Fabio,
Gostaria de vir conversar a respeito? É uma
acusação muito séria a que está fazendo a minha pessoa. A que interesses estou
servindo?!
A Lei do
Autismo é de autoria popular, foi toda construída em conjunto com a sociedade,
com a participação ativa e permanente de pais e mães de autistas, que sabem
melhor do que ninguém do que precisam. Foram esses pais e mães que pediram que
houvesse previsão de escola especial. Por que, te pergunto, eu deveria
ignorá-los?
O artigo 7 que penaliza os gestores que recusam
matrícula é de minha autoria. Todo ele. Previ a exceção do atendimento
especializado quando e somente em beneficio da criança ou adolescente. Não
considero que isso abra brecha para exclusão.
Não sou ingênua a ponto de achar que muitos
gestores não se utilizarão disso como justificativa para recusa. Farão o que
sempre fizeram, infelizmente: combater a diversidade e acomodar-se num modelo
de escola com poucos recursos. Mas eles serão responsabilizados com multa e
perda do cargo. E continuaremos a ajudar a fazer nossas escolas evoluírem. É um
processo contínuo.
Digo com muita tranquilidade que defendo uma escola
de qualidade para todos. É e sempre será minha bandeira. Mas percebo que o MEC
ainda não conseguiu nem deixar o ENEM acessível a alunos cegos e surdos. Algo
que não tem segredo nem complexidade como a educação de uma criança com autismo
severo.
Por isso, não podemos, diante do estado em que hoje
estão as escolas públicas brasileiras (não esqueça que estamos falando das
escolas de todo o Brasil, de norte a sul), simplesmente não prever que o Estado
custeie um atendimento especializado para os autistas mais comprometidos. Em
momento nenhum a lei fala em convênios com instituições. Espero que a rede
pública ofereça o serviço, afinal estamos brigando por 10% do PIB para a
educação. Recursos há, falta vontade de assumir.
Temos cerca de 195.000 escolas de ensino básico no
país. Sabia que apenas 12% delas têm acessibilidade física? Deste percentual,
mais da metade está na região Sudeste, sobretudo no estado de São Paulo. O MEC
informa que entre 2005 e 2009, ofereceu 15.551 salas de recursos
multifuncionais. Não disponibiliza dados entre 2010 e 2012. Mas segundo média
anual de 3.110 salas, vamos imaginar que o MEC investiu em 24.883 salas de
recursos. Assim, 170.117 escolas não têm uma sala de recursos para ensinar
braile, Libras e tecnologias assistivas para pessoas com paralisia cerebral e
outras necessidades. Segundo o Censo Escolar, apenas 27% dos alunos com
deficiência matriculados em classes comuns do ensino regular recebem esse
apoio. O quadro não é muito favorável, não acha?
Uma parte das crianças e jovens com autismo, que é
minoria, se automutila e tem imensas dificuldades de interação social. Não
conseguem entrar em um ônibus, por exemplo, sem um profundo sofrimento.
Sofrimento mesmo. Pergunto a todos os pais que são contra eles terem direito ao
atendimento especializado, se já assistiram o sofrimento de uma criança assim e
como ela poderia ser obrigada a frequentar um ambiente onde não se sente bem.
Não é possível deixá-la sem o direito à educação e
ao desenvolvimento. O que fazer então? As crianças e jovens que automutilam tem
que pagar para estudar. Isso é inclusão? Como não tem dinheiro pra isso, o que
vai acontecer? Ou não vão estudar ou irão ficar na fila das instituições
conveniadas. Cadê a inclusão?
A Convenção da ONU é muito clara quando diz que é a
sociedade que deve oferecer os recursos necessários e não a pessoa que deve se
adaptar para conviver na sociedade ou na escola regular. Quero a inclusão plena
e que as escolas evoluam, mas jamais a custa de impor sofrimento desnecessário
às pessoas com autismo e suas famílias.
O que propus foi o movimento inverso: oferecer
meios para o desenvolvimento desse indivíduo com atendimento absolutamente
especializado, por meio das técnicas especificas e com profissionais
especializados, para que a agressividade, surtos explosivos, hiperatividade,
autolesão e variações de humor possam ser trabalhadas individualmente. Eles
serão estimulados e se desenvolverão para enfrentar o convívio social, algo que
é muito delicado para eles. A maioria precisa de medicação para isso. Não fui
eu quem inventou, é como hoje a ciência busca ajudá-los. A maioria não
precisará de medicação por toda a vida. As pesquisas estão avançando para se
encontrar novos recursos e meios de ajudá-los.
A escolha é sempre da família. Não das escolas e
gestores. Estamos juntos nessa luta.
Todos os pais têm preocupação com as
características do seu filho, com seu bem estar e desenvolvimento. Nem todos
tiveram a sorte de ser como o seu filho. E compreender e respeitar o ser
humano, Fabio. Respeitar suas particularidades e respeitar, sobretudo, o
direito de escolha dos pais. Jamais, repetirei um milhão de vezes se
necessário, escolha do gestor escolar.
Leia meu relatório e o cuidado que tomei com a
questão, procurando ouvir as pessoas:
http://maragabrilli.com.br/federal/component/content/article/1-geral/1773-relatorio-do-pl
Continuo de portas abertas para recebê-lo, Fabio,
para esclarecer qualquer dúvida, assim com qualquer interessado no assunto.
Peço apenas que respeite meu trabalho e não faça
acusações maldosas. Não combina com alguém que defende a pluralidade de ideias.
Um abraço,
Mara
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
Mais uma vez me arrependo de ter votado em alguém.
A Dep Mara Gabrilli está querendo derrubar o veto que garantia a inclusão de crianças com autismo nas escolas regulares e abria brechas para elas serem recusadas. O art 7 que brigamos tanto para que fosse vetado.
A que interesses ela está servindo?
Vergonhoso!
Fábio Adiron
Inclusão : ampla, geral e irrestrita
http://xiitadainclusao.blogspot.com/
A Dep Mara Gabrilli está querendo derrubar o veto que garantia a inclusão de crianças com autismo nas escolas regulares e abria brechas para elas serem recusadas. O art 7 que brigamos tanto para que fosse vetado.
A que interesses ela está servindo?
Vergonhoso!
Fábio Adiron
Inclusão : ampla, geral e irrestrita
http://xiitadainclusao.blogspot.com/
2 comentários:
Desculpe-me Nilton, mas esse senhor é um babaca, Deputada Mara matou a pau... Adorei...
Respeito à diversidade e necessidades especiais para nossos filhos autistas já...
Profundo desrespeito ao autor do blog esse comentário acima...
Pena que muitas pessoas não consigam discutir idéias sem apelar para ofensas pessoais.
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