Americana criou uma série de
mudanças radicais na indústria da carne nos Estados Unidos e é considerada uma
autoridade mundial em saúde animal.
Temple
Grandin fica no meio dos animais para enxergar os problemas que eles enfrentam |
Quando era criança, a americana
Temple Grandin não se relacionava com outras pessoas e só começou a falar aos
quatro anos de idade. Hoje, é uma celebridade, foi tema de filmes, dá aulas na
Universidade de Colorado, é assessora do governo dos Estados Unidos e uma
autoridade mundial em saúde animal.
Temple Grandin foi diagnosticada
com autismo durante a infância. A empatia de Grandin com o gado e sua capacidade
de entender o que os animais sentem levou à introdução de uma série de mudanças
radicais no trabalho com o gado e na indústria de carne americana.
Seus livros e palestras a
tornaram tão popular que sua vida foi mostrada em documentário para televisão americana
e européia.
Grandin esteve recentemente no
Uruguai, participando de um encontro sobre saúde animal.
Ela afirmou que o autismo está
na raiz de sua habilidade.
"O autismo me ajuda a
entender o gado", disse Grandin em entrevista à BBC.
"Penso de forma totalmente
visual e é assim que os animais pensam. Minhas memórias são fotográficas e este
pensamento visual me permite perceber detalhes que podem aterrorizar os
animais, como as sombras, os reflexos no metal ou uma entrada que é muito
escura."
A professora afirmou que suas
memórias parecem um vídeo que ela pode passar várias vezes em sua mente,
explorando cada detalhe.
Detalhes e métodos
Grandin disse que tanto a
"mente autista como a mente animal" notam detalhes que podem parecer
mínimos para outras pessoas.
Em um dos casos em que
trabalhou, ela notou que o gado parava abruptamente na entrada de um curral e
que isso ocorria devido aos objetos que estavam espalhados no caminho dos
animais.
"Penso de forma totalmente
visual e é assim que os animais pensam."
Temple Grandin
Em outro caso, o que assustava
os animais era uma entrada muito escura. Ao invés de reconstruir o curral, a
abertura de uma janela foi o suficiente para resolver o problema.
Os métodos utilizados por
Grandin não são convencionais e incluem deitar-se no chão, no local onde o gado
fica, para que os animais se aproximem, como se fosse uma
"encantadora" de gado.
"O gado se sente ameaçado
por coisas desconhecidas (...). Uma vaca em uma fazenda de leite vai caminhar
sem problemas sobre uma sombra se a vê todos os dias. Mas um animal em um
curral vai se assustar com esta mesma sombra se a ver como algo novo."
Bem-estar e medo
Grandin disse à BBC ser
fundamental para a saúde dos animais que os abatedouros obedeçam a alguns requisitos.
"Paredes sólidas e um chão
que não escorrega são essenciais. Os animais entram em pânico quando
escorregam", afirmou.
"Os funcionários também
devem manter a calma e reduzir muito o uso do bastão elétrico (para ajudar a
conduzir o rebanho). A forma como os animais são tratados afeta a qualidade da
carne. O uso do bastão e a agitação durante os últimos cinco minutos antes do
abate fazem com que a carne fique mais dura", disse.
No entanto, a professora afirma
que a principal razão de mudar o tratamento dos animais é que "eles são
capazes de sentir tanto medo como dor".
Alguns críticos perguntam a
razão de se melhorar o bem-estar do gado se eles serão mortos para o consumo
humano e se o melhor seria simplesmente não matar estes animais.
"Quando me perguntam como
posso justificar a matança de animais para o consumo de sua carne, minha
resposta é a seguinte: o gado não teria nascido se não os tivéssemos criado com
fins alimentícios. Devemos dar a eles uma vida boa e uma morte sem dor",
afirmou Grandin.
Palestras
Além de seu trabalho com
bem-estar animal, Grandin também dá numerosa palestras sobre autismo,
destacando a importância de fornecer logo cedo o apoio de professores capazes
de dirigir as fixações de crianças autistas em direções que rendam frutos.
"(Albert) Einstein hoje
seria diagnosticado como autista. Ele não falou até os três anos de
idade."
"Steve Jobs, o fundador da
Apple, foi perseguido por seus colegas de escola e era considerado um
solitário, estranho quando estava na escola", disse Grandin à BBC.
"As pessoas diferentes são
capazes de conseguir coisas grandiosas", acrescentou.
Fonte:
BBC
Foto:
Rosalie Winard