Alysson Muotri |
Enquanto muitas entidades buscam atingir uma maior
conscientização sobre a condição autista, algo que ainda precisamos melhorar,
percebo uma nova reação vinda dos pais e familiares dos autistas: a
oportunidade de agradecer a sociedade pelo que tem sido feito pelos autistas.
E não é pouca coisa. Em contraste com doenças que
afetam indivíduos adultos, no final da vida produtiva, cada indivíduo autista
enfrenta desafios particulares desde a infância. Isso requer um grupo de
profissionais especializados que tenham experiência e saibam lidar com
indivíduos autistas ao longo de suas vidas. Nos EUA, grande parte do custo vem
do governo. Em 2007, o custo estimado foi de 35 bilhões de dólares. Com a
elevada frequência de autismo nos dias de hoje (1 a cada 88 pessoas), o custo
chegou a 137 bilhões de dólares em 2012. Esse salto enorme assusta e tende a
subir. Obviamente o contribuinte e a sociedade como um todo é quem estão
arcando com isso.
No Brasil estamos um passo atrás. A lei Berenice
Piana, que garante direitos aos autistas, foi aprovada no final do ano passado
e transfere a responsabilidade (e a conta) para o governo (entenda-se
contribuinte). O autismo também afeta a sociedade de outras formas, retirando
pessoas capacitadas do mercado de trabalho, por exemplo. Em geral, um dos pais
deixa de trabalhar para se dedicar ao filho autista. Mais que isso, o alto
índice de divórcios e instabilidade emocional das famílias com casos de autismo
também afetam o crescimento econômico de todo o país.
Além do custo social, o autismo muitas vezes afeta a
liberdade alheia em pequenas situações do dia-a-dia: choro no avião, ataques
nervosos em lugares públicos, e por aí vai. Essas circunstâncias colocam o
autista e suas famílias em situações muitas vezes embaraçosas, pois como a
conscientização não é 100%, ainda existe o preconceito. Menino “mimado”,
“sem-educação”, “o pai é mole”, “a mãe é fria” e outros comentários são
frequentemente ouvidos pelos pais. Porém, a solidariedade também existe e
muitas vezes esquecemos de agradecer aqueles que nos cercam, pela paciência,
compreensão e principalmente curiosidade. Sim, os olhares podem até incomodar
alguns, mas existe aí uma oportunidade de conscientização. Muitas vezes, basta
explicar o que está acontecendo para ganhar empatia e ajuda.
Diferentemente de outras condições humanas, os
autistas não conseguem lutar pelos próprios direitos. Enquanto não surge um
autista famoso, esse grupo permanece sem voz e dependem do apoio e carinho da
sociedade. Por isso mesmo conscientização e agradecimento devem andar sempre
juntos.
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