Com o lançamento do documentário Um Só Mundo,
jornalista da Gazeta do Povo pretende esclarecer conceitos e derrubar mitos
sobre o autismo
A jornalista Adriana Czelusniak resolveu, há pouco
mais de dois anos, fazer um curso de cinema. Tinha em mente um objetivo mais ou
menos definido: pretendia utilizar os conhecimentos adquiridos, as habilidades
técnicas que viesse a desenvolver, para potencializar um projeto maior,
fundamental em sua vida: promover a conscientização da sociedade em relação ao
autismo – um transtorno neurológico, que se manifesta nos primeiro três anos de
vida de uma criança, e afeta o desenvolvimento normal do cérebro relacionado às
habilidades sociais e de comunicação.
O garoto Gabriel é um dos personagens do filme Um Só Mundo |
Desse anseio, nasceu Um Só Mundo, documentário de
27 minutos que, além de ser o trabalho de conclusão do curso, realizado por
Adriana no Centro Europeu, em Curitiba, também é mais uma forma encontrada pela
jornalista de falar sobre um assunto que lhe é muito caro não apenas no âmbito
profissional. Ela é mãe de Gabriel, um garoto, de nove anos, com autismo.
Adriana Czeluzniak |
Adriana Czelusniak fez um curso de cinema para
tratar de tema que lhe é caro
Diagnóstico tardio fez músico sofrer por não
estabelecer relações
CONTRAPONTO
Um Só Mundo também traz um contraponto: é
interessantíssimo o depoimento do músico Raphael Augusto Rocha Loures, adulto
que tem autismo. Ele foi diagnosticado muito tardiamente. Baixista, Raphael
conta que sofreu muito ao longo da vida por acreditar que eram traços de sua
personalidade a dificuldade em estabelecer relacionamentos sociais mais
duradouros, a necessidade de ficar só e a inconstância, que o levou a fazer
vários cursos universitários e abandonar todos. Desde o diagnóstico, que o
identificou como portador de uma forma mais branda do transtorno, tornou-se uma
espécie de porta voz do autismo, e sente a necessidade de dar seu testemunho.
Também foram ouvidas a psicóloga Manoela Christi
Lemos, a neuropediatra Mauren Bodanesi e o geneticista Salmo Raskin, que têm,
em suas respectivas áreas, um trabalho clínico e/ou de pesquisa também voltado
ao autismo. Seus depoimentos são esclarecedores e derrubam mitos.
Sobre o fato de ter preferido falar de um outro
Gabriel, e não de seu filho, e de ter optado por não fazer um documentário
autobiográfico, Adriana diz que ainda pretende contar sua história, seja na
forma de documentário ou de um livro. Mas ela acha que não chegou a hora.
Prefere, hoje, dedicar-se à causa do autismo.
Serviço
Um Só Mundo Documentário de Adriana Czelusniak.
Contato: uniaopeloautismo@gmail.com.
Setorista da área de Educação do jornal Gazeta do
Povo, Adriana vem, sistematicamente, fazendo reportagens sobre o autismo, com o
objetivo de aumentar o esclarecimento da população sobre o transtorno, e busca
explorar diversos aspectos da questão. Desde o cotidiano das famílias, que
muitas vezes não sabem – ou não conseguem – lidar com o diagnóstico, muitas
vezes por falta de informações e apoio, até o despreparo das instituições de
ensino e dos serviços públicos e privados, incapazes, por vezes, de dar ao autista
a atenção, os tratamentos e as oportunidades de que tanto necessita.
Todos os anos, com a proximidade do dia 2 de abril,
Dia Mundial de Conscientização do Autismo, Adriana faz questão de produzir uma
grande matéria, explorando o tema, buscando novos ângulos. Mas, neste ano, essa
data teve um gosto especial: ela pôde apresentar, em um evento realizado no
Salão de Atos do Parque Barigüi, Um Só Mundo, que alcançou repercussão muito
positiva, despertando interesse maior do que ela esperava. “Muita gente queria
ver e ter uma cópia do documentário.”
Identificação
Para a jornalista, o filme, por contar com recursos
de imagem e som, acaba tendo a possibilidade de não apenas sensibilizar mais o
público, mas de trazê-lo mais para perto, estabelecendo vínculos de
identificação com o que está sendo exibido na tela.
Realizado graças à parceria estabelecida com
colegas de curso, especialmente o cinegrafista e editor Adriel Graff e Timóteo
Paulino, Um Só Mundo tem como personagem central outro Gabriel, que não é o
filho de Adriana. Trata-se de um garoto que também frequenta o Centro Conviver,
voltado ao atendimento educacional de crianças que têm autismo. “Mas cheguei à
família, na verdade, pelo grupo União de Pais pelo Autismo, que é uma
associação da qual sou uma das fundadoras.”
O filme acompanha momentos do dia a dia de
Gabriel, que tem um comprometimento severo que o impede de falar, o que
dificulta muito a sua comunicação. São comoventes os depoimentos de seus pais,
o empresário Alessandro Ilkiu e Mariléa Bittencourt Ilkiu, que teve de deixar
de trabalhar para cuidar exclusivamente do filho.
Eles falam sem rodeios sobre o preconceito que
ronda a doença, decorrente do desconhecimento, da falta de informação. “Muitos
acham não educamos o Gabriel direito, e por isso ele é assim, agitado”, diz
Alessandro.
FONTE:
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1461730&tit=Um-filme-para-todos
Publicado em 14/04/2014
| Paulo Camargo
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