sábado, 2 de abril de 2016

‘A cura é possível, é só uma questão de ‘quando’’, diz Alysson Muotri


Muotri em laboratório. ‘Toda informação é importante para irmos montando o quebra-cabeça do autismo’
Muotri em laboratório. 
‘Toda informação é importante para irmos montando o quebra-cabeça do autismo’ 
Foto: Terceiro / Divulgação
Em 2010 o biólogo molecular Alysson Muotri, pós-doutor em neurociência e células-tronco no Instituto Salk de Pesquisas Biológicas (EUA) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego ganhou a capa da revista científica “Cell” com uma pesquisa que conseguiu transformar neurônios de pacientes com a síndrome de Rett em neurônios saudáveis e, em 2012, sua equipe publicou na revista “Molecular Psychiatry” um novo segmento da pesquisa, que reprogramou células-tronco da polpa do dente de leite de pessoas autistas como neurônios de um autista clássico e, a partir disso, mapeou os genes defeituosos, encontrando diversas mutações.
Agora, seu novo trabalho mostrará as vias moleculares que causam macrocefalia em autistas (o problema afeta 30% de quem tem a condição) e testes com drogas que corrigem esse defeito. A ser publicada ainda este ano, a pesquisa abre perspectivas terapêuticas para aqueles nesse tipo de autismo. Para o pesquisador, a cura do autismo não é mais um sonho, é apenas uma questão de tempo.
Com tudo o que se descobriu até agora de causas e diagnóstico de autismo, além dos avanços na reprogramação celular, dá para dizer em quanto tempo teremos uma cura para o autismo e que caminhos levam a isso com mais chances de sucesso?
É muito difícil de prever quanto teríamos a cura? Seria a cura total ou a cura de alguns dos sintomas? Não sabemos, pois todos esses insights só virão realmente durante os ensaios clínicos. A ciência é vagarosa, pois a saúde das pessoas está em jogo, então queremos sempre ter certeza absoluta do que iremos testar nos autistas. Por outro lado, a ciência também não é linear e amanhã ou depois alguma novidade pode surgir e acelerar tudo. O que sabemos hoje é que isso é possível, não é mais um sonho. Além disso, sabemos qual o caminho. Portanto, ao meu ver é so uma questão de “quando” e não mais “se” ou “como”.
Até hoje tudo o que se discute, desde terapia cognitivo-comportamental até um estudo pequeno com injeções de vitamina B12, tem como objetivo amenizar os sintomas do autismo. Por que é tão difícil chegar à causa?
As causas são variáveis, não existe causa única. A genética mostra isso claramente.
Um estudo recente revelou que autistas viviam em média 16 anos a menos que a população em geral, seja por suicídio ou em decorrência de problemas cardíacos. Outros falam da prevalência em meninos (estudo da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, publicado em 31 de março, mostra que meninos têm probabilidade 4,5 vezes maior de apresentar a condição na comparação com meninas). Qual a relevância biológica dessas descobertas? Em quê contribuem para estudos futuros?
Bastante relevantes. Toda informação é importante para irmos montando o quebra-cabeça do autismo. Saber que ele é mais frequente em meninos sugere uma proteção vinda do cromossomo X. Saber que eles tem uma sobrevida menor, nos faz olhar para as causas disso e aprender como os genes implicados no autismo funcionam. Enfim, contanto que a pesquisa seja feita de forma correta, ela direta ou indiretamente acaba contribuindo para nosso conhecimento do autismo.
Qual é o seu novo foco de pesquisa?
Temos um trabalho que será publicado ainda este ano mostrando alterações em proliferação celular e redução de conexões nervosas em neurônios de autistas com macrocefalia (cerca de 30% deles). Além disso, descobrimos quais vias moleculares causam o problema e testamos drogas que corrigem o defeito. Esse trabalho vai abrir perspectivas terapêuticas para aqueles que estariam nesse tipo de autismo.
 
FONTE:
Viviane Nogueira - O Globo

http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/a-cura-possivel-so-uma-questao-de-quando-diz-alysson-muotri-19000310.html

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