Isolamento, falta de comunicação, mundo interior,
criatividade. Todas essas palavras vêm à mente da maioria das pessoas quando se
fala em autismo, mas o que poucas pessoas entendem é como lidar e compreender o
ponto de vista dos autistas. Pensando na perspectiva educacional, vários
questionamentos são levantados: como incluí-los na sala de aula? Como trabalhar
as nossas dificuldades em relação a eles quando os ensinamos algo? Como
construir uma ponte de comunicação com eles? E, por fim, será que o autista
quer realmente ser incluído? Durante o minicurso “O autismo no contexto
educacional: disciplinaridade, transdisciplinaridade e indisciplinaridade”, que
integrou a programação do Encontro de Saberes, o Centro de Atenção Psicossocial
Infanto Juvenil (Capsi) buscou discutir esses questionamentos que, na
realidade, não possuem respostas exatas.
“No Capsi de Ouro Preto, trabalhamos com 11
autistas que precisam ser acompanhados diariamente e, com esse trabalho, podem
aos poucos ser inseridos em escolas e melhorar a relação em casa”, explica a
terapeuta ocupacional Paula Oliveira. A coordenadora Christine Vianna e o
psiquiatra e professor de medicina da UFOP Ricardo Moebus mostraram um pouco
desse trabalho do Capsi de Ouro Preto e deixaram aberta a discussão sobre o que
as pessoas presentes no minicurso entendiam sobre o autismo. Dessa forma,
queriam somar ideias para adquirir mais conhecimento.
Fazendo um panorama do assunto, discutiu-se sobre
como antigamente as doenças e suas deficiências eram tratadas às escondidas por
amigos e familiares, fazendo com que essas pessoas ficassem à margem das
relações. Christine conta que, diferentemente disso, hoje existe um importante
trabalho de inserção dessas pessoas na sociedade . “Será que só a nossa vontade
de inclusão é o que vale?”, questiona.
A coordenadora também diz que essa inclusão deve
ser mais discutida, a partir da compreensão da vontade de o autista também ser
incluído em um meio comum. “Muitas vezes ele constrói uma ponte para se
comunicar com os outros e nós não percebemos. Aceitar o que não é semelhante a
nossas opiniões é muito difícil e, por isso, o foco é aprendermos a construir
meios de comunicação com eles”, explica.
A administradora Shirley Dias é mãe de uma criança
autista e foi assistir ao minicurso. Ela conta que, como acabou de mudar para
Ouro Preto e seu filho é o primeiro caso de autismo dentro da escola, uniu-se
aos membros da instituição em busca de conhecimento sobre a forma correta de
lidar com o caso, respeitando a vontade e o interesse dele em participar das
atividades.
Sobre o autismo
O psicólogo conta que devemos lembrar que o autismo
é uma doença e que as dificuldades existem. “Essas visões que muitos colocam
apenas com pontos negativos ou positivos devem ser eliminadas”, comenta
Ricardo. E ainda acrescenta. "Assim como em alguns casos existem a enorme
criatividade e a facilidade em desenvolver diversas habilidades, as limitações
também devem ser levantadas”. Ricardo enfatiza que devemos aprender a lidar com
as diferenças, pois elas existem em todos os lugares, e lembra que a
categorização que muitas pessoas usam, como, por exemplo, falar que brasileiro
gosta de futebol e samba, desconsiderando a opinião de milhões de outras
pessoas que não pensam assim, é o que acontece também com o autismo, quando não
se tratando cada um como único e sim como um grupo.
Já Paula explica como lida com os casos em que
trabalha. “O indivíduo autista deve ser ensinado a ter sua própria autonomia,
criar seus vínculos e aprender a querer e a discordar, fazendo suas próprias
escolhas”. Ela também comenta que a comunicação pode ser o ponto mais difícil e
que deve ser centrada na questão de fazer com que os autistas expressem seus
sentimentos e dificuldades. “Trata-se de um processo contínuo de entender e
interpretar cada um e, a partir da confiança, começar a realizar esse estudo.
Nenhum indivíduo é capaz de conseguir fazer e ser bom em todas as coisas, e com
os autistas isso também acontece. Impor exigências em torno deles para que consigam
realizar diversas tarefas não é necessário, pois a vontade deles deve ser
respeitada”.
O intuito do minicurso foi o de dar continuidade ao
assunto, buscando o entendimento para cada caso de autismo, para cada
indivíduo, respeitando a individualidade de cada um dos que possuem essa
doença, bem como daqueles que não a possuem. Entender que não existe um
conceito sobre o que é o autismo, que esse conceito deve ser construído
diariamente, e levar a temática para a universidade, para as escolas, para a
casa, enfim, para todos os espaços do público foi um dos objetivos.
FONTE:
Daiane
Bento
http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=15702&Itemid=196
Foto: Google.
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