Em
tempo de coronavírus, depois de alguns minutos vendo alguns beija-flores se
alimentando do néctar de viçosos hibiscos florescidos, o estresse do isolamento
fica menos tenso. Lindo. Foge a rotina.
Na
televisão, nem tudo o que é exibido pode ser desperdiçado, pois é um alívio
saber que o coronavírus acabou com a fome, as milícias, a chikungunha, dengue,
a H1N1 e outras pragas.
Denúncias
generalizadas foram excluídas da pauta amestrada da “Glocontra” que sem futebol
e feminicídios, enquanto o Brasil não for campeão mundial de contagiados e
mortos pelo coronavírus, ela não descansa, surfando na onda do seu padrão de
fantasia do quanto pior, melhor.
Poucas
pessoas públicas, pela prática da arte de muito falarem asneiras e nada
dizerem, sabem que Autismo é uma condição médica, caracterizada pela
dificuldade na comunicação e na socialização. Embora já conte 77 anos de idade
desde sua descrição, e que antes de deturpá-lo deveriam pelo menos saber que
atualmente atinge cerca de 2 milhões da população do Brasil.
Ficar
só na etimologia da palavra é o primeiro grande erro, como foi o caso dos
humoristas que se titulam artistas”, nos fatos recentes, que demostraram
imaginação para inventar e reinventar versões da mesma história, sem o mínimo
conhecimento do que é um autista, deturpando-os com requintes de violência.
Autismo
é diagnosticado pelo CID-10 - Código Internacional de Doenças e DSM-5 de 2013.
Pais
de autistas esquecem que ganharam da ONU o Dia Mundial da Conscientização do
Autismo para gritar. Quem abriu o bocão no dia 2 de abril?
O
isolamento “coronavirano” faz recordar que em 2011 a MTV apresentou um quadro
“Casa dos Autistas” um escárnio e propaganda do bullyng contra a pessoa autista.
A MTV sob pressão dos pais retratou-se. Ofereceu direito de resposta. A asneira
fez com que alguns “artistas” desaparecessem. Um deles atualmente é do elenco
global.
Em
dezembro de 2012 um serial killer matou a tiros 20 crianças em uma escola nos
EUA, seis mulheres, e pouco antes a própria mãe em casa. Para concluir se
suicidou. Seu irmão atribuiu o crime afirmando que ele era "meio
autista".
A
frase despertou interesses para defender as relações entre autismo e matanças
em série. A frustração pela inexistência e a disseminação do preconceito
frustrou quem resolveu tratar do assunto.
Em
um “Domingão do Faustão” no mesmo ano, uma entrevista do apresentador com uma
psicóloga, misturaram Síndrome de Asperger com psicopatia. Historicamente a
reação dos pais de autistas contra o programa foi sem precedentes, revelando a
mentira e o oportunismo do apresentador pelo bizarro. Enquanto a profissional
de psicologia foi condenada ao desterro, sumiu.
A
Globo prometeu uma novela como forma de esclarecimento do autismo, cumpriu,
embora inócua.
No Brasil e no
continente europeu, um falso artigo da revista científica Lancet, ligou o
autismo à tríplice vacina (MMR). A
“falsificação elaborada”, foi desmascarada por Brian Deer, pai de um filho
autista, tarde demais, pois somente doze anos depois é que a revista Lancet reafirmou
a falsidade das conclusões.
Por não verem
algumas doenças acontecerem, na última década foram observados movimentos de
pais que com base em falsidades consideram as vacinas uma coisa opcional.
Sendo assim, criaram
a geração do descuido, e com isso
milhões de famílias deixaram de vacinar seus filhos, provocando o ressurgimento
de doenças como sarampo, caxumba e rubéola, antes erradicadas.
A pessoa nasce
com autismo ou é diagnosticada mais cedo ou mais tarde. “Não se morre de
vacinas, morre-se de doenças".
O Congresso
Nacional adotou a recomendação para que no debate político, os intervenientes
não mais se acusem uns aos outros de autistas. A resolução foi adotada por
unanimidade, pois a acusação não pode fazer da síndrome uma arma política para
depreciação de pessoas.
Matérias
jornalísticas sobre autismo raramente tem flexibilidade. Alguns autores além de
nada apurar sobre a síndrome, posam como donos da razão. Não sabem o que é o
abismo autista.
Tripudiar
uma pessoa com autismo, além de ignorância, é um caso de covardia, pois quando
esse protagonismo parte de pseudosartistas, comprova-se que falar asneira,
discriminação e preconceito, a exploração da tragédia alheia é a única coisa
que lhes resta.
Parece simples,
mas não é, orientadas pelo uso da propaganda enganosa, pessoas corrompem e
distorcem as palavras de acordo com o oportunismo que lhe convém.
Nilton Salvador