Segundo um novo estudo, crianças cujas mães tomam Zoloft, Prozac, e outros antidepressivos similares durante a gravidez são duas vezes mais propensas a desenvolver autismo ou um distúrbio relacionado.
Essa classe de antidepressivos, conhecidos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), pode ser especialmente perigosa no início da gravidez: crianças expostas às drogas durante o primeiro trimestre tinham quase quatro vezes mais chances de desenvolver um distúrbio do espectro do autismo.
O estudo incluiu menos de 300 crianças diagnosticadas com autismo ou doenças relacionadas. Usando um banco de dados de um hospital que inclui mais de 3,2 milhões de pessoas, a equipe identificou 298 crianças com a condição que nasceram entre 1995 e meados de 1999, e as compararam com 1.507 crianças sem autismo que tinham mais ou menos a mesma idade e nasceram no mesmo hospital.
Em seguida, os cientistas checaram se suas mães, no ano antes do nascimento, preencheram prescrições para um ISRS, incluindo Prozac, Zoloft, Luvox, Celexa, e Paxil (ou suas versões genéricas).
Os pesquisadores não puderam confirmar se as mães realmente tomaram a medicação, no entanto, 20 das crianças com austimo (ou 6,7%) foram expostas a ISRS no útero, comparativamente com 50 (3,3%) das crianças no grupo de controle. Depois de levar em conta outros fatores que poderiam afetar tanto o risco de autismo quanto o uso de ISRS (tais como a idade da mãe, etnia e histórico de depressão ou outras doenças mentais), os pesquisadores descobriram que a exposição às drogas no útero aumenta o risco de diagnóstico de autismo em 2,2 vezes, enquanto no primeiro trimestre a exposição ao risco aumenta 3,8 vezes.
Cerca de 12% das mães cujos filhos tinham autismo foram diagnosticadas com depressão ou outro distúrbio mental. Pesquisas anteriores já haviam descoberto um maior risco de autismo nos filhos de mães com transtornos mentais, mas o novo estudo não encontrou tal relação em mães que não tomaram ISRSs.
Os pesquisadores alertam que essa é a primeira pesquisa sobre o assunto, e não prova que tomar ISRS durante a gravidez causa diretamente a condição. Os resultados precisam ser confirmados em estudos maiores, e as mulheres não devem se guiar por essas informações ainda.
Segundo os médicos, deficiência mental materna durante a gravidez é um grave problema de saúde pública. Não tratar não é uma opção. Enquanto algumas crianças podem estar em risco por causa de uma exposição à ISRS, muitas mães e seus filhos se beneficiarão.
Depressão não tratada durante a gravidez carrega seus próprios riscos, tais como nascimento prematuro e problemas de crescimento. Os riscos potenciais para a criança tem que ser equilibrados com o risco da mãe não ser tratada. Os pesquisadores não querem que as pessoas parem de tomar antidepressivos por causa da nova associação: o correto é conversar com seus médicos sobre a relação risco-benefício.
Evidências de estudos anteriores sugerem que as pessoas com autismo têm anormalidades nos seus níveis e regulação de serotonina, uma substância química do cérebro envolvida no humor e vários outros processos biológicos. Os cientistas acreditam que os ISRSs aumentam a disponibilidade de serotonina no cérebro, uma vez que as drogas passam através da placenta, e poderiam influenciar o desenvolvimento de um bebê.
Em estudos com animais, as mudanças nos níveis de serotonina durante a gravidez tiveram grandes efeitos no desenvolvimento do feto e da prole. Se houver efeitos similares em seres humanos, dizem os pesquisadores, eles podem variar dependendo da composição genética de uma criança.
A grande maioria das crianças do estudo que foram expostas a ISRSs no útero não desenvolveu autismo. Há muitas crianças que sofrem exposição pré-natal a ISRS e que são resistentes: o próximo passo da pesquisa é descobrir quem está em risco e quem não está.
A Administração de Drogas e Alimentos americana diz que, quando administradas em altas doses, drogas dessa categoria têm sido relacionadas com defeitos de nascimento em estudos com animais. Não ficou provado se elas são seguras ou inseguras em seres humanos, mas as grávidas devem usá-las apenas se o benefício potencial justificar o risco potencial para o feto.
Sim, estudos com animais fornecem fortes evidências de que a exposição a altos níveis de serotonina no útero produz comportamentos autistas e mudanças na estrutura do cérebro. Como há poucos estudos realizados em humanos, os cientistas acreditam que a coisa mais sensata a se fazer é estar ciente dos riscos e pensar duas vezes antes de tomar tais drogas durante a gravidez.
CNN
HypeScience