segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Portugueses criam jogo para autistas


     Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveram um conjunto de ambientes virtuais dinâmicos para estimular o desenvolvimento social de crianças com autismo e auxiliar os médicos na avaliação clínica e monitorização da reabilitação. No jogo desenvolvido, a criança interage com pessoas virtuais para, no futuro, interagir com pessoas reais.
     A plataforma tecnológica, que engloba um jogo de computador, um capacete de realidade virtual ou óculos 3D e sensores de EEG (medidor de atividade cerebral), regista o comportamento de crianças durante o jogo e envia informação para um módulo online.
     Os investigadores esperam que a ferramenta venha a permitir aos clínicos não só efetuar o diagnóstico e prescrever a terapia mais adequada, como monitorizar o doente à distância e registar a sua evolução.
     Segundo Marco Simões, um dos investigadores que estiveram envolvidos na criação deste mecanismo, "considerando que uma das grandes limitações dos sujeitos com autismo é a capacidade de interação social, o objetivo é que a criança possa, no conforto do lar e num ambiente que não lhe é hostil, realizar os exercícios e remotamente fornecer informação para o clínico que o acompanha".
     Em comunicado, a equipa da UC explica que este conjunto de ambientes virtuais "visa ensinar competências sociais, como cumprimentar, sorrir, identificar expressões faciais e repeti-las".
     O instrumento é um jogo de computador com objetivo pedagógico e de reabilitação. Para evoluir nos níveis do jogo, a criança tem de efetuar vários mecanismos de interação social, acabando por interiorizá-los e transpô-los para o dia-a-dia.
     A grande novidade desta investigação é a utilização da realidade virtual como ferramenta de treino de competências sociais no autismo, acompanhada com monitorização neuro-fisiológica: "No jogo, a criança interage com pessoas virtuais para, no futuro, interagir com pessoas reais. Desenvolvendo aplicações com tecnologias cada vez mais presentes na vida das pessoas e nas suas casas, é relativamente fácil o seu uso e, consequentemente, a sua comercialização. Os próprios pais podem participar (ainda mais) ativamente na educação dos filhos", conclui Marco Simões.
     Testado o conceito, os investigadores vão, agora, centrar-se em criar um design mais apelativo e explorar novas tecnologias de interação naturais, ou seja, mais fácil de usar pelas crianças com autismo.

Fonte: TVNet - Sapo - Portugal.


domingo, 6 de novembro de 2011

Apesar de ser uma doença, autismo não é defeito, mas sim pode ter muitas vantagens

     Segundo o Dr. Laurent Mottron, professor de psiquiatria da Universidade de Montreal, os profissionais de saúde precisam parar de ver as diferenças do autismo como defeitos, pois assim não entendem completamente a doença.
     O médico diz que, em algumas esferas, as pessoas com autismo têm vantagens sobre as pessoas sem a condição.
     “Os dados recentes e minha própria experiência pessoal sugerem que é hora de começar a pensar no autismo como uma vantagem em alguns aspectos, não como uma cruz para carregar ou um defeito para corrigir”, argumenta Mottron.
     Por exemplo, quando os pesquisadores veem que a ativação em regiões do cérebro das pessoas autistas é diferente do cérebro dos outros, eles relatam essas diferenças como déficits, ao invés de simplesmente evidências, às vezes bem sucedidas, de organização do cérebro.
     Ao enfatizar os pontos fortes das pessoas com autismo, decifrar como elas aprendem e evitar uma linguagem que o coloca o autismo como um defeito, os pesquisadores podem moldar a discussão sobre a condição na sociedade.
     A ideia do médico não é minimizar os desafios do autismo. “Um em cada 10 autistas não consegue falar, 9 em cada 10 não têm emprego regular e 4 em cada 5 adultos autistas ainda são dependentes de seus pais”, disse Mottron.
     A questão é que as pessoas com autismo podem fazer contribuições significativas para a sociedade no ambiente certo. O ambiente de pesquisa é um deles.
     Várias pessoas com autismo trabalham no laboratório de Mottron, e uma pesquisadora autista em particular, Michelle Dawson, já fez grandes contribuições para a compreensão da doença através do seu trabalho e discernimento.
     Pessoas com autismo têm, frequentemente, memórias excepcionais, e podem se lembrar de informações que leram semanas atrás.
     Elas também são menos propensas a lembrar erroneamente de algo, o que vem a calhar em um laboratório de ciência. Michelle, por exemplo, pode relembrar corretamente e instantaneamente os métodos usados para estudar a percepção do autismo quando precisa.
     Uma pesquisa recente mostrou que as pessoas com autismo muitas vezes superam os outros em tarefas auditivas e visuais, e também são melhores em testes de inteligência não verbais.
     Em um estudo realizado por Mottron, com um teste que envolveu completar um padrão visual, pessoas com autismo terminaram 40% mais rápido do que aquelas sem a condição.
     Na verdade, a deficiência intelectual é sobre-estimada entre pessoas com autismo, porque os pesquisadores utilizam testes inadequados. Elas são na verdade muito inteligentes.
     “Ao medir a inteligência de uma pessoa com deficiência auditiva, ninguém hesitaria em eliminar os componentes do teste que não poderiam ser explicados usando a linguagem de sinais. Por que não deveríamos fazer o mesmo para os autistas?”, disse Mottron. “Eu já não acredito que a deficiência intelectual é intrínseca ao autismo. Para estimar a taxa de verdade, os cientistas devem usar apenas testes que não exijam nenhuma explicação verbal”.Outros especialistas concordam que não devemos ver exclusivamente os déficits do autismo, no entanto, ele ainda deve ser pensado como uma doença, e não apenas uma diferença.
     Pessoas com autismo têm problemas graves de funcionamento no seu dia-a-dia. Intervenções adequadas podem melhorar a vida dessas pessoas. “Uma narrativa abrangente do autismo deve levar em consideração os pontos fortes e os pontos fracos da doença”, disse Rajesh Kana, professor de psicologia.
     Embora no passado os pesquisadores tenham se concentrado principalmente nos déficits do autismo, o campo agora tem uma visão mais ampla e profunda da desordem.
     Compreender os pontos fortes do autismo é importante para dar apoio para aqueles com a doença. Por exemplo, se uma criança tem habilidade verbal mínima, então você provavelmente deve encontrar uma forma visual de ajudá-la. “Qualquer intervenção deve visar os déficits, mas trabalhar com os pontos fortes”, disse Kana.

Live Science


sábado, 5 de novembro de 2011

Autistas chegam ao mercado de trabalho


Como o maior conhecimento sobre o transtorno, terapias adequadas e diagnóstico precoce têm permitido às pessoas
com autismo trabalhar
Fernanda Raquel desenvolveu a habilidade de desenhar para se comunicar.
Hoje trabalha como ilustradora
CONQUISTA
     Um cenário impensável no passado. Na empresa dinamarquesa de testagem de softwares Specialisterne, 80 dos 100 funcionários têm autismo. Uma das pioneiras na contratação de mão de obra autista, ela é um exemplo do grande avanço ocorrido nos últimos anos no universo das pessoas que convivem com esse transtorno. Com a melhor compreensão sobre a síndrome, os autistas têm deixado a clausura do espaço privado e ganhado o espaço público. “O autismo é um conjunto muito heterogêneo de condições que têm como ponto de contato os prejuízos nas áreas da comunicação, comportamento e interação social”, explica o neurologista Salomão Schwartzman. Se durante muito tempo se falou apenas dessas dificuldades, atualmente começam a ser discutidas as habilidades associadas e como isso pode ser aproveitado em diferentes profissões. Tanto que já há uma primeira geração a chegar ao mercado de trabalho. “Eles têm boa memória, uma mente muito bem estruturada, paixão por detalhes, bom faro para encontrar erros e perseverança para realizar atividades repetitivas”, disse à ISTOÉ o fundador da Specialisterne, Thorkil Sonne.
     Sonne resolveu investir no filão após o nascimento do filho autista Lars, hoje com 14 anos. A aposta deu tão certo que a empresa abriu unidades na Islândia, Escócia e Suíça e tem servido de inspiração para outras iniciativas. O empresário calcula entre 15 e 20 os projetos inspirados na matriz dinamarquesa em todo o mundo. Um deles é a Aspiritech, nos Estados Unidos, que, desde o ano passado, funciona com 11 engenheiros autistas trabalhando no teste de softwares. “Desde a década de 80, pesquisas mostram que essas pessoas têm uma capacidade muito maior de perceber pequenos detalhes visuais”, falou à ISTOÉ Marc Lazar, da Aspiritech. “Em testes para medir essa habilidade, eles cumprem o desafio em 60% do tempo gasto pelos demais e com grande acurácia.”
     Para se chegar à observação dessas qualidades foi preciso superar um erro de interpretação. “Por muito tempo, o autismo foi encarado como uma deficiência intelectual”, diz Adriana Kuperstein, diretora da Re-fazendo, assessoria educacional especial de Porto Alegre. O que se percebeu posteriormente é que em apenas alguns casos há a associação com deficiências intelectuais. Muitos autistas têm o intelecto preservado, vários com inteligência superior à média, mas não conseguem interagir porque não sabem usar os canais normais de comunicação.
     CONFIANÇA
O dinamarquês Thorkil Sonne tem uma empresa que explora as
habilidades dos autistas
     “É como um computador sem os softwares necessários para realizar determinada tarefa”, compara a psicóloga Alessandra Aronovich Vinic, que pesquisa autismo. Em seu consultório, ela aplica o método do treino das habilidades sociais. Seus pacientes aprendem, por exemplo, a reconhecer as feições relacionadas a sentimentos, como tristeza e alegria, ou a fixar o olhar no outro enquanto conversam. Pode parecer prosaico, mas faz toda a diferença para quem tem autismo. “As pessoas se comunicam visualmente o tempo todo”, fala Júlia Balducci de Oliveira, 23 anos. Para a jovem, não conseguir olhar nos olhos era uma fonte de angústia só superada com terapia. Formada em cinema, hoje Júlia trabalha na direção de um documentário sobre o autismo.
     Atualmente se sabe que quadros mais discretos também se incluem no chamado espectro autista, com boas possibilidades de tratamento. “Mas há 30 anos somente pacientes muito graves eram diagnosticados”, explica Ricardo Halpern, da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Eles eram internados, sedados e alijados do convívio social.” A delimitação desse grupo maior de pessoas aprimorou os métodos de tratamento. “As intervenções começaram a ser feitas mais precocemente, gerando maior inserção social”, disse à ISTOÉ o brasileiro Carlos Gadia, professor do departamento de neurologia da Universidade de Miami e diretor-médico da ONG Autismo&Realidade. Os principais beneficiados foram os pacientes de quadros mais leves.
     Foi o caso da jovem Fernanda Raquel Nascimento, 18 anos. A terapia ajudou a jovem a vencer os obstáculos que encontrava para interagir. Também progressivamente ela transformou em profissão o que era uma de suas formas de comunicação, o desenho. Hoje ela comemora seus primeiros trabalhos de ilustração para a Livraria Saraiva, em São Paulo. “Com o dinheiro, quero cursar faculdade”, diz. A jovem ainda trabalha em casa, mas o objetivo é que passe a dar expediente no escritório. “Ela realiza um trabalho de alta qualidade e com um ótimo atendimento da demanda”, fala Jorge Saraiva, proprietário da rede de livrarias.     
     Depois do contato com Fernanda, a empresa iniciou um plano para a contratação de pessoas com diferentes tipos de transtorno, entre eles, o autismo. Que se torne um cenário comum.

Comportamento
Revista ISTOÉ
Rachel Costa
N° Edição: 2191
 

O Menino Astronauta


Agradecemos pela admirável postagem deste video a Juliana Carla Firmino
Uma bela canção que retrata perfeitamente o sentimento de nossos autistas!
Agradecemos também a Elisa Carvalho e Bianco Marques por nos proporcionarem tão bela tradução desse nobre sentimento!
Grato também à Yvonne Falkas, sempre carinhosa e atenta a causa autista.
Abençoados sejam, todos.
Na Luz e na Paz



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A ENGENHARIA DO AUTISMO


Quem é o psicólogo britânico que decidiu procurar entre profissionais da área de exatas as origens do transtorno que afeta a habilidade de se comunicar

O psicólogo Simon Baron-Cohen.
Sem medo de enfrentar controvérsias,
ele procura pelas origens do autismo
entre pessoas com inclinação para a matemática
      Eindhoven é o principal polo de tecnologia da Holanda. A cidade de 270 mil habitantes concentra duas importantes universidades tecnológicas e dezenas de indústrias de olho nos cérebros privilegiados formados lá. Nos últimos anos, as autoridades de saúde da cidade começaram a se dar conta de uma mudança. Não havia nenhum levantamento oficial, mas os especialistas tinham a sensação de atender mais crianças com autismo, um transtorno de desenvolvimento que atinge principalmente meninos e afeta a habilidade de relacionamento e comunicação.
      Os boatos despertaram a atenção do psicólogo britânico Simon Baron-Cohen, de 53 anos, diretor do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge.
     Baron-Cohen tem fama em seu campo por dois motivos. É primo do comediante Sacha Baron-Cohen, conhecido mundialmente pelo personagem  Borat, um jornalista do Cazaquistão politicamente incorreto e dono de um infame traje de banho verde-limão (quem viu não esquece).
     O segundo motivo que dá fama ao Baron-Cohen cientista e, provavelmente, o que mais lhe agrada são suas teorias polêmicas sobre as origens do autismo. Ele está longe de ser um oportunista. 
     É sempre cauteloso ao explicar a dimensão de suas descobertas. Mas tampouco foge de controvérsias     
       Para Baron-Cohen, o aumento de crianças com autismo, possivelmente o caso de Eindhoven, deve-se ao casamento entre pessoas com tendências autistas.
     Todo mundo conhece alguém assim: é o amigo da faculdade ou do trabalho com interesses muito específicos (pode ser organizar sua coleção de livros sobre trens ou colecionar espécies de um gênero de orquídea). Ele percebe facilmente padrões dispersos pelo cotidiano, como a sequência de funcionamento dos semáforos de uma avenida, e não tem muitos amigos.  
      Segundo Baron-Cohen, pessoas com esse perfil escolhem profissões que aproveitem essa facilidade para captar padrões. Tornam-se engenheiros, matemáticos, físicos, cientistas da computação.
 “Não estou dizendo que todos os engenheiros e matemáticos são autistas”, afirmou a ÉPOCA Baron-Cohen. “Mas é comum que, entre esses profissionais, existam mais pessoas com características compatíveis com autismo.”
      Há uma incidência maior de autismo entre matemáticos"Simon Baron-Cohen Esse tipo de habilidade está presente em todos nós, em maior ou menor grau. Entre os autistas, estaria absolutamente fora do normal.      
      Alguns são capazes de criar fórmulas matemáticas para calcular em que dia da semana caiu uma data passada e quando cairá no futuro. Nos profissionais das ciências exatas, “grandes sistematizadores”, segundo Baron-Cohen, essa capacidade estaria na fronteira entre o normal e o fora do comum. “Talvez, eles tenham apenas alguns dos genes do autismo e manifestam só algumas características”, diz. Como são atraídos por um tipo específico de profissão, se concentrariam em polos tecnológicos, onde conheceriam mulheres com interesses semelhantes e, provavelmente, também com alguns dos genes do autismo. Ao se casarem, teriam filhos autistas ao unir suas cargas genéticas.
      O caso de Eindhoven parecia a oportunidade perfeita para Baron-Cohen reunir evidências em favor de sua tese. Ele pediu que as escolas da cidade informassem o número de crianças autistas matriculadas. Fez o mesmo com escolas de outras duas cidades holandesas de tamanho semelhante – Haarlem e Utrecht –, mas cujas economias não são baseadas no setor tecnológico.
     A conclusão do estudo, divulgado há pouco mais de dois meses em uma importante publicação sobre autismo, parece confirmar as suspeitas de Baron-Cohen. Em Eindhoven, há entre duas e quatro vezes mais casos do que em Haarlem e Utrecht. A pesquisa foi a primeira a comparar a prevalência de autismo em um polo tecnológico com cidades de perfil econômico diferente. E, portanto, a provar cientificamente a relação. Mas a suspeita não é nova.
      O primeiro caso a chamar a atenção foi o da Califórnia, Estados Unidos. O Estado engloba o Vale do Silício, região que concentra algumas das principais empresas de tecnologia do mundo, como o Facebook, o Google e a Apple. Entre 1987 e 2007, segundo estatísticas do governo americano, o número de diagnósticos de autismo aumentou 1.148%. A população cresceu só 27%. 
     A ideia de que os pais de crianças com autismo tenham formas atenuadas da condição paira sobre o campo da psiquiatria desde o final da década de 1980. Mas foi Baron-Cohen que tomou para si a tarefa de provar ou refutar a teoria. Em sua busca pelas origens do autismo, já analisou milhares de familiares de matemáticos e engenheiros. As conclusões reforçam sua tese.
     Entre 1.405 parentes de estudantes de matemática, ele encontrou sete casos de transtornos semelhantes ao autismo. Nas famílias de universitários de outras áreas, achou apenas dois.   Em um estudo com crianças autistas, a probabilidade de que o pai da criança ou um dos avôs fosse engenheiro era duas vezes maior.
      A teoria, claro, é polêmica. “Esses achados precisam ser reproduzidos por outros estudos para que sejam considerados”, diz a psiquiatra Letícia Amorim, da Associação de Amigos do Autista. Os cientistas não têm certeza nem das origens genéticas do autismo. Não sabem se o transtorno é causado por dois ou 200 genes.      
      Logo, é difícil procurar por eles entre matemáticos e engenheiros. Além disso, existe a dificuldade de fazer o diagnóstico.
      Há um espectro de condições relacionadas ao autismo, algo parecido com uma escala. Pessoas com as formas mais graves têm quociente menor de inteligência, não desenvolvem a linguagem e não conseguem se relacionar. Na outra ponta da escala, os pacientes podem ter o quociente de inteligência acima da média da população e menos dificuldade para interagir socialmente.
     Baron-Cohen acredita que os físicos Albert   Einstein e Isaac Newton, criadores das teorias que explicam o Universo, estavam nesse extremo do espectro, uma síndrome conhecida como Asperger. Em alguns casos, a fronteira entre a síndrome e o considerado “normal” é tão tênue que é difícil saber se pais de crianças autistas, possivelmente os matemáticos e engenheiros da teoria de Baron-Cohen, também não são eles mesmos Aspergers. Isso torna ainda mais complicado provar a teoria das tendências autistas.
     Baron-Cohen diz que toda essa polêmica é por bons motivos. Porque ajuda os especialistas a entender como os autistas pensam e a refinar estratégias de aprendizagem destinadas a crianças com o transtorno. Além disso, serviria para mudar o olhar da sociedade. “Ao mostrar que esses traços podem estar presentes em profissionais, percebemos que o autismo engloba habilidades e até talentos”, diz.

Marcela Buscato
Revista Época - 16.09.2011
Foto: Brian Harris/Rex Features/Glow Images

INCLUINDO AUTISTAS NA CIÊNCIA

Alysson Muotri
     Quando se fala em indivíduos autistas, a maioria imagina pessoas isoladas socialmente, com dificuldade em comunicação e envolvidas em comportamentos repetitivos e estereotipados. De fato, para ser considerado dentro do espectro autista, basta apresentar sintomas relacionados a essas características.     Porém, essa definição é restrita, rasa, e não reflete a condição autista em sua totalidade. O lado positivo do autismo é pouco lembrado, o que contribui para problemas de inclusão social.
Indivíduos autistas são extremamente focados e conseguem se dedicar a uma atividade especifica por muito tempo. Em geral, essa dedicação vem acompanhada de uma atenção aos detalhes, sensibilidade ao ambiente e capacidade de raciocínio acima do normal, o que colocaria essas pessoas em vantagem em determinadas situações. Uma dessas situações está presente justamente em alguns aspectos do processo científicos.
     A ciência não vive apenas de criatividade e pensamento abstrato. Na verdade, a maioria dos cientistas segue uma carreira metódica, racional, com incrementos sequenciais no processo de descoberta científica.  Esse trabalho exige atenção e dedicação acima do normal, por isso mesmo cientistas acabam sendo “selecionados” para esse tipo de atividade. O momento de “eureca” é extremamente raro na ciência.
     Da mesma forma, são raros os casos de autistas superdotados, com capacidades extraordinárias. Esse tipo de característica, retratada no filme RainMan, acaba ajudando esses indivíduos a se estabelecerem de forma independente. É o caso de Stephen Wiltshire que vive de sua arte porque consegue desenhar em três dimensões uma cidade inteira após sobrevoá-la de helicóptero uma única vez. Mas e no caso dos outros indivíduos, que não necessariamente possuem uma habilidade tão evidente? Será que poderíamos incorporá-los em alguma outra atividade aonde suas características sejam de grande vantagem?
Indivíduos autistas usam o cérebro de forma diferente. Regiões do cérebro relacionadas ao processo visual são, em geral, bem mais acentuadas. Por isso mesmo, autistas conseguem perceber variações em padrões repetidos mais rapidamente e com mais precisão do que pessoas “normais”, ou fora do espectro autista.      Autistas também superam não-autistas em detectar variações em frequências sonoras, visualização de estruturas complexas e manipulação mental de objetos tridimensionais.
     Retardo intelectual é, quase sempre, relacionado ao autismo. Mas vale lembrar que a maioria dos testes utiliza linguagem verbal, o que coloca os autistas em desvantagem. Esse tipo de abordagem merece uma revisão mais criteriosa. Aposto que se refizéssemos algumas dessas pesquisas os resultados seriam diferentes e contribuiriam para a redução do preconceito.
     Muitos autistas poderiam ser aproveitados pela academia. Desde cedo, esses indivíduos demonstram profundo interesse em informações, números, geografia, dados, enfim, tudo que é necessário para a formação de um pensamento científico. Além disso, possuem capacidade autodidática e podem se tornar especialistas em determinada área – ambas as características são importantes no cientista. Algumas das vantagens intelectuais (e mesmo pessoais) de indivíduos autistas acabam sendo atraentes em laboratórios científicos. Não me interprete mal, não estou sugerindo o uso de autistas como objeto de estudo (o que já acontece e é útil também), mas como agentes da descoberta cientifica.
     Tenho certeza de que poderíamos incluir cientistas autistas no contexto de descoberta cientifica atual e explorar esse tipo de inteligência. Um exemplo disso é o laboratório do Dr. Laurent Mottron, que trabalha com a cientista-autista Michelle Dawson faz 7 anos. Laurent descreveu recentemente sua experiência empregando cientistas autistas na última edição da revista Nature. Michelle tem a capacidade de manusear mentalmente um número enorme de dados ao mesmo tempo, faz isso naturalmente. E enquanto não conseguimos nem lembrar o que vestimos ontem, autistas como Michelle nos surpreendem com uma memoria impecável.
     Ela recorda todos os dados gerados do laboratório e tem papel fundamental no desenho de experimentos de outros cientistas. Juntos, Laurent e Michelle já assinaram mais de 14 trabalhos juntos.    Outro exemplo clássico é Temple Grandin, autista que obteve seu PhD em veterinária e, usando seu raciocínio visual, desenvolveu novos protocolos para redução de estresse em animais para o consumo de carne. Grandin é atualmente professora da Universidade Estadual do Colorado, nos EUA.
     Acredito que autistas podem dar uma contribuição excepcional para o mundo se conseguirmos colocá-los no ambiente ideal. É um desafio social, mas que começa com a conscientização da condição autista.    Organizações internacionais já existem com a finalidade de auxiliar autistas a se encaixarem no mercado de trabalho. Exemplos são as firmas Aspiritech, nos EUA, e Specialisterne, na Holanda. Com o tempo, outros lugares vão perceber que a mão-de-obra autista é extremamente especializada e começarão a explorar esse nicho.
     Obviamente o autismo traz limitações, como o entrosamento social, problemas motores e a dificuldade de comunicação. Com isso, eles não vão conseguir se adaptar facilmente a trabalhos que envolvam comunicação social intensa. Em casos mais graves, muito provavelmente, vão depender da sociedade por toda a vida. Ignorar essas limitações é tão prejudicial quanto ignorar as vantagens que o autismo pode oferecer nos casos mais leves. Talvez o maior reflexo de uma sociedade avançada esteja em como ela acomoda suas minorias. Enquanto as oportunidades terapêuticas para o autismo não chegam, acredito que o que esses indivíduos mais precisam agora seja respeito, inclusão e, acima de tudo, oportunidades.

Fonte:
G1 - Globo Ponto.Com
Foto: Revista Época



Pitoco confundindo

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Juventude (Temple Grandin)



Temple Grandin – o mundo precisa de todos os tipos de mente
     Temple Grandin nasceu Boston em 1947 e até os três anos de idade só comunicava por intermédio de gritos, assobios e murmúrios de boca fechada.
     Nessa altura os médicos diagnosticaram-lhe autismo, contudo a sua mãe, já desde os seis meses de idade, tinha percebido que esta filha era diferente das outras crianças: rejeitava o colo da mãe, ficava rígida sempre que a queriam abraçar e o olhar era vago.
     Apesar de ter aprendido a falar, os comportamentos fora do comum sempre estiveram presentes durante o seu percurso escolar: batia na cabeça das outras crianças, às vezes ignorava sons altíssimos, mas reagia com violência aos estalidos de uma folha de celofane, o cheiro de uma flor recém colhida podia deixá-la descontrolada ou simplesmente refugiar-se no seu mundo interior.
     Com um ensino permanente e estimulante, com a persistência e acompanhamento familiar, Temple Grandin conseguiu, em 1966, concluir a sua formação no ensino secundário em Hampshire Country School, um internato para crianças sobredotadas, em 1970 licenciar-se em Psicologia pela Faculdade Franklin Pierce, em 1975 concluir o seu mestrado em Ciência Animal pela Universidade Estatal do Arizona e em 1989 obter a sua máxima distinção, o doutoramento, também em Ciência Animal, pela Universidade de Illinois, mostrando deste modo que o mundo precisa de todos os tipos de mente.
     Com base na sua experiência pessoal, Grandin defende a intervenção precoce para tratar o autismo, reforçando que os professores de apoio devem direcionar as fixações da criança com autismo, em direções frutíferas. She has described her hypersensitivity to noise and other sensory stimuli.
     Para Grandin o autista é um pensador essencialmente visual, sendo as palavras a sua segunda língua.    Temple attributes her success as a humane livestock facility designer to her ability to recall detail, which is a characteristic of her visual memory. Uma característica da sua memória visual é a capacidade para recordar detalhes e Temple atribui o seu sucesso como designer de gado a estas características. Em 2004 a organização PETA atribui-lhe um prémio pelo fantástico trabalho que tem realizado ao longo da sua vida com o objectivo de humanizar os currais onde se encontra o gado, bem como os matadouros.
     Grandin diz que consegue pensar como uma vaca, pois consegue perceber as mudanças e os detalhes a que os animais são particularmente sensíveis. Com a sua maneira de pensar em imagens tem a capacidade de elaborar equipamentos, recintos e espaços inteligentes para manter o gado calmo e sem stress.
     Grandin refere que, segundo a sua perspectiva de vida, é ético o homem alimentar-se de outros animais, contudo esses animais têm o direito de ter uma vida calma, com conforto e uma morte o mais indolor possível, pois até ao animal se tornar num bife ele é um ser vivo que merece respeito.
     Na América do Norte e também na América do Sul os currais projectados por Grandin já são uma realidade.
     Hoje, com 64 anos de idade, Grandin é considerada líder na defesa do bem-estar animal e na defesa de uma educação protetora das crianças autistas, sendo frequentemente convidada para fazer palestras sobre ambas as temáticas. Em 2010 viu o seu nome incluído no Time 100, lista onde anualmente são incluídas as pessoas mais influentes no mundo.
     E a partir desta crónica é-nos lícito colocar a questão:
     Poderá qualquer nação dar-se ao luxo de não atender às diferenças dos seus cidadãos, desprezando inteligências que no futuro farão elas a diferença?
     Autistas, sobredotados, Asperger, hiperactivos, disléxicos, quem sabe o que eles poderão trazer de novo para a humanidade.

                                                                    
Margarida Martins
   SETUBAL - Portugal 




terça-feira, 1 de novembro de 2011

11 sinais de alerta para os pais detectarem doença mental em crianças

    
     Para ajudar crianças com transtornos mentais não diagnosticados, pesquisadores lançaram uma lista de 11 sinais fáceis de reconhecer que podem ser usados como um alerta pelos pais e outras pessoas da comunidade.

     A lista se destina a ajudar a fechar uma lacuna entre o número de crianças que sofrem de doenças mentais e aquelas que realmente recebem tratamento para essas doenças. Com ela, os pesquisadores esperam que os pais distingam entre comportamentos normais da infância e verdadeiros sinais de doença mental.

     Entre os sinais, estão sentir-se triste ou “se fechar” por duas semanas ou mais, o que pode indicar depressão, e medos intensos ou preocupações que atrapalham atividades diárias, o que pode indicar um distúrbio de ansiedade.

     Estudos sugerem que três em cada quatro crianças com distúrbios de saúde mental, incluindo déficit de atenção e hiperatividade, distúrbios alimentares e transtorno bipolar, passam despercebidas e não recebem os cuidados de que necessitam.

     Pais que perceberem qualquer um desses sinais em seus filhos devem levá-los para ver um pediatra ou profissional de saúde mental para uma avaliação psiquiátrica.

     A identificação de um transtorno psiquiátrico no início da vida também irá permitir que as crianças recebam tratamento mais cedo, o que provavelmente irá torná-los mais eficazes.

     A lista foi criada por um comitê que analisou vários estudos de saúde mental, envolvendo mais de 6.000 crianças. Eles garantem que os sintomas na lista podem identificar a maioria das crianças com certos distúrbios de saúde mental.

     Os 11 sinais de alerta são os seguintes:

        • Sentir-se muito triste ou “se fechar” por duas ou mais semanas;

        • Tentar se ferir ou se matar, ou fazer planos para isso;

        • Medo súbito esmagador sem razão, às vezes com coração acelerado ou respiração rápida;

        • Se envolver em várias lutas, usando uma arma, ou querer ferir outros;

        • Comportamento fora de controle grave, que pode chegar a machucar a si mesmo ou outros;

        • Não comer, vomitar ou usar laxantes para perder peso;

        • Preocupações ou medos intensos que atrapalham atividades diárias;

        • Extrema dificuldade em concentrar-se ou permanecer quieto, o que o coloca em perigo físico ou causa insucesso escolar;

        • Uso repetido de drogas ou álcool;

        • Grave humor que causa problemas em suas relações;

        • Mudanças drásticas no seu comportamento ou personalidade.

     Esses sinais formam um “perfil” e não são em si diagnósticos específicos.
Para diagnósticos precisos, os pais devem procurar ajuda de um profissional de saúde.

     Para evitar o alarme potencial de pais, que podem diagnosticar transtornos mentais onde eles não existem, os pesquisadores disseram que projetaram a lista para ser conservadora. Ou seja, estes sinais não serão evidentes em todas as crianças que tem um distúrbio de saúde mental. Dos 15% dos jovens que se estima que tenham doença mental, os perfis vão identificar cerca de 8%.


LiveScience




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ensinando a criança a ler

     Esta pode ser uma das perguntas mais assustadoras para pais de crianças com autismo tentar responder.   
     Como sabemos, cada criança autista apresenta-se com sua mistura particular de habilidades e desafios.   Portanto, não há uma única solução para todos quando se trata de ajudar as crianças afetadas pelo autismo na aprendizagem de línguas. É por isso que na tentativa de responder a esta pergunta, eu não estou confiando unicamente na minha fala e formação linguística, mas também em outras abordagens que acredito serem benéficas e adequadas para uso com indivíduos autistas. Todas elas foram pessoalmente empregadas durante os últimos 12 anos na minha viagem de descoberta e investigação neste campo para o desenvolvimento do meu próprio filho autista.
     Eu comecei esta viagem como mãe de uma criança autista não-verbal, que conhece o “sumiço de amigos” após o diagnóstico. Tendo o meu próprio trabalho e sendo uma profissional reconhecidamente bem sucedida da área, eu já implementava a intervenção dietética durante vários anos e também a Análise do     Comportamento Aplicada (ABA) antes de iniciar a Fonoaudiologia. Trabalhar com profissionais que utilizam novas abordagens comportamentais e neurológicas ajudou a desenvolver o meu entendimento de como um indivíduo autista pode aprender e progredir.

     Considerações para a Criança Não-Verbal

     Quando se perguntar:
"Como posso ajudar a minha criança autista aprender a falar?"
     Considere as coisas do ponto de vista da criança:
"Por que eu iria querer aprender a falar?"
    
     Se você der um passo para trás e observar o seu filho de forma imparcial, você verá uma pessoa ativa empregando uma variedade de estratégias para evitar a interação com os outros, enquanto, ao mesmo tempo controlar o ambiente para satisfazer suas necessidades. Isto acontece muitas vezes através do uso de métodos simples, mas eficazes, tais como atirar-se ao chão e gritar em voz alta até que o item desejado apareça.

     Alguns diriam que esse comportamento ocorre porque:

- O indivíduo tem autismo
- O indivíduo não pode falar
- O indivíduo sente dores
- Os sentidos sensoriais do indivíduo estão sobrecarregados
- O indivíduo não gosta de mudanças
- O desenvolvimento neurológico não é avançado o suficiente para o indivíduo agir de outra maneira
- Este é um comportamento aprendido e empregado para obter o resultado desejado

     A verdade é que não sabemos. Poderia ser todos, alguns ou nenhum dos ítens acima, mas é importante considerar todos os ítens acima, enquanto tenha em mente que mudar ainda é possível.
     Inicialmente, eu recomendo que os pais considerem uma abordagem comportamental para desenvolver a interação com os seus filhos para ajudar na tomada de sentido do mundo ao seu redor. Como as pessoas com autismo muitas vezes tem interesses limitados, o enfoque deve ser baseado nas necessidades e desejos do indivíduo.
     Sabemos que interagir com os outros pode ser um enorme problema para o indivíduo autista, e, portanto, deve haver um envolvimento gratificante para haver um retorno. Além disso, sabemos que quanto mais repetirmos as tentativas, mais fácil o processo se torna. Assim, embora o início do processo possa ser um tremendo esforço, quanto mais freqüente a ação ocorre, mais prazeroso e menos penoso será.

     Por isso, considere o que realmente motiva o seu filho. Algumas possibilidades incluem:

- Um brinquedo específico que é particularmente desejado
- Bolhas de sabão
- Elogios / abraço forte
- Controle remoto de televisão
- Vídeo específico ou DVD
- Alimentos
- Bebidas
- Jogos musicais (por exemplo, "Serra, serra, serrador")

Precisamos assumir o controle de qualquer dispositivo motivador selecionado de modo que o indivíduo terá que interagir conosco para obtê-lo! Obviamente, esta será inicialmente uma situação bastante estressante para todos, pois estamos mudando as regras de como as coisas normalmente funcionam. A comunicação precisa ser muito específica sobre esse processo de modo que o indivíduo vai entender o mais rápido possível o que está sendo solicitado dele, e o que precisa ser feito para obter o item desejado ou ação.

     Sons atuais

     Se a criança é não-verbal, isto significa que nenhum som é produzido certo? Ou há vocalizações que poderiam ser tentativas de discurso? Tome nota de todos os sons produzidos. Existem sons emitidos? E em caso afirmativo, quais?
     Os sons são produzidos por articuladores diferentes e podem ser sonoros ou não. Durante sons sonoros, as cordas vocais vibram durante a emissão do som. Se um som dos pares listados abaixo pode ser produzido, é possível que o outro correspondente ao par possa vir a ser produzido também. É importante observar se existem pares de sons que seu filho não usa para poderem ser ensinados.

p b
t d
k g
f v
s z
sh zh
ch j

     Suporte Visual

     Muitas crianças com dificuldades de aprendizagem são aprendizes visuais e este é frequentemente o caso com crianças autistas. Dificuldades com o sistema de processamento auditivo pode fazer a atribuição de significado aos sons um negócio complicado. É por isso que uma aproximação visual para a aprendizagem pode ser muito eficaz para crianças com autismo.
     Pode ser muito benéfico usar mecanismos de suporte visual para o seu filho com qualquer novo processo.   Escrita e imagens são suportes úteis para qualquer criança aprendendo a falar e não deve ser visto como uma barreira para o desenvolvimento da fala.
     Você é quem melhor conhece seu filho e qual a abordagem que deseja adotar precisa ser baseada em preferências individuais, habilidades e capacidades motoras.
     Eu pessoalmente prefiro usar imagem personalizadas, pois estas permitem a precisão em assegurar que as imagens utilizadas correspondem as dos itens reais para os quais a criança está sendo solicitada. Não haverá motivação se uma imagem de um carro vermelho está a ser utilizado quando a criança realmente quer o seu velho conhecido carro amarelo.
     Estas imagens são fáceis de fazer usando uma câmera digital. Certifique-se de lembrar-se de encapar a sua imagem com contact transparente antes de usar, para estender sua vida útil. Você precisa ser muito específico em criar as imagens. Por exemplo, se o pedido verbal é para "crisps", sua imagem só precisa incluir esse item, já que itens adicionais poderiam confundir a mensagem. Sempre que possível, certifique-se que as imagens sejam feitas em ambientes naturais. Por exemplo, se o carro é normalmente no chão, a imagem deve ser do carro no chão para aumentar a clareza do pedido.

    A Abordagem Comportamental

    Se você identificou que um pacote de batatas fritas (item alimentação) será o melhor motivador para o seu filho, então você precisa montar o cenário esvaziando o armário de onde, normalmente, ele faria tudo sozinho. Um pacote vazio ou imagem deve ser colocado lá para que a criança traga até você para lhe mostrar o que ele quer. A única coisa que você deve dizer quando ele traz o pacote (foto) é sobre o nome do item. Neste caso, o processo seria:

- Você diz a palavra "crisps"
- Deixar uma pausa
- Repita a palavra "crisps"
- Deixar uma pausa
- Qualquer vocalização (exceto gritos) deve ser recompensada com o item desejado.

     Fonologicamente, "crisps" é uma palavra mais difícil, pois é composto por dois conjuntos de combinações de discurso: c / ri / sp / s ou c / ri / sps dependendo de como se escolhe para pronunciar a palavra. Eu estou usando isso como um exemplo, porque na minha experiência a maioria das famílias tendem a ter um armário como esse, com fácil acesso a itens como batatas fritas.
     Idealmente, seria melhor manter-se com esta abordagem até receber uma vocalização. No entanto, você pode decidir que vai fazer isso por um determinado período de tempo inicialmente e construir a quantidade de tempo que espera por uma resposta. Você provavelmente vai ser recompensado com um grito ou ataque inicial, isso é típico do processo. Precisamos trabalhar com isso e mostrar à criança que ao gritar, esperniar, atacar, ou até mesmo te ignorar, ela não será recompensada com o item desejado, enquanto que com uma vocalização sim. O elemento mais importante dessa abordagem é a consistência. A firmeza e concistência deve estar em tudo que você faz para que um padrão começe a emergir para guiar o seu filho e ajudá-lo a entender como obter o item desejado rapidamente com uma simples vocalização.

     Considerações neurológicas

Em crianças com autismo, a fiação, a ligação/comunicação do sistema neurológico tende a ser atípica, muitas vezes resultando em dificuldades para acessar ou desenvolver as habilidades de fala e linguagem.
     1, 2,3,4 As crianças podem apresentar respostas involuntárias e reflexos que normalmente teriam sido liquidados ou inibidos durante os três primeiros anos de vida durante o desenvolvimento de uma criança típica.
     5 Vocabulário e compreensão são habilidades de alto nível neurológico. A eficiência dessas habilidades depende da maturação bem sucedida dos centros cerebrais inferiores.
     6 Se o desenvolvimento foi comprometido nos níveis mais baixos, ele está bloqueando o acesso às ferramentas mais acima.   Desenvolvimento neurológico em crianças pequenas é dependente da integração de respostas reflexas involuntárias, chamado de reflexos primitivos e posturais. A Integração dessas respostas permite o acesso mais eficiente à fala e outras habilidades cognitivas que estão associadas com os centros de córtex cerebrais.
     7 Eu descobri que a intervenção de um Terapeuta Ocupacional Especialista usando uma abordagem cinestésica pode ser extremamente benéfica para crianças com autismo. Os programas que envolvem 15 minutos de exercícios cinestésicos personalizados em uma base diária produziram mudanças dramáticas, mesmo em crianças mais velhas. As áreas de progresso foram:

- Melhora das habilidades motoras
- A capacidade de recordar e relatar memórias de anos anteriores
- Aumento do nível de habilidades para resolver problemas
- Maior consciência dos outros e suas necessidades
- Aumento da capacidade de acesso a funções superiores da linguagem.

     Dirigindo ecolalia

     Ecolalia é a repetição de vocalizações feitas por outra pessoa. Quando uma criança repete o que foi dito em vez de oferecer uma resposta, a resposta apropriada pode ser solicitado para a criança como se segue:

- Você diz: "Você quer batatas fritas?"
- A criança repete: "Você quer batatas fritas?"
- Você modela: "Sim, eu quero batata frita"

     Se você puder mais uma vez apoiar esta ação com material visual, ela vai ajudar a criança autista a dar significado às palavras. Forneça uma escolha de itens utilizando apoio visual em que um pode ser selecionado, preferencialmente, em detrimento de outro. Isto irá ajudar a criança a aprender que "Você quer chips?" Realmente significa algo mais do que apenas um conjunto de sons agradáveis.
     Para ilustrar esta prática usando o exemplo de "Você quer batatas fritas?" Você pode mostrar uma imagem de fichas e, em seguida perguntar: "Você quer um sorvete?" Enquanto mostra uma imagem de sorvete. Em seguida, reduza o uso de palavras a somente chips e sorvete mostrando as imagens:

"Chips" / "sorvete"

     Você precisa estar ciente de que chips e sorvete são itens de alimentos e, portanto, isso torna a escolha um pouco mais difícil. Você pode reduzir o nível de dificuldade, oferecendo algo completamente diferente, tal como livro e batata frita desde que você use algo que não seja mais motivador do que o alvo!

     Expansão da linguagem

     A expansão da linguagem deve ser abordada com um esforço para incluir sistematicamente as coisas que você sabe que estão motivando para a criança. Se, por exemplo, ela é particularmente motivada pelo Thomas o trem, use-o. Você pode usá-lo para as preposições como em "Coloque o Thomas na cadeira", ou "Coloque o Thomas embaixo da cadeira." A dificuldade da tarefa é reduzida, pois a criança já sabe quem é Thomas. Você pode torná-la mais desafiadora, adicionando um outro trem, como em "Coloque o Thomas na cadeira e o Henry sob a cadeira." Você também pode incorporar o conceito de cores, referindo-se aos trens como o trem vermelho, azul ou verde.
     Use brinquedos favoritos para ilustrar os verbos da seguinte maneira: "Buzz está dormindo", ou "Buzz está comendo", etc
     Sempre usar o suporte visual, construções de linguagem reduzida e informações repetidas, lembrando-se de permitir que seu filho tenha o tempo necessário para o processamento do comando.

     Formatos de questões que podem ser útil neste processo são ilustrados abaixo:

1. Buzz foi ao parque.
2. Quem foi ao parque?
3. Buzz foi ao parque.

1. Hoje é segunda-feira.
2. Que dia é hoje?
3. É segunda-feira.

     Seguir estas dicas no desenvolvimento da fala pode render um progresso significativo para o seu filho.      Lembre-se: seguir essas estratégias simples irá manter as coisas se movendo na direção certa => Faça visualmente, mantenha simples e torne divertido!

Matéria postada pela Edna Coimbra
Vovó do Nathan Naum, nove anos, Autista, no blog:
aasf---autismo---ajuda-sem-fim

(Tradução de Claudia Marcelino de um artigo do site da Revista Autism File.)
Claudia Marcelino é autora do livro:

Clique na imagem para ver melhor.











domingo, 23 de outubro de 2011

Autismo e o Filme "Rain Man" em uma Visão Psicanalítica


 
 1. Introdução

     A ciência há longo dos anos, tem se voltado a desvendar os mistérios da humanidade. Desde os primórdios o homem aguçado por sua curiosidade, desenvolveu o habito de explorar os fenômenos a sua volta, sendo assim se levantou varias teorias tentando esclarecer as complexidades do homem e do mundo que o cerca, porém alguns fenômenos ainda se mostram bastantes misteriosos no meio social e diante do mundo cientifico.
     O autismo tem sido um desses fenômenos que se mostra cada vez mais enigmático para os pesquisadores, pois embora muitos estudos apontem para um transtorno genético, temos em vista que os fatores sociais e os efeitos comportamentais desse transtorno atingem patamares mais elevados no meio em que vivemos; o que acaba dificultando o entendimento sobre a síndrome e levando a um agravamento maior do quadro clinico de seu portador, assim como um respectivo desanimo e estresse de seus familiares.
     O filme “Rain Man” foi lançado em 1988 dirigido pelo diretor Barry Levison e no seu enredo mostra a história de dois irmãos: os personagens Charlie Babbitt interpretado pelo autor Tom Cruise e personagem Raymond Babbitt, portador da síndrome, que é interpretador pelo ator Dustin Hoffman. A história do drama começa quando Charlie Babbitt viaja para um hospital psiquiátrico à procura de saber quem herdou a maior parte da herança deixada por seu pai. Por meio dessa procura, Charlie conhece seu irmão Raymond, o autista, daí em diante a história passa um clima emocionante e dramático ao publico que assiste.
     De acordo com Santiago (2005), o autismo é mais conhecido como um problema que se manifesta por um alheamento da criança ou adulto acerca do seu mundo exterior encontrando-se centrado em si mesmo, ou seja, existem perturbações das relações afetivas com o meio, o que pode ocasionar um comportamento diferenciado de outras pessoas da sua idade.
     Para uma melhor análise da questão apontada nesse artigo, a leitura segue-se sobre uma visão psicanalítica do filme “Rain Man”, baseados nos autores como: Doria et al (2006) e Pinheiro (2008) que nos permitiram obter uma apreciação mais madura para, através deste, contribuir com a sociedade no esclarecimento mais eficaz sobre a síndrome do autismo.

2. Definições do Autismo

     A palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa “voltar-se para si mesmo”. A primeira pessoa a utilizá-la foi o psiquiatra austríaco Eugen Bleuler para se referir a um dos critérios adotados em sua época para a realização de um diagnóstico de Esquizofrenia. A expressão referia-se a tendência do esquizofrênico de “ensimesmar-se”, tornando-se alheio ao mundo social – fechando-se em seu mundo, como até hoje se acredita sobre o comportamento autista. (NETO, 2010)
     Desde a década de 40 até aos anos 60, de modo geral, acreditava-se que um indivíduo autista tinha o desejo consciente de não participar em qualquer interação social (SOUSA, 2009/2010). Para Leo Kanner (1943), psicólogo norte americano, o autismo era causado por mais altamente intelectualizados, pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas relações humanas (apud CID, 1993). O autor sublinha - de acordo com o relato dos pais realizado no seu estudo de 11 casos com crianças autistas - a precocidade do aparecimento da síndrome, situando-a como “uma solidão autística extrema, que desdenha, ignora e exclui tudo o que vem do exterior até a criança” (PINHEIRO, 2008). Após essa definição, o autismo apresentou-se como um mundo distante, estranho e cheio de enigmas, que se refere ao próprio conceito de autismo e às causas, às explicações e às soluções para esse trágico desvio do desenvolvimento humano normal (COLL et al, 2004).
     O autismo é caracterizado entre sinais e sintomas como uma tríade: distúrbios na sociabilidade, distúrbios na comunicação e estereotipias motoras. Manuais de diagnósticos como o DSM – IV TR e o CID 10 consideram autista o individuo que possui um total de seis itens citados abaixo, com pelo menos quatro características dos mesmos, tais como: na marcante lesão na interação social, destacada diminuição no uso de comportamentos não verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social, dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento, falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse e ausência de reciprocidade social ou emocional.
     No distúrbio da comunicação, considera pelo menos um dos seguintes itens: atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas, diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas, em indivíduos com fala normal e ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriada para o nível de desenvolvimento.
Nos padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, considera-se a manifestação de pelo menos um dos seguintes itens: a obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco, fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específicos, hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos e obsessão por partes de objetos.
     Podemos ainda ressaltar aqui a estatística sobre a síndrome autista em relação a taxa de natalidade atualmente, que conforme Domingues (2003) a incidência dela encontra-se estimada em 01 portador para cada 1000 nascimentos, sendo 03 vezes mais frequentes no sexo masculino que no feminino. Sendo uma doença comprometedora do desenvolvimento infantil como um todo, que limita a vida da criança e de sua família. O que observamos no personagem Raymond Babbitt, a qual é do sexo masculino e envolve seu ciclo familiar por causa de suas limitações.

     3. Análise do Filme em uma Visão Psicanalítica
    
     As hipóteses de Kanner tiveram forte influência no referencial psicanalítico da síndrome que pressupunha uma causa emocional ou psicológica para o fenômeno, a qual teve como seus principais precursores os psicanalistas Bruno Bettelheim e Francis Tustin. (NETO, 2010). Bettelheim acreditava ser uma falha materna e Tustin explicava que o afeto materno funcionava como uma ponte entre a fase autista do desenvolvimento normal e a vida social, já que as crianças ainda não tinham aprendido os comportamentos sociais, e se esta ponte se rompesse poderia gerar um trauma psíquico.
    Na psicanálise, o autismo é visto como uma síndrome psíquica desenvolvida na infância. Assim como os desejos sexuais que Freud afirma iniciar na infância, o autismo também seria um processo da mesma, que provavelmente seria acometido por alguma falha. Doria et al (2006) fala que esta falha está nas funções maternas e paternas:
     “De acordo com a Psicanálise, o transtorno autista está relacionado com as falhas envolvendo as funções maternas e paternas. A falha decorrente no processo de desenvolvimento da função materna pode estar relacionada com o não cumprimento dela, ou seja, a mãe ou a pessoa que desempenha este papel não realiza adequadamente a sua função, deixando o bebê sem resposta quando o mesmo lhe pede um retorno.     
     Na função paterna, não há um investimento de um terceiro que venha contribuir para a constituição psíquica da infância” (DORIA et al, 2006, p.03)."

     Esta mesma autora ainda aperfeiçoa “essa falha pode ser causada, entre vários motivos, pela depressão que  interfere na capacidade materna em cuidar e envolver-se emocionalmente com o seu filho” (p.04) e a função paterna exacerbada ou renegada, pois “quando o filho exerce uma função renarcisante para o pai, o mesmo investe de modo mais significativo na criança, o que permite a triangulação na relação mãe-bebê.” (p.06).
     Na visão de Lacan considera que o autismo está localizado no campo das psicoses, como uma resposta possível de um ser falante frente a um Outro, não propriamente constituído como tal, mas como real. A princípio, Lacan declara que “os autistas escutam a si mesmos” (apud 1975, p.12). Isto o leva a acrescentar que os autistas ouvem muitas coisas, e que este fato pode desembocar em alucinações. Duas características que ainda são citadas na reflexão de Lacan sobre as crianças autistas: uma que aproxima a criança autista do esquizofrênico e outra que caracteriza os autistas como seres bastante verbosos, mesmo que não se entenda bem o que dizem.
     No caso do nosso personagem Raymond, que é um adulto de aproximadamente 50 anos, percebemos que esta explicação seria fundamental para uma hipótese diagnóstica, porque quando nascera seu pai lhe depositava uma grande expectativa por ser primogênito, o que era visto por ele como uma grande responsabilidade. Contudo, logo nasceu seu irmão Charlie, a qual se sentia na obrigação de cuida-lo até mesmo para agradar cada vez mais seu pai. Mas, por alguma eventualidade, Raymond deixou Charlie se machucar, a qual percebia que este tinha um grande apego por ele e isso lhe trouxe uma culpa eterna, onde não conseguia se perdoar, além de um sentimento de incapacidade e uma enorme angustia por não ter conseguido proteger seu irmão como deveria. Observamos, no discurso do mesmo, que isso lhe gerou um trauma, e o fazia sofrer todas as vezes que recordava.
     Observando os sinais e sintomas do autismo, percebemos que o personagem portador do autismo apresenta características tais como: diminuição no uso de comportamentos não verbais múltiplos como na expressão facial e na postura corporal para lidar com o meio social em relação aos outros indivíduos, pois fisicamente ele é encurvado e com a expressão de solidão. Também apresenta dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriado para o nível de comportamento, porque observamos que este não mostra interesse em se relacionar com outras pessoas; característica principal do autismo. Apresenta também ausência de reciprocidade social ou emocional, mostra-se frio em várias situações, demonstrando carência pelos seus desejos e sentimentos e habilitando as pessoas a serem compreensivas. Como cita o DSM IV, ele também destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas, porque vive em um mundo só seu, onde seus pensamentos mostram-se mais importantes. Lembrando que este é dotado de uma inteligência incrível e inexplicável que subestima a medicina e a sociedade.
     Em relação ao tratamento, o analista primeiramente realizará uma entrevista inicial com a criança autista e seus pais. Conforme Bogochvol (2009), o diagnóstico de autismo orientado pela psicanálise lacaniana é realizado sob transferência (como qualquer diagnóstico).
     No decorrer do tratamento, o analista deverá está orientado no sentido de, na experiência clínica, fazer emergir o lugar do sujeito, tratando de encontrar a via do Outro. Assim como cita Pinheiro (2008), esta é a aposta que se sustenta no que Lacan nos ensinou acerca do lugar do analista na clínica do autismo: “o fato de que eles não o escutam”. DORIA et al (2006) esclarece que para ocorrer este reconhecimento da criança como sujeito, o analista tentará trazê-la para a realidade, retirando-a do seu mundo particular, fazendo com que ela faça parte, interaja e reconheça os outros. O objetivo do analista é fazer com que esta criança possa vir a ser alguém, ser sujeito com individualidade, com subjetividade. Retirá-la, portanto, da posição em que era tomado, e sufocado, pelo desejo do outro e, com isso, possibilitar o surgimento de seus próprios desejos, suas próprias angústias para que possa vir a interagir com o mundo cheio de enigmas para serem descobertos.
     Dessa forma, Bastos (2003) chama nossa atenção para o fato de que admitir a presença do analista e responder a ela, não é estar aquém da alienação, isto já se remete ao campo do Outro. O que não quer dizer que haja, contudo um par significante diferenciado, mas sim uma tentativa de remediar a inexistência do par primordial.
     A partir do caso de Maria, por exemplo, que é uma criança autista de três anos de idade, Taffuri (2000), concluiu que desde o início do tratamento, “os grunhidos e os maneirismos” das crianças autistas podem ser compreendidos e usados pelo analista em sua natureza fenomenal, como sons, ritmos, movimentos e singularidades, e não como uma mensagem dirigida ao analista, a ser por ele interpretada ou traduzida, ou seja, devemos nos atentar a todos os movimentos e diferenciações linguísticas, da criança autista, apresentadas no momento do tratamento.
    Para que o analista consiga chegar ao seu objetivo, ele terá que trabalhar com o desenvolvimento das funções materna e paterna por parte dos cuidadores da criança para que possa ter resultados positivos na terapia com a criança autista. Em alguns momentos, o próprio analista poderá desempenhar estas funções, contribuindo com o individuo para que ele possa ter relações com outras pessoas e ter uma vida produtiva. (DORIA et al 2006)
     Na função materna Jerusalinsky (et al 1997) ressaltará que não é a ausência da mãe o que vai contribuir para a emergência do sintoma autista, mas “a radical ausência do desejo materno em relação ao filho autista.” Dirá ainda que “sempre encontramos perturbações intensas na ligação das mães com os filhos, concomitantes com os quadros de desconexão autística”, ressaltando, contudo, poder tratar-se de formações reativas às características do filho. Já na função paterna, Pinheiro (2008) deixa claro que podemos considerar a foraclusão do Nome-do-Pai, que conforme Lacan (1955-56) nos apresenta a partir do esquema R e I em “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”, inviabiliza a estruturação do campo da realidade, deixando o sujeito face à carência das amarras simbólicas, e consequentemente, exposto a uma hipertrofia do imaginário.
     Como podemos observar grande parte dos autores aqui citados se referem à criança autista como estando ‘imersa’ na linguagem, mas aquém da alienação. Entretanto, a clínica nos abre o caminho, ao nos apontar um horizonte em que a criança autista, ao dar tratamento ao Outro devastador que lhe acossa, introduz, mesmo não tendo uma inscrição do falo que organize o seu mundo, uma possibilidade de invenção.     
     Mesmo que o encadeamento significante não se estabeleça, pode emergir um lugar que não seja anônimo, a partir da aposta no desejo, que fará com que o sujeito se reconheça naquilo que lhe faz enigma. (PINHEIRO, 2008).
Escrito por:
 Eduardo Alexandre Teles,
Jakeline Martins,
Noel Francisco e
Tamires Alencar De Souza


Sobre o Trabalho:
Artigo apresentado na Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio como um dos requisitos para à elaboração da média semestral na disciplina de Psicopatologia em Psicanálise do Mrs. Raul Max Lucas da Costa.
Bibliografias:
ÁVILA, Lazslo A. Psicanálise, educação e autismo: encontro de três impossíveis. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 1, 11-20. Disponível em: http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/mar0/1.pdf Publicado em 1998. Acessado em 2011.

BASTOS, Angélica. Medicação e tratamento psicanalítico do autismo. Pulsional: revista de psicanálise, ano XVI, n. 173, setembro/2003. Disponível em: http://www.editoraescuta.com.br/pulsional/173_03.pdf. Acessado em junho de 2011.
BOGOCHVOL, A. Comentários sobre o artigo “Autismo” e subjetividade materna. Disponível em: http://www.psicanaliselacaniana.com/mural/textos/documents/SobreoartigoAutismoesubjetividadematerna.pdf  São Paulo. Publicado em 03 de novembro de 2009.Acessado em 26 de maio de 2011.
COLL, C; MARCHESI, A; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas e especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004.
DOMINGUES, W.E. O autismo e sua relação com a psicanálise. Disponível em: http://www.celpcyro.org.br/v4/html/OAUTISMO.htm Publicado em 28 de setembro de 2003. Acessado em 26 de maio de 2011.
DORIA, N. G. D. M.; MARINHO, T. S.; FILHO, U. S. P. O autismo no enfoque psicanalítico. Disponível no site: www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0311.pdf Publicado em 10 de outubro de 2006. Acessado em 25 de maio de 2011.
DSM-IV-TR, Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Transtorno Autista. American Phychiatric Association. Porto Alegre: Artmed, 2002.
NETO. Autismo – um breve histórico. Disponível em:http://www.psicologiaeciencia.com.br/autismo-um-breve-historico Publicado em 05 de fevereiro de 2010. Acessado em 28 de maio de 2011.
PINHEIRO, M. F. G. Autismo e devastação. Disponível em:http://www.psicologia.ufrj.br/teoriapsicanalitica/pdfs/dissert_mariafatima.pdf Rio de Janeiro. Publicado em 2008. Acessado em 2011.
SANTIAGO, J.C. Autismo. Disponível em: http://www.jcsantiago.info/autismo.html . Publicado em julho de 2005. Acesso em maio de 2011.
SOUSA. M.E.M. A musicoterapia na socialização das crianças com perturbação do espectro do autismo. Artigo disponível em http://repositorio.esepf.pt/handle/10000/394. Porto Alegre: 2009/2010. Acessado em 2011.
TAFURI, Maria Izabel. O início do tratamento psicanalítico com crianças autistas: transformação da técnica psicanalítica? Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 4, 122-145. Disponível em: http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/dez0/7.pdf Publicado em: novembro de 2000. Acessado em maio de 2011.