Daniel Del Rey, Denise Vilas Boas e João
Ilo
Veridiana Scarpelli |
Em artigo publicado nesta seção, a presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Nilde
Jacob Parada Franch ("Autismo e psicanálise", 13/9), referiu-se à
abordagem da psicologia comportamental para o tratamento de autismo de forma
simplista e equivocada.
No passado, o autismo foi visto como
resultado de problemas emocionais e o tratamento recomendado era a genérica
psicoterapia.
Com o avanço das neurociências, da
genética e da própria psicologia, passou a ser compreendido como um problema de
desenvolvimento. Referência mundial para a psiquiatria, o DSM (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) corrobora esse entendimento.
O foco das intervenções passou então a
ser educacional, visando a desenvolver e aprimorar habilidades e repertórios
necessários para o bem-estar e a inserção social do autista.
Foi nesse cenário que a tecnologia de
ensino e de aprendizagem compreendida na ABA (análise comportamental aplicada)
se sobressaiu e se tornou o tratamento privilegiado para pessoas com quadro do
espectro autista. Isso se deve ao fato de a ABA historicamente ter se mostrado
eficaz, e não pela propaganda de supostos benefícios.
Os "rituais autísticos"
mencionados por Nilde Franch, convém esclarecer, podem ter, em alguns casos,
função de esquiva social, conforme ela mencionou. Mas, na maioria das vezes,
decorrem da sensibilidade alterada do autista a estímulos ambientais,
dificuldade de integração sensorial e ausência ou deficit acentuado de
repertórios comportamentais básicos, como expressão verbal e aspectos
paralinguísticos (expressões faciais, entonação da fala...).
O estereótipo da psicologia
comportamental como um método baseado em repetição e recompensa não passa de
desconhecimento.
A análise do comportamento não é um
método, mas uma abordagem científica que examina a interação do sujeito com o
seu entorno. Sua tecnologia de intervenção é efetiva porque articula um
referencial teórico-conceitual sólido e dados empíricos robustos. Os métodos
são embasados em estudos --atendimento em consultório e acompanhamento
terapêutico no ambiente em que o cliente vive possibilitam a identificação de
suas necessidades e o seu desenvolvimento.
Basta consultar o banco de dados de
periódicos como o "Jaba" (Jornal da Análise Comportamental Aplicada,
na sigla em inglês) e os mais de 200 artigos sobre o autismo ali publicados
para se conhecer os avanços científicos obtidos na área.
Uma intervenção comportamental bem planejada
tem de incluir o desenvolvimento de linguagem funcional, ensino de habilidades
sociais, organização de rotina e estabelecimento de metas acadêmicas.
Não é simplismo desenvolver
pré-requisitos para se alcançar essas metas e para extinguir comportamentos
autolesivos e estereotipados. Desses pré-requisitos dependem também o bem-estar
do cliente e a possibilidade de um futuro com independência, produtividade
acadêmica e equilíbrio emocional.
Autismo é um transtorno grave que, se
não for cuidado adequada e precocemente, comprometerá aspectos básicos para a
sobrevivência e qualidade de vida das pessoas diagnosticadas com o problema.
Seu tratamento exige a participação de equipes interdisciplinares envolvendo
psicólogos comportamentais especializados, médicos, fonoaudiólogos e terapeutas
ocupacionais.
A preocupação com a eficácia do
tratamento é legítima. Famílias, órgãos governamentais e a sociedade precisam
estar cientes dos riscos que despender tempo e recursos com propostas sem
eficácia comprovada cientificamente representam. Tratamento inadequado pode
resultar em consequências devastadoras para o desenvolvimento social, acadêmico
e afetivo do autista.
DANIEL DEL REY, 31, psicólogo, é
mestre em análise do comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP)
DENISE VILAS BOAS, 36, doutoranda
em análise do comportamento pela PUC-SP, é vice-presidente da Associação
Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental
JOÃO ILO, 48, doutor em ciência
do comportamento pela Universidade Federal do Pará, é presidente da mesma
associação
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