sexta-feira, 27 de maio de 2011

Pitoco persistente

terça-feira, 24 de maio de 2011

Terapia promove benefícios e mostra que Autista pode ter vida social - Balada dos (in) comuns

Iniciativa:
festa em casa noturna promove integração e entretenimento a adolescentes dotados de
Autismo
      Autistas padecem, até mais do que dos próprios sintomas da doença, de um mal invisível aos olhos da maioria: a discriminação.
     A exemplo do que ocorre com males como a síndrome de Down e o Parkinson, as associações pejorativas dessa disfunção que atinge um em cada 100 brasileiros dificultam o tratamento em todos os níveis de manifestação.
     E o equívoco de praxe é quase sempre achar que portadores de autismo não conseguem (ou não podem) ter vida social.
     Justamente para acabar com esse tabu, a Associação para o Desenvolvimento de Autistas de Campinas (Adacamp) e o Centro Interdisciplinar de Atenção ao Deficiente (Ciad) têm feito papel inverso para, entre outras coisas, “diminuir o preconceito e proporcionar lazer e diversão para os pacientes”.         
     Numa iniciativa inédita, em parceria com a casa noturna Heaven & Hell, 23 autistas, de 17 a 25 anos, foram, literalmente, para a balada.
      Cada um à sua maneira, todos dançaram e se divertiram como pessoas comuns, numa festa para pessoas comuns. E o resultado não poderia ser melhor. “É nítida a evolução no aspecto social dos que participam de eventos como esse. Eles se sentem mais seguros para se comunicar e passam a enxergar as pessoas de outra maneira”, relata a coordenadora do Ciad, Maria Helena Cirne Toledo.
      Esse tipo de projeto, chamado pela Adacamp de terapia da integração sensorial, auxilia no desenvolvimento da atenção, da concentração, da audição, da compreensão e do equilíbrio, melhora a receptividade tátil e o controle da impulsividade.
     Há também melhoras significativas em comportamentos reproduzidos por essas pessoas em função da hipersensibilidade sensorial apresentada na grande maioria dos autistas. As reações deles durante a balada comprovam tal premissa.

“O mais difícil depois é convencê-los a ir embora”, brinca Maria Helena.

      Outro tratamento é a musicoterapia, que se tornou uma das prioridades das principais entidades de auxílio ao autista do País e que, segundo dados acadêmicos, tem tido bons resultados.
     “A música é a única ponte de comunicação possível para os portadores deste transtorno neurológico.
     Neles, a música não verbalizada é decodificada no hemisfério direito do cérebro (subjetivo e emotivo).     
     Ela se move até o centro de respostas emotivas, localizado no hipotálamo, e passa para o córtex (responsável pelos estímulos motores e do intelecto)”, diz Maristela Pires da Cruz Smith, presidente da Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia do Estado de São Paulo.

metrópole
Henrique Nunes

Campinas 22/5/11

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Filme "A ÁRVORE DA VIDA" vai dar o que falar



O filme A Árvore da Vida aproxima o foco na relação entre pai e filho de uma família comum, e expande a ótica desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão.
Estréia dia 01.07.2011 no Brasil




quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aulas de Ginástica Olímpica ajudam no Tratamento do Autismo

Rodrigo Brívio e Gustavo, 9 anos:
pais notam melhora na concentração e na interação social dos filhos
     O autismo é uma síndrome silenciosa. Ainda se sabe muito pouco sobre o que acontece no misterioso mundo de quem vive dentro do chamado espectro autista.
     Há três semanas, a comunidade de pais, médicos e terapeutas de autistas sofreu um baque com a denúncia de que uma das profissionais até então mais respeitadas do meio, Beatriz Cunha, de 32 anos, 12 de profissão, que se dizia especializada no assunto, sequer era formada em Psicologia.
     Ela está sendo processada por falsidade ideológica e tortura, já que obrigava as crianças a comer e a fazer o tratamento muitas vezes com truculência e agressões verbais. O escândalo gerou pânico entre familiares e amigos de autistas em listas de discussão pela internet, sobre em quem confiar e em quais tratamentos apostar.
     Um dos nomes que sempre aparece com mensagens positivas é o do professor de educação física Rodrigo Brívio, 31 anos, que começou ano passado um trabalho de ginástica olímpica com crianças autistas na Academia Body Tech, na Barra da Tijuca, e vem conseguindo resultados surpreendentes no atraso da linguagem e na falta de interação social, principais características da síndrome.
     Com disciplina, rotina, amor e muita paciência, Brívio virou referência no Brasil inteiro. Ele já acumula convites para dar cursos e seminários pelo país afora e tem nada menos do que 100 crianças na fila de espera por uma das 25 vagas da sua concorrida aula.

Qual o segredo da aula?

Eu acredito que tudo é possível, dentro das limitações de cada um. Tento entrar no mundo dessas crianças, e não tentar fazer com que elas venham para o nosso mundo por obrigação.

Qual é o maior desafio de lidar com crianças autistas?

Estabelecer uma comunicação com uma criança que não fala. Mas com o tempo, paciência e interesse, dá para saber o que elas querem. Recentemente, um dos meninos me puxou até a porta do banheiro. Se comunicou da forma que podia. E mostrou que já confiava em mim.

Como elas reagem às atividades propostas na ginástica olímpica?

Elas geralmente têm medo do salto no início, mas logo percebem a sensação de prazer. A atividade física alivia um pouco do estresse e dos sintomas de hiperatividade que muitos deles têm.

Nas aulas, alguma criança já te emocionou?

Muitas. Uma delas falou a primeira palavra durante uma brincadeira que fazemos com os cones.

Por que o método é eficiente?

Porque como eles não falam ou têm dificuldade na linguagem e na área da comunicação, usam muito o corpo para se expressar, fazem gestos. Na ginástica, eles aprendem a se concentrar, que é um dos pontos deficientes de quem tem a síndrome. Sentem que estão falando a língua deles.

Como é a aula na prática?

Por meio dos exercícios fazemos a combinação da parte motora com a cognitiva e a sensorial. Não existe diferença entre crianças autistas ou não. As aulas são iguais. Desenvolvo trabalho com reconhecimento de cores e letras, que poderia ser feito com as outras crianças.


Do Metro




segunda-feira, 16 de maio de 2011

A diferença pede licença


     A sociedade é um imenso mercado, onde muito cedo as pessoas são etiquetadas e colocadas em algum lugar, sem escolha possível. O bonito, o feio, o desajeitado, o inteligente, o atrasado, o grande, o pequeno, o normal, o anormal...
     E julga-se, sem piedade, os fracos, os fortes, os vencedores, os perdedores, os sãos, os doentes.
     Chama-se de diferente aquele que não está na mesma linha de normalidade que a maioria do ser humano.     
     Mas, o que é ser diferente senão o fato de não ser igual? Não somos assim, todos diferentes?
     Por que etiquetas, se todos trazemos em nós riquezas inúmeras, mesmo se muitas vezes imperceptíveis aos olhos humanos?
     A diferença pede licença sim!!!
     Dá-me oportunidade!
     Deixa-me mostrar quem sou, ao meu tempo! Deixa-me desenvolver minhas capacidades e farei florir meu deserto.
     Peço é oportunidade para mostrar do que sou capaz. Peço aceitação para estar no meu lugar, não o escolhido pra mim, mas aquele onde sou capaz de chegar.
     Se não plantamos sementes, jamais colheremos frutos!
     Deixar que cada qual desenvolva a seu tempo e seu ritmo o seu potencial é dar abertura ao mundo. É a diversidade de flores que dá a beleza a um jardim.
     Quem é normal e quem é anormal se o sangue corre da mesma forma para todos, se o coração bate da mesma forma, se as lágrimas têm a mesma cor e se o sorriso fala com as mesmas palavras?
     A diferença pede aceitação, pede respeito, pede tolerância e pede, sobretudo, muito amor.
     Anormal não é quem foge dos padrões sociais; anormal é quem não compreende e não aceita que somos todos seres imperfeitos, mas, nem por isso, diminuídos aos olhos de Deus; anormal é quem se acredita grande e pensa que o mundo todo é pequeno; é quem não percebeu o verdadeiro significado da palavra amar.
     Quando Jesus morreu de braços abertos foi para abraçar toda a humanidade; quando perdôou o ladrão, lavou pés, sarou cegos e leprosos, foi para nos dar a lição da humildade, para nos mostrar que grande mesmo é aquela pessoa capaz de abrir todas as portas do seu coração e de olhos fechados receber com amor todo aquele que a vida coloca no nosso caminho, independente da sua classe social, raça, religião, condição física ou mental.
     A diferença pede licença!...
     Abra-lhe o caminho e você vai ver onde ela é capaz de chegar!

© Letícia Thompson




sábado, 14 de maio de 2011

Pitoco esclarecendo dúvida.

Diferença entre Autismo Infantil e Síndrome de Asperger



A diferença entre crianças com Síndrome de Asperger e crianças Autista
diz respeito a capacidade cognitiva.
          Embora alguns indivíduos com autismo apresentem deficiência na experiência intelectual, por definição, uma pessoa com Asperger não possui uma deficiência cognitiva clinicamente significativos ou atraso cognitivo, e a maioria possuem inteligência acima da média.      O resultado da cognição para crianças no transtorno de Asperger em geral parece ser melhor do que aquele para as crianças com autismo.
     No entanto, em relação á parte cognitiva, algumas crianças com sintomas de autismo, apresentam sinais cognitivos preservados principalmente em parte nas aptidões e procedimentos em estímulos específicos e mais concentrados.
     Já as crianças com síndrome de Asperger, apresentam melhores condições e habilidades na conversação o que lhes dirige maior capacidade cognitiva e compreensão, bem como para respostas sociais mais satisfatórias.
     Os sintomas do autismo infantil se detectado precocemente permite maior aproveitamento no tratamento e no desenvolvimento da criança autista, pois será possível desenvolver estratégias de comunicação, atenção e reorganização intelectual para melhor socialização e enfrentamento da vida.


Foto: Internet

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pesquisa na Inglaterra mostra que Adultos com Autismo não são Diagnosticados


      LONDRES - Pesquisadores da Universidade de Leicester apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre autismo na vida adulta: nenhuma pessoa identificada com autismo ou síndrome de Asperger na Inglaterra sabia de fato de sua condição. De acordo com o professor de Psiquiatria da Universidade de Leicester, Traolach Brugha, a pesquisa já tinha revelado que o autismo era mais comum em homens, com alta graduação e que viviam em casas financiadas pelo governo.

     As descobertas são baseadas em um levantamento epidemiológico em duas fases (7.461 entrevistas de triagem; 618 diagnósticos) feito em 2007 na Inglaterra e foram agora publicadas na revista científica "Archives of General Psychiatry".

     Brugha, também consultor do sistema público de saúde, disse que o artigo atual confirma o que já foi publicado em 2009, que 9,8 em cada mil adultos da Inglaterra tinham diagnóstico oficial para o espectro autista. Não há evidências de uma "epidemia de autismo".

     - Nossos resultados sugerem que não há aumento nem queda significativa ao longo do tempo. Isso favorece a interpretação de que os métodos de apuração (caso de constatação) mudaram de pesquisas mais recentes de crianças em comparação com os primeiros levantamentos em que as taxas relatadas foram consideravelmente menores - explicou Brugha.

     Quanto às causas do autismo, os pesquisadores dizem que "parecem estar temporalmente constantes e recentes aumentos aparentes nas taxas de diagnóstico devem refletir melhores diagnósticos em vez de alguma nova toxina ambiental".

     - É muito preocupante que nenhum dos casos que nós confirmamos usando métodos de avaliação para diagnósticos rigorosos soubesse de sua condição ou tivesse tido um diagnóstico oficial. Estamos providenciando treinamento para psiquiatras no diagnóstico do espectro autista em adultos através do Royal College of Psychiatrists Education and Training Centre, em Londres - disse o pesquisador.



sábado, 7 de maio de 2011

DIAS DAS MÃES - A Encomenda

No dia em que Deus criou as mães (e já vinha virando dia e noite há seis dias),
um Anjo apareceu e disse:

     - Por que tanta inquietação por causa dessa criação, Senhor?
     - Você já leu as especificações desta encomenda?
     - Ela tem que ser totalmente lavável, mas não pode ser de plástico, deve ter cento e oitenta partes móveis substituíveis, funcionar a base de café e sobras de comida, ter um colo macio que sirva para matar a fome das crianças, um beijo que tenha o dom de curar qualquer coisa, desde perna quebrada até namoro terminado... e seis pares de mãos.

     O Anjo balançou a cabeça e disse:

     - Seis pares de mãos, Senhor? Parece impossível.
     - Não é esse o problema, disse o Senhor. E os três pares de olhos que as mães têm que ter?
     - O modelo padrão tem isso?! indagou o Anjo.

     O Senhor assentiu. Um par para ver através de portas fechadas, para quando perguntar o que as crianças estão fazendo lá dentro (embora já o saiba), outro na parte posterior da cabeça para ver o que não deveria, mas, precisa ver. E naturalmente, os olhos normais, capazes de fitar uma criança em apuros, dizendo-lhes:

     - Eu te compreendo e te amo - sem proferir uma palavra.

     Senhor, disse o Anjo, tocando-lhe levemente o braço:

     - É hora de dormir.
     - Não posso, replicou Deus - Está quase pronta. Já tenho um modelo que se cura sozinha quando adoece, consegue alimentar uma família de seis pessoas com meio quilo de carne moída, e convence uma criança de seis anos a tomar banho sozinha.

     O Anjo rodeou vagarosamente o modelo de mãe.

     - É muito delicada, suspirou.
     - Mas é resistente, respondeu o Senhor, entusiasmado - Você nem imagina o que esta mãe pode fazer ou suportar!
     - Ela pensa?
     - Não apenas pensa, mas discute e faz acordos.
    
     Finalmente o Anjo se curvou e passou os dedos pelo rosto do modelo.

     - Há um vazamento, retrucou.
     - Não é vazamento, disse Deus.É uma lágrima.
     - E para que serve?
     - Para exprimir alegria, tristeza, desapontamento, dor, solidão e orgulho

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - X - Nathália


      Eu já era mãe quando a Nathália nasceu, e já há dezoito anos vivo esta emoção com ela.
     Penso que todo dia é dia das mães, mas guardo na memória pelo menos dois “Dia das Mães”, em especial.
     No início de 1997 a Nathália já vivia as alterações, quase imperceptíveis, do autismo e eu não sabia, lembro que naquela época ela brincava horas com as suas mãozinhas gorduchas e eu achava lindo...
     Neste ano no colégio dela fizeram uma homenagem para as mães, e lá fui eu pra ser homenageada.
     Da homenagem a Nathália pouco participou, mas tão logo a professora largou o microfone ela dele se apoderou e disse em alto e bom som, por várias vezes:
     -Mamãe eu te amo... Eu te amo... Te amo... Amooooooo...
     Quando então a professora tirou dela o microfone, lembro que ela ficou com o olhar preso nas suas mãozinhas... E eu fiquei ali, olhando pra ela, com o coração suspenso e totalmente descompensado e sem saber por quê!
     Passei muitos anos sem ouvi-la se tratar de “Eu”, ela passou a se tratar de “A Nathália”.
     Depois de muito tempo eu entendi que a minha filha se despediu de mim, solenemente, me fazendo uma declaração de amor.
     Logo em seguida vieram de modo acentuado, todas as perdas, principalmente na área da linguagem, que por fim ficou reduzida a sete palavras: a-Nathália-quer-água-xixí-cocô-isto.
     Foram anos muito difíceis, nos quais eu busquei a minha filha incansavelmente, e é claro que os progressos vieram, muito lentamente, e eu passei, a saber, contra quem lutar... O autismo.
     O autismo devastou a minha vida, levou a minha filha embora, e me deixou com esta busca desesperada, passei noites e noites acordada pesquisando, estudando, elaborando estratégias pra recuperar o que tinha sido perdido e ir além, e tão logo o dia amanhecia colocava em prática a nova idéia, o novo palpite, tudo o que eu acreditava que daria certo.
     Os dias foram ficando tão longos... A Nathália evoluía e retrocedia e lá adiante evoluía novamente... Assim se passaram meses... Anos... Todo dia era dia de filha, nem lembro se teve algum dia das mães, minha cabeça fervilhava de idéias e tormentos, a minha busca era o meu guia...
     Com o passar do tempo vi que ela mais evoluía que retrocedia e fui acalmando o coração, recuperamos a linguagem, a idade motora já correspondia a sua idade real, ela estava por fim desabrochando... Evoluindo muito lentamente, mas evoluindo sempre.
     Nestes anos “O Dia das Mães” foram todos iguais: Eu me aprontava, ia ao colégio e ela não participava, fosse a homenagem que fosse.
     Já em 2004, o colégio em que ela estudava resolveu fazer ma homenagem pro Dia das Mães em que os alunos cantariam a música “Nossa Canção” do Roberto Carlos.
     Não deu outra a Nathália resolveu, de última hora, não participar, e enquanto todas as mães foram se reunir no pátio do colégio, eu fiquei sozinha no corredor, em frente à sala de aula, onde ela havia se homiziado.
     Mas quando os colegas começaram a cantar, ela saiu da sala de aula, encostou a testa no meu queixo, me abraçou e cantou baixinho, só pra mim, todos os versos da música, enquanto lágrimas quentes molhavam-me o rosto...
     Fiquei muito, muito emocionada!...
     Deixei-me abraçar e me abracei naquele abraço... Chorei!...
     Chorei convulsivamente, pois me lembrei que com palavras de amor, a “outra Nathália”, de mim havia se despedido, e naquele momento, já em franca recuperação, ela me presenteava, no “Dia das Mães”, com mais uma declaração do seu amor, que fazia valer a pena tudo o que havia sido vivido e sofrido pra tê-la comigo de volta... Mesmo que em outra condição...
     Hoje o autismo da Nathália é só um detalhe da pessoa linda que ela é, e por mais que ele insista em nos fazer sofrer, já conseguimos passar por cima dele, sem maiores tragédias.
     Por todos esses anos eu aprendi a compartimentar dores e desilusões, e com isso cada vez mais, eu sofro menos.
     Aprendi a treinar o meu olhar pra buscar, na minha filha, todo e qualquer traço de felicidade e me satisfaço, afinal pra fazê-la feliz é preciso tão pouco...
     E no fim é só isso que eu quero...
     Ver a Nathália Feliz!...
     E esta certeza da sua felicidade me garante ter, todos os anos, um feliz Dia das Mães...

Sérgia Cal - , mãe da  Nathália,
que é autista, quase que todo dia...kkkk...ou quase que o dia todo...kkkk

O Meu Filho Autista - Na semana das Mães, nasce o novo livro da Liê Ribeiro


“Nunca me preparei para recebê-lo, o acaso de um suposto amor.
Jamais imaginei a concepção como uma meta, um desejo, um sonho.
Meu egoísmo, ou talvez o meu medo.
Fui uma criança travessa, fui uma adolescente inquieta, cheia de questionamentos que poucos poderiam me dar, Ou nunca me deram.
Achei que ganharia o mundo com meus poemas, com meus sonhos, mas você não estava neles, pelo menos era o que eu pensava naquela época. Toda menina, você na verdade era meu verdadeiro sonho realizado. Demorei a descobrir, ou eu descobri no momento certo, antes que o tempo me tomasse e me jogasse no esquecimento.”



O autismo não é uma sentença de morte ou de vida.
O autismo é uma condição de estar no mundo.
A origem, o determinado.
O autismo não pode ser uma tragédia, pois suas nuanças às vezes são mágicas, se abrirmos os olhos da alma, haveremos de vislumbrar.

Liê Ribeiro - Mãe do Gabriel Gustavo - Autista



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terça-feira, 3 de maio de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - IX - Matheus

   Desde que o planejei, em todos os sentidos, nossa vida foi voltada totalmente para ele...nao sabíamos exatamente o quanto isso seria tão intensificado....mas o tempo nos disse.
     Após termos o diagnostico do Autismo do Matheus, hoje com 4 anos (quase 5), nossa vida se transformou.
     Por um longo tempo tivemos nosso luto, mas mesmo estando nele, já buscamos ajuda e ele iniciou os trabalhos de incentivo e ajuda para o seu desenvolvimento. Percebemos somente por orientação da escola que algo estava errado quando ele já tinha 3 anos e 3 meses pois todos os médicos diziam ser normal ele não falar, cada criança tem seu tempo, e o jeito dele quieto e as vezes quando entendíamos que ele não queria nos responder a um chamado, todo mundo achava que era pura personalidade e que não queria aquela situação naquele momento. Por ser filho único, neto único (pelo menos da minha família e da parte do meu marido, todas as crianças não convivem com o Matheus pela distancia, 02 moram na Flórida e uma morava no interior) e a única criança que tínhamos contato pra gente era tudo normal. Enfileirar os brinquedos, o constante distúrbio do sono (que nos fazia e faz até hoje passarmos noite a fio acordados, como se fosse durante o dia...).....
     Vale ressaltar que, optamos por deixá-lo em casa com uma baba pela alergia que fescobrimos aos 3 meses de leite e derivado do leite. Assim que foi pra escola, com 3 anos e 3 meses, pois a senhora que cuidava dele precisou se ausentar, logo a coordenadora nos chamou e disse que algo estava errado.
     Em 6 meses, fizemos todos os exames, procuramos muitos médicos, e logo chegamos no diagnostico de Autismo Infantil.
     Aos meus olhos, após iniciado o trabalho de incentivo ao desenvolvimento da sociabilização e fala, Matheus é uma criança perfeita. Perfeito em todos os sentidos, brinca com os amigos, faz suas lições (no seu tempo, literalmente), adora a escola, é super carinhoso conosco e com a família, tem sua personalidade...Mas não podia ser diferente ( eu e meu marido somos bem mandões....) risos....
     Ainda temos MUITOS, inúmeros desafios pela frente, mas o desafio de ser mae de uma criança autista é a coisa mais maravilhosa que Deus podia ter me proporcionado. Ele diariamente me ensina a ser mais paciente, pois é muito teimoso, me ensina a amar sem esperar NADA em troca, o que as vezes pode parecer muito frustante, e é um desafio para o ser humano que sempre cria expectativas para a vida e para as pessoas e coisas. Com ele, NADA acontece no nosso tempo.
     Muitas pessoas, sempre dizem, ah coitado, ele é autista... Mas, a minha resposta a isso é sempre: Coitado? Porque? Coitados são os que não andam, não comem, são totalmente dependentes de alguém para comer, andar, viver. Esse não é o caso do meu filho.
     Matheus é a realização de um sonho. Sonhava com ele quando ele estava na minha barriga...como seria meu contato com ele, como seriam os momentos bons e ruins, como eu seria como mãe.
     Este sonho foi completamente atendido. Matheus é o nosso ar, é a nossa alegria de viver, é a coisa mais rica e preciosa que temos. Sua alegria e sorriso contagiam a todos. Não seria a mesma pessoa sem ele, pois ele acende a chama da minha vida, todos os dias me fazendo vencer desafios novos, vivenciar alegrias novas, momentos únicos.

MATHEUS

M aravilhosamente único
A tencioso e carinhoso
T otalmente cheio de vontades e uma personalidade única....
H á de ser a coisa mais desafiadora da nossa vida... E mais gratificante também!
E u não sou nada sem ele
U ma vida inteira ao seu lado será pouco para entender o amor que você pode nos dar... E o tanto que pode nos ensinar...
S omos Gratos a Deus por ter nos enviado você !!!!

Gislaine Thomal Bueno 
 Mãe do Matheus - Autista





domingo, 1 de maio de 2011

A Casa do Autista - poema da Liê Ribeiro - Mãe do Gabriel Gustavo

Série Mães de Autistas e suas Histórias - VIII - Douglas

A tod@s,


Meu filho tem 32 anos e foi diagnosticado com autismo há cerca de 20 anos.

Anteriormente, em função dos outros comprometimentos, era visto como portador de paralisia cerebral. Faz terapias diversas desde bebê e frequentou várias escolas especializadas, tendo sido convidado a se retirar de algumas delas por não apresentar comportamento adequado.

Em 2006, houve em São Paulo um congresso organizado pelo Dr. Wanderley Domingues, neuropsiquaitra do meu filho e médico do Centro Pró-Autista (CPA), onde Douglas está desde 2004, muito bem atendido. Neste evento, conheci a Valéria Llacer e a Rosana Vicente, entre outras pessoas muito importantes na minha vida, em especial, na questão do autismo.

Passei a fazer parte da Educautismo, em que sou uma das moderadoras, e, posteriormente, de outras listas, das quais procuro participar com interesse e nas quais aprendi e aprendo muito. Nestas listas e nas redes sociais, fiz amizades de várias partes do Brasil e do exterior, numa valiosa troca de conhecimento e experiências.

No dia 2 de abril de 2011, me senti com uma maravilhosa sensação de pertencimento, de não estar sozinha nesta luta de tantos anos. Procurei divulgar o Dia Azul de todas as formas e, muito feliz, recebi a adesão de muitos não diretamente envolvidos com a questão.

Espero que esta união tenha continuidade para que possamos comemorar mais do que toda a repercussão na mídia e a adesão aos eventos. Não gostaria que deixássemos arrefecer esta energia tão incrível.

Proponho uma segunda mobilização, para compilar fotos e vídeos, bem como as matérias escritas, para que sejam registradas num blog, por exemplo. Surge também muito forte ainda a ideia de coletar relatos de pais e mães de autistas sobre os casos de seus filhos e filhas, que poderiam gerar publicações posteriores, tendo por enfoque a perspectiva não terapêutica mas a da vivência cotidiana.

Abraços azuis a tod@s,

Diva Calles - mãe do Douglas - Autista

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Na Internet só se Fala Nisso !!! (MTV)



"Há muito lutamos no Movimento Orgulho Autista Brasil por isto. Já temos a música e o cantor. "
     Mara - avó do Victor, autista, 11 anos - Brasília/DF


  PACIÊNCIA
Interpretação: Lenine

Composição :
Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...
Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida é tão rara...
A vida é tão rara...


Nilton Salvador
Pai de Autista



Série Mães de Autistas e suas Histórias - VII - Gabriel Gustavo


Um dia eu tive um sonho
Sonhei com um menino
A beira de um abismo
Pronto para pular...
No vazio de um mundo esquecido.

Mas nem asas ele tinha,
Nem sonhos ele carregava
Esse menino
Tinha um olhar fixo
Num infinito que o cercava...

Nenhuma uma voz o alcançava
Somente o silencio de um mundo
Que o fazia distante da terra.

Um dia eu sonhei
Que eu chegava perto dele.
E sem cobranças ou discurso
Estendia minhas mãos vazias e suadas.

E quando seu olhar
No meu olhar penetrou
Ele sorriu de leve
E como uma nuvem dissipada pelo amor

Ele estendeu suas mãos quentes
Segurou a minha firme.
E foi se deixando ser puxado.
E toda vida, ali reescrita para continuar
Sem escolhas impostas
Sem igualdades tolas.

Mas como todo sonho
Um dia desperta,
Acordei, e aquele menino era você Gabriel.
Então entendi minha missão.

Aceitá-lo, amá-lo sem receitas prontas.
Conduzi-lo para uma realidade
Que não era a sua, mas que te encantaria
Se eu te amasse sem imposições sociais.

Sim eu tive um sonho,
E ele se realizou, em tua alegria infantil.
Mesmo que o tempo te imponha rugas
Mesmo que ninguém o aceite como eu aceito.
Você será sempre aquele menino
Que amei e amarei nos meus sonhos!


Liê Ribeiro
Mãe do Gabriel Gustavo
... Um rapaz autista.



domingo, 24 de abril de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - VI - Amanda Frank


Amanda uma menina “espuletinha”.

     Ao adotarmos a Amanda em 1999, ela tinha apenas alguns dias de vida.
     Sentimos que ela traz em seu olhar algo que nos deixa intrigados. É um olhar profundo que vai buscar a gente para bem pertinho dela.
     Andou com facilidade, tinha habilidade incrível para dirigir sua motoca, e logo andou com a bicicleta, mas não brincava com os irmãos ou outras crianças. Gostava de ver os objetos girando por horas. Adorava abrir e trancar fechaduras.
     Falou com perfeição até os 3 anos de idade repetindo todo repertório que lhe falávamos ou que ela ouvia na televisão, gostando especialmente de repetir propagandas. Mas depois deste período ela repentinamente parou de falar e só voltou a falar de forma diferente, com um tom monótono e repetitivo. A ecolalia é a forma que ela se expressava e a levamos a pediatras, psicólogos, fonoaudiólogas, neuropediatras. Todos nos diziam que “iria passar” e que nós estávamos demasiadamente preocupados com o desenvolvimento dela.
     No entanto o comportamento de isolamento social da Amanda se agravou. Ela ficou agressiva em alguns momentos para expressar descontentamento ou mal estar. Não conseguia expressar com palavras o que estava sentindo.
     Na escola enfrentamos o início de nossas dificuldades sociais que perduram até hoje: exclusão do ensino regular, discriminação, falta de profissionais capacitados em autismo para lidarem com alunos que necessitam de atendimento diferenciado.
    Amanda poderia ter se desenvolvido melhor na escola se todos estes profissionais estivessem capacitados para atenderem adequadamente as necessidades e as dificuldades que ela apresenta. No entanto os anos vão passando e todos se limitam a fazer experiências, aprender convivendo com a Amanda, aproveitando esta convivência para apresentarem mestrados, teses ou trabalhos e nós nos perguntamos:      quando estes profissionais olharão com maior amor e carinho para seus alunos com deficiência?
     Quando estes profissionais descerão de seus “saltos altos” e de sua arrogância para se dedicarem verdadeiramente à este alunado?
     Para fazermos a inclusão é apenas preciso começar. Não temos mais justificativas para não fazermos a tal inclusão destes alunos especiais. Eles precisam da inclusão para se socializarem, para se comunicarem ou aprenderem a se comunicar, para aprenderem a ter autonomia, independência e acima de tudo enfrentarem a vida e o futuro.
     Como filha é uma adolescente amável, carinhosa, que me questiona diariamente: Porque, mamãe, não posso estudar com os meus coleginhas? Ela quer participar da inclusão social e escolar mas falta-lhe ajuda.
     Apronta bastante em casa: outro dia a flagrei atacando o pote de açúcar. Uma verdadeira formiga atômica em ação. Em outra semana pegamos ela experimentando o pote de sal e foi um dia inteirinho bebendo água para acabar com a sede.
     Não gosta muito de assistir TV, no entanto ela precisa todos os dias passear de bicicleta ou de carro, pois fica inquieta e ansiosa. Ela acompanha a troca de marchas do motorista, o ronco do motor do carro e as paisagens.
     Ao me ver cortando o cabelo do irmão ela tentou fazer o mesmo com o cabelo dela. O resultado deixou a desejar, mas ela promete ser uma cabelereira algum dia uma vez que ela aprende muitas coisas só observando.
     Ela é muito mais inteligente do que as pessoas imaginam. Fica manhosa para conseguir exatamente o que almeja usando de artifícios diversos. Percebe até onde pode manipular as pessoas e suas emoções para chegar até os seus objetivos.
     Como mãe da Amanda estou empenhada para que ela tenha uma autonomia e independência para o futuro que a espera.

Cristina Langner Frank
Mãe da Amanda - autista


sábado, 23 de abril de 2011

Série Mães de Autistas e suas Histórias - V - Gabriel Moraes

Gabriel foi um bebê tão lindo...
Mas, muito difícil prá uma mãe de primeira viagem...
Não dormia, não comia, não parava de chorar!
Eu me cansava, eu me descabelava, e por outro lado,
eu me enternecia cada dia mais com aquele ser e seus mistérios.
Eu cantava prá ele nas noites insones: "é só de ninar, e de desejar que a luz do nosso amor, matéria-prima dessa canção, fique a brilhar..."
E ele demorava uma noite inteira prá dormir e dez minutos prá acordar, renovado, aceso, pronto prá vida!
Com ele aprendi quase tudo que sei, e vou ainda aprender o que não sei.
Com ele desenvolvi meus instintos, minha fé e minha força.
Com seu autismo aprendi a amar sem esperar nada em troca, e mesmo assim recebo tanto.
O Autismo muitas vezes pode ser um bicho-papão, mas se você levantar as cobertas e olhar de frente prá ele, pode se surpreender fazendo um novo amigo, e seguir em frente de mãos dadas.
Hoje quando o vejo adulto, olho dentro de seus olhos, tentando encontrar o referencial de adulto, mas a criança se faz presente,nos gestos, nos atos, na dependência, na solicitude.
Penso que mesmo que eu envelheça até o último dos meus cabelos brancos, vou olhar para o lado e ver apenas um menino, pedindo que eu o aperte num abraço prá que ele possa enfim dormir...

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GABRIEL

Amo meu filho,
com um amor que surpreende a cada instante.
Me traz a força que não tenho,
Me traz a esperança que sempre busco,
Me traz a paciência que necessito.
Me desconheço sem ele,
penso que leva consigo minha identidade.
Não teria muita valia prá esse mundo,
se aqui não houvesse o autismo,
se aqui não houvesse o Gabriel.
Meu maior título é o de mãe,
e não o troco por nada,
esse é o meu orgulho bom.
É este dom que me move,
por ele penso, por ele acordo, por ele trabalho,
por ele gostaria de viver mais.
Há tantos sentimentos bons num coração,
e a diversidade deles nos faz seres completos e especiais.
Mas, o amor de mãe é uma coisa única,
e esse bem ninguém pode tirar,
ninguém pode diminuir,
ninguém pode afastar.
Meu filho tão diferente em seus autismos,
Meu filho recluso em seu silêncio,
Meu filho às vezes tão longe do alcance,
e às vezes tão perto que faz doer...
Sua vida entregue na minha,
Suas necessidades por vezes tão descabidas,
Seu jeito evasivo de me olhar.
A vida é tão boa com a sua presença...
Seu sorriso ilumina meus dias,
como um sol enorme invadindo cada cantinho de mim,
e então eu sinto a tão inesperada e almejada felicidade,
o que me confirma que foi prá isso que eu vim!


Claudia Moraes - mãe do Gabriel - Autista,
às vezes Clássico, às vezes Rock´n Roll.



quinta-feira, 21 de abril de 2011

APADEM - Semana da Conscientização do Autismo em Volta Redonda - RJ.

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - IV - Tomás

     Não me contive e decidi contar um fato ocorrido na escola do meu filho Tomás, em novembro/2009.
Tomás já havia entrado na classe, pra aula.
     Eu já estava saindo da escola quando Roberta, a mãe de Giulia, coleguinha de turma do meu filho, chamou-me pra conversar.
     Começou logo dizendo, o quanto a Giulia adora o Tomás!
     Recordou-me que, desde que estudam na mesma turma (quando eles tinham 3 a 4 anos de idade), o Tomás foi o único a ajudar a filha dela, quando ela mais precisou.
     Giulia não queria mais ir a escola.
     Era levada pelos pais em prantos. Dizia ela, que não queria ler livros nem estudar mais.
     Nenhum professor ou diretor conseguia “entender” a reação da menina. Nem resolver o dilema.
     Na ocasião, Tomás diariamente aguardava que a coleguinha chegasse à porta da classe.
     Meu filho pulava feito pipoquinha no lugar e agitava suas mãozinhas, quando via Giulia chegar. Ele sempre a esperava!
    Ele segurava suas mãos e com o sorriso mais lindo do mundo, a tranqüilizava, conduzindo-a para o interior da classe.
     Foram meses assim.
    Giulia chegava chorando com os pais, não querendo ir pra escola. O Tomás a aguardava com carinho e segurando suas mãos a trazia pra sala de aula.
    Roberta jamais esquecera esses momentos de dificuldades de sua filha. Superados com a ajuda do carinho e sensibilidade de Tomás.
    Pois bem. Após essa introdução em nossa conversa, Roberta entrou de fato, no assunto que a perturbava.
    - Estou há 3 meses pensando em falar com você, Marilei. Mas não sei como começar. Nem sei o que você pensará a respeito do que tenho a lhe dizer.
    Pensei comigo. Lá vem bomba...
    Será que Tomás aprontou alguma “arte” com a Giulia? Pensava eu rapidamente.
    - Pode dizer Roberta.- respondi.
    - Vou contar minha conversa com a Giulia, pra você entender melhor. -assim, Roberta prosseguiu:
    - Sabe Marilei, a Giulia vivia me pedindo um cachorrinho de presente. Faz um ano que ela pede. Acabei cedendo e comprei um cachorrinho macho, como ela queria.
    E ela continuou.
    - Filhinha, que nome você dará ao seu cahorrinho? Bob, Todd, Billy, ou o que?- questionou Roberta.
    Com a maior naturalidade, Giulia disse:
    - Ele vai charmar-se TOMAISZINHO, mamãe.
    - Tomaiszinho? Da onde você tirou esse nome filha?- retrucou a mãe.
    - Mamãe, eu não tenho um coleguinha da classe chamado Tomás. Então! Darei o nome de Tomaiszinho pro meu cachorrinho!- falou com simplicidade a garota.
    - Mas Giulia, Tomás é nome de gente e não de cachorro. Voce não pode dar esse nome!
    - Posso sim!!!- firmemente rebateu a garota.—O cachorro é meu, e eu dou o nome que eu quiser!
    - Gente, eu comecei a rir, imaginando a cena desse diálogo entre mãe e filha.
    - Sabe Marilei, pra mim a Giulia fez uma espécie de homenagem pro seu filho agindo assim. – argumentou Roberta, ainda aflita com que eu poderia dizer.
    Eu simplesmente respondi:
    - Roberta, as crianças são tão puras e vêem as coisas com tanta simplicidade e naturalidade, que nós os adultos deveríamos ter! Adorei o gesto de sua filha. Fique tranqüila. Entendo perfeitamente a atitude dela.
    Roberta suspirou aliviada, sorrindo.
    Complementei:
    - Fale pra Giulia trazer-me uma foto dela com o Tomaiszinho, pra eu também o conhecer!
    Despedimo-nos, ambas aliviadas e mais “leves”.
    Afinal, a verdade é uma só:
    Nós adultos complicamos a vida.
    Nós pais é que vivemos aprendendo com nossos filhos, mais, muito mais do que achamos que ensinamos a eles.


Marilei -
Mãe do Tomás - Autista



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Feliz Páscoa

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - III - Eros Daniel

Quando leio essa variação de temas escritos pelo Nilton, sempre comento que ele quer mesmo é ver a choradeira das mães de autistas quando elas contam suas histórias.
Dramáticas e espetaculares, como ele diz.

     Uma das nossas amadas mães e amiga sugeriu que eu também participasse dessa série dedicada ao Dia das Mães (de autistas), que vi como uma boa idéia, afinal a gente se envolve tanto com os nossos filhos, que às vezes esquecemos o papel participativo que temos nas lides autísticas.
Pai de um jeito, mãe de quase todos os outros jeitos, né mesmo?

     Nós, quando começamos a “nossa história” há trinta e poucos anos atrás, tivemos que nos tornar terapeutas do nosso próprio filho autista aprendendo com suas manifestações comportamentais, na difícil e complexa convivência diária, grandes lições de amor, renúncia e sacrifício, espontaneamente aceitos com lucidez e abnegação, até porque a síndrome ainda era e continua quase como uma ilustre desconhecida.

     Buscamos todos os recursos possíveis e disponíveis, oferecidos pela medicina oficial, neurologia, psiquiatria, psicologia e terapêuticas altamente especializadas existentes na época, o que nos levou, isentos de vaidades, ficarmos especialistas na síndrome, tal a profundidade que nos envolvemos nos estudos dos tratados médicos, psicopedagógicos e educação especial dos chamados “excepcionais”.

     Com profundo sentimento de Fé, Amor e Abnegação, aceitamos o desafio que a vida nos concedeu, pelo nosso filho diagnosticado autista, outra raridade tal eram as dificuldades de informação, compreendendo que ele é um Espírito ou uma Consciência em processo de evolução como todo ser humano, “co-criador” do seu próprio destino e que nós, pais, assumimos o compromisso perante as Leis Divinas e da própria Consciência de amá-lo incondicionalmente, colaborando na sua própria autoredenção, o que nos possibilitou compreender sua condição de autista encapsulado, como então lhe caracterizava a psiquiatria vigente.

     Compreendemos também que o núcleo familiar constitui, em última análise, um verdadeiro laboratório consciencial, no qual mentes e corações se encontram e reencontram no vai-e-vem das vidas sucessivas, obedecendo a um planejamento maior, em harmonia com o Plano Divino alicerçado nas Leis do Amor, do progresso evolutivo e do aperfeiçoamento individual e coletivo, que nos proporcionou uma cosmovisão da vida e da natureza realista e otimista, de bom ânimo, perseverança, paciência e de esperança, fortalecendo-nos no testemunho diário, para compreender e aceitar as razões profundas de uma prova existencial tão complexa, difícil e desafiadora como é o autismo.

     Sempre esperamos que alguém respondesse aos nossos chamados. Sentíamos então que tudo o que pensávamos era real. Às vezes isso até não era um absurdo. Tentávamos nos enganar. Dizer para nós mesmos que éramos bobos. Nosso filho sabia que ainda estávamos enfraquecidos; às vezes até dava uma choradinha; quando não fazia alguma coisa, ficava quieto demais. Estava dormindo, mas nós sabíamos que se acendesse a luz, lá estaria ele, olhando-nos.

     Suspirávamos.
    
     Hoje, aqui em casa, pelo som macio da sua voz, ele continua aprendendo o que se quer dele e do seu corpo. Ele é grande fisicamente, mas continua na sua velocidade autística, a crescer mentalmente, tentando a cada gesto transformar-se numa presença.


     Enquanto isso, nós sabemos que ele deve antes satisfazer os desígnios divinos.

Roseli Antonia
Mãe do Eros Daniel - Autista



terça-feira, 19 de abril de 2011

Série: Mães de Autistas e suas Histórias - II - Sheila

  • Sheila passou por todos os processos de desenvolvimento e aprendizagem de uma menina autista.
  • Antes mesmo de ser diagnosticada por mim como autista pois, nos anos de 1971 em que nasceu ninguém sabia distinguir o autismo.
  • Seu grau no espectro autista é de alto funcionamento. Aos 8 anos de idade foi duvidosamente reconhecida como tal. Neste tempo foi estimulada por psicólogos e nas escolas, embora nenhuma delas suportava os seus comportamentos agressivos.
  • Com o passar dos anos as minhas angústias e meus temores aumentavam gradativamente.
  • Atualmente, aos seus 39 anos de idade, reside em um condomínio para pessoas deficientes leves desde 2001 e namora um Down há vários anos o que a ajudou ser mais afetiva.
  • Alí aprendeu a ser mais adulta e sabe conversar com mais desenvoltura.
  • Aprendi com ela a ser mais paciente e não censurar e dar reprimendas.
  • Ao mesmo tempo, com seus problemas próprios de autismo, conseguiu se socializar ao entender o limite dos outros e o seu mesmo.

PENSAMENTOS DE AUTISTA

Outubro de 2008

Muitas pessoas falam alto penso que é uma bronca, mas não é.
Me dá pavor, medo e susto porque me sinto culpada.
Toque:
Quando alguém me toca ou me abraça eu me sinto penalizada, sensível, arrepiada.
Tenho medo que me ataquem nas minhas costas.
Fujo das multidões e de grandes barulhos, penso que as pessoas vão me pressionar, me apertar,
por isso que eu tenho medo.
Dificuldade no pensamento de lembrar o que as pessoas falaram.
Assim acabo perguntando mais de uma vez.
Relembrar às vezes é bom.
O Davi representa para mim uma obsessão que quando vai para São Paulo,
sinto falta dele porque gosto dele.
A falta é saudade e medo de perder ele porque um dia ele pode morrer.
O Davi tem 61 anos e com a idade surgem problemas de saúde.
O Davi representa o amor para mim. Por isso não gosto de ficar longe dele.
O que significa morte para mim: acabou a vida da pessoa e isso me entristece.
Quando as pessoas falam: "muda de assunto" fico triste e irritada.
As pessoas não entendem que eu preciso de repetição para aprender coisas novas.
Não consigo lembrar de tudo porque é muita coisa na minha cabeça.
Sinto que muitas informações se acumulam.
Eu tenho muita dificuldade de prestar bastante atenção porque me perco nos pensamentos.
Prefiro estar com pessoas mais velhas porque entende a minha dificuldade e aprendo coisas novas com pessoas mais velhas.
Interrompo as conversas porque o assunto não me interessa. Eu não sou uma máquina não consigo fazer as coisas ao mesmo tempo.
Assunto de adulto demora para entender porque me perco nos pensamentos e
não entendo o que eles dizem.
Emoções: sinto contente com a família, ganhar presentes, estar perto do meu namorado, amigos, estar com a terapeuta indo na fazenda, ouvindo música.
Tem muita gente que fala alto demais pensando que é uma bronca mas é o jeito da pessoa.
Me dá raiva quando as pessoas estão de mau-humor comigo.
Me dá tristeza quando fico longe do meu namorado.
O Davi é a pessoa que mais me chama a atenção, significa "cheguei" porque amo ele por isso que eu fico com uma obsessão profunda, forte, me preocupa demais porque adoro porque está dentro do meu coração como se o Davi fosse uma coisa super importante. A minha preocupação mundial é o Davi.
Não consigo esquecer ele, me faz falta, fico 24 horas pensando nele.
Tudo o que me chama a atenção e me dá alegria: cavalo bonito manso,
vaca com bezerro manso, fazenda bonita em geral.
Fico imaginando sobre shopping, roupa colorida bonita, brinquedo, livraria, papelaria.
Imagino também cria de gatos e cachorros.
Não consigo participar quando tem muita gente em uma reunião ou festa porque não entendo o que as pessoas estão falando e fico afastada.
Medo de algumas pessoas não gostarem de mim e me tocarem.
A minha mãe fica me pressionando para aprender a fazer as coisas mais rápido.
Uma colega fica me pressionando para entender rápido e eu não consigo entender rápido. Medo de aprender coisas novas que é difícil de fazer.
Família: reunião de gente. Pai, mãe, irmãos, tios, avós, bisavós.
Família significa para mim felicidade porque me dá presente que eu gosto.
Eu gosto de visitar a minha família porque tenho novidades para contar.
Tem coisa gostosa para comer que nem bolo.
Não entendo o que significa os familiares.
Venci a preguiça de trabalhar o dia todo, tenho amigos conversando sobre outros assuntos.
Barreira ou dificuldade significa uma estrada congestionada para esvaziar para chegar em casa.

Yvonne Falkas.
Mãe da Sheila - autista

Crianças Autistas entram em campo

Os jogadores do Avaí que venceram o Concórdia na tarde deste domingo, dia 17, pelo placar de 4 a 0, entraram em campo acompanhados por crianças autistas. A homenagem deve-se ao dia de discussão e reflexão sobre o Autismo, que foi comemorado em 2 de abril.
O clube veio a público manifestar apoio à causa e essa ação de reverenciar o debate sobre o Autismo consta no planejamento estratégico através da Diretoria de Ação Social e Comunitária. A ação deste domingo, na Ressacada, contou com a participação do Grupo de Apoio à Inclusão do Autista de Florianópolis (GAIA).