Estamos em uma época de crise social,
política e econômica, de discussões intermináveis e de uma espécie de cisão que
começou a aparecer com a campanha eleitoral do ano passado.
Sim: crises de fato azem parte de
qualquer país, em qualquer região do mundo ou em qualquer tempo. Mas o triste é
ver como alguns dos nossos cidadãos enxergam “a saída”: uma espécie de divisão
do Brasil em regiões, pautando-se pela divisão entre pobres versus ricos,
nordeste versus sudeste (como se não houvesse outra região no país), sul versus
“o resto”.
Essa guerra civil tácita, esse
sentimento de embate de acordo com as inclinações políticas ou posições
sociais, dificilmente nos fará algum bem enquanto povo. Estava pensando nisso
dia desses quando me deparei, em uma busca aleatória, com a literatura de
Cordel.
Tudo bem que a herdamos dos
portugueses, mas foi com base nesse estilo tão singular que o Nordeste
conseguiu contar as suas próprias histórias e se consolidar como povo. Cordel é
pura arte nascida do improvável.
É beleza bucólica, meio triste, meio
esperançosa, completamente incrível.
E completamente Brasil – assim como o
realismo, o concretismo e outras tantas linhas que nasceram pelos quatro cantos
do país.
E por que essa mistura de assuntos?
Ora… porque, se conseguimos construir
tantas coisas maravilhosas juntos, como é possível que alguém realmente
acredite que o segredo do sucesso está em separar os estados e regiões em
outros países?
Qual bem faria ao Sudeste perder o
Cordel como expressão nacional? E para o Nordeste? O que ganharia essa região
ao perder Machado de Assis? O sul ficaria realmente melhor sem Graciliano
Ramos? E o centro-oeste sem Mário Quintana?
Todos esses nomes vão além de seus
estados – eles são brasileiros inteiros, forjados a partir das referências
nacionais de todas as partes. Seria triste perdermos isso.
Editorial Clube de
Autores
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