quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Amor à Vida: especialistas apontam oito erros médicos da novela das 9
A novela continua ... O AUTISMO...(do blog)...
Os tratamentos
de câncer, lúpus e até mesmo a fertilização in vitro apresentaram erros ao
serem retratados na novela Amor à Vida.
Desde maio de
2013, alguns dos assuntos que mais têm caído na boca dos brasileiros são
doenças. Tudo por causa da novela Amor à Vida, escrita por Walcyr Carrasco e
exibida na Rede Globo no horário das 21h. A trama se passa em grande parte do
tempo dentro de um hospital em São Paulo, o San Magno, e grande parte dos
personagens são médicos, enfermeiros ou mesmo executivos dessa instituição.
E com tantas
cenas passadas dentro do ambiente hospitalar, diversas questões de saúde foram
citadas, como lúpus, câncer, AIDS, cegueira, adoção de dietas não saudáveis,
entre outros... Porém, muitas vezes em nome do enredo, algumas informações a
respeito de doenças acabam não retratando fielmente a realidade, ou passando
uma impressão errônea. Por isso, separamos alguns deslizes e até mesmo erros
médicos mostrados na novela.
O lúpus da Paulinha
A personagem
Paulinha (Klara Castanho) foi diagnosticada com lúpus, doença autoimune que
ataca pele, as articulações, os rins, o cérebro e outros órgãos, normalmente a
doença é caracterizada por manchas na pele e dores e edemas nas articulações.
Quando ela foi diagnosticada, o quadro estava descontrolado e ela logo teve que
fazer um transplante de fígado. Porém, de acordo com a reumatologista Ieda
Laurindo, do Hospital das Clínicas, um transplante não seria necessário.
"O lúpus acomete o fígado com certa frequência (cerca de 20 a 50% dos
casos), mas de forma subclínica, ou seja, aparecem alterações nos exames do
fígado, apenas nas enzimas que ele produz, mas o paciente não apresenta
sintomas", explica a especialista. "Não há na literatura médica casos
de transplante de fígado devido ao lúpus, apenas um caso de uma criança, que
tinha também uma hepatite autoimune associada, o que justifica o
procedimento", conclui a reumatologista.
Linda (Bruna
Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete) - Créditos: Globo/Divulgação
O autismo da Linda
A personagem
Linda (Bruna Linzmeyer) tem sido importante para mostrar na novela como o
autista pode ter possibilidades como qualquer outra pessoa. O problema é que a
novela não levou em consideração que existem graus de autismo, e a personagem
não parece se encaixar em muitos deles. "Ao que parece, o grau de
habilidade de lidar com situações e linguagem da personagem muda conforme as
cenas: em algumas ela parece ter um desenvolvimento muito atrasado, em outras
parece mais avançado e, depois ela volta a ficar como antes. Não é assim que um
autista se desenvolve", avalia a psicóloga Ana Arantes, mestre em Educação
Especial e doutora em Comportamento e Cognição.
Pelo histórico
da personagem, que nunca foi à escola e também foi educada rigidamente pela
mãe, sem oportunidades de se desenvolver, seria muito difícil ela de repente se
desenvolver e progredir. "Poderia-se dizer que Linda, partindo de um
estágio de autismo moderado-grave, rapidamente queimou etapas chegando ao final
da novela como autista leve, algo que é ilusório", comenta a psiquiatra
Evelyn Vinocur, pós-graduada em pediatria e especialista em psiquiatria
clínica.
No geral, é
importante que o autista seja diagnosticado o mais cedo possível, para que com
o tratamento adequado ele seja estimulado de forma correta, de acordo com o
grau de seu quadro, e possa ser inserido na sociedade. "O cuidado é
multidisciplinar, e envolve desde psicólogos e psiquiatras até fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas", considera a psicóloga Ana. Com
isso, o autista pode frequentar a escola, aprender coisas novas e conviver com
outras pessoas.
Outra questão
que a novela polemizou foi a questão de relacionamentos para autistas, já que
Linda está vivendo uma história de amor com o advogado Rafael (Rainer Cadete).
Quem tem grau leve de autismo pode sim lidar bem com a sexualidade e romance.
Porém não é possível determinar o grau de Linda, tudo indica que ela tenha um
grau severo de autismo, e isso inviabilizaria qualquer chance de um romance
acontecer.
Fertilização in vitro de Niko, Eron e Amarilys
Amarilys (Danielle Winits), Eron (Marcelo Antony) e Niko (Thiago Fragoso) - Créditos: Globo/Divulgação |
O casal gay
Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Anthony), sonhava em ter um filho. Eles
decidiram fazer uma fertilização in vitro, mas alguém precisava gestar a
criança. Niko então chamou sua amiga de infância Amarilys (Danielle Winits)
para ser a barriga solidária. O problema é que as leis para esse tipo
procedimento são muito rígidas. "O útero de substituição ou 'barriga
solidária' é autorizado para parentes de até quarto grau, e em situações que
não há tal parente, é obrigatória uma autorização ao Conselho Regional de
Medicina (CRM)", expõe o ginecologista e obstetra Alfonso Massaguer,
especialista em reprodução humana. De acordo com a resolução CFM Nº 2013/2013,
podem gestar a criança apenas a mãe, irmãs, tias, avós ou primas de um dos
membros do casal. E, ao que parece, não houve nenhuma espera de notificação ao
CRM antes de Amarilys receber o primeiro óvulo.
Outro erro
grave feito na novela foi o uso dos óvulos de Amarilys, mas isso realmente foi
feito ilegalmente pela personagem, em parceria com o médico. "É
estabelecido que se usem óvulos de uma doadora anônima, para não haver brigas
sobre a maternidade ao fim do processo", ensina Massaguer. O que realmente
aconteceu na novela, já que Amarilys quis alegar que o filho era dela.
Linfoma de Hodgkin da Nicole
Thales (Ricardo Tozzi) está de saída. Vinícius pergunta como Nicole (Marina Ruy Barbosa) está se sentindo - Créditos: Globo/Divulgação |
Logo no inicio
da trama, a personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa) começou a apresentar manchas
na pele e a se tratar com um oncologista. A aposta dos telespectadores foi de
que ela tivesse um câncer de pele, mas ela foi diagnosticada com linfoma de
Hodgkin, tumor que se localiza nos glânglios linfáticos, como os presentes no
pescoço. É raro, mas o problema pode sim se manifestar na pele. "Mas para
atingir a pele com manchas, teria que ser um fase bem avançada do tumor",
pondera o oncologista clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo Cancer
Center. Na vida real, antes de chegar nessa fase o paciente já teria mostrado
outros sinais clássicos da doença que iriam inclusive permitir o diagnóstico
precoce. "O normal é o paciente apresentar sintomas mais comuns como o
inchaço do glânglios linfático em 70% dos casos, e pode ter também perda de
peso, sudorese excessiva, febre persistente, fadiga, entre outros
sintomas", explica o oncologista.
Mas a parte
mais grave foi o prognóstico do médico de que Nicole teria pouco mais do que
seis meses de vida, passando uma ideia errônea sobre as chances de cura desse
tipo de câncer. O linfoma de Hodgkin é considerado um dos tipos mais curáveis
de câncer, principalmente se for diagnosticado e tratado a tempo. Diferentemente
de outros tipos de câncer, a doença de Hodgkin muitas vezes pode ser curada
mesmo em estágios mais avançados. "O linfoma de hodgkin tem agressividade
intermediária, pois se desenvolve rapidamente, mas seu prognóstico na maioria
dos casos é favorável: a taxa de cura é muito alta", considera o
especialista. Porém, não foi isso que ocorreu com a personagem, já que ela
faleceu em decorrência do tumor algum tempo depois do diagnóstico.
Tratamento de choque aplicado em Paloma
Paloma (Paolla Oliveira) apática. César (Antonio Fagundes) se aproxima com a diretora - Créditos: Globo/Divulgação |
Em meio às
reviravoltas do enredo, a personagem Paloma (Paolla Oliveira) foi internada
pelo próprio irmão Félix (Matheus Solano) em uma clínica psiquiátrica
considerada mais radical. Ela foi falsamente diagnosticada, e a médica
responsável pela instituição lhe receitou tratamento com choques elétricos,
extremamente dolorosos (a cena foi marcada pelos gritos da personagem). De
acordo com o psiquiatra Hewdy Lobo, diretor do Vida Mental, isso não retrata a
realidade desse tipo de tratamento, chamado de eletroconvulsoterapia.
"Quando possui indicação para ser realizado, esse procedimento ocorre em
centro cirúrgico com a presença tanto do médico anestesista quanto do médico psiquiatra,
que realiza a eletroconvulsoterapia", explica o especialista.
Normalmente
ela é usada em pacientes que não podem usar medicamentos, como idosos em
depressão grave, gestantes com problemas psíquicos, pacientes com psicoses...
Também pode ser uma indicação quando a medicação não está trazendo resultados,
e o paciente tem risco de suicídio, agressão ou desnutrição. "Jamais esta
é uma conduta punitiva e sim médica, quando não há possibilidade de uso de
medicações", ressalta. "Além disso, uma instituição de saúde que
aplica choques elétricos aliados a doses de medicamentos cavalares da forma que
foi aplicado à personagem certamente está indo contra a conduta médica adequada
e atuando de forma criminosa", destaca o psiquiatra Hewdy Lobo. Na novela,
nem a clínica nem os médicos receberam qualquer tipo de penalidade por atuar da
forma que foi mostrado.
Câncer de mama da Silvia
Silvia (Carol Castro) espera tensa. Noriko (Camila Chiba) ali. Créditos: Globo/Divulgação |
A personagem
Silvia (Carol Castro) foi diagnosticada com um câncer de mama, e encaminhada
diretamente para uma mastectomia, ou seja, a retirada completa da mama. Até aí,
um procedimento normal, dado que essa avaliação sempre depende do tamanho da
mama e do tumor. Porém, após a cirurgia, nenhum outro tratamento foi feito.
"Na maioria dos casos é preciso fazer um ou mais desses três tratamentos:
quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia", explica o oncologista
clínico Vladimir Cordeiro de Lima, do AC Camargo Cancer Center. De acordo com o
médico, algumas pacientes podem não precisar de nenhum desses tratamentos, mas
é muito raro. Porém, na trama não foi mostrado se a personagem foi analisada
quanto a isso.
O diabetes do César
César (Antônio Fagundes) e Aline (Vanessa Giácomo) - Créditos: Globo/Divulgação |
O personagem
César (Antônio Fagundes) ficou cego por algum tipo de intoxicação, e ao fazer
um check-up para descobrirem a causa, foi diagnosticado um aumento na sua
glicemia. Logo, ele foi diagnosticado com diabetes tipo 2, apesar de a causa
não ter ficado exatamente clara. Por várias, foi debatido por alguns capítulos
pelo personagem Lutero (Ary Fontoura) e a Paloma, respectivamente cirurgião e
pediatra, o envio de um médico para aplicar insulina no paciente. Por fim, o
médico foi enviado, mas acabou administrando um medicamento por injeção.
A novela
começou tendo um deslize inicial, logo corrigido, pois a primeira opção para o
tratamento do diabetes tipo 2 não é a insulina. Para contextualizar melhor,
existem dois tipos de diabetes: o tipo 1 ocorre porque o pâncreas não produz
insulina, por isso é necessário repor o hormônio, e o mais comum é que a pessoa
desenvolva o problema até os 20 anos. "Já na maior parte dos diabéticos
tipo 2 há apenas uma resistência a ação da insulina. Por isso, geralmente o
tratamento do diabetes tipo 2 é iniciado com antidiabéticos orais",
descreve a endocrinologista Denise Ludovico, da ADJ Diabetes Brasil. Além
disso, nesse processo nenhum endocrinologista foi consultado.
Parto da Luana (esposa do Bruno)
Gabriela Duarte (Luana). Bruno (Malvino Salvador) e Glauce (Leona Cavalli) - Crédito: Globo/Divulgação |
Dessa vez, o
deslize foi justificado pelo enredo. No primeiro capítulo Luana (Gabriela
Duarte), morreu no parto, em decorrência de eclampsia - quando ocorrem
convulsões antes ou durante o parto, precedidas por sintomas como hipertensão
arterial, durante a gravidez. A gestante já havia sido diagnosticada com a
hipertensão ao longo da gravidez, mas sua obstetra Glauce (Leona Cavalli), não
tinha consigo um cardiologista na equipe. "É importante uma equipe de
retaguarda, pois se alguma complicação ocorrer, é importante termos uma UTI e
equipe médica completa para atender esta gestante. Isto vale para qualquer
mulher em pré-natal de alto risco", considera o ginecologista e obstetra
Alfonso Massaguer, especialista em reprodução humana. Porém, a intenção da
médica era justamente que Luana morresse no parto, pois ela estava apaixonada
pelo marido da grávida, Bruno (Malvino Salvador). O segredo foi revelado ao
longo da novela.
FONTE:
Por:
Nathalie Ayres
Para 72% dos pais de criança autista, escola não ajuda no aprendizado do filho
Mesmo assim, 85% dos pais de autista avaliam a
escola como uma experiência positiva, mostra pesquisa da USP
Uma dissertação de mestrado da Universidade de São
Paulo (USP) mostra que apenas 27,7% dos pais de crianças com autismo avaliam
que a escola colabora na aprendizagem acadêmica do filho. Por outro lado, 85%
dos genitores entendem a escola como uma experiência positiva e 53% acreditam
que o desenvolvimento social é o resultado mais relevante na frequência às aulas.
Para realizar sua pesquisa, Ana Gabriela Lopes
Pimentel ouviu 56 cuidadores na região oeste da Grande São Paulo. Do total, 54
crianças iam para escola. A maioria dos pacientes era meninos, com idade entre
3 e 16 anos.
Gisleine Hoffmann, mãe de Lucas, de 5 anos, viu a
evolução do filho ao procurar por uma nova escola
Para Ana Gabriela, a pouca menção dos resultados
educacionais dos filhos é devido a um de dois fatores: ou o potencial educativo
das crianças e adolescentes com autismo está sendo subestimado ou os resultados
escolares estão sendo ignorados.
A orientadora da pesquisa, professora Fernanda
Dreux Miranda Fernandes, explica que os 85% de aprovação, mesmo que não
signifiquem aprendizado, é resultado de uma gratidão. Ela acredita que o medo
de o filho não ser aceito é tão grande que, somente o fato de a criança estar
matriculada e com direito ao convívio já é visto como suficiente.
Um equívoco, explica Fernanda. "A socialização
não pode ser vista como o mais importante". Mesmo porque, afirma, a maior
parte das crianças com autismo consegue acompanhar o currículo de uma escola
regular, ainda que alguns com um aproveitamento relativo, desde que com
acompanhamento adequado.
Adaptações
Para Gisleine Hoffmann, mãe de Lucas, de 5 anos, a
solução foi mudar de escola. Matriculado em uma colégio no interior de São Paulo
desde que tinha um aninho, o garoto costumava ficar muito agitado. “Além disso,
até uns três anos, ele não falava, se comunicava apenas com gestos",
conta.
Quando a criança completou três anos, veio o
diagnóstico de autismo. "Nisso, pedi para acompanhar algumas aulas e
descobri que ele ficava afastado dos colegas. Quando não se dava bem em uma
atividade, era deixado de lado”, conta.
O diagnóstico coincidiu com a mudança de cidade e
Gisleine aproveitou para procurar uma escola menor. Apesar de ser regular, a
atual instituição de ensino onde Lucas estuda tem apenas cinco alunos na sala.
"Busquei uma escola com poucas crianças. Foi
um desafio para o Lucas e para a escola também, já que eles não tinham tido um
aluno com autismo antes."
A evolução veio com pequenas coisas no dia a dia:
Lucas começou a contar eventos da escola para a mãe, falar sobre os colegas e a
escrever sozinho. No último Natal, escreveu a primeira cartinha para o Papai
Noel. Além disso, aprendeu a jogar xadrez. "Ele é muito bom. Me contaram
que os amigos pedem para jogar com ele", conta a mãe orgulhosa.
História parecida é de Paula Naime, mãe da
Carolina, de 5 anos. Com dois anos e sem Carolina andar ou falar, a mãe decidiu
procurar por ajuda. O neurologista recomendou que ela procurasse uma escola
para que a filha se integrasse. "Na escola, me falaram que ela era
diferente", conta. O diagnóstico de autismo veio dois anos depois
Questionada sobre o aprendizado da filha, ela diz
que muitas escolas estão bem menos preparadas do que os pais. Matriculada em um
escola regular, porém pequena, Carolina já consegue escrever o alfabeto e sabe
os números. "Ás vezes, eu brinco com ela à noite, digo que ela vai ser
presidente de uma multinacional. Mas, a verdade, é que ela pode ser o que ela
quiser, o mais importante é que seja feliz", diz Paula.
Tempo na escola
Outra questão que chamou atenção durante a pesquisa
é que apenas 70% das crianças com autismo frequentam a escola durante toda a
semana, enquanto mais de 16% vão apenas três dias por semana.
Resultado de falta de estrutura e preparo, explica
Fernanda Dreux. "A política pública é incluir as crianças em escolas
regulares. Mas ainda há situações como a de professores que têm uma sala com 50
alunos e mais uma criança autista", pondera.
A fonoaudióloga Danielle Defense, que trabalha com
crianças autistas, diz que, mesmo aliviados, muitos pais acabam frustrados com
a situação e não raro, têm um histórico de tentativas em muitas escolas.
"Eles mostram bastante insatisfação em como são recebidos e como são
ouvidos pelos professores e diretores, por mais que as crianças estivessem na
escola. Há muita resistência."
Ainda assim, Daniele insiste para que os pais não
desistam, e acompanhem o progresso acadêmico do filho. "É trabalho de
sociabilização é muito importante, mas a criança tem que ter aprendizado",
completa.
FONTE:
Por
Julia Carolina - iG São Paulo
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-01-26/para-72-dos-pais-de-crianca-autista-escola-nao-ajuda-no-aprendizado-do-filho.html
Links importantes para pais e professores conhecerem o
assunto:
Cartilha das diretrizes do autismo feita pelo Ministério
da Saúde
Lei de Proteção ao Autismo
Cartilha da Defensoria Pública do Estado de São Paulo
Programa de Inclui - Inclusão de alunos com necessidades
especiais no Municipio de São Paulo.
Contatos
importantes:
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (Solicitação
de Tratamento Gratuito e Orientação sobre a parte escolar)
Rua Drº Enéias de Carvalho Aguiar 188, primeiro andar,
Cerqueira César
CAPE - Centro de Apoio Pedagógico Especializado
(Prefeitura de São Paulo)
Rua Pensilvânia, 115 - Fundos
Tel: (11) 3396-0649
domingo, 26 de janeiro de 2014
Bruna Linzmeyer: '‘Um autista e sua família podem nunca ter um momento como esse’'
Em exclusiva, atriz conta
curiosidades e fala sobre a
preparação da personagem
“A Linda agora faz parte de mim”, diz Bruna |
Um belo dia, Bruna Linzmeyer foi
convidada a emprestar seu talento à novela “Amor à Vida”. Exatos nove meses
depois, nascia Linda. De parto normal e sem complicações, a atriz deu à luz a
personagem autista que desperta elogios desde os primeiros capítulos da trama
de Walcyr Carrasco.
Em entrevista exclusiva ao Gshow,
ela comenta a experiência. O local da conversa, inusitado, ela própria que
escolheu: o gramado do Projac. No estúdio em frente, acabara de ser gravada a
cena emblemática da história de Linda, na qual a moça pede socorro à família. E
foi assim, recém-saída da gravação, sentada na grama com pés descalços e voz
suave, que a jovem catarinense respondeu às perguntas:
Por que você escolheu dar a
entrevista de pés descalços sobre o gramado?
Porque eu sou uma pessoa da
natureza, assim como a Linda. Ela adora as formiguinhas. De vez em quando eu
venho para cá, me sento aqui e aproveito o tempo para relaxar, refletir, ler um
pouco.
Você poderia comentar a gravação
da cena em que a Linda pede socorro à família?
Com prazer. A cena é linda, é muito
linda. Às vezes, um autista e sua família podem nunca ter um momento como esse,
mas em muitos outros casos ele existe. E trata-se de um momento muito
arrebatador, porque ninguém espera. A Linda não é um personagem verbal, não
sabe o que o verbo significa, ele não a satisfaz.
O verbo é só mais uma coisa
na vida, só mais uma maneira de ser. É preciso muito aprendizado com terapias,
fonoaudiologia e psicologia para que um autista chegue a esse estágio verbal.
Então, é muito bonito, principalmente para as pessoas não autistas, porque eles
são seres verbais, precisam de palavras para se comunicar. Para a Linda, o que
é potente é o que acontece depois desse momento. Ela só percebe a potência
daquela cena no dia a dia que acontece depois.
Você comentou com o diretor,
Mauro Mendonça Filho, que o texto da cena estava muito bom… Por quê?
Estava muito bem construído. Sua
construção foi muito boa por não ser exatamente linear. O pensamento de uma
pessoa não autista é linear, diferente de como acontece com a Linda. O
pensamento dela é entrecortado. Além disso, o texto é recheado de referências,
e o trabalho é feito a partir de histórias que já existem. A Linda existe
porque os autistas existem, e porque eles precisam que a Linda exista também.
Foi um texto cheio de história.
Como a Linda afetou você?
Por inteiro. A Linda me afetou
muito, de muitas maneiras. Ela mudou meu olhar, meu ritmo, meu tempo, mudou
muita coisa. Eu não tenho a dimensão do quanto ainda, mas espero que isso ainda
reverbere por algum tempo em mim.
Quadro de Danielle Carcav no
cenário
Quadro da artista compõe o cenário nas
gravações
Isso é tudo que você vai levar da
Linda quando a novela terminar?
Não. Eu pedi para ficar com um
dos quadros da Linda. Na verdade, eles são de uma artista muito sensível, e eu
realmente acho os quadros dela verdadeiras obras de arte, porque eles me
atravessam. Eu os acho lindos, e eles são um signo do que a Linda foi e é na
minha vida. Gostaria de ter um signo para levar comigo.
Pode ser qualquer um
deles. Ainda não sei onde vou pendurar o quadro. No meu coração, com certeza.
Como você pretende influenciar as
pessoas com o seu trabalho?
Quando a gente inventa ou decide
fazer um trabalho, tudo o que queremos é que nosso trabalho possa afetar as
pessoas, assim como os quadros da Linda me afetam. Talvez essa seja a
característica de uma obra de arte: atravessar as pessoas. Isto ou aquilo são
obras de arte para mim porque me atravessam, porque mudam a batida do meu
coração. Tudo o que um artista quer é fazer uma obra de arte, mas nem sempre
ele faz. Nem sempre dá para fazer. Eu não sei se a Linda é uma obra de arte,
mas existe em mim o desejo de que ela seja. Eu fui muito afetada pela Linda, e
isso já é importante para mim.
Como são os momentos após as
gravações?
Muito bons! Há algo de
inexplicável no trabalho de um ator. Você traz à tona emoções muito profundas,
algumas são suas, outras são de outras pessoas, e outras são inventadas. E
depois que a cena acaba você fica num lugar vazio. Isso parece ser ruim, mas é
bom. Como está vazio, você pode inventar uma coisa nova para colocar nesse
lugar. Você pode ser uma nova pessoa depois de fazer uma cena em que você ficou
vazio no final. Ou seja, trabalhar como atriz cria espaços vazios, além de
criar muita coisa.
Cachecol foi presente de um
autista
Cachecol usado em cena é presente
de uma autista
E os momentos que antecedem as
gravações? Como são?
Está aqui o pré-cena, eu carrego
na bolsa. As músicas que ouço desde o começo são as mesmas, incluindo uma
inédita, que nunca foi publicada. Só eu tenho essa música porque é do meu
namorado, o Michel Melamed. E tem também os livros, que me acompanham sempre.
São muitos, desde biografias até livros de poesia. Mesmo que eu não consiga
lê-los, só de tê-los por perto já faz alguma diferença. Nunca são os mesmos
livros. Às vezes eu olho para a minha estante e elejo aquele, sem nenhum motivo
específico. Os livros e as músicas são tão importantes quanto o texto e o
figurino. Eles são uma conexão com pessoas que eu admiro, com pessoas que
mudaram a minha vida.
O que existe no universo interior
que você construiu para a Linda?
Muita consciência de tudo. A
Linda sabe de tudo, muito mais que todo mundo. E essa vida interna existe desde
a primeira faísca de existência da personagem. Desde as primeiras cenas, eu
procurava olhar para as coisas com o olhar de quem vê, de quem sabe. E é tão
bonito chegar ao final da novela e perceber que houve conexão com o autor,
porque ele faz a Linda dizer exatamente isso: “Eu ouvia vocês”. E isso
significa “eu entendia, eu sabia, eu sei”.
O que você gostaria de dizer às
pessoas que têm acompanhado seu trabalho?
Gostaria de dizer “obrigada”.
Ouço tanta coisa das pessoas, e a Linda não existiria sem elas também. A
construção de uma personagem depende do público, especialmente em uma novela em
que a história é influenciada pelo que o público espera, e tudo muda o tempo
todo. Então eu tenho que agradecer a todo mundo que está em volta. Parece um
clichê, mas é verdade.
FONTE:
http://gshow.globo.com/novelas/amor-a-vida/por-tras-das-cameras/noticia/2014/01/bruna-linzmeyer-um-autista-e-sua-familia-podem-nunca-ter-um-momento-como-esse.html
Fotos: TV Globo
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