Com milhões de crianças diagnosticadas com o
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (sigla TDAH), existe a
preocupação de que o distúrbio esteja recebendo tratamento excessivo com
medicamentos prescritos.
No entanto, alguns profissionais da saúde mental
estão alegando ter identificado um novo distúrbio que pode amplamente expandir
as classes de jovens tratados por problemas de déficit de atenção. Chamada de
tempo cognitivo lento, dizem que a condição é caracterizada pela letargia,
devaneios e pelo processamento mental lento.
Os especialistas que buscam mais pesquisa sobre o
tempo cognitivo lento afirmam que o quadro está ganhando impulso na direção do
reconhecimento como um distúrbio legítimo – e, como tal, um candidato ao
tratamento farmacológico.
A publicação Journal of Abnormal Child Psychology
dedicou 136 páginas da sua edição de janeiro aos estudos que descrevem a
doença, com o estudo principal alegando que a questão da sua existência “parece
ter sido enterrada até o momento dessa edição”. O psicólogo Russell Barkley da
Universidade de Medicina da Carolina do Sul alega que o tempo de cognição lenta
“se tornou o novo distúrbio de déficit de atenção”.
Keith McBurnett, professor de psiquiatria da
Universidade da Califórnia em San Francisco, disse: “Quando começamos a falar
sobre devaneios, divagação mental, esses tipos de comportamento, pessoas que
têm um filho ou filha que faz isso excessivamente falam, ‘Conheço isso por
experiência própria’. Essas pessoas sabem do que se trata”.
Contudo, alguns especialistas, inclusive o dr.
McBurnett, afirmam que não existe consenso sobre os sintomas e muito menos
sobre a sua validade científica. Eles alertam que a divulgação do conceito sem
o rigor científico mais amplo pode expor crianças aos diagnósticos sem garantia
e aos medicamentos prescritos – problemas já tratados pela TDAH.
“Estamos vendo uma moda
evoluindo: assim como a TDAH tem sido o diagnóstico da vez há 15 anos mais ou
menos, esse é o começo de outra moda”, declarou o Dr. Allen Frances da Universidade
de Duke na Carolina do Norte. “Isso é um experimento na saúde pública de
milhões de crianças”.
Apesar do conceito do tempo cognitivo lento, ou
TCL, ter sido pesquisado desde a década de 80, ele não foi reconhecido no
Manual de Diagnóstico e de Estatística dos Distúrbios Mentais, usado pela
Associação de Psiquiatria Americana.
Steve S. Lee, professor associado de psicologia da
Universidade da Califórnia em Los Angeles, disse divergir em relação à ênfase
da revista no tempo cognitivo lento. Ele expressou a preocupação de que a TDAH
já havia se ampliado para englobar muitas crianças com comportamentos comuns à
idade, ou cujos problemas são oriundos do sono inadequado, da incapacidade de
aprendizado diferente ou de outras fontes. Cerca de dois terços das crianças
diagnosticadas com o TDAH tomam medicação diária, que quase sempre controla a
impulsividade severa e a falta de atenção, mas também traz o risco de insônia,
da perda do apetite e, entre os adolescentes e adultos, do abuso ou o vício.
“Meu lado cientista diz que
precisamos buscar o conhecimento, mas sabemos que as pessoas começarão a dizer
que seus filhos têm isso, e os médicos começarão a diagnosticar e prescrever
bem antes de sabermos se a doença é real”, dr. Lee declarou. “A TDAH se tornou
uma pergunta pública sobre a saúde da sociedade, e é justo perguntar sobre a
TCL. Mas é melhor irmos devagar e com mais cuidado”.
FONTE:
The New York Time
28/04/2014 - Por ALAN SCHWARZ
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