dos vereadores de Taubaté, expostos na sua matéria, para não reativar a lavanderia de roupas sujas de suas alegações, que mesmo sendo infundadas, não constituiriam crime, pois compreensíveis são vítimas da democracia que eles entendem, cheia de feridas não cicatrizadas. Culpa das conveniências que eles mesmos ambicionam e geram para si.
A matéria ratifica as diferenças abissais entre o prefeito anterior e o atual de Taubaté como uma maldição palaciana que segue a mesma trilha, embora se esforce para manter as aparências ao revelar “sintomas de autismo político” como se a síndrome fosse o mal que assola a administração da sua cidade provocando o descompasso entre os poderes.
Não seria nada inconveniente se o prefeito, atual, se munisse de rezas e patuás para se blindar da inveja, pragas e calúnias expressas pelos vereadores que geraram a matéria em pauta, que comparadas a intrigas de esquina são inócuas, alegações infundadas, pois sequer são vitimas do seu opositor político.
Senhor editor, AUTISMO não é uma maldição que possa se abater sobre este ou aquele, pois nada tem a ver com incompetência.
Para seu conhecimento e dos leitores do Jornal Contato que não sabem, sem generalizar é claro, até por achar que é uma palavra diferente, principalmente para estigmatizar pessoas, a realidade do AUTISMO, está catalogada no Código Internacional de Doenças - CID-10 (F81- F81. 0 - F81.1 - F81.2 - F81.3 - F81.8 e F81.9). Se não lhe for enfadonho, ou julgar uma perda de tempo, não precisa ser com profundidade, mas sugiro que leia estas definições.
O AUTISMO é fundamentalmente uma forma particular de se situar no mundo e, portanto, de se construir uma realidade para si mesmo. Associado ou não a causas orgânicas. O autismo é reconhecível pelos sintomas que impedem ou dificultam seriamente o processo de entrada na linguagem para uma pessoa, desde criança, a comunicação e o laço social.
As estereotipias, as ecolalias, a ausência de linguagem, a autoagressividade, os solilóquios, a insensibilidade à dor ou a falta de sensação de perigo, são alguns dos sintomas que mostram o isolamento da criança ou do adulto em relação ao mundo que o rodeia e sua tendência a bastar-se a si mesmo.
Eu estou escrevendo para o senhor como cidadão preocupado e pai de um filho diagnosticado com autismo. Esta ação é mais uma busca de ajuda para que a sociedade entenda o que é autismo e como estas pessoas podem ter uma qualidade de vida imensamente maior SE além de receberem a apropriada ajuda, haja conscientização e se criem meios de utilização das políticas públicas de saúde, sem discriminação e sem preconceito.
Existe uma imensurável polêmica nas possíveis causas do autismo, e exatamente neste ponto é que o Jornal Contato poderia pautar suas informações, além da necessidade de informação e conscientização para proteção e cuidados para qualquer pessoa no espectro autista, no mínimo.
 Rotular qualquer pessoa, não importa quem seja como autista, além de representar ignorância sobre a síndrome, é um caso de covardia e crueldade.
Quando citações como a sua no Autismo político no Palácio do Bom Conselho? sobre os prefeitos e vereadores de Taubaté, comprova-se que: a síndrome de falar asneira, também afetou quem tem nas mãos o poder de propor leis que levem à melhoria da condição de vida das pessoas deficientes da mente, autistas ou não.
Não tenho conhecimento, mas o Jornal Contato já fez alguma reportagem sobre a existência, causa, tratamento e consequências na cidade de Taubaté/Vale do Paraíba?
Além do senhor, farei desta mensagem uma extensão aos vereadores e ao prefeito atual para dizê-los que a síndrome do Autismo não é contagiosa e que eles enquanto detentores da palavra na tribuna da Câmara ou fora dela, jamais a pronunciem que não seja para contribuir com o que a cidade pode fazer pelas pessoas naquela condição.
E diria a este grupo de vereadores citados, que salvo engano meu: discriminação e preconceito não caberiam na biografia deles, principalmente como jornalista e professores que são, e que certamente tanto prezam.
Quanto à editoria do Jornal Contato sugerimos que instrua ao seu repórter que a sociedade tem abismos que convém não mexer nem provocar, sem conhecimento de causa. Ele não se deu conta disso, talvez por falta de conhecimento, ou experiência jornalística de cutucar bichos que todo pai de autista traz na alma.
 A condição autista que afeta nossos filhos, senhor editor, não deve ser desejada ao seu pior inimigo, pois também é seu dever evitar que ela venha se tornar um triste estigma. É uma síndrome que ainda não tem cura.
 Se o ex-prefeito, o atual e os vereadores desta pauta sofrem de algum distúrbio comportamental, ou algum componente da sua conjuntura política é isso ou aquilo, não nos cabe diagnosticar a doença.
Cabe-nos sim, tentar impedir que nossos filhos sofram mais do que o inevitável.
Respeitosamente,
Nilton Salvador
Pai de Autista
Curitiba, 12 de junho de 2014

=====================================================================
FONTE:
http://jornalcontato.com.br/home/index.php/2014/06/17/autismo-politico-no-palacio-do-bom-conselho-2/

Nenhum comentário: