quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
CÉLEBRES AUTISTAS
A maior prova de que a síndrome de Asperger não significa incapacidade total de desenvolvimento e de relacionamento está nos seus próprios portadores. Muitos músicos, matemáticos, líderes de empresa e cientistas considerados gênios em suas áreas têm, se não o diagnóstico já fechado, traços do distúrbio tão claros que levam especialistas a colocá-los na lista dos supostos portadores de autismo. Outro podem não ter recebido um laudo positivo apenas porque não viveram tempo o bastante até que a doença fosse amplamente conhecida e diagnosticada. Confira alguns dos ilustres nomes que compõem essa lista:
Peter Howson, pintor
A obra do pintor escocês, famoso pelos seus retratos da guerra civil da Bósnia, no início dos anos 1990, e principalmente de trabalhadores e classes sociais mais baixas, figura nas coleções de personalidades como David Bowie, Madonna e Mick Jagger. Enfrentou problemas com o álcool e as drogas — também retratados na sua obra — e só em 2009 recebeu o diagnóstico de síndrome de Asperger.
Jerry Newport, matemático e escritor
O diagnóstico de Newport também veio tardiamente: apenas aos 47 anos. Newport é licenciado em matemática pela Universidade de Michigan e também portador da Síndrome de Savant, um distúrbio caracterizado por uma grande habilidade intelectual — memória apurada ou capacidade de fazer cálculos complexos, por exemplo — aliada a um déficit de desenvolvimento. Hoje, ele escreve artigos para uma revista especializada em autismo e Asperger, além de proferir palestras sobre o assunto. Sua vida e a de sua mulher, Mary Newport, também Asperger, inspirou o longa Loucos de Amor, de 2005.
Craig Nicholls, músico
O guitarrista e compositor australiano é conhecido por liderar a banda de rock alternativo The Vines. Antes de ter o diagnostico feito por um especialista, em 2004, o músico protagonizou algumas cenas de rebeldia que causaram problemas à banda, como o episódio, em maio do mesmo ano, em que se irritou com a plateia durante uma apresentação para a rádio Triple M, porque ouviu uma risada vinda da multidão. Antes, ele já havia destruído o cenário do Tonight Show with Jane Roy, em um ataque de rebeldia durante o ensaio, o que deixou o Vines de fora da programação do talk show. Em 2008 o The Vines cancelou shows pela Austrália e pelo Japão, em função de uma piora na saúde mental de Nicholls.
Adam Young, músico
O norte-americano é o criador do projeto de música eletrônica Owl City. Ele começou a produzir no porão da casa dos pais e a postar suas composições na sua página do MySpace e na loja virtual de músicas da Apple, o iTunes. O seu primeiro álbum, lançado de forma independente em 2008, chegou à 13ª posição do ranking de eletrônicos norte-americanos, o que o levou a se apresentar em uma turnê por todo o país. No ano passado, o terceiro trabalho, All Things Bright and Beautiful, alcançou o primeiro lugar de vendas no top 10 álbuns eletrônicos do iTunes, tanto nos Estados Unidos, como no Canadá.
Tim Page, crítico musical
Page tem formação musical e desde cedo, ainda na faculdade, começou a escrever para algumas publicações especializadas em artes e música. Nos anos 1980, entrou para o The New York Times como repórter de cultura. Nos anos 1990, pouco depois de se tornar o crítico chefe de música clássica do Washington Post, ganhou o prêmio Pulitzer pelo seu criticismo “esclarecedor e lúcido”. O diagnóstico de Asperger de Page também não veio nos seus primeiros anos de vida. Apenas em 2007, ele revelou à revista The New Yorker que finalmente havia descoberto qual era seu problema, após uma longa procura por explicações para alguns desconfortos que o acompanharam durante toda a vida. Em 2010, o crítico lançou o livro Parallel Play: Growing Up With Undiagnosed Asperger's (Jogo paralelo: crescendo com Asperger não diagnosticado, em tradução livre), ainda sem versão oficial para o português.
Bill Gates, fundador da Microsoft
O líder por trás da gigante de informática e um dos homens mais ricos do mundo protagoniza uma complexa discussão pelos sites e fóruns de autistas, portadores de Asperger e especialistas. Entre as evidências que o colocam como possível Asperger estão sua timidez exagerada, o comportamento estranho na infância relatado por algumas pessoas próximas, movimentos circulares e de vai e vem nos momentos de tensão e angústia e o fato de ser canhoto, algo bastante comum entre autistas. Ainda assim, se Gates algum dia recebeu o diagnóstico, ele nunca foi divulgado oficialmente.
Albert Einstein, cientista
Há quem diga que o criador da teoria da relatividade só não recebeu um diagnóstico ainda em vida porque o autismo ainda não era comum e estudado na época. Mas os relatos contam que ele só pronunciou as primeiras palavras aos quatro anos, tinha problemas de aprendizado na escola, se expressava com dificuldade, sonhava acordado com frequência e se expressava melhor em imagens. Além disso, uma autópsia teria revelado que o cérebro de Einstein era maior que o normal — uma característica também presente em autistas e portadores da síndrome de Asperger.
Charles Darwin, biólogo
Em 2009, um renomado psiquiatra norte-americano, Michael Fitzgerald, levantou a hipótese de que o cientista, criador da teoria da evolução das espécies, teria sido portador da síndrome de Asperger. Segundo Fitzgerald, Darwin era uma criança solitária e sua imaturidade emocional e medo de intimidade teriam se estendido até a vida adulta. Além disso, ele gostava de caminhar sozinho pela mesma rota diariamente, era um excelente observador e permaneceu bastante introspectivo por toda a vida.
Fonte: Correio Baziliense
Reportagem:
Carolina Samorano
Publicação: 21/10/2012
sábado, 27 de outubro de 2012
Autismo e desafios da inclusão
O diagnóstico precoce pode fazer enorme diferença no desenvolvimento do indivíduo. Este, ainda que seja portador de limitação física ou psíquica, possui a extraordinária capacidade para se adaptar e alcançar importantes objetivos de vida. O mundo está repleto de exemplos. O que falta às vezes é o devido investimento no Capital de Deus, ou seja, na própria criatura humana.
SINTOMAS E CUIDADOS
Alguns autistas apresentam determinadas habilidades que superam as da média da população. “Eles têm bastante facilidade para números, decorar, resolver expressões matemáticas e para várias questões diferenciadas da vida. Mas não conseguem dar funcionalidade a isso”, explica a assistente social Simone Bruschi.
Um ponto que prejudica o acompanhamento especializado do autista é, num primeiro momento, a negação do problema, situação frequente no seio familiar. Simone, integrante da Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (Abads), em entrevista ao programa “Sociedade Solidária”, da Boa Vontade TV (canal 23 da SKY), comenta: “Quando falamos do autismo, abordamos algo que não se pode identificar por exame de sangue, eletroencefalograma, tomografia. E o diagnóstico é muito difícil de ser aceito pela família. Existe a avaliação clínica — que é muito rica —, porém, os familiares sempre questionam: ‘Ah, não. Acho que pode ser algo diferente’”.
Nesses casos, de acordo com Simone, devem-se buscar outros profissionais, inclusive para que também eles se envolvam na vida dessa família, dessa criança ou desse adolescente.
É fundamental procurar um especialista ao perceber na criança qualquer indício constante de preferir ficar sozinha, de apatia diante dos brinquedos, de não reclamar por ser deixada no berço, em vez do colo dos pais. “Existem famílias que só começam a levar para o tratamento na idade escolar, quando o professor sinaliza: ‘Olha, o seu filho precisa de auxílio’. Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as possibilidades de tratamento.”
Simone ressalta que “algumas pessoas com autismo podem apresentar uma deficiência intelectual, mas não é necessariamente uma regra”.
E aí entra um desafio, o de inserir no mercado de trabalho portadores de deficiência intelectual. “É mais fácil — não sei se posso usar essa expressão — contratar um jovem com deficiência física, por conta das acessibilidades existentes, do que alguém com deficiência intelectual, para o que não temos ainda a tecnologia assistiva. Por isso, é um desafio para o consultor de emprego apoiado. Ele tem de ir à empresa e provar que a pessoa com transtorno é capaz. É necessário um trabalho de sensibilização tanto com os empregados e colaboradores quanto com os empregadores e a família”.
É preciso ampliar as condições para a inclusão social dos portadores de qualquer deficiência, seja física, seja intelectual.
José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor.
Fonte:
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Autistas, procuram-se
Quando um homem soube do autismo do filho, resolveu que havia de ser uma vantagem no mercado de trabalho.
Thorkil Sonne, fundador da Specialisterne |
Concentração. Memória. Atenção aos pormenores. Capacidade de repetir muitas vezes a mesma tarefa, o mesmo gesto, sem se distrair. Obsessão com ordem e com classificações. Persistência. Estas qualidades são importantes nalgumas áreas profissionais - por exemplo, a informática. A um nível elevado, são raras. As pessoas com autismo tendem a tê-las mais do que as outras pessoas. É lógico aproveitar tal diferença. Assim faz uma empresa dinamarquesa especializada em testes de software.
A Specialisterne (Especialistas, em dinamarquês) foi fundada por Thorkil Sonne, um executivo de uma firma de telecomunicações. Quando há onze anos souberam que o seu filho de 3 anos tinha autismo, ele e a mulher começaram a pensar como o poderiam ajudar a ser feliz. Concluíram que nada teria mais valor para Lars do que um trabalho onde as suas características particulares fossem apreciadas.
Não bastava encontrar uma tarefa que ele pudesse fazer. Tinha de ser algo em que fosse especialmente qualificado, para o valorizar e o compensar das outras limitações - sociais, sobretudo - com que teria de viver.
A resposta veio após contatarem organizações de apoio a pessoas com Desordens do Espetro Autista (DEA). Estas desordens têm em comum a dificuldade em perceber sentimentos alheios, em ler gestos e sinais, em captar sarcasmo, mas variam imensamente em grau e manifestações, desde as quase imperceptíveis até às incapacitantes.
No lado leve do espetro está o síndrome de Asperger, cujas vítimas, geralmente descritas como altamente funcionais, incluem um bom número de génios. Consta que Einstein apresentava indícios de Asperger. E mesmo pessoas muito menos fluentes do que ele - e portanto, com desordens em zonas mais graves do espetro - podem ser extraordinárias nas respetivas áreas profissionais. A chave estava, portanto, em descobrir uma área adequada.
Mão-de-obra de primeira
A Specialisterne verifica software e outras coisas que exigem um enorme grau de atenção - por exemplo, a localização detalhada de redes de fibra óptica. Dos seus 50 e tal empregados, 75% têm autismo. Ao serem aprovados para entrar na empresa, iniciam uma formação de cinco meses financiada pelas câmaras municipais.
É o único apoio que a empresa recebe, uma vez que não existe tradição de empresas de responsabilidade social na Dinamarca, segundo explica Sonne. O investimento sai barato, tendo em conta o que se poupa em subsídios de desemprego e outros. Um funcionário chamado Mads diz que em mais de vinte anos é o primeiro emprego que consigo manter, e acrescenta: "A maioria dos meus colegas são como eu. Temos em comum sermos esquisitos".
Terminada a formação, a maior parte dos empregados são colocados fora, junto dos clientes da Specialisterne. A assistência técnica que dão é considerada 'premium', e paga a condizer. Não é mão-de-obra barata nem terapia ocupacional, frisa Sonne em repetidas declarações. É trabalho de primeira fornecido por uma empresa comercial. Porque só assim, em última análise, resulta. "A nossa organização precisa do tipo de financiamento que só uma empresa com fins lucrativos pode gerar. Tem de ser bem sucedida nos termos do mercado".
O objetivo último de Sonne é exportar o modelo de negócio pelo mundo fora. Com esse objetivo, criou uma fundação à qual entregou as ações da Specialisterne. Escócia, Islândia, Alemanha, Polónia e os Estados Unidos já adotaram ou vão adotar o modelo, e Sonne recebeu meia-dúzia de prémios europeus. A sua expectativa é que, quando o agora adolescente Lars for adulto, a situação tenha mudado o suficiente para ele não ter problemas de empregabilidade.
Reduzir o stress
Quanto aos atuais empregados da empresa, as histórias que contam falam por si mesmas. Um trabalhava antes num supermercado. Apesar de altamente inteligente, nunca conseguia passar nas entrevistas de emprego, onde o que conta é a famosa química emocional. Aí ele falhava.
Sonne sugere que toda a gente é social, embora de formas diferentes. O facto de alguém não dizer bom-dia não significa que não goste de conviver de vez em quando. E a dificuldade em suportar ruído, típica dessas desordens, pode implicar alguns ajustamentos no escritório (sobretudo se for um 'open space') mas não torna ninguém inapto para trabalhar.
"As pessoas com autismo não são os únicos empregados que não florescem em open space' ou no sistema tradicional de gestão", afirma. O essencial é adaptar às características das pessoas, não impor o mesmo ambiente a todas. "Isso só provoca estresse, e os locais de trabalho já produzem demasiado disso".
À sua estratégia dá um nome: filosofia dente-de-leão. O dente-de-leão é uma planta que a muitas pessoas vêm simplesmente como erva daninha. Outras apreciam-na como planta medicinal, rica em vitamina e ferro. "uma erva daninha é uma planta bela no lugar errado", diz Sonne. E quem decide se o lugar é errado ou certo é a sociedade
FONTE:
sábado, 20 de outubro de 2012
Menina autista realiza sonho ao cantar ao lado de Katy Perry e faz público chorar
- O canal de televisão americano Comedy Central vai promover um evento com o intuito de arrecadar fundos para projetos, escolas e outros serviços em prol de pessoas autistas. O “Night of Too Many Stars: America Comes Together for Autism Programs” vai ao ar neste domingo (21). A fim de alertar o público, o canal publicou nesta quinta-feira (18) um teaser do programa – que viralizou na internet quase instantaneamente.
O videozinho conta a história da menina Jodi DiPiazza, diagnosticada com autismo aos dois anos de idade. Com ajuda de um programa de educação especial, ela conseguiu realizar muitos sonhos. O maior deles aconteceu nesta semana, quando Jodi tocou piano e cantou a música “Fireworks” ao lado de sua cantora favorita: Katy Perry. A dupla parece incrivelmente emocionada no palco, assim como toda a plateia que acompanhava a apresentação. Muitas lágrimas rolaram. Em menos de um dia de publicação, o vídeo já ultrapassou 700 mil visualizações!
Katy Perry ficou tão tocada com o acontecimento que, após o evento, publicou no Twitter: “Eu nunca vou esquecer a noite passada. Até agora, foi o momento mais importante da minha profissão”. Assim que o vídeo foi divulgado no YouTube, ela também colocou o link na rede social, usando a frase “Jodi é o meu fogo de artifício”, em alusão ao nome da música que as duas cantaram, que significa fogo de artifício em português.
Katy Perry ficou tão tocada com o acontecimento que, após o evento, publicou no Twitter: “Eu nunca vou esquecer a noite passada. Até agora, foi o momento mais importante da minha profissão”. Assim que o vídeo foi divulgado no YouTube, ela também colocou o link na rede social, usando a frase “Jodi é o meu fogo de artifício”, em alusão ao nome da música que as duas cantaram, que significa fogo de artifício em português.
E você, ficou emocionado?
Érika Kokay
Repórter do site de ÉPOCA.
Nasceu em Manaus (AM), mais perto do Sol do que o resto do Brasil,
e sonha em conhecer o espaço, mas teme a vida sem internet de lá.
Com ajuda do Google Reader mais bizarro que você possa imaginar,
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Impacto do autismo pode ser diferente em homens e mulheres
Homens e mulheres com autismo podem ter diferenças sutis, mas significativas, nas funções cognitivas afetadas pelo problema, de acordo com um levantamento do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Os dados foram divulgados pela publicação PLoS ONE.
Os cientistas compararam aspectos da cognição entre adultos com desordens do espectro autista (DEA) e com desenvolvimento típico.
Constataram que a percepção das emoções faciais foi igualmente prejudicada em ambos os sexos com as desordens. Mas, nas tarefas que envolvem atenção a detalhes ou que exigem pensamento estratégico, as mulheres com DEA tiveram desempenho comparável aos das sem, enquanto os homens com DEA mostraram mais dificuldades que os outros.
“O que sabemos sobre os homens com DEA não deve ser generalizado para as mulheres”, disse o pesquisador Meng-Chuan Lai. “Suas semelhanças e diferenças precisam ser investigadas sistematicamente na pesquisa do autismo.”
Fonte:
Foto: Getty Images
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
SAÚDE MENTAL: quando a Bioética se encontra com a Resiliência.
Em
todas as unidades, a HRW encontrou corredores e quartos em péssimas condições
com fezes e urinas no chão, sistemas hidráulicos quebrados e superlotação”. Uma
dura realidade que não é um privilégio africano, mas que ainda persiste em
muitos lugares da Terra. Uma realidade manicomial que ainda temos de
ultrapassar e nunca mais retomá-la como modelo de cuidados em Saúde Mental,
aqui, lá e em qualquer longitude ou latitude...
Tornou-se uma atividade mundial a lembrança
com datas para os assuntos que mobilizam em direção tanto para o consumo como
para as questões humanas ou humanitárias. No dia 10 de outubro, assim como
recentemente outros “dias” (Alzheimer, Autismo, etc...), comemora-se, ou
melhor, somos lembrados do Dia Mundial da Saúde Mental. E este como muitos
outros dias já passou, e a realidade sempre volta.
Eu, aqui entre quem já estive em seu “front”,
na área psicossocial, hoje me sinto muito mais próximo dos que a vivem como uma
”guerra” cotidiana. Digo isso, pois também tenho minhas comemorações nesses 10
dias de outubro. Aliás, muito menos devo comemorar do que relembrar apenas a
data de minha neurocirurgia há 03 anos. E ainda tive também meus dias
seguintes, meus “days after”... Ou seja, a minha “queda” dentro de um hospital
público da rede do SUS..
Foi após esse Outubro, que não deixava de ser
também o Outubro Rosa no combate contra o Câncer de Mama, que pude vivenciar o
quanto precisamos, urgentemente, da Bioética. Essa “invenção” transdisciplinar
dos anos 70 tem uma presença cada vez mais indispensável nos campos das
ciências, biotecnologias e, em especial, no campo da Saúde.
Quando passei pela experiência, corporal e
psíquica, da ameaça de vulneração dentro de um hospital é que comecei a
repensar a resiliência e seu sentido bioético. Este termo não é muito empregado,
por enquanto, nas questões de saúde, em especial na Saúde Mental. Porém posso
dizer que o experimentei na própria pele...
A “resiliência” significa, no seu sentido
primordial, a capacidade de plasticidade que um material, mesmo rígido, tenha
de recobrar sua forma original depois de ser submetido às pressões que o
deformem. O termo e conceito foram inicialmente tomados de empréstimo pela
Psicologia, em sua crítica às leituras que se fizeram sobre as crianças que
sofrem traumas infantis.
A visão clássica era de que estariam
condenadas a reproduzir esses traumas, e, como seres humanos vulneráveis,
trariam para sua vida adulta todas as “feridas” da tenra infância. Porém o que
verificou com pesquisas é que não esse determinismo. Nem todas as crianças, ou
seres humanos, são marcados por essas situações de vulneração e trauma
igualmente.
O surgimento da capacidade de resiliência, em
muitos, pode demolir essa visão tanto quanto a ideia de invulnerabilidade. Nem
condenados, nem vítimas e, muito menos, heróis. Somos, nos tornando resilientes
apenas seres humanos em sua infinita capacidade de superação e aprendizado. Não
digo que temos resiliência, digo que a experimentamos e a desenvolvemos.
O que acontece quando temos uma doença
crônica, um diagnóstico de AIDS ou câncer? O que se passa, principalmente, por
nossas mentes? O que essa situação de hiperestresse provoca em nossos corpos?
O que se passa com nosso mundo psíquico,
fragilizado e frágil, quando temos de aprender a conviver com outro modo de
andar, conviver e se relacionar, vivenciando, por exemplo, uma deficiência
pós-traumática?
Tornamo-nos aquilo ou aqueles
antes apontávamos ou identificamos como sendo diferentes de nossa suposta
normalidade? Talvez essa vivência inesperada possa vir a ser a diferença.
Porém, cada um em sua singularidade e subjetividade, passará por uma
experiência vital única e incomparável. É quando podemos desenvolver essa
capacidade de projeção menos sombria e mortal que muitos alardeiam ou se
vitimizam. Pode nascer em nós a capacidade de ir além dos diagnósticos,
incapacidades ou perdas de funcionalidade.
Há aí uma capacidade, que poderíamos ousar
dizer universal, de aprendizado, superação e formas diferenciadas de
transformação pessoal. Chamaremos essa potencialidade de resiliência ou
re-existência? Podemos como muitos fazem, e se utilizam disso, nos colocarmos
no papel de vítimas. As nossas novelas que ocupam, a meu ver, muito mais espaço
das vidas e das redes sociais, são peritas nessa produção de subjetividade.
Nessa temporalidade da Idade Mídia e da
Sociedade do Espetáculo há sempre alguém muito mais interessado no destino de
uma “Carminha” do que dos muitos brasileiros e brasileiras que vivem reais
condições de produzir, enfrentar ou serem derrotadas pelas adversidades
inevitáveis da Vida.
Somos estimulados uma posição
vitimada e vitimizadora. Diante dos processos de perda de papel micropolítico,
ou mesmo macro político, é que muitos passam a situação de hiper-vulneráveis
pelo Estado. Sugiro, então, a partir de minha própria vivência, que é a busca
dos antídotos revitalizadores, para além das urnas, que podem multiplicar
nossas resistências e resiliências coletivas.
O campo da Saúde Mental é e sempre será
propício para esta práxis e proposta psicossocial. Porém não podemos
revitalizar o que for fazer crescer em nós, como cicatrizes mal tratadas, os
modelos messiânicos, as buscas apocalípticas, os fundamentalismos e as
micro-fascistações que nos são profundamente tentadoras por suas promessas
fáceis e mistificadoras. Não há mudanças radicais de uma vida sem o aprendizado
com suas perdas, mas também com seus ganhos em novos saberes ou sabedorias.
Eu, aprendi a sonhar, mas não creio nesses
profetas que hoje saem das igrejas-partidos em direção às Câmaras ou outros
espaços da política e dos poderes constituídos. Principalmente pela ausência
real de propostas de políticas sociais realmente estruturantes. Ainda mais no campo
da Saúde Mental ou a Coletiva e Pública.
Basta que pensemos nas promessas de candidatos
a prefeitos, recém-propagandeadas, de resolução “total” de nossos problemas
sociais, econômicos, habitacionais, educacionais e, mais localizadamente, de
nossas muitas saúdes. São as falácias e os espetáculos macro políticos que se
perpetuam abusando das camadas populacionais vulneráveis.
Essas chamadas de “comunidades” estão e
estarão precisando de uma intervenção micropolítica que as ajude a despertar na
e com a resiliência. Assim como em nós, individualmente. Porém como nos ajudar
nesse processo de recuperação da dignidade e do direito à justiça social? Há
sim como recuperarmos nossas diferentes saúdes, principalmente se a
reconhecermos como um fundamento para todos os outros direitos humanos que
temos.
Não há com quebrar os mecanismos do que chamo
de vulneração, por exemplo, das pessoas com deficiência, sem um processo ativo
de seu emponderamento. Um processo histórico que quebra os velhos paradigmas
reabilitadores ou biomédicos e lhes dá um lugar social e políticas públicas
para além da visão sedimentada de que são apenas objeto e não sujeitos de
direitos.
Essa mesma mudança de paradigmas, que
conquistamos com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
apesar da conceituação e o abraço conceitual de deficiências psicossociais para
quem vive transtornos mentais graves ou persistentes, ainda não ocorre, a meu
ver, no campo da Saúde Mental.
Ainda temos uma visão e práxis que não
reconhece a força das pressões sociais e econômicas na produção de muitos
quadros psicopatológicos. Quando lemos que as pessoas estão vivenciando mais
quadros depressivos e as taxas de suicídio aumentam é que deveríamos pesar,
para além de refletir, o quantum da pressão social que as crises econômicas vêm
produzindo, desde 1929, a Grande Depressão nos EUA.
E, então para socorrer e tratar dessas
populações em crescimento “assustador” e “epidêmico” surgem apenas as
constatações e as epidemiologias. São criadas as recentes biopolíticas. Os
orçamentos e os seus valores em milhões, a princípio, são grandiosos. Há,
porém, a persistência da serialização e multiplicação dos diagnósticos e das
suas curas. Serão apenas 350 milhões ou 5% da população mundial (OMS) que
vivencia as diferentes depressões? E amanhã, quantos seremos?
Um psiquiatra português diante do chamado
“desânimo” diante da crise econômica que castiga seu país e a Europa nos
informa que: “...os doentes mentais crônicos também são vulneráveis a esta
situação de crise". Roma Torres salienta que "o sistema de saúde é
onde as pessoas acorrem muitas vezes em situações de dificuldade que nem sempre
é da saúde e isso nota-se particularmente na área da psiquiatria".
Essa mesma psiquiatria que tenta a remoção dos
estigmas e dos mitos tentando ensinar novos modos de ver, cuidar,
institucionalizar e revisar perguntando às crianças: “o que é um maluco?”.
Outras notícias e outras visões nos informam
que, nesse Dia Mundial da Saúde Mental, devemos sim é fortalecer as chamadas
redes psicossociais de cuidados e tecnologias sociais. São os sujeitos em
interação, com os mais diferentes suportes em suas territorialidades ou espaços
de convívio que, emponderados, passam de vítimas vulneráveis a ativistas de
seus direitos. Podem, então, participar e até fiscalizar as políticas públicas,
não assistencialistas, que possam ir para além dos paradigmas biomédicos ou
reabilitadores.
O exemplo do surgimento dessa resistência que
fomentará a resiliência que pode vir, por exemplo, das pessoas que são
consideradas objetos de intervenção social. Nessas medidas, desde os Caps
(Centros de Atenção Psicossocial) até os Centros de Reabilitação, os governos
investem em busca do atendimento de uma demanda crescente chamada de “doentes
mentais”, a maioria, como no resto do mundo ocidental, submetida ainda um
modelo fisicalista, farmacológico e orgânico de seu adoecimento e sua
cronificação.
As depressões prefiro-as no plural e na
pluralidade, só estão cada dia mais “diferentes”.
Nessa constatação o colega ultramarino também
identifica e prescreve a solução final dos nossos modelos tão difundidos de
re-internação, re-hospitalização, inclusive com a judicialização da saúde
mental e os processos de justificação das internações compulsória, em especial
dos drogadictos, reedição dos modelos higienistas e manicomiais.
Há alguma perspectiva que nos dirija para as
desinstuticionalizações para além das Reformas? Há, realmente, em ação uma
mudança de paradigmas que nos abra um caminho para resiliência comunitária, ou
melhor para uma resistência diante de tanta desumanização do cuidado em Saúde?
Nossos novos minicômios em ação são mais pulverizadores e invisibilizadores do
que os Juqueris, os velhos manicômios, e seus muros visíveis? As correntes que
se usam aqui são mais “finas e sutis” que as usadas em Gana?
Minha utopia, aliás, minhas utopias e sonhos
não serão demolidos por essas duras tecnologias que se repetem e reproduzem nas
palavras “compulsória e involuntária”. Há um desejo nascente do meu estudo da
Bioética que aponta possibilidades, pontes para o futuro, que transformam os
chamados “portadores” de deficiências ou doenças, mesmo as raras, em novos
sujeitos resilientes.
Em minha própria pele, esse que
é o maior órgão do corpo humano, e também nosso egóico protetor, às vezes
excessivamente narcísico, venho tentando a experimentação do árduo aprendizado
de me tornar resiliente. Por isso escrevo tantas Cartas de Vida(s) à Dona
Morte. Por isso amplio minha própria vulnerabilidade, questiono meus
pré-conceitos, busco essa nova e renovada visão da saúde, para além de
quaisquer doenças ou incapacidades.
Com mais este texto, em nosso contexto
político das privatarias, dos mensalões, das corrupções visíveis e invisíveis,
faço mais um convite para o re-conhecimento do quanto a Bioética pode trazer de
estímulo para a proteção e salvaguarda dos que estão em uma ponte, só que
pensando, silenciados e silenciosamente, no suicídio e falsa redenção pela
morte.
Entre a ponte para um futuro com mais justiça,
menos exclusões, sem estímulo às desfiliações sociais e aos horrores econômicos
de um hipercapitalismo parasitário, essa ponte de onde saltam a cada 40
SEGUNDOS globais os seres em desesperança e desilusão vital, qual é a ponte que
pretendemos atravessar, juntos, em direção de nossos devires?
Copyright/left
jorgemarciopereiradeandrade
domingo, 7 de outubro de 2012
Conscientização do Autismo - Arapiraca (AL) tem primeiro espaço público para autistas do Brasil
Prefeito Luciano Barbosa e secretária Aurélia Fernandes inauguram espaço para atendimento a autistas |
O prefeito
Luciano Barbosa e a secretária de Saúde, Aurélia Fernandes, inauguraram, o primeiro espaço público ligado ao Sistema
Único de Saúde (SUS) destinado ao atendimento de crianças autistas com
necessidades especiais do Brasil.
O Espaço Trate
está localizado na Rua Abraão de Oliveira, no bairro Cavaco, e foi construído
como prédio anexo do Centro de Medicina Física e Reabilitação de Arapiraca
(Cemfra), que já atende pacientes de 48 municípios alagoanos.
A solenidade de
inauguração também contou com a presença dos secretários de Agricultura, Manoel
Henrique Cavalcante; de Administração e Recursos Humanos, Lúcia de Fátima
Cavalcante; subsecretária de Finanças, Marciete Barros, além dos diretores do
Cemfra, Marcos Fontes, e do Centro de Referência e Assistência em Saúde do
Trabalhador (Cerest), Sandra Márcia Lima, bem como de psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e representantes da classe empresarial
de Arapiraca.
O Espaço Trate
possui modernas instalações, com salas climatizadas e foi construído com o
apoio de um grupo de 46 empresários locais que doaram material de construção,
móveis, equipamentos visuais, entre outros materiais destinados ao trabalho dos
profissionais no atendimento diário das famílias e crianças com autismo.
Na ocasião, a
psicóloga Ana Paula Rios agradeceu ao prefeito Luciano Barbosa e secretária
Aurélia Fernandes pelo apoio dado à iniciativa, que também foi idealizada pelas
psicólogas Luana de Freitas e Sílvia Sobral.
“A credibilidade
dos nossos gestores facilitou nossa parceria com a classe empresarial”, frisou
Ana Paula Rios.
Ela adiantou
que o antigo prédio, que funcionava como anexo do Cemfra, foi totalmente
reformado e adaptado para receber os profissionais, familiares e as crianças
com autismo.
No local foram
construídas salas de recepção, sala de fonoaudiologia, sala de reuniões, sala
de avaliação, cozinha, quarto, jardim e um galpão em concreto para futura
ampliação do espaço.
“Absorvemos a
luta e o sentimentos das mães, e o resultado está aqui”, disse emocionada a
psicóloga.
Acolhimento
Representando
as mães das crianças, a dona-de-casa Maria Nunes de Amorim, que tem um filho de
sete anos de idade com autismo, agradeceu a todos pela inauguração do espaço.
“Só nós (mães)
sabemos o sofrimento e a angústia de lidar com esse problema, mas vocês abriram
seus corações e acolheram a gente e os nossos filhos”, declarou.
A secretária de
Saúde, Aurélia Fernandes, disse, na ocasião, que a Prefeitura de Arapiraca
entregava e oferecia mais um serviço de qualidade para o povo.
“Isso aqui é a
prova de que o SUS pode dispor de serviços modernos, com qualidade e, acima de
tudo, com o trabalho de pessoas comprometidas com a saúde das crianças e
famílias”, acrescentou, agradecendo também o apoio da iniciativa privada.
Aurélia
Fernandes falou da sensibilidade do prefeito Luciano Barbosa como gestor
público. “Ele compreende as nossas apreensões e necessidades, e tem dado total
apoio para a realização de um trabalho digno e que tem colhido muitos frutos”,
afirmou a secretária.
Capacidade
Em seu
pronunciamento, o prefeito Luciano Barbosa saudou as mães das crianças e
parabenizou a equipe de psicólogas da Secretaria de Saúde. “Sinto orgulho de
ser prefeito de Arapiraca e contar com servidores capazes, ousados, competentes
e comprometidos com a melhoria constante da qualidade de vida de nossa
população”, enfatizou.
“A inauguração
deste espaço prova que é possível contar com o apoio do setor privado para
avançarmos em nossas ações por uma cidade mais saudável e cada vez melhor. Isso
serve de exemplo, desde o trabalho do gari até o prefeito, que juntos fazem o
que podem para enfrentar os desafios e oferecer ao cidadão uma vida mais digna
e com qualidade ”, completou Luciano.
Após o
pronunciamento das autoridades, o padre Geraldo Freire abençoou as instalações
do prédio e, em seguida, prefeito e secretária descerraram as placas de
inauguração do Espaço Trate.
Pioneirismo
O trabalho com
nove crianças autistas começou em maio deste ano. As psicólogas resolveram
adotar o Sistema de Comunicação pela Troca de Figuras (Picturing Exchanging
Communication System) e vêm obtendo resultados altamente satisfatórios, sendo,
inclusive, referência em todo o País, sensibilizando o Ministério da Saúde, que
também decidiu aplicar recursos para manutenção do projeto.
O Pecs foi
originalmente desenvolvido para crianças do espectro do autismo em idade
pré-escolar, mas está atualmente sendo usado por crianças e adultos com
transtornos do espectro do autismo e outros diagnósticos que apresentem
dificuldades com a fala e a comunicação.
O PECS é
dividido em 6 fases. Na 1ª fase, o objetivo é o de permutar a figura. Mais
tarde a criança aprende a generalizar essa habilidade de forma que possa se
comunicar com um grande nº de pessoas diferentes, em diferentes lugares e por
diferentes motivos. Eventualmente, a criança poderá produzir sentenças com as
figuras em uma "tira" de sentenças e poderá expandir o vocabulário.
O PECS dá à
criança a possibilidade de expressar suas necessidades e desejos de uma maneira
muito fácil de entender. Muitas crianças que começaram a utilizar o PECS também
desenvolvem a fala como um efeito colateral, claro que é um efeito colateral
muito agradável!
A ideia da
secretária Aurélia Fernandes, com o aval do prefeito Luciano Barbosa, é
ampliar, no próximo ano, o Espaço Trate para o acolhimento e atendimento a mais
famílias e crianças com autismo.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Ciclo de Palestras sobre o Espectro Autista em Rio Grande
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
PL 168/2011 - (1631/11) - Carta aos Senadores
Excelentíssimo Senhor Senador
Ao cumprimentá-lo, respeitosamente sirvo-me da
presente para pedir sua especial atenção no sentido de atender os rogos de um
imensurável número de pais de autistas, que trata o Projeto de Lei 168/2011 -
(1631/11) em trâmite para aprovação no Senado Federal.
Tendo o projeto 168/2011 - (1631/11) recebido
aprovação dos deputados, depois de passar por todas as etapas legais, retorna
para aprovação dos senhores senadores, motivo da presente mensagem para rogar a
V.Excia o devido exame e encaminhamento para votação, em sendo possível, na sua
integralidade, tendo em vista as interpretações já feitas na Câmara dos
Deputados, quando do seu encaminhamento por esta casa de leis.
Alguns políticos senhor senador, em entrevistas que concedem
se utilizam da palavra “autista” para caracterizar, de maneira pejorativa, geralmente
pessoas públicas de nosso País, como característica desqualificante, como por
exemplo: um senador, afirmou que o presidente da República continuava “se
fazendo de autista”. Outro senador confirmou que o presidente “continua o
autista de sempre”. Já um deputado,
disse que o presidente “deveria deixar de assumir essa postura de autista”.
Anteriormente outro deputado havia dito que “o presidente parece um autista,
uma pessoa que vive em seu mundo”.
Não fosse a intensa mobilização de pais de autistas
de todos os quadrantes, provavelmente a síndrome que dota nossos filhos estaria
no rol das palavras de baixo calão.
Num breve exercício, imagine V.Excia quantos tipos
de pessoas, por motivos fúteis ou ideológicos, poderiam ser desqualificadas por
uma palavra que em princípio muitos a pronunciam sem sequer saber o que
significa.
Autismo, nobre senador, é uma condição médica, uma
deficiência que atinge atualmente uma brutal estimativa de dois milhões de
brasileiros, caracterizando-se pela extrema dificuldade de se comunicar, e
ainda associada a uma grande limitação na socialização e na imaginação,
abandonados pelo sistema de saúde e amparo previsto na Constituição Federal.
Autismo senador, definitivamente não é o caso de
muitas pessoas públicas que, nos fatos recentes, têm mostrado grande imaginação
para inventar e reinventar versões da mesma história.
Autismo e seus adjacentes, senador, são
diagnosticados pelo CID-10 – Código Internacional de Doenças.
Ajude-nos senador, e aqui acredito estar falando por
muitos pais que lutam pela mesma causa – ajude uma família a transformar a
sociedade brasileira mais digna para os dotados da síndrome viverem – pois ela
segrega seus filhos por falta de políticas públicas específicas e abuso dos
covardes, nos fazendo sentir indignos como pais e fracassados como seres
humanos, por que nada podemos fazer sem a força das leis, razão pela qual precisamos
da sua ajuda para aprovação do PL 168/2011 - (1631/11).
Nós pais de autistas ou não senador, acreditamos que
é possível um mundo onde cada vez mais haja menos desigualdades
nessa arrancada que rogamos sua participação.
Acreditamos que neste momento V.Excia já esteja a
par de como é um autista, mas mesmo assim convido V.Excia para entrar na vida deles,
ficando à sua disposição para lhe falar sobre alguma coisa absolutamente
fascinante e que se faça necessária.
O PL 168/2011 - (1631/11) senador,
tem alguma coisa de anormal no sentido de ser valente igual ao autista, que consegue
vencer as dificuldades iniciais que a vida lhe oferece e construí-la, pois, a sua
condição humana relaciona honestidade pessoal com pureza em todos os
sentimentos.
Poderemos
falar senador que o seu exemplo acelerador acontecerá e servirá para que o PL
168/2011-(1631/11), aprovado e posteriormente sancionado, dará aos autistas e
outras pessoas deficientes, a possibilidade de recobrar a desvantagem de tantos
passos perdidos na etapa inicial da disputa pela vida, em posições mais iguais
possíveis com os seus semelhantes, recebendo também um pouco do que a vida oferece
até para brigar por felicidade.
A condição autista que afeta nossos filhos senador, não
deve ser desejada sequer para o pior inimigo, pois além da crueldade da discriminação
e do preconceito, é nosso dever evitar que ela venha se tornar um estigma, que não
cabe na biografia de ninguém.
Nesta
oportunidade quero reiterar meus protestos de consideração e apreço, ficando
certo de que V.Excia contribuirá para que nossos filhos, autistas ou não,
sofram mais do que o inevitável.
Atenciosas saudações
Nilton Salvador
Foto: Arteverbo
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
Calendário de Outubro - 2012 (Comemorativo)
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Cidadania, Políticas Públicas & Deficiência
O Estado, que
ente é esse hoje tão afastado da compreensão do povo e cujo papel e dimensão
nem de longe são reconhecidos?
No Brasil da segunda década deste século XXI os
contornos dessa compreensão, bem como da compreensão da cidadania, estão cada
vez mais embaçados. Sistematicamente cegada pela falta de formação cidadã em
todos os ambientes de educação (lembrando que estes extrapolam as escolas), a
sociedade segue numa certa confusão geral e instituída de forma que os direitos
dos indivíduos, assegurados pelo texto constitucional, sejam por eles
esquecidos à conveniência daqueles que se beneficiam de tal ignorância,
manejando um Estado aliado a seus próprios interesses.
Os muitos interesses de
muito poucos.
No precipício
que se alarga a cada dia entre dirigentes e dirigidos é flagrante a manutenção
histórica de cidadãos de primeira e de
segunda classe. Espremidos na retaguarda
daqueles tratados como gente de segunda categoria estão algumas minorias com
demandas bastante específicas, as pessoas com deficiências e as pessoas com
autismo aí englobadas. De forma ainda mais aguda que o restante da sociedade,
são penalizadas pela omissão do Estado e pela ausência de controle social sobre
o cumprimento do que é expresso no texto constitucional.
Para que
cidadania e inclusão social caminhem juntas são necessários instrumentos e
intervenções. O instrumento para que os direitos sejam cumpridos, as leis sejam
postas em prática, e cidadão seja mais do que uma nomenclatura vazia chama-se
POLÍTICA PÚBLICA.
Diferindo aqui e ali, de um para outro autor, o conceito base
de Política Pública é: o Estado em ação. No caso do Brasil, a Política Pública
pode acontecer por ações de âmbito federal, estadual ou municipal, mas, tanto
aqui quanto em qualquer porção do planeta, é do Estado o papel de propor ações
para atender a determinados setores da sociedade civil.
Sem ter bem
claras as noções de seus direitos e menos claras ainda as atribuições do
conjunto de órgãos do Poder Público, a população segue sem se dar conta de que
detêm nas mãos a legitimação e o controle SE e QUANDO decidir fazer valer a
soberania popular, atributo primeiro de uma democracia. Trocando em miúdos,
parece que uma larga fatia da sociedade vem sendo convencida de que o Estado já
não tem obrigação alguma, que a função de seus dirigentes, ou dos indivíduos
que compõem os serviços burocráticos, é somente a de ali se manterem, e que
devolver à sociedade o que lhe toma em impostos, contribuições e trabalho, na
forma de serviços de manutenção da vida e do território é algo opcional ou até
mesmo um favor.
Nadando contra a
correnteza da inconsciência uma porção da sociedade civil se mantém ainda
lúcida. Espécies de heróis da resistência, cidadãos que sabem bem o significado
de cidadania compõem a luta para a mudança dos cenários, para a transformação
social. Individualmente ou em grupos vão disseminando a conscientização através
do próprio exemplo (como já pregava Paulo Freire) de participação e
mobilização, principalmente em favor daqueles cuja cidadania não é considerada
nem respeitada: as pessoas em condições econômicas e sociais mais precarizadas
- a maior fatia da população.
Francisco Cerignoni em Guaratinguetá, fala de Políticas Públicas e Pessoas com Deficiência. |
Entretanto é do fundamento da luta da sociedade organizada que sua
atuação exista para que os recursos (impostos, contribuições, etc, etc)
retornem aos setores que necessitam das ações, e já que o Estado não o faz
diretamente, que o faça de forma indireta, de forma terceirizada.
Daí a
nomenclatura Terceiro Setor, cuja representatividade é tanto maior quanto mais
essa organização da sociedade civil sirva como ponte, cobrindo as lacunas
sociais e cobrando do Estado suas obrigações. Direcionando verbas e trabalho
para os setores onde as necessidades estão, cumprem, na atual realidade, as
obrigações deixadas de lado pelo Poder Público.
Entretanto, para
se manterem legitimadas como representação da sociedade organizada, cabe também
a elas conscientizar incansavelmente a população sobre seus direitos, e compor o número de vozes que pleiteiam a ação
do Estado na feitura e na concretização das Polícias Públicas, com as quais a
sociedade, seja em cada indivíduo, seja nas organizações que representam os
diversos grupos, será a grande beneficiada.
Claudia Moraes, presidente da APADEM, compartilhando suas vitórias com o Autismo. IV Fórum de Inclusão Social do ILA. |
Dedico este post
a duas pessoas que são exemplos dessa atuação.
Fica aqui minha homenagem e
profunda admiração à Claudia Moraes, da APADEM, e ao Francisco Núncio
Cerignoni, da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência-FCD.
Ele, de
Piracicaba-SP, e ela, de Volta Redonda- RJ, estiveram compartilhando
conhecimentos e edificando a conscientização nos dias 21 e 22 de setembro, em
Guaratinguetá a convite do ILA - Instituto Lucas Amoroso em seu IV Fórum de
Inclusão Social.
Aplausos de pé!
Fonte:
Márcia Lombo Machado
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Corujas, urubus e gol contra do PL 1.631/2011 - (168/11).
Olá Gente Amada.
“Não se deixe levar pelo canto das
aves agourentas.
Precisamos da união de todos”.
Postei aqui a citação acima, como opinião de pai de autista sobre PL 1631/11, atualmente no Senado Federal para análise e
aprovação como PL 168/11, pedindo atenção para o assunto publicado, pois que
ficam dissipadas dúvidas de muitos sobre a redação do artº 7 do projeto, polêmica que é.
Embora não fique registrado
publicamente, comentários sobre postagens, até por timidez das pessoas, recebo-os
em PVT para o meu email – rosandores@gmail.com, integrante aqui das listas que
participo.
O Argemiro, munido da sutileza que o
caracteriza, deu-me uma pedrada, via lista, demonstrando estranheza por eu ter
feito o apelo para que não se deixassem “levar pelo canto das aves agourentas”
embora discordando eticamente como é do seu feitio, valoriza as opiniões ali postadas.
Uma querida mãe componente
tradicional da lista por suas opiniões incisivas. Verdadeira fera na defesa da
sua opinião, também não abre mão da contrariedade do que vê como um “risco sem
precedentes” para o futuro dos nossos filhos autistas, os Artigos 2º e 7º do PL
1631 (atualmente 168/11 no Senado Federal), a exemplo de outros pais
integrantes da lista que também assim já se manifestaram.
Ora minha gente amada da lista e
demais meios de contato que nos ligam: “não existe ainda lei nenhuma que de
fato garanta a inclusão.”
Também entendo que devemos aprovar o
PL 1631/11 (168/11) como está, pois interpretações
contrárias que se façam existir depois, mesmo levando em conta a diversidade de opiniões não permitindo
unanimidade sobre sua redação, nossos limites se esgotaram, embora as desgastantes
tentativas de unir todos os que pensam de outra forma.
Sei que o PL aprovado, e se
sancionado, começará outra briga, a exemplo da Constituição de 1988 que até
hoje está incompleta, mas o que importou e muito importa, é que ela aí está,
justamente para tirar o povo das amarras do poder injusto e dominante, e que
cada vez que precisamos de um artigo ainda não regulamentado, temos que
enfrentar as forças políticas, a exemplo do que fizeram com o Estatuto do
Deficiente, colocando-o para adormecer pelas mesmas pessoas que ainda estão no
Congresso Nacional, puramente por ambições pessoais.
Resguardadas as proporções, e
sancionado o PL 1631/11 (168/11) como MARCO ZERO, de uma Lei maior em prol do
autista, ESTAREMOS enterrando todo um passado de leis inócuas, acórdãos e etc, o
que proporcionará que nossos filhos, autistas ou não, sofram mais que o inevitável.
Quero a Lei, não gosto de pensar em
punir, nem mensurar penas para aqueles que falharão por arrogância,
discriminação ou preconceito contra nossos filhos autistas.
Sempre existirá alguém que se julgue
acima do razoável e que ousará recusar uma inscrição de um autista para inseri-lo
nesta ou naquela instituição de ensino. Esse tipo de pessoa não imagina que estará
enfrentando eu e você por ousar querer tomar uma decisão por nós em relação a
nossos filhos, com a lei em nossas mãos.
Para mim a promulgação desta lei
agora, será suficiente para a justiça resolver problemas para nossos autistas, ou
quem sabe até pelo aperfeiçoamento por iniciativa de quem o critica, no futuro no futuro.
Já lutamos e discutimos tanto por este
projeto, que às vezes fico me indagando por que algumas pessoas, sem
generalizar, não tomam iniciativas para alterá-lo de acordo com suas razões?
Não vejo como justo e perfeito, que
alguns pais de autistas queiram imputar para os grupos que estão à frente do
projeto, culpas eventuais do presente para o futuro. Talvez não sirva de
exemplo, mas depois que comecei a reclamar, também entendi que deveria me
inserir no contexto e aí estou.
Quanto a “Ave agourenta”, jamais quis
“apelidar alguém como tal” – quem sou eu - mesmo por que é ambígua de
interpretação a designação, tanto para bem quanto ao mal. Eu estava na torcida
– a favor – quando escrevi “Ave Agourenta”, a exemplo de outras vezes, e quem
me lê sabe, por que algumas pessoas parece que torcem pelo “gol contra”, principalmente no
último minuto do jogo decisivo.
A coruja no Império Romano, era
considerada agourenta e seu canto anunciaria a proximidade da morte. Já os
gregos, considerando que a noite era o momento do pensamento filosófico e
intelectual elegeram-na como representante da busca pelo saber, atravessando os
tempos, embora nem em todas as culturas tenha se firmado como símbolo de
inteligência.
Já o brasileiro, não é difícil
encontrar algum que não tenha uma corujinha em casa para tirar o azar, ou para
trazer sorte, né mesmo?
O urubu, desde que comecei a estudar
o primário (lembram?) minha primeira professora, dona Emilde, ensinou a todos
que ele era um animal útil. Concordei. Só não entendo porque ele é símbolo do
Flamengo. Talvez por que eu seja torcedor do Botafogo.
Como vocês podem observar, não abro
mão da riqueza de discutir aquilo que acredito, por pensar que osso é uma
qualidade de todos nós.
A esquisitice “Ave Agourenta”, para
quem a tomou como provocação, meu mais humilde pedido de desculpa. Não fiquem
de mal comigo, pois quando o assunto trata dos nossos filhos autistas, penso
menos, meus dedos ficam mais velozes e às vezes provoco alguns esbarrões.
E mais, se quiserem brigar comigo, terão
dois trabalhos: brigar e fazer as pazes.
Que cada um continue fazendo a sua
parte.
Recebam e aceite o meu fraterno
abraço.
Luz e Paz
Nilton Salvador
Fotos: Google.
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