Outdoor em Curitiba - segunda-feira (30/11) Foto: Thais Kaniak/G1 |
O uso ilimitado das redes
sociais a meu ver está sugerindo a substituição do relacionamento humano,
pensei, depois que na madrugada do último dia do novembro molhado de Curitiba, recebi
na minha fanpage a postagem de um outdoor pedindo o “fim de privilégios para
deficientes”, assinado pelo “Movimento Pela Reforma de Direitos" – MRD.
Não me assustei, embora tenha
arregalado os olhos para encontrar no texto a razão da piada, já que a sigla do
movimento sugere mau cheiro e nada daquilo era risível. Deve ser coisa de algum composto orgânico
envelhecido, pensei. Um desses infelizes que gostam de boiar sobre tragédias.
A perplexidade, desrespeitosa e
discriminatória do MRD, de tão categórica, machucou moralmente, um universo
impossível de se medir de pessoas com deficiência, pais de autistas ou não,
redes sociais da própria prefeitura de Curitiba, professor de publicidade
amparado no Código de Ética do CONAR, entidades afins, autoridades,
instituições e até políticos que surfaram na onda repudiaram. Para eles ainda é
difícil crer que o eleitor já saiba saber votar.
O outdoor fez lembrar
determinismos genéticos recentes dos seus autores que tem menos chances de ser
felizes. Quem sabe a “criação especial” podia se encaixar como bullying
coletivo, com embasamento tão convincente que todos concordariam com a
pegadinha questionável do ponto de vista de autoridades que a autorizaram.
Curitiba ficou muito
entristecida quando descobriu que alguns dos seus gênios da publicidade, além
de especialistas em preconceitos infames, tiveram defesa em preciosos minutos
de TV em rede nacional e farta mídia impressa para justificar o erro cometido
pela pegadinha que o tal de MRD fez, pagos por nós curitibanos, que vistos
discutidos e relatados seus efeitos não passaram de um tiro no pé.
Muitos curitibanos estão saindo
de casa pela manha sem tomar café, e talvez não almoce porque seus ganhos se
esvaem nas passagens de ônibus que um dia já foram bons. Caminha por uma rua e
talvez não chegue à próxima esquina com as pernas inteiras pelo risco que corre
enfrentando as calçadas ruins.
Muitos curitibanos começam a
falar e possivelmente não consiga concluir o que pretende dizer por que não tem
porta-voz. Então, quando ouvimos que
essa campanha vai continuar... É para levar a sério?
Pais de pessoas com deficiência,
autistas ou não, antes de qualquer ato eles refletem, não fazem escolhas
intuitivas. Reavaliam decisões por mais simples que sejam para trocar de
caminho, pois já descobriram no fundo da alma que ninguém é o mesmo para
sempre.
Afirmo que a peça que pediu o
“fim de privilégios para os deficientes” foi lamentável. A Prefeitura vem
respondendo as críticas dizendo que quem criou a campanha foram os próprios
integrantes do Conselho da Pessoa com Deficiência.
Por isso, muitos recalques da
vida estão sendo levados para as redes. Mensagens subliminares, falar mal disso
ou daquilo nas redes sociais é péssimo, mesmo parecendo legal. O que a
Prefeitura conseguiu com essa campanha foi causar mal-estar e questionamento de
direitos das pessoas que mais necessitam dela.
Às vezes cometemos o
sincericídio que é aquilo que a gente revela, mas não deveria, a exemplo dessa
campanha que mais destruiu, e que por definição inconfessável ao invés de
agregar, os resultados são muito ruins politicamente, pois, se a intenção
inicial era chocar para depois apoiar os direitos dos deficientes, forneceu
mais munição para os adversários políticos.
Por aí se percebe também que
Curitiba independentemente das intensas chuvas dos últimos tempos, deriva há
muito tempo... Abdicou de ser exemplo para outras cidades.
Triste constatação de uma cidade
que até pouco tempo já foi SORRISO.
Nilton Salvador
rosandores@gmail.com
http://autismovivenciasautisticas.blogspot.com.br
Um comentário:
Sinceramente a pessoa que criou esse outdoor é muito ruim, quis chamar a atenção da pior forma que poderia...Não se tira um direito para na verdade dizer que quer lutar por ele. Sem sentido, ruim mesmo.
Liê e Gabi autista.
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