Jornalista
americano relata como personagens e histórias auxiliaram o filho a se
relacionar com situações do mundo real.
Owen Suskind era uma criança
normal até os três anos de idade, quando sua capacidade de comunicação e
habilidades sociais desapareceram. Ele foi diagnosticado com autismo
regressivo.
Aos poucos,
Owen tornou-se fascinado por filmes da Disney. Ele os assistia e reassistia
indefinidamente. Um dia, na festa de aniversário do irmão de nove anos, Walter,
o aniversariante estava um pouco choroso. "Walter não quer crescer, como
Mowgli ou Peter Pan", disse Owen. A comparação entre seu irmão e os
personagens do gigante do entretenimento foi a coisa mais sofisticada que Owen,
já com seis anos, havia pronunciado em muito tempo.
O pai, o
jornalista americano Ron Suskind, e sua esposa Cornelia começaram a incentivar
a paixão do filho pela Disney. O menino autista, hoje com 23 anos, usou
personagens e histórias para se relacionar com situações do mundo real. Ele
recuperou a linguagem perdida e, por encontrar outras crianças autistas com o
mesmo interesse, seu isolamento social diminuiu. A família Suskind foi
procurada por pesquisadores de todo o mundo, e eles acreditam que a história do
pequeno Owen oferece esperança a outras crianças.
Mary
Andrianopoulos, docente na Escola de Saúde Pública de Amherst, na Universidade
de Massachusetts, tem verba federal para melhorar as habilidades de comunicação
em crianças autistas. Ela acompanha a história da família e diz que a abordagem
dos pais fez sentido: "eles descobriram os interesses do filho e tentaram
incentivar a criança a aproveitá-los”.
A especialista
adverte, no entanto, que não é tão simples como "apenas colocar uma
criança na frente de um vídeo da Disney e o tratamento está feito", mas
diz que se uma criança aprende habilidades de comunicação e como expressar
certos sentimentos através dos personagens, e tem um repertório de idioma
aprendido com esses filmes, então esses interesses podem ser canalizados para
habilidades funcionais para que ela possa conseguir emprego, ter amigos e viver
de forma independente.
O autor do
livro recém-lançado nos Estados Unidos “Life, Animated”, Ron Suskind e a esposa
contam como a experiência mudou a vida da família:
AP: Como a
paixão de Owen pela Disney é diferente de outras coisas que também fascinam
pessoas com autismo, como quebra-cabeças, por exemplo? Por que esse interesse
importa no longo prazo?
Ron Suskind: O
consenso tem sido que, enquanto eu e você temos permissão para ter uma profunda
paixão por alguma coisa, uma pessoa no espectro autista não tem, porque ela se
concentra naquele interesse em particular excluindo muitas outras coisas. É
visto como algo que deve ser desencorajado porque não é produtivo ou não é o
que as crianças tipicamente devem fazer. Eventualmente, nós começamos a ver que
esse interesse pelos filmes não estava prejudicando Owen. Foi um caminho para
ele chegar a uma vida mais diversificada e engajada.
Cornelia
Suskind: Todas estas crianças têm obsessões e afinidades. A diferença é que
usamos sua afinidade como uma ferramenta, não só para nos aproximarmos do nosso
filho cantando músicas, assistindo filmes juntos, brincando com personagens e
sendo os personagens, mas, depois, para ajudá-lo a melhorar habilidades
acadêmicas e sociais. A melhor esperança que temos com autistas é realmente
aproveitar o que os motiva. Pode melhorar o relacionamento familiar e ajuda a
ampliar as possibilidades de emprego. Eu honestamente acho que é a resposta
para tudo.
AP: Em diversas
ocasiões a Disney é criticada pela comercialização e homogeneização do
entretenimento infantil. Ela está divulgando seu livro e Kingswell, uma marca
da Disney, é sua editora. Seu livro promove a Disney?
Ron Suskind: O
livro não é de forma alguma pró-Disney. Não é antidisney. É apenas pró-fato.
Entendemos que as pessoas têm aversão ao poder da Disney e à lavagem cerebral.
Houve momentos em que eu disse: "se eu assistir Peter Pan mais uma vez,
vou enfiar uma espada no meu peito". Mas, com o tempo, começamos a ver que
era a única maneira de se conectar com nosso filho. E a razão pela qual meu
livro pertence a esta unidade de publicação da Disney pode ser compreendida
depois de uma orientação do meu agente. Ele disse: "cada palavra que seu
filho fala é licenciada por uma empresa multinacional". Nós teríamos que
pagar taxas de licenciamento para cada letra ou linha de diálogo. Eu tive que
ir para a Disney.
AP: Os desenhos
da organização são muitas vezes tão visualmente expressivos que você pode
acompanhar a história com o som desligado. O que mais faz com que os filmes
sejam atraentes para as pessoas que têm problemas de processamento de discurso
ou emoções?
Ron Suskind:
Eles têm temas poderosos que remontam ao Irmãos Grimm e a mitos de mil anos de
idade. Mas não foi até a chegada do videocassete para uso doméstico que
crianças como Owen pudessem rebobinar e hipersistematizar para aprender, em seu
próprio ritmo, a partir dessas narrativas emocionalmente ricas, coisas que elas
não poderiam fazer a partir de interações humanas.
Owen usou os
filmes para entender a si mesmo e seu lugar no mundo. Ele se via como um
ajudante. Ele nos disse: "um auxiliar ajuda o herói a cumprir seu
destino". Estas são ideias muito profundas. Ele dava identidades de
coadjuvantes para outras crianças na escola e dizia: "sou o protetor dos
companheiros. Nenhum companheiro é deixado para trás".
AP: Qual é a
cena ou momento preferido de Owen nos filmes e desenhos da Disney?
Ron Suskind:
Certas músicas foram marcantes. Algumas ele ouvia todas as manhãs para
prepará-lo para o seu dia. "Um Mundo Ideal", de "Aladdin",
parecia mantê-lo focado enquanto ele encarava um mundo novo todos os dias.
Fonte:
http://www.cenariomt.com.br/noticia/350538/autor-conta-como-filmes-da-disney-ajudaram-filho-autista-a-expressar-sentimentos.html
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