Muotri em laboratório.
‘Toda informação é importante para irmos montando o quebra-cabeça do autismo’
Foto: Terceiro / Divulgação
|
Em 2010 o biólogo molecular
Alysson Muotri, pós-doutor em neurociência e células-tronco no Instituto Salk
de Pesquisas Biológicas (EUA) e professor da Faculdade de Medicina da
Universidade da Califórnia em San Diego ganhou a capa da revista científica
“Cell” com uma pesquisa que conseguiu transformar neurônios de pacientes com a síndrome
de Rett em neurônios saudáveis e, em 2012, sua equipe publicou na revista
“Molecular Psychiatry” um novo segmento da pesquisa, que reprogramou
células-tronco da polpa do dente de leite de pessoas autistas como neurônios de
um autista clássico e, a partir disso, mapeou os genes defeituosos, encontrando
diversas mutações.
Agora, seu novo trabalho
mostrará as vias moleculares que causam macrocefalia em autistas (o problema
afeta 30% de quem tem a condição) e testes com drogas que corrigem esse
defeito. A ser publicada ainda este ano, a pesquisa abre perspectivas
terapêuticas para aqueles nesse tipo de autismo. Para o pesquisador, a cura do
autismo não é mais um sonho, é apenas uma questão de tempo.
Com tudo o que se descobriu até
agora de causas e diagnóstico de autismo, além dos avanços na reprogramação
celular, dá para dizer em quanto tempo teremos uma cura para o autismo e que
caminhos levam a isso com mais chances de sucesso?
É muito difícil de prever quanto
teríamos a cura? Seria a cura total ou a cura de alguns dos sintomas? Não
sabemos, pois todos esses insights só virão realmente durante os ensaios
clínicos. A ciência é vagarosa, pois a saúde das pessoas está em jogo, então
queremos sempre ter certeza absoluta do que iremos testar nos autistas. Por
outro lado, a ciência também não é linear e amanhã ou depois alguma novidade
pode surgir e acelerar tudo. O que sabemos hoje é que isso é possível, não é
mais um sonho. Além disso, sabemos qual o caminho. Portanto, ao meu ver é so
uma questão de “quando” e não mais “se” ou “como”.
Até hoje tudo o que se discute,
desde terapia cognitivo-comportamental até um estudo pequeno com injeções de
vitamina B12, tem como objetivo amenizar os sintomas do autismo. Por que é tão
difícil chegar à causa?
As causas são variáveis, não
existe causa única. A genética mostra isso claramente.
Um estudo recente revelou que
autistas viviam em média 16 anos a menos que a população em geral, seja por
suicídio ou em decorrência de problemas cardíacos. Outros falam da prevalência
em meninos (estudo da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins,
publicado em 31 de março, mostra que meninos têm probabilidade 4,5 vezes maior
de apresentar a condição na comparação com meninas). Qual a relevância
biológica dessas descobertas? Em quê contribuem para estudos futuros?
Bastante relevantes. Toda
informação é importante para irmos montando o quebra-cabeça do autismo. Saber
que ele é mais frequente em meninos sugere uma proteção vinda do cromossomo X.
Saber que eles tem uma sobrevida menor, nos faz olhar para as causas disso e
aprender como os genes implicados no autismo funcionam. Enfim, contanto que a
pesquisa seja feita de forma correta, ela direta ou indiretamente acaba
contribuindo para nosso conhecimento do autismo.
Qual é o seu novo foco de
pesquisa?
Temos um trabalho que será
publicado ainda este ano mostrando alterações em proliferação celular e redução
de conexões nervosas em neurônios de autistas com macrocefalia (cerca de 30%
deles). Além disso, descobrimos quais vias moleculares causam o problema e
testamos drogas que corrigem o defeito. Esse trabalho vai abrir perspectivas
terapêuticas para aqueles que estariam nesse tipo de autismo.
FONTE:
Viviane Nogueira - O Globo
Viviane Nogueira - O Globo
http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/a-cura-possivel-so-uma-questao-de-quando-diz-alysson-muotri-19000310.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário